terça-feira, 15 de março de 2016

As contas complicam-se

Foto: Vitória SC
Acho que a minha observação relativamente ao jogo do último Domingo, frente ao sempre complicado Paços de Ferreira, pode ser comprimida em quatro notas:

- Quando vou ver futebol, espero ver... futebol. Não sei se em Paços de Ferreira se faz o mesmo, mas dado o anti-jogo que os pacenses praticaram desde o início do jogo até ao final, diria que não. Se calhar vão só ao estádio ver teatro ou qualquer coisa que se assemelhe. Porque futebol os jogadores recusaram-se a jogar, dada a quantidade de vezes que precisaram de assistência médica ou os atrasos em repor a bola - claramente intencionais e com o intento de não dar espaço para o Vitória impor ritmo no jogo e de o quebrar sempre que possível. Acho que equipas assim não pertencem ao escalão máximo do futebol nacional, que merece um bocadinho mais (apesar de tudo...).

- Acho curioso, no mínimo, que João Capela ainda ande por aí a arbitrar jogos como se fizesse bem o seu trabalho. Acho ainda mais curioso ter sido nomeado para voltar a arbitrar o Vitória depois do que já fez em jogos passados contra nós. Não entendo com quais critérios se regem os responsáveis pelas nomeações e não sei como é que estas decisões são aceites. Há dois erros sobre os quais não posso deixar de falar. Em primeiro lugar, não entendo como é permitiu todo o anti-jogo do Paços, que roçou o ridículo (e estou a ser simpática...). O segundo erro (e também o maior) foi a expulsão de João Teixeira, num lance em que este toca... na bola. Na conferência de imprensa, Júlio Mendes disse que "não temos nada contra Capela, mas exige-se um bocado mais". Em parte tem razão. Deve exigir-se mais. No entanto, tenho cada vez mais contra Capela. Não me parece difícil entender porquê!

- As duas notas anteriores não pretendem, de forma absolutamente nenhuma, justificar ou desculpar a derrota e a perda de (mais) três pontos. Não deixa de ser verdade que fomos prejudicados pelo anti-jogo do adversário nem deixa de ser verdade que fomos prejudicados por um homem que acha que é árbitro porque lhe puseram um apito na boca e o vestiram de amarelo e preto. Não deixa de ser verdade, mas não justifica. Não justifica a passividade da equipa nem justifica mais uma exibição fraca e que em nada honra o nosso símbolo. Acho que é importante reconhecer a culpa da derrota - que, desta vez, é nossa. A partir do momento em que somos capazes de reconhecer a nossa culpa, somos capazes de identificar o problema e encontrar uma solução. É isso que o Vitória tem, obrigatoriamente, de fazer e de preferência antes de viajar para a Madeira para defrontar o Nacional porque cada vez mais todos os pontos contam e as contas estão cada vez mais complicadas e a Europa cada vez mais longe.

- Não gostei de ver o Vitória com seis jogadores emprestados no onze inicial. Qualquer jogador a envergar a camisola com o símbolo do Rei junto ao peito tem o meu apoio. Seja ele emprestado ou não - afinal é dos nossos, está cá e quer o mesmo que eu quero! No entanto não me posso admitir fã da política de emprestados, ou seja qual for o nome que lhe queiram dar. Isto é uma opinião pessoal, uma questão de visão do futebol e cada um tem a sua. Não acho, e perdoem-me se estou a ser injusta, que um jogador emprestado tenha a mesma motivação que um jogador do clube. Naturalmente julgo haver excepções. Uma das quais, por exemplo, será o Bruno Gaspar. Chegou a Guimarães na condição de emprestado mas sempre se notou a garra com que jogava pelo Vitória e nota-se que gosta da camisola que veste. Outro problema desta política - e talvez o maior deles todos - é que os jogadores emprestados só continuarão cá se o clube que os empresta não os quiser. É tão simples quanto isso. Se forem bons jogadores e se estiverem em boa forma, ou seja, quando estão a acrescentar valor à nossa equipa, acabam por ser "resgatados" pelas equipas que detêm os seus passes. Não são nossos! É uma forma de algumas equipas rodarem jogadores, fazendo com que acumulem minutos na primeira liga e experiência. Acho que esta política de emprestados pode beneficiar algumas equipas, mas julgo não ser benéfico para uma equipa como o Vitória, que se deve assentar numa estrutura sólida (e não dá para ter uma estrutura sólida se metade da equipa não é nossa) e que deve ter objectivos ambiciosos a longo prazo e acho que não preciso de dizer que não é possível ter objectivos ambiciosos a longo prazo quando não fazemos ideia de qual será a equipa que temos no próximo ano (ou sempre que o mercado abre) porque metade da equipa é emprestada. Não me importo que o Vitória jogue com um ou outro jogador emprestado (desde que acrescente valor à equipa naturalmente), mas mais de meia equipa parece-me não só exagerado como irresponsável. Por fim, outro problema igualmente grave é que esta política vai contra uma das políticas pelas quais o Vitória se regeu nos últimos anos e que foi pioneiro em Portugal, primeiramente por necessidade, mas que deu frutos: a aposta na formação. Ao jogar com tantos jogadores emprestados, os nossos jogadores da formação vêem as oportunidades a escapar-lhes. Não se pode ter tudo e das duas, uma: ou se opta por uma política de emprestados ou então opta-se por um projecto de valorização da formação. Acho que já perceberam que prefiro a segunda opção. Por fim, e para terminar esta nota, a equipa B, que tem sido tão pobremente gerida e isso está, infelizmente, a reflectir-se nos resultados e na tabela classificativa (mas isso são outros quinhentos), tem perdido um dos seus propósitos iniciais de potencializar jogadores para a equipa A.

O Vitória encontra-se, no fecho da vigésima sexta jornada, no 8º lugar da classificação. Antes das últimas duas derrotas (fora na Académica e em casa contra o Paços), tínhamos uma série de nove jogos sem perder. Isto soa bem e é positivo, claro, mas só somámos 15 de 27 pontos possíveis (3 vitórias e 6 empates). Embora não seja uma calamidade, podia ser francamente melhor! A luta para conseguir a Europa complica-se e está muito renhida. 
O Arouca, que já leva uma vantagem mais ou menos confortável, ocupa a 5ª posição com 41 pontos. Seguem-se com 36 e 35, respectivamente, o Rio Ave e o Paços de Ferreira. O Vitória tem 34 pontos. A seguir-nos de perto estão o Estoril e o Belenenses, com 33 e 32 pontos. De um ponto de vista realista, a nossa luta é pelo sexto lugar (que é o aceitável dentro dos mínimos). Se é verdade que estamos perto do Rio Ave e do Paços, é igualmente verdade que temos à perna o Estoril e o Belenenses. Parece-me que está na hora de arregaçar as mangas e lutar por cada ponto com toda a garra possível!

Nas bancadas, como sempre, estaremos nós. Sempre presentes e sempre incomparáveis. No final da época, somos nós que continuamos cá porque o Vitória somos nós. O resto passa, passam todos, os jogadores emprestados e os que não são emprestados, o treinador, a direcção, tudo. Uns deixam uma marca positiva, outros negativa. Mas nós ficamos, incondicionalmente e isso, tenho a certeza, dinheiro nenhum ou lugar na tabela consegue definir e muito menos comprar!

P.S.: Não podia escolher outra foto para acompanhar o post. O futebol é isto e é para todos. O futebol é uma modalidade que desde sempre pretende incluir toda a gente ao invés de excluir. Para além da magia dentro das quatro linhas, é também por isto que é a o desporto rei. Quem defende o contrário não sabe o que é futebol!

5 comentários :

  1. Parabéns Raquel. Uma análise perfeita que subscrevo por inteiro. Ou melhor com uma pequena ressalva: Não é aceitável ver o Vitória a lutar pelo sexto lugar. Porque o nosso lugar tem de ser no mínimo o quarto. Abaixo disso é mau.

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  2. Mas ressalvando essa pequena discordância reitero que Gostei imenso do texto 😊

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    1. Muito obrigada =) Penso que já disse aqui no blogue, o lugar do Vitória deve ser obrigatoriamente o quarto ou para cima, sem dúvida! No entanto, e infelizmente, parece-me que esta época não dará para muito mais do que o sexto lugar...

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  3. Bom dia Raquel. Concordo em geral com tudo o que escreveste. No Domingo, apesar de tudo o que aconteceu (antijogo e "Capelices") o Vitória não fez muito para merecer algo mais (claro que no mínimo o empate era justíssimo), e isso sabe-me a muito pouco. E vai de encontro, quanto a mim, à política de emprestados que passamos a seguir. Se eu olhasse e visse que eram realmente mais valias, ajudava a compreender melhor, mas estamos muito longe disso. E isso preocupa-me. Colocamos de lado jogadores que são nossos e que devíamos valorizar (com frutos nos últimos anos) e pomos a jogar os que daqui a 2/3 meses se vão embora. Sei que é um assunto mais que conhecido pelas nossas bandas, mas foi só um pequeno desabafo de quem já viu o Vitória a lutar "noutras batalhas" com o estádio sempre com 15.000/17.000 pessoas e sentir que isso está a desaparecer. Tenho pena.

    Rui

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    1. Boa noite =) Concordo com o comentário do Rui e espero que possamos ver o Vitória lutar "noutras batalhas" com o estádio sempre muito bem composto num futuro breve. Espero que a direcção possa permitir que isso aconteça, deixando-se desta política de emprestados e passar a dar mais oportunidades aos nossos, como fizemos em anos anteriores e que deu frutos!
      Também julgo que o empate seria um resultado justo, tendo em conta o anti-jogo do Paços que nada fez para ganhar e que não merecia, de forma nenhuma, os três pontos. No entanto, fizemos mais uma vez um jogo muito muito mau!

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