terça-feira, 27 de dezembro de 2016

"Somos do melhor do mundo"

"Sexta-feira, 21 horas, antevéspera de Natal e previsão de temperaturas muito baixas. Mais de 100 quilómetros a separar Guimarães de Arouca. Esqueça, nada é suficiente para demover os aficionados vimaranenses, que se fizeram ouvir e sentir no apoio ao seu clube, nesta noite gelada de Arouca. Já se sabe a paixão que move estes adeptos, mas caso ainda houvesse dúvidas, elas ter-se-iam diluído esta noite. «E onde fores, eu vou», não se cansaram de cantar. No Natal celebra-se também a família, e a vitoriana mostrou a forte união que se lhe reconhece"
Maisfutebol
Foto: Luís Martins (comunicação do FC Arouca)
Há quem diga que a paixão, eventualmente, esmorece. Não sei até que ponto é uma afirmação válida. Acredito que possa ser, para alguns e em determinadas situações. No entanto não acredito que seja válida para nós, enquanto vitorianos. Ando pelas bancadas do D. Afonso Henriques - e de outros estádios portugueses - há muitos anos a acompanhar o Vitória. Já vi, da bancada, o Vitória ser goleado, já vi o Vitória golear, já vi o Vitória ser arrumado de competições importantes por equipas teoricamente mais acessíveis, já vi o Vitória vencer o jogo de acesso à final dessa mesma competição, já vi o Vitória levantar uma Taça incrivelmente bonita, já vi o Vitória ser goleado numa final. Já vi lágrimas de alegria e de tristeza correr pela cara de muitos vitorianos. Já chorei em muitas bancadas - umas vezes de felicidade extrema, outras de uma tristeza gigante, outras ainda de emoção. Há quem afirme, com toda a convicção do mundo, que "futebol é só futebol". Eu não acho que seja.

O Vitória e os vitorianos são um caso de paixão particular. É por isso que, quando vamos a outro estádio, é gritante e inegável a nossa dedicação em apoiar a equipa. Assim que cheguei a Arouca e ainda a uns quilómetros do estádio, já via vitorianos parados na berma da estrada. Assim que cheguei ao estádio só via vitorianos - nos passeios, nos estacionamentos, na estrada e na entrada para o estádio. Parecia um dia de jogo em Guimarães, só que a cerca de 100 quilómetros de distância. Ver as ruas de outras terras, onde o Vitória vai disputar um jogo, cheias de vitorianos, de cachecol ao peito, ainda me impressiona e ainda me enche de orgulho como se fosse a primeira vez. Já não é uma imagem nova para mim, mas ainda me consegue surpreender e deixar um bocadinho mais apaixonada - mesmo que isso me pareça pouco possível. 

No dia anterior à deslocação a Arouca, conheci um sócio do Vitória por puro acaso. Uma coisa normal, mas que me deixou com um sorriso estampado no rosto. Assim que soube o meu clube, levantou o punho e disse para quem quisesse ouvir que "somos do melhor do mundo". Concordei imediatamente e, como não podia deixar de ser, ficamos a conversar durante uns minutos. Contou-me, sempre com um sorriso e muita vivacidade, que já é sócio há muitos, muitos anos. "Desde os anos 50, se calhar já era sócio do Vitória antes do teu pai nascer". Disse-me que, com muita pena, os seus mais de setenta anos já não lhe permitiam ir ver muitos jogos porque as horas nem sempre são as mais simpáticas e está sempre muito frio, mas que ia ao estádio sempre que podia e esta época já tinha ido ver quatro jogos - um dos quais o último em casa. Disseram-me depois que é o sócio nº 101 do Vitória, um número muito bonito e que certamente guarda muitas histórias. 

Assim que o senhor foi embora, não pude deixar de pensar que todos aqueles anos de sócio devem estar cheios de experiências incríveis ao lado do Vitória. Só com muito amor e uma paixão incrível que não esmorece é que é possível falar com um brilho especial nos olhos de alguma coisa, tantos anos depois. É por isto que futebol nunca é só futebol. Daqui a muitos anos quero contar a alguém, muitos anos mais novo, que numa noite fria antes da noite de Natal os vitorianos foram até Arouca para cantar e apoiar o Vitória em mais uma demonstração de amor incrível - como tantas outras naquela época (e em todas as outras). Se tiver essa oportunidade sei que o farei e tenho a certeza de que o farei com o mesmo brilho nos olhos com que levanto o meu cachecol em qualquer bancada de qualquer estádio. Isto é amor. E mesmo que ninguém entenda... "onde fores, eu vou".

Por fim, desejo a todos um excelente final de ano e um bom 2017. Que possamos acabar o ano com uma vitória em Vizela e que em 2017 nos possamos encontrar para mais momentos memoráveis - "no berço ou noutro estádio". Somos do melhor do mundo.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Conquistar em todas as frentes

Foto: Marco Jacobeu
O Vitória está numa fase positiva de resultados em todas as frentes. Não só no futebol profissional, mas também nas modalidades em competição. Perto do Natal e a poucos dias do último jogo do ano para o campeonato, convém começar a fazer contas e acautelar o futuro. Os últimos anos da equipa principal de futebol têm sido anos de transição, em que a vertente financeira é privilegiada em detrimento da aposta na vertente desportiva e na ambição de ficar nos lugares cimeiros da tabela classificativa. Quanto às modalidades, seria exigir demasiado pedir mais do que aquilo que já nos dão. Com o pouco que têm, vão fazendo muito e é por isso que ser um clube ecléctico deve continuar a ser uma prioridade de todas as épocas. Recheadas de atletas campeões que dão tudo pela camisola, são uma mais valia ao nosso símbolo. Vamos por partes.
  • Futebol
    Numa semana a equipa A conseguiu duas vitórias muito importantes em jogos disputados dentro das muralhas. A primeira, na última quinta-feira frente ao Vilafranquense, mantém o Vitória a caminho do Jamor. Infelizmente estive impossibilitada de assistir ao jogo. Pelo que li, foi uma vitória conseguida a ferro e fogo, com a exibição a não convencer uma vez mais. A vitória pela margem mínima é condizente. O sorteio, que se realizou ontem, ditou que o próximo desafio nesta competição será na Covilhã. Se o Vitória vencer o jogo, e vamos acreditar que assim será, encontrará nas meias-finais, disputada a duas mãos, o Chaves ou o Sporting. Nenhuma equipa é fácil, a começar pela Covilhã. Derrotou o Sporting de Braga e acredito que está motivada para voltar a vencer a uma equipa da primeira divisão do futebol português. Apesar de não ser fácil, temos todas as hipóteses de voltar ao Jamor se enfrentarmos os próximos desafios conscientes de que este é o palco dos sonhos - não só para nós, mas para todas as equipas. Sem facilitismos e com trabalho. O caminho é para o Jamor!
    Para o campeonato e num jogo disputado também no conforto de casa, o Vitória conseguiu uma vitória frente ao homónimo de Setúbal. Com uma exibição de melhor nível do que as anteriores e com algumas individualidades em destaque, ainda tremi na bancada com o golo de Edinho aos setenta minutos para empatar a partida. João Pedro, o menino querido da casa, inaugurou o marcador pouco depois da meia hora de jogo com um golo que já merecia há muito e de enorme categoria. Não que os vitoriano precisem de uma confirmação do seu valor, mas soube bem ver João Pedro festejar o seu golo. Foi uma aposta ganha! A resposta ao golo de Edinho não se fez demorar. Foi Raphinha a voltar a pôr o Vitória por cima no marcador dois minutos depois com um golo que satisfez todos os que estavam no estádio. Para selar a vitória, Hernâni chegou-se à frente e fez o 3-1. Os desentendimentos com os adeptos já estavam no passado. Mostrou o seu valor e mostrou que da mesma forma que pode ter jogos menos conseguidos, pode resolver a partida. Com três golos de excelência e que merecem ser vistos e revistos o Vitória ficou, à 14ª jornada, no 4º lugar com 27 pontos, em igualdade pontual com o Sporting de Lisboa.
    Segue-se a deslocação a Arouca, no último jogo do campeonato deste ano civil. Com uma vitória no jogo da próxima Sexta, o Vitória pode terminar o ano no terceiro lugar - dependendo dos resultados de Sporting de Braga e Sporting de Lisboa, claro. No pior cenário, continuamos na mesma posição. Não preciso, enquanto adepta, de pedir "prendas de Natal" à equipa para a acompanhar. Tento estar sempre presente - em casa ou noutro estádio -, e Sexta-feira estarei em Arouca, assim como muitos outros vitorianos que acompanham a equipa onde quer que ela vá. No entanto admito que o Natal seria francamente melhor com uma vitória. O nosso apoio não vai faltar e estou certa de que, se for correspondido em campo na mesma medida então os três pontos voltam connosco para casa!
    A equipa B defrontou a Académica no início da semana e venceu um jogo polémico, dentro e fora das bancadas. Com expulsões de jogadores no tapete verde e aspirantes a jornaleiros na bancada, a vitória ficou para os do costume, ou seja, nós. Na primeira e segunda divisão, já sabemos muito bem qual o sabor de ganhar à Académica. Relativamente à expulsão pela presidência do Vitória de alguém que, sem carteira profissional, se julga jornalista convém relembrar que da mesma forma que pessoas assim mascaram os seus insultos com liberdade de expressão, o Vitória tem a liberdade de receber apenas quem quer e quem respeita a instituição Vitória, a cidade de Guimarães - berço de Portugal -, os vimaranenses e vitorianos. Quem não sente, não é filho de boa gente! Segue-se a equipa B do Porto amanhã, pelas 15 horas, no sítio do costume - a nossa casa!
  • Modalidades
    Nas modalidades o Vitória soma e segue. Numas mais do que noutras, mas os resultados têm sido muito bons. Nos últimos dias, foram várias as modalidades a entrar em acção: basquetebol, voleibol e kickboxing.
    A equipa de voleibol, em jornada dupla no fim-de-semana, perdeu o primeiro jogo, na casa do Esmoriz por 3-1. No dia seguinte, deslocaram-se ao pavilhão do Leixões e deram uma resposta à altura e muito satisfatória. Venceram por 3-1. Encontram-se na 7ª posição da tabela classificativa, em igualdade pontual com a Associação Académica de São Mamede.
    A equipa de basquetebol teve de se deslocar a Famalicão para disputar o Benfica e, num jogo muito discutido e que deixou tudo por decidir até ao último segundo - literalmente! -, só as gentes de Guimarães se fizeram ouvir e a equipa ganhou por 68 - 65. Já esta semana, a equipa recebeu o Lusitânia. Desta vez em nossa casa, o desfecho foi o mesmo: uma vitória para a equipa comandada por Fernando Sá. Desta vez a vantagem foi mais folgada, 77-68, apesar de o resultado - e a vitória - só se consolidar no último período.
    No entanto, o fim-de-semana foi mesmo dos atletas do kickboxing que, como cortesia enquanto anfitriões, conseguiram uma vitória esmagadora com dez atletas vitorianos a conquistar o primeiro lugar, sendo que mais três atletas conseguiram lugar no pódio. O excelente desempenho sagrou o Vitória como Campeão Nacional de Kickboxing!
Com o ano a terminar é bom relembrar que podemos e conseguimos fazer muito mais do que aquilo que os outros possam achar que conseguimos. Já não é altura da falta de ambição. Está na hora de apostar todas as fichas. O Vitória é uma instituição portuguesa de excelência e merece ser tratada como tal. Enquanto os outros - leia-se a comunicação social e alguns outros clubes, bem como os seus adeptos - não a tratam ou encaram como tal somos nós que temos de os fazer ver que somos de facto "O grande". Uma das formas de o fazer, e que já é natural para nós, é mostrar a base social sobre a qual se ergue este símbolo. Essa base social é feita de adeptos apaixonados que acompanham a equipa onde quer que esta esteja. Não pode ser só no futebol! Se somos realmente únicos temos de encher pavilhões e mostrar o nosso apoio aos atletas que tanto o merecem porque todos são o Vitória! Abandonar uns é, de certa forma, abandonar uma parte do Vitória. Isso não é o que nós fazemos. Somos conhecidos por apoiar sempre quem usa o nosso símbolo, esteja chuva ou sol. A nós nada mais nos interessa para além do Vitória! É essa a nossa imagem de marca, é assim que temos de ser. Sempre!

Desejo a todos aqueles que me acompanham e vão lendo o que escrevo um Natal muito feliz. Que possamos iniciá-lo com uma vitória em Arouca, em mais um jogo de "romaria" memorável - como tantos o foram este ano. Até Sexta!

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Ganhar!

Foto: Vitória SC
O último sábado foi de futebol para as equipas de futebol do Vitória na casa de adversários que não colhem nenhuma simpatia na cidade berço. A equipa B entrou no relvado do Estádio 1º de Maio, às 15 horas, para defrontar o Braga B, depois de uma saborosa e importante vitória em casa frente ao Sporting B. Ao início da noite, meia hora depois das 20 horas, foi a vez da equipa principal entrar em campo, no mesmo estádio onde cerca de três semanas antes tinha carimbado a passagem à próxima fase da Taça de Portugal.

Infelizmente a tarde não começou da melhor maneira. Acompanhei o jogo online através da BragaTV que, com profissionalismo e qualidade, transmitiu o jogo para os que não podiam deslocar-se ao estádio. O jogo contou apenas com 385 espectadores. Um derby, mesmo que seja entre equipas B, merece mais! A turma vitoriana entrou mal no jogo e antes dos quinze minutos de jogo já tinha sofrido o primeiro golo da partida. Não conseguiu impor-se e voltou a sofrer pouco depois de regressar dos balneários. Sem dar resposta, o marcador manteve-se inalterado até ao apito final. À 18ª jornada, encontra-se no 13º lugar da tabela classificativa com 21 pontos e em igualdade pontual com Famalicão, Gil Vicente, Varzim e Braga B. Seguem-se agora duas jornadas, em casa, que serão desafios difíceis. Na próxima segunda-feira, às 15 horas, recebemos a Académica e na quinta-feira seguinte, dia 22 de Dezembro, à mesma hora recebemos o Porto B. A hora não é convidativa mas os vitorianos marcam sempre presença. Não é à toa que somos o clube da segunda liga com mais assistências, inclusive à frente de um clube da primeira divisão.

O segundo jogo de futebol do dia, no Estádio do Bessa, teve um desfecho bem mais agradável para os vitorianos. Com um começo fulgurante a fazer lembrar o jogo em casa com o Chaves, o estreante Texeira não hesitou e atirou a bola para o fundo da baliza axadrezada aos 3 minutos. Os vitorianos, que nunca abandonam a equipa, ainda festejavam quando Philipe Sampaio fez o 1-1. O resto da primeira parte foi paupérrima de parte a parte, sem alterações no resultado e sem que nenhuma equipa se mostrasse superior. Na segunda parte, o Vitória mostrou-se melhor e aos 68 minutos Hurtado voltou a repetir a obra e a deixar o marcador a nosso favor. O filme de há três semanas repetia-se, desta vez sem necessidade de prolongamento. A vitória - e a moldura humana vitoriana que se deslocou ao Bessa - foi o melhor do jogo. O que não deve acontecer é achar que a vitória encobre o futebol pobre que a equipa tem praticado. É verdade que, no final dos noventa minutos, o que conta realmente são os três pontos. Jogar bem, ou mal, é um detalhe. No entanto, e todos sabemos isto, quem joga melhor tende a ganhar o jogo. Foram três pontos de extrema importância na luta pelos objectivos. Não fossem os desaires das últimas duas jornadas - a derrota frente ao Tondela e o empate caseiro frente ao Chaves - e podíamos estar a sonhar, com direito, em alcançar outros patamares. A meio de Dezembro importa, e muito, começar a acautelar o mercado de Inverno. Ou seja, não deixar sair os pilares da equipa e reforçá-la com titulares de qualidade. É primordial começar a pensar no crescimento desportivo, uma vez que, nos últimos anos, temos privilegiado a vertente financeira.

Nos próximos jogos, a palavra de ordem só pode ser uma: ganhar! Na próxima quinta-feira, às 18 horas, o Vitória recebe o Vilafranquense. Infelizmente não vou conseguir estar presente. A Taça de Portugal, uma das competições mais queridas dos vitorianos - e dos adeptos de futebol em geral -, tida como a prova-rainha portuguesa, devia ser tratada com mais respeito. Afinal de contas, é a festa do futebol por excelência. Um jogo disputado às 18 horas, quando muita gente ainda está no trabalho ou nas aulas, é uma tentativa deliberada de estragar essa festa. Será o segundo confronto entre as duas equipas. O primeiro, disputado a 9 de Dezembro de 1984, fora de portas e também para a Taça de Portugal, resultou numa vitória categórica dos branquinhos: 1-3. Tal como Hurtado repetiu o golo - e, consequentemente, o resultado - de há três semanas no mesmo estádio, desta vez a equipa tem de repetir o resultado dos antepassados. Já disse, e parece-me importante repetir, que não há jogos fáceis. É claro que, tecnicamente, a vitória fica em Guimarães mas ambas as equipas estão na mesma fase da competição e, se assim é, é porque batalharam para lá chegar. Ninguém dá vitorias de bandeja e a equipa do Vilafranquense estará, certamente, muito motivada a mostrar serviço. Eliminaram o Paços de Ferreira, uma equipa da primeira divisão, e vão querer repetir a dose. Cabe-nos pará-los. O Vitória tem de entrar em campo determinado e não pode subestimar o adversário. O caminho tem de ser para o Jamor! No Domingo seguinte entramos em campo para disputar mais três ponto, contra o homónimo de Setúbal. Tal como os últimos conquistados, estes três pontos são fundamentais para aumentar a vantagem relativamente aos adversários que estão a lutar pela Liga Europa e são fundamentais para nos aproximarmos dos lugares mais cimeiros, uma vez que Sporting de Lisboa, com mais três pontos, e Sporting de Braga, com mais dois pontos, se defrontam. A história dá-nos vantagem: dos 60 jogos disputados no nosso estádio para o campeonato, o Vitória manteve os três pontos em casa por 35 vezes, enquanto que o Vitória FC só conseguiu arrancar-nos a vitória por 11 vezes. 

A história, no entanto, não entra em campo, não joga e não ganha pontos. Somos nós, os onze no tapete verde e o décimo segundo nas bancadas, que os ganhamos. Com garra, dedicação e muito trabalho. Seja à semana ou Domingo, a que horas for, eu sei que os vitorianos vão marcar presença. Não fossemos nós a mais apaixonante massa adepta que Portugal já conheceu!

Não esquecer da iniciativa solidária do Vitória e dos White Angels. Ao deixar alimentos na Vitória Store ou na nova sede da claque têm um convite para o jogo. Se não quiserem convites, podem (e devem) deixar alimentos na mesma. Da mesma forma que as nossas vozes são mais fortes juntas, se todos ajudarmos então nada custa. 

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Que medo é este?

Foto: Marco Jacobeu
Numa noite agradável para ir ao estádio ver futebol e em que a equipa entrou com o símbolo da Chapecoense em verde solidariedade, o Vitória mostrou que não aprendeu a lição, voltou a cometer erros e deixou escapar a oportunidade de escalar na tabela. Um ponto é sempre melhor do que nenhum, naturalmente, mas este empate não pode ser considerado um bom resultado. Não por ser contra o Chaves. Os Flavienses bateram-se bem, não desistiram do jogo e mereceram o empate. A arbitragem de Fábio Veríssimo, designado para arbitrar a partida à última hora, deixou muito a desejar como já é habitual. No entanto, o Vitória pode queixar-se somente de si próprio. Uma vez mais! Continuamos, como tem sido habitual, a dar passos pequenos e a pedir permissão (e desculpa) para sermos aquilo que somos: grandes.

O jogo começou bem. A equipa parecia determinada em agarrar o jogo pelos colarinhos e redimir-se da derrota em Tondela. Não foi preciso esperar três minutos para ver Hernâni fazer o gostinho ao pé. Gritou-se golo! Estava lá dentro! Agora precisávamos de matar o jogo, não só para ficarmos mais seguros mas também porque um começo tão fulgurante iria, por certo, fazer mossa ao colectivo adversário. Em vez de lutar para chegar ao knockout, a equipa abrandou drasticamente o ritmo de jogo. Uma cena familiar e que não era particularmente querida. O Chaves percebeu imediatamente o rumo do jogo e começou a procurar o golo do empate. Ao intervalo a situação já não transmitia segurança. A segunda parte não podia ser uma continuação da primeira. Se a equipa voltasse apática dos balneários adivinhava-se o pior. Todos sabemos que quem não marca... sofre. E aos oitenta e três minutos sofremos. Só depois de sofremos o golo, quase ao fechar da cortina, é que a equipa acelerou. Não foi suficiente e, qualquer outro desfecho, não faria justiça ao que se passou em campo. Fomos vítimas de nós próprios, exactamente como tínhamos sido uma semana antes. Não aprendemos com os erros e, quem não aprende com os erros está condenado a sofrer. Voltamos a desperdiçar oportunidades. Com uma vitória no jogo do último domingo podíamos estar em 4º lugar, com 23 pontos, em igualdade pontual com o Sporting de Braga e podíamos, em simultâneo, aumentar a vantagem para as equipas que estão logo abaixo na tabela classificativa tal como o Rio Ave, o Marítimo e mesmo o Chaves. Parece que, quando podemos afirmar a nossa posição e ambição, temos de pedir desculpa e dar um passo atrás. Não é de hoje, não é desta época. Que medo é este? Temos medo de ganhar? Não temos de pedir desculpa por ser grandes, muito menos temos de pedir permissão para continuar a subir na tabela!

Os maus resultados são, parece-me, uma consequência das más exibições. No Bessa, para a Taça de Portugal, o Vitória já não protagonizou uma exibição de qualidade. As fragilidades da equipa estão a nu e conseguimos perceber que são necessários ajustamentos. O Vitória não pode sentir tanto a falta de dois jogadores. Se queremos lutar por um lugar cimeiro da tabela e pelas taças que disputamos, temos de ter alternativas de confiança. Na minha opinião, a equipa tem, actualmente, três grandes problemas: falta de agressividade, visão de jogo deficiente e pouca inteligência emocional. A falta de agressividade é notória na apatia com que a equipa parece, por vezes, arrastar-se pelo campo. Não podemos tirar o pé do acelerador imediatamente depois de marcar. Não podemos descansar durante nenhum período do jogo. Pelo contrário, temos de lutar para aumentar a vantagem e, no mínimo, para assegurar o resultado. A vantagem mínima nunca é garantia de nada. É necessário pressionar o adversário, intimidá-lo, fazê-lo recuar. A equipa, neste momento, só o faz esporadicamente. Como já percebemos não é suficiente. A visão de jogo deficiente do colectivo é bem perceptível das bancadas. Como é óbvio das nossas cadeiras temos uma visão privilegiada e não estamos sob pressão, como estão os nossos jogadores mas é preocupante ver muitas jogadas sem sentido, sem objectivo e tantos espaços para "alugar", principalmente no meio-campo. Por fim, e também porque este último ponto pode ser ilustrado com os últimos minutos do último jogo, há uma clara falta de inteligência emocional. Aos noventa minutos estávamos empatados a uma bola. Marcar o golo da vantagem seria extremamente complicado por uma panóplia de factores que não vale a pena discutir agora. No entanto tornou-se numa missão impossível com o tempo que a equipa gastou em discussões que não interessavam a ninguém e que resultaram na expulsão por duplo amarelo do nosso jogador, Rúben Ferreira, que fica excluído assim do próximo jogo, e no amarelo mostrado a Josué. Foram uns minutos de discussão em que a equipa não ganhou absolutamente nada, bem pelo contrário, e que não contribuiu para alcançar o nosso objectivo. Saímos prejudicados. Nunca joguei futebol de competição na minha vida mas compreendo que seja difícil manter a cabeça fria em todas as situações e só quem está de equipamento no relvado sabe realmente o que se passa, mas é em situações assim que é necessário manter uma distância necessária e manter a concentração no jogo porque o bem colectivo tem de estar no topo das prioridades.

Segue-se o Boavista, no Bessa. Para a Taça de Portugal não foi fácil trazer a vitória mas com uma harmonia incrível entre todos os vitorianos e a equipa conseguimos a passagem à próxima fase. Não podemos ignorar que, desta vez, os axadrezados vão estar ainda mais motivados para procurar a vitória. Também não podemos ignorar que vamos defrontar uma equipa que faz questão, como mostrou quando lá fomos, de recorrer a jogos de bastidores sujos que não devem ter lugar no futebol. É preciso preparar muito bem e com muito cuidado este próximo jogo. Não será fácil mas os três pontos em disputa podem ser fundamentais no fim das contas. Precisamos de contrariar estes maus resultados. E, de uma vez por todas, precisamos de não deixar os nossos objectivos escapar pelos nossos dedos como areia. O mostro não pode adormecer, outra vez! Os vitorianos têm de mostrar o porquê de serem os adeptos mais admirados em Portugal e voltar a formar uma moldura humana incrível capaz de empurrar a equipa para a vitória. Não podemos ter memória curta e devemos estar bem cientes do quão felizes saímos do Bessa há duas semanas. Foi por causa desta equipa. Foi por causa deste símbolo. Os grandes não abandonam o barco quando a situação parece difícil. Pegam num remo e ajudam a remar. Juntos podemos chegar onde quisermos!

Dizem que o melhor fica para último. O momento mais bonito da noite do último Domingo foi um momento que todos nós, e permitam-me que fale por todos, preferíamos não ter vivido. Isso significaria que Nuno Greno, a equipa da Chapecoense e todos os jornalistas envolvidos no acidente estavam bem. Infelizmente não podemos fazer nada quanto a isso e resta-nos, como comuns mortais com o mesmo destino, prestar-lhes as mais bonitas homenagens possíveis. O estádio, lugar de cânticos e palmas, silenciou-se. Nunca vi o D. Afonso Henriques tão silencioso. Cumpriu-se um minuto de silêncio absoluto. A emoção era palpável. Não é suficiente, nem nunca será mas foi marcante e inesquecível. Da mesma forma que foram todas as pessoas homenageadas. A vida e o futebol andam de mãos dadas. Fisicamente não estão connosco nunca mais, mas ficaram imortalizados para sempre num minuto de homenagem num estádio de futebol.

quarta-feira, 30 de novembro de 2016

O futebol


Há pouco a acrescentar ao que já foi dito sobre o último jogo do Vitória, no Estádio João Cardoso em Tondela. Foi um jogo muito mal conseguido. Desperdiçamos uma extraordinária oportunidade de ir para 3º lugar e continuar a lutar pelo topo da tabela. Uma derrota que não é preocupante se se souber tirar as devidas ilações. Parece-me mais pertinente reproduzir as palavras que escrevi no passado Domingo, depois de terminado o jogo e depois de fazer a viagem de regresso a Guimarães, ao invés de acrescentar qualquer outra coisa, porque hoje as palavras ainda me faltam.

Há uma semana, por volta desta hora, estávamos a chegar a Guimarães depois de uma vitória saborosa arrancada à última hora no Estádio do Bessa. Chegamos cansados mas com sorrisos estampados no rosto e fizemos questão de avisar que tínhamos chegado a casa assim que o primeiro vitoriano pôs os pés fora do comboio. Os cânticos de apoio rapidamente encheram toda a estação. O cansaço era grande, mas o orgulho era muito maior. O resultado foi fundamental mas não foi o único factor a contribuir para a nossa felicidade extrema: a viagem, o ambiente que criamos e a forma como empurramos a equipa para a vitória - já disse que não tenho duvidas que o fizemos - foi determinante para chegar a casa com um sorriso meio parvo, de quem se apaixonou (outra vez), que teimava em não sair do rosto. Estávamos contentes, e gostávamos que fosse sempre assim. Infelizmente não é. O sentimento com que fizemos a viagem de regresso, de Tondela para Guimarães, é contrastante com o(s) sentimento(s) de há uma semana. As conversas entusiasmantes de há uma semana deram lugar ao silêncio de hoje - o amor não é uma variável dependente do resultado mas gostámos de ver os nossos a fazer bem. "A que horas é o jogo para a semana?", perguntou um senhor ainda antes de deixarmos o Bessa. Rapidamente obteve uma resposta. "É às 20h15 no Domingo, mas se calhar não vai muita gente que o pessoal trabalha na Segunda". Imediatamente o senhor respondeu aquilo que também eu podia responder: "nós não somos desses". Não somos e, por isso mesmo, hoje estávamos presentes mais uma vez. Voltamos a fazer quase quatrocentos quilómetros, de tantos que já fizemos e que guardam tantas histórias, por amor. De cachecol no ar e peito feito entoávamos os cânticos de sempre, que nos acompanharam toda a vida. Fizemos a nossa equipa jogar em casa tão longe dela. Está a tornar-se um hábito. Mas hoje as coisas não correram bem, hoje deixamos o estádio tristes. Não ficamos tristes só com o mau resultado mas também com uma exibição apática que deixou muito a desejar. E, se há coisa que os vitorianos gostam para além do nosso lindo símbolo, é bom futebol. Hoje não houve disso, hoje perdemos porque merecemos perder. O que não podemos esquecer, sob pena de sermos ingratos e nos tornarmos comuns, é que a equipa que nos deixou tristes hoje foi a mesma equipa que nos deixou eufóricos há uma semana, e nas semanas anteriores - vínhamos de uma excelente série de bons resultados. Há alterações na equipa, mas é, essencialmente, a mesma equipa. Há erros a apontar, sem dúvida! E não são irrisórios. Nós, enquanto adeptos, devemos e temos de o fazer porque só depois de os identificar, analisar e corrigir podemos crescer. No entanto o que realmente importa agora é ser resilientes. O que importa agora é voltar ao estádio com o orgulho de sempre, com a unicidade de sempre e sermos o que sempre somos: o décimo segundo jogador, o único que é insubstituível. Podemos ficar em casa, no ambiente quente e confortável do sofá. Afinal é isso que faz a maioria das pessoas em Portugal. Mas não ficamos, nunca! Não somos desses.

O futebol nunca é só futebol e, por isso mesmo, permitam-me desviar do último jogo do nosso amado Vitória. O futebol é, como li ontem, uma metáfora para a vida. Ultrapassa os noventa minutos, trespassa as quatro linhas do tapete verde, vai para além das decisões dos árbitros e das decisões tomadas em gabinetes por quem manda e pode. Consegue encher-nos o coração de alegria com a mesma intensidade com que o despedaça. Todos gostamos de ver a nossa equipa marcar golos, somar pontos e subir na tabela, mas acredito que todos percebemos que o futebol não é só isso. Talvez nos apercebamos melhor disso quando nos deparamos com uma tragédia. Ontem foi um dia sombrio e triste para o futebol e nenhum resultado positivo, nenhuma goleada, nenhuma taça seria capaz de desapertar o nó que apertava com força o nosso coração. Recebemos, ao início do dia de ontem, a notícia de que um avião que transportava jogadores, equipa técnica e administração do Chapecoense, bem como vários jornalistas e a tripulação se tinha despenhado e rapidamente se percebeu que eram poucos os sobreviventes. De uma equipa de vinte e dois jogadores sobreviveram três. Entre os que não resistiram ao acidente estava Caio Júnior, antigo jogador do Vitória e actual treinador do Chapecoense, que muitos adeptos ainda recordam com carinho. "O Caio Júnior? Lembro-me, lembro-me. Era muito bom jogador", disse-me o meu tio assim que eu lhe perguntei se se lembrava de o ver jogar. Umas horas depois chegou outra má notícia: Nuno Greno, da equipa técnica do nosso Vitória B tinha sucumbido ao cancro aos 23 anos. O futebol está de luto. 

Em tempos difíceis as cores não interessam, as fronteiras não existem e somos todos iguais no sofrimento. Conseguimos ser mais humanos, parece-me. Que estas tragédias e estas perdas não sejam em vão e nos ensinem a ser mais humanos em todos os aspectos das nossas vidas e também no futebol - para além das rivalidades e das diferenças. O futebol tem um poder único de nos unir num amor comum. Para nós é o Vitória, para outros o nome será diferente. Mas em essência, e para aqueles que realmente são apaixonados por um símbolo, somos todos unidos pelo futebol e pelo desporto em geral. Que possamos aprender a encher as bancadas dos estádios com os nossos cânticos e o nosso amor. Que o façamos, sempre que conseguirmos. Hoje as bancadas estão em silêncio, a dor é diferente de qualquer outra. O que torna então o futebol, que parece tão insignificante depois de uma tragédia destas dimensões, tão especial? A solidariedade, o humanismo, a compaixão, a empatia. Hoje somos todos Champecoense, hoje ainda queremos confortar aqueles que longe sofrem porque perderam os ídolos, os amigos, os colegas, a família. Não os conhecemos, mas queremos confortá-los. Por causa do futebol. E é isto que, mais do que outra coisa, faz o futebol ser tão apaixonante. Todos, sem excepção, serão para sempre lembrados.

Por fim, e apesar de saber que as minhas palavras não são nada, as minhas sinceras condolências às famílias e amigos de Nuno Greno e de todos os que iam naquele avião. 



quarta-feira, 23 de novembro de 2016

A simbiose perfeita


Já exprimi, aqui no blogue, a minha confiança na equipa que nos representa. Acho que temos uma equipa com qualidade, muito lutadora, que nunca desiste do jogo (e isto é muitíssimo importante), com alternativas de confiança e que está a dar provas de ser consistente. Os números não mentem. A vitória no Bessa para a Taça de Portugal foi a quinta vitória consecutiva em jogos oficiais e foi o oitavo jogo sem perder. São números interessantes e que nos dão alento e confiança para continuar. Acredito que o caminho que estamos a trilhar nos vai levar a sítios muito bonitos.

Sobre o jogo do passado Domingo há ainda muito a dizer, pese embora já se tenha dito muito - principalmente pelos adeptos, porque para a comunicação social um jogo sem vermelho, verde ou azul tem pouco ou nenhum interesse. O melhor será começar pelo inicio, que foi muito antes do apito inicial. O amor que caracteriza os adeptos vitorianos, o carinho pela competição em questão, aliado a uma antiga disputa entre os dois clubes que ainda é bem presente, prometia uma deslocação em massa ao Estádio do Bessa. Para quem passava na estação de comboios de Guimarães por volta das 15 horas isso já era evidente. Mais de uma hora antes da hora prevista para sair já havia um vitoriano em cada canto e recanto, devidamente equipado. Se havia alguma dúvida, a rapidez com que os comboios encheram foi esclarecedora: íamos jogar em casa. Mais uma vez. A viagem até à estação da Campanhã, no Porto, fez-se tranquila e rapidamente e uma deslocação que tinha tudo para correr bem acabou por se tornar frustrante.

Ao contrário do que aconteceu na época transacta, desta vez os cerca de quatro mil vitorianos ficaram retidos na estação de metro. Num espaço demasiado pequeno e demasiado quente, íamos cantando o mais alto que podíamos, muito desconfortáveis e muito apertados, sem saber muito bem aquilo que se estava a passar. Pessoalmente achei que era uma questão de minutos para garantir que estávamos todos e que era seguro continuar o percurso. Rapidamente me apercebi que os minutos estavam a demorar muito a passar. O relógio já ia avançado e, como já conhecia o percurso que ainda tínhamos pela frente, percebi que dificilmente chegaríamos a tempo. Esses minutos transformaram-se numa hora (eu demorei cerca de uma hora a sair para a estação de metro, mas houve quem ficasse lá retido ainda mais tempo). Sem aviso prévio, sem recibo e sem nos ser dado nenhum bilhete, a polícia estava a cobrar 1€ a cada vitoriano (para quem foi o dinheiro?) e por isso os adeptos estavam a passar a conta-gotas, em grupos demasiado pequenos e com demasiada lentidão. Só a muito custo e depois da insistência e assobios dos adeptos, a polícia ia deixando passar as crianças devidamente acompanhadas pelos pais - infelizmente nem essa consciência tiveram.

Depois de chegar à estação tivemos de esperar pelo metro, para nos juntarmos aos grupos que já estavam prontos a seguir para o estádio, perto da Casa da Música. Faltava cerca de um quarto de hora para o apito inicial e já estávamos cientes de que não íamos ver todo o jogo que pagámos para ver. Às 19h15 já se ouvia o relato e até se conseguia ver o jogo... através do ecrã do telemóvel. O percurso decorreu tranquilamente, com os melhores adeptos do mundo a invadir as ruas e ruelas do Porto, sempre a cantar, a ser constantemente aplaudidos e filmados pelos transeuntes e por quem acorria à janela para ver o espectáculo. Quando chegamos ao estádio só queríamos entrar o mais rapidamente possível, afinal já estávamos quase meia hora atrasados. Entrei mesmo a tempo de festejar o golo de Soares, marcado da linha de grande penalidade, enquanto muitos ainda festejavam fora do estádio. Não vi os primeiros vinte e sete ou vinte e oito minutos nem sequer vi o lance que deu origem ao penalti. Cheguei e festejei, no exacto momento em que os poucos adeptos que estavam do outro lado do estádio levantavam uma tarja a chamar-nos pequeninos (voltaram a levantar outra tarja, a dizer o mesmo por outras palavras, mais tarde enquanto nós, munidos "só" do nosso amor pelo Vitória, lhes íamos mostrando o quão grandiosos somos).

O Boavista conseguiu empatar, e nós cantávamos mais alto. Pensei que estávamos sozinhos no estádio. Os vitorianos acreditavam e puxavam pela equipa, o décimo segundo jogador não deitava a toalha ao chão - nem ninguém o fazia dentro de campo. O marcador não se mexeu e levar o jogo a prolongamento foi inevitável. Os nervos estavam à flor da pele e o coração já batia muito rápido. Então cantávamos ainda mais alto, para que se ouvisse melhor. Os jogadores boavisteiros atiravam-se para o chão e provocavam quem estava no banco vitoriano. E nós cantávamos ainda mais alto. O tempo passava. E nós cantávamos mais alto. Acredito que Hurtado, com uma visão privilegiada, se tenha inspirado na moldura humana que tinha diante de si para bater a bola. O nervosismo era palpável. Só passou quando a bola trespassou a linha de fundo. Golo! O jogo ainda não tinha acabado, mas ninguém tinha dúvidas de que aquela vitória já era nossa.

Ouviu-se o apito final. Era irreversível. Aquele triunfo já ninguém nos tirava. No entanto, e numa competição tão bonita e histórica, o espectáculo dentro de campo não terminou da melhor forma. Sem me alongar muito neste assunto até saber quais vão ser os castigos (que têm de ser obrigatoriamente severos e céleres, como foi com Marega), só tenho a dizer que comportamentos destes não dignificam em nada o futebol. Pelo contrário. O futebol não é violência e quem optar por ser tão sujo (e isto já não é novidade no Boavista), não tem lugar nenhum no futebol. O Miguel Silva foi pontapeado por alguém do staff adversário e foi agredido por dois jogadores - isto é o que se vê nas imagens, ainda antes das equipas recolherem aos balneários. Quanto ao que se passou no túnel só os envolvidos podem esclarecer o que realmente se passou, mas espero que hajam imagens - o estádio do Boavista tem câmaras em tudo o que é sítio, espero que o túnel não seja uma milagrosa excepção. A violência não se ficou dentro das quatro linhas. Antes do início do jogo um casal vitoriano na casa dos sessenta anos foi violentado e roubado nas imediações do estádio e, segundo consta, sob uma polícia serena e nada interventiva. Não desejo a despromoção a ninguém, porque sei o quanto isso custa a quem ama verdadeiramente o símbolo, mas sou da opinião de que quem não sabe estar... não merece estar. O Vitória volta ao Bessa daqui a menos de um mês. Convém que até lá sejam tomadas medidas adequadas e que o Vitória seja publicamente defendido por quem de direito. Quem nos ataca, seja de que forma for, não pode sair impune. As críticas à arbitragem por parte dos axadrezados não passam de uma tentativa de tirar o foco do verdadeiro problema que foi a constante violência - e não falo só do que se passou depois do final do jogo. O "nosso" Rafael Miranda teve de sair porque lhe fracturaram uma costela. Deve pontapear-se a bola, não o jogador.

Por fim, e depois de mais de meia hora de espera dentro do Bessa, fizemos o percurso a pé de regresso à estação, e depois de metro para a Campanhã para voltar finalmente à cidade berço. Mais uma vez a polícia não nos tratou da melhor maneira. O que já não é nenhuma surpresa. Fizeram-nos esperar à porta da estação de metro durante cerca de vinte minutos. Iniciamos a viagem de regresso a Guimarães precisamente à meia-noite. Foi a minha segunda viagem ao Porto esta época a acompanhar o Vitória - a primeira foi no início de Setembro, ao Dragão, e agora ao Bessa. Duas deslocações que podiam ser tranquilas mas em que fomos mal recebidos por uma organização incapaz. Nestas duas deslocações puseram os vitorianos sob situações de grande tensão e, das duas vezes, houve agentes de "segurança" a provocar deliberadamente adeptos vitorianos com o sorriso arrogante que só um bastão lhes dá. Recuam sempre, quando percebem que estão a ser filmados. Fazem-no porque sabem do comportamento errático que têm connosco. Só connosco. Estas situações não se podem repetir. Acabam por afastar os adeptos dos estádios, por muito grande que seja o amor. Os pais ficam com medo de levar os filhos. E todos sabemos que futebol sem adeptos não é nada.

Agora, e uns dias depois do jogo, ainda me lembro da cara de cada jogador naqueles épicos momentos depois do jogo acabar. Os olhares de admiração e os sorrisos de agradecimento enquanto estavam ali, à nossa frente, a cantar connosco. Cada um deles era um de nós. Éramos todos uma equipa - já não interessavam as distinções. Éramos um grande grupo de pessoas unidas por um amor comum que tentamos engrandecer de formas diferentes. O que eu vi nenhuma câmara filmou mas eu gostava de mostrar aquilo ao mundo e perguntar a toda a gente se realmente não conseguem entender. Não há forma melhor de explicar o que é o Vitória. Na minha cabeça, em repetição, estavam as palavras de Carlos Daniel de há uns anos, e que ainda hoje me arrepiam: "eles tornaram-se ídolos dos próprios ídolos". A simbiose perfeita. Apesar de todos os pontos negativos que referi - que não foram queixas, de forma nenhuma - tudo valeu a pena. Já me perguntaram, inúmeras vezes, porque é que não fico em casa. Não gastava dinheiro, não passava frio, não apanhava chuva nem passava por muitas situações desconfortáveis. Ficava confortavelmente sentada no sofá, como muitos fazem. Era mais fácil, de facto. No entanto eu não seria tão feliz. Então vou, vou sempre. Vou depois de uma derrota, vou depois de ficar doente, vou depois de eles dizerem (e fazerem tudo) para não irmos. Vou sempre, e não sou feliz se não for. Os momentos protagonizados pelos vitorianos nas bancadas do Bessa foram um verdadeiro hino ao futebol, a Guimarães, a todos os que apoiam o clube que amam, o clube da terra, o clube que os representa. Perdoem-me se, com tantas palavras, não consegui expressar a nossa grandiosidade. Não consigo pensar em palavras que façam justiça àquilo que vivi (vivemos). As palavras ainda me faltam, ou ainda não foram inventadas. Mas se vos perguntarem o que é que aconteceu, afinal, de tão especial no Bessa, digam-lhes que viveram o Vitória. Eu vivi o Vitória. Um dicionário completo não seria suficiente para explicar isso.

terça-feira, 15 de novembro de 2016

Isto (também) é o Vitória

Foto: Vitória SC
Tenho sempre a sensação de que os fins-de-semana sem futebol (as selecções jogaram, eu sei, mas não é a mesma coisa) são aborrecidos, maçadores e chatinhos. Acredito que é um estado de espírito comum a todos os apaixonados por futebol e independente das cores de cada um. Afecta-nos a todos. Apesar disto, a interrupção dos campeonatos de futebol profissional não implica não haver Vitória. Este fim-de-semana foram muitos os conquistadores a entrar em campo para lutar pelo nosso símbolo e o rescaldo é muito positivo. Mais uma vez os nossos atletas mostraram estar à altura da camisola do Rei e mostraram merecer o apoio de todos os vitorianos e, sem as equipas A e B de futebol, foi um fim-de-semana "à Vitória". Há uns tempos disseram-me que o Vitória devia era "investir tudo no futebol e deixar as modalidades" e eu, naturalmente, discordei. O Vitória sempre foi, e é, muito mais do que uma equipa de futebol. É uma instituição ecléctica (das mais eclécticas de Portugal) e contrariar isso seria contrariar a nossa própria identidade. Tenho um tremendo orgulho em todos os nossos atletas e tenho a noção de que, apesar da pouca atenção que recebem, contribuem muito para o crescimento do Vitória. Tento acompanhar as modalidades sempre que posso e nunca me senti desiludida. Há resultados negativos, como é óbvio, mas nunca vi um atleta desrespeitar o nosso símbolo ou sair do pavilhão de cabeça baixa. Lutam até ao fim, são resilientes e apreciam o símbolo que carregam. Isso é, para mim, uma definição do que é ser vitoriano.

As equipas masculinas séniores de basquetebol e voleibol jogaram em casa e deram boas indicações ao conquistar os três jogos disputados. A equipa masculina de basquetebol venceu por 66 - 62 a UD Oliveirense e conquistou, assim, a primeira vitória caseira do campeonato. Pedro Pinto esteve em destaque: 18 pontos e 5 assistências. À 6ª jornada, o Vitória encontra-se no 5º lugar, com 9 pontos e em igualdade pontual com AD Ovarense e FC Porto. A próxima jornada, novamente em casa, é precisamente frente ao FC Porto e é "obrigatório" ganhar. O jogo disputa-se no próximo Sábado, dia 18, pelas 18 horas no pavilhão do Vitória. Depois de três derrotas consecutivas, a equipa feminina venceu pela primeira vez na 1ª divisão na casa do JuveMaia por 42 - 51. As nossas conquistadoras, que ascenderam à 1ª Divisão, ocupam a 5ª posição do campeonato com 5 pontos, em igualdade pontual com mais duas equipas. O campeonato não começou da melhor forma mas o mais importante nunca é como começa, mas sim como acaba. Na próxima jornada as nossas meninas recebem o Guifões S.C., pelas 21 horas de Sábado. O voleibol masculino do Vitória disputou uma jornada dupla que foi sinal de conquistas a duplicar. Depois de duas derrotas consecutivas e nenhum ponto conquistado a equipa mostrou-se capaz e resiliente e entrou em competição da melhor forma. No Sábado venceram o VC Viana por 3-1 e no Domingo venceram por 3-0 o Sporting Clube de Caldas. Bruno Cunha esteve em claro destaque ao concretizar 19 pontos em cada jogo. A equipa encontra-se no 5º lugar, com seis pontos. A equipa feminina, infelizmente, saiu derrotada fora de portas pelo São Mamede de Infesta por 3-1. (Infelizmente não consigo encontrar a classificação nem o calendário da equipa feminina de voleibol do Vitória - nem no site oficial do clube nem em nenhum lado.) Depois do empate caseiro a 7-7 frente ao CNAC, a equipa sénior de pólo aquático foi a Felgueiras conquistar a primeira vitória no campeonato frente ao FOCA, no passado sábado, por 8-9. Apesar da entrada em falso no campeonato, com uma derrota pesada em Alvalade, na antecipação da 4ª jornada (disputada ainda antes do arranque oficial da temporada) a equipa parece ter encontrado o rumo e está bem posicionada na tabela classificativa: depois de três jogos disputados encontra-se no 4º lugar com o total de 4 pontos e apenas a 2 pontos dos primeiros três classificados. A próxima jornada, frente ao CDUP, tem lugar no próximo sábado pelas 19:30 na cidade berço!

Sem futebol profissional, foram os nossos pupilos a conquistar! Os juvenis, liderados por Luís Filipe, garantiram, com a Vitória por 2-0 sobre o Varzim, a passagem à segunda fase do campeonato nacional da sua categoria. A vitória podia ter sido ainda mais expressiva, não fosse um penalti falhado ao cair do pano. Os golos foram apontados por Alberto e por Horvath, o central húngaro que se estreou a marcar. O Vitória foi o terceiro apurado, com 23 pontos e com a melhor defesa do campeonato - sofreram apenas sete golos nos onze jogos disputados -, com o ataque a ser dos mais eficazes, com 23 golos marcados. Os nossos iniciados alcançaram, também eles, uma vitória por 2-0 frente ao Palmeiras e encerraram, assim, uma 1ª Fase brilhante. Em 11 jogos empataram uma vez e venceram... dez! Conquistaram, com mestria, o primeiro lugar com trinta e um pontos. São números que prometem não só a continuação de uma boa época mas que também nos dão garantias quanto ao futuro. Foi um bom fim-de-semana para a formação vimaranense e, neste ponto, não posso fazer referência apenas ao (nosso) Vitória. Os iniciados do Moreirense foram históricos: carimbaram, pela primeira vez, a passagem à 2ª Fase. Num campeonato em que o Vitória se apura em primeiro lugar e o Moreirense em quarto, é Guimarães que fica a ganhar. Parabéns a ambos os clubes, ao do meu coração e ao "vizinho"! É um orgulho ver que Guimarães consegue ter dois clubes na 1ª Divisão do campeonato nacional e que consegue fazer tanto no futebol de formação, contrariando o centralismo bacoco que se vive em Portugal. Que sejamos capazes de fazer ainda mais no futuro. Somos Guimarães!

P.S.: O nosso atleta Manuel Mendes, medalhado paralímpico e uma força da natureza, foi condecorado por Marcelo Rebelo de Sousa na última quarta-feira e não se esqueceu das suas raízes. Nas palavras do próprio "esta é também uma conquista dos vimaranenses e vitorianos" e ainda prometeu fazer "tudo para tentar estar em Tóquio". Por tudo o que já deu ao Vitória, e por levar sempre o nosso nome consigo honrando-o tão bem, nunca será demais agradecer. Obrigada conquistador!

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

A camisola

Foto: Vitória SC
O jogador perfeito é uma utopia. Por ser humano, e não uma máquina, é falível. Todos os jogadores erram, eventualmente. Há erros que são aceitáveis e desculpáveis, outros nem tanto. É uma linha ténue e é sempre subjectivo. O Marega chegou ao Vitória no início da época, na condição de emprestado, e se não era uma aposta dos vitorianos em particular e era ridicularizado nas redes sociais, rapidamente se apressou a mostrar serviço. Hoje lidera isolado e confortavelmente a lista de melhores marcadores do campeonato português, com dez golos em nove jogos. São números impressionantes e que, de facto, foram de extrema importância para a caminhada do Vitória até ao momento. O Marega não é um miúdo que se está a estrear na primeira liga. É um homem de vinte e cinco anos que já tem experiência na primeira liga portuguesa e, se é verdade que - acredito eu - nunca se deparou com adeptos tão apaixonados e exigentes como nós, vitorianos, não é menos verdade que provavelmente nunca foi tão acarinhado como estava a ser em Guimarães. Sejamos coerentes: Marega conquistou a difícil massa associativa vitoriana com o seu trabalho e qualidade e, pelo que fez até hoje dentro das quatro linhas temos de lhe estar agradecidos. No entanto Marega revelou-se um jogador problemático nos últimos jogos.

O maior objectivo de qualquer jogador, seja ele quem for, que integre qualquer equipa vitoriana - seja futebol, basquetebol ou pólo aquático - tem de impactar o mais positivamente possível a equipa. Isso significa contribuir em campo mas significa muito mais do que isso porque um jogador não pode resumir-se só a um indivíduo que até sabe dar uns bons toques na bola. Um jogador, principalmente do Vitória, tem de ser muito mais do que isso. Para além das qualidades óbvias que são indispensáveis, tem de ser um jogador de equipa e que pense no jogo em função da equipa, deve ser um jogador minimamente inteligente e que não contribua, de forma nenhuma, para a desestabilização do plantel (para isso já há quem esteja sempre disponível). Isto não é um jogador perfeito. Já tivemos excelentes jogadores que erraram, temos jogadores que erram e vamos certamente ter jogadores que vão errar. Faz parte do processo de crescimento. Só que esses erros não podem ser consistentes nem podem ameaçar o balneário ou o desempenho da equipa e, quando se comete um erro, deve assumir-se, tomar responsabilidade, estar preparado para acatar toda e qualquer consequência e imediatamente pedir desculpas, se estas forem sinceras.

O primeiro embate, digamos assim, de Marega com os vitorianos deu-se no Estoril. A reacção que teve, aquando da sua substituição, foi exagerada, infantil e demonstrou falta de disciplina. Pode ver-se a sua atitude por duas perspectivas: o maliano não aceitou a substituição ou, como vi nas redes sociais, ficou chateado consigo próprio por não ter o desempenho que queria. Pessoalmente, e é só a minha opinião, inclino-me mais para a primeira opção. Se foi esse o caso, em dois minutos desrespeitou o treinador, seu superior, o colega que o ia substituir em campo e por extensão toda a equipa. Foi uma atitude que me pareceu grave mas em que não vi necessidade de amplificar e por isso mantive-me quase isenta de expressar a minha opinião, embora a tivesse naturalmente. Pareceu-me uma situação que devia ser resolvida internamente e confio na capacidade de Pedro Martins em gerir o balneário e todas as situações mais complicadas que possam surgir. Marega foi titular em Vila do Conde e redimiu-se com um hat-trick. Os milhares de vitorianos na bancada nascente perdoaram e o jogador até teve direito a cânticos ensurdecedores. Os desentendimentos estavam no passado e Marega no presente, a ajudar a equipa. Como devia ser. Menos de uma semana depois o Vitória recebeu o Nacional e Marega voltou a ser a figura do jogo, infelizmente pelos piores motivos. Não demorou trinta minutos até lhe ser exibido um justo e inquestionável cartão vermelho. A culpa, essa, é de Marega. Viu o vermelho directo por falta de inteligência. A agressão surge de forma inesperada num jogo que começou muito mais calmo do que o jogo anterior, nos Arcos. O grande problema, e isto não diminuí a gravidade da agressão física repentina a um jogador adversário, é que a agressão foi o início de um emaranhado de situações caricatas e profundamente desnecessárias e tristes que se seguiram e que ainda, admito, me parecem confusas. O que eu vi, primeiramente no estádio e depois através das imagens televisivas, foi Marega a agredir gravemente o jogador do Nacional, ser expulso e, ao invés de acatar essa decisão inteligentemente e dirigir-se aos balneários, voltou para pedir explicações e, quando os colegas de equipa o tentavam acalmar e dispersar a tensão, repeliu Soares e fez uns gestos para a bancada que parecem ser dirigidos aos familiares (a percepção que tive no estádio foi outra, e era bem pior). O que se soube, logo depois do jogo terminar foi que o jogador abandonou imediatamente o estádio com a família, alegadamente sem permissão de qualquer responsável do Vitória. Estas situações levam-me a crer que o Marega é um jogador emocionalmente instável, indisciplinado, com problemas de controlo, despreocupado e frio o suficiente para abandonar a sua equipa e os seus colegas numa situação em que só se pode culpar a si próprio.

A discussão, essencialmente nas redes sociais, gira em torno de uma pergunta: deve Marega voltar a vestir a camisola do Rei? As opiniões dividem-se e não há forma de chegar a um consenso. Permitam-me que, por momentos, me desvie do tópico principal desta crónica. A camisola do Vitória é de um peso considerável no panorama português. O nosso símbolo é histórico, não só no futebol. A história vitoriana está intimamente ligada com a fundação do nosso país e com todas as lutas travadas para alcançar o objectivo da independência. Cada jogador, adepto, gestor ou treinador que represente o Vitória e que vista a camisola é, para além de um profissional ou de um sócio pagante, um embaixador do clube. Por isso mesmo vestir a camisola do Vitória é de uma extrema responsabilidade e, precisamente por isso, não está ao alcance de todos. Todos aqueles que a vestem, têm de ter consciência de que a camisola é constituída por duas partes. A parte da frente é constituída pelo símbolo, estrategicamente colocado sobre o coração, e a parte de trás tem o nome do jogador. Quem enverga a branquinha não se pode esquecer que a parte da frente da camisola é infinita e inquestionavelmente mais importante do que qualquer nome que esteja escrito atrás. A camisola do Vitória já conheceu muitos nomes. Uns vão ficar para a história, e fizeram de Guimarães uma casa onde serão para sempre acarinhados, enquanto que outros, talvez por não compreenderem a sua insignificância perante o Rei, deixam de ser bem-vindos. Cabe a cada jogador decidir de que lado quer estar. Não sei tudo o que se passou depois, não ouvi o Marega, não conheço o contracto de empréstimo selado com o Porto e por isso mesmo não sei o que vai acontecer a seguir. O que eu sei é que nenhum jogador é, ou será algum dia, maior do que o Vitória. Seja qual for o desfecho deste triste episódio, tenho a certeza absoluta de que nós vamos continuar fortes. O Vitória não é só um jogador e, como se já se viu, tem uma equipa e um colectivo de qualidade que, aliada à força do décimo segundo jogador, esse que não é passageiro e ama eternamente, pode conseguir cumprir e superar todos os objectivos a que se propõe. Não sei se o Marega vai voltar a vestir a nossa camisola mas sei que, se assim for, vai ter de se mostrar humilde e vai ter de trabalhar muito, mas muito, para um dia voltar a merecer o meu aplauso, se é que algum dia o conseguirá. Tenho as minhas dúvidas. Quem não entender que o Vitória é superior a qualquer individualidade então não está cá a fazer nada e a porta é a serventia da casa.

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Vínculo inquebrável

Foto: Pedro Cunha
Dificilmente se vai além do ordinário nas bancadas portuguesas. São muitas as razões que contribuem para isso mas este não é o sítio nem a altura para as enumerar. Vejo, demasiadas vezes, clubes que não têm apoio, que mal conseguem sobreviver e que vêem os seus estádios cheios apenas para apoiar certas equipas adversárias. Para quem gosta de futebol é uma realidade triste e desoladora. O futebol, em si, pode ser bonito mas no final do dia, e se formos frios e claros na análise, são vinte e dois homens a correr para disputar uma bola. O que torna, afinal, o futebol numa modalidade tão apaixonante? Talvez não haja uma resposta certa. Há até quem não reconheça a esta modalidade tais características. Eu cresci com esta percepção do futebol, em grande parte por causa dos adeptos do Vitória.

É praticamente impossível não perceber a ligação entre o Vitória, Guimarães e os vimaranenses. É um vínculo inquebrável. Para quem não sente fica difícil entender. Para quem entende, quem sente, é difícil encontrar as palavras que descrevam esta ligação. Eu gosto muito, muito de palavras. No entanto reconheço que em muitas ocasiões as palavras não são suficientes, não chegam. Há momentos que transcendem as palavras. O Vitória é um traço de identidade de todos os vitorianos. Não é um clube, uma instituição, um entretenimento de fim-de-semana, lazer. Por isso é que todos os vitorianos fazem tanta questão de cuidar, de nutrir e fazer crescer o Vitória. Não é chauvinista nem arrogante afirmar que ser do Vitória é ser diferente e único.

Os vitorianos já deram inúmeras provas de que é possível transcender o normal, o básico, o ordinário, o constante. O último jogo foi uma oportunidade de dar mais um espectáculo dentro do espectáculo. Protagonizado pelos do costume: os vitorianos, claro. Cerca de quatro mil vitorianos viajaram de Guimarães até Vila do Conde. O mais admirável é que o Vitória não mobiliza só as suas claques, que são fundamentais para organizar e motivar o apoio nas bancadas. O Vitória mobiliza famílias! Assim que cheguei às imediações do estádio vi, para além dos grupos de amigos, crianças com os pais e os avós, em família. E esse é um dos propósitos do futebol: a união e os momentos bonitos que devem ser partilhados com aqueles de quem mais gostamos.

Vou ao futebol há muitos anos. Já fui muitas vezes ao Estádio dos Arcos e conheço a maioria dos estádios dos clubes da primeira liga. Conheci-os sempre a acompanhar o Vitória. A força humana que vi e a unicidade que senti em Vila do Conde ainda me surpreendeu, apesar de todos os momentos maravilhosos e inesquecíveis que já vivi ao lado de muitos daqueles vitorianos. Não porque eu duvidava da nossa força, do nosso poder, do nosso amor. Não, não é isso. Eu sei do que os vitorianos são capazes. Ainda assim fiquei positivamente surpreendida e fiquei feliz. Tantos anos e tantos jogos a acompanhar o Vitória e ainda me emocionei quando os vitorianos levantaram os seus cachecóis e, em ritmo lento, começaram a cantar. As vozes encheram rapidamente o estádio e eu senti que se ouvia em todo o mundo. Olhei para o lado direito e só conseguia ver cachecóis. Do lado esquerdo a visão era a mesma. Olhei para trás e só via vitorianos, as camisolas iguais às minhas, os cachecóis a representar o Rei. O jogo já não tinha interesse. O que interessava era aquele momento, só aquele momento de uma beleza indescritível. Há quem tente negar a nossa grandeza com argumentos disparatados. Para quem esteve lá - na nossa bancada ou na outra - essa grandeza é inegável. Uma demonstração de apoio assim não dá margem para qualquer dúvida. Não estamos quase a ser campeões, não estamos em competições europeias, não temos ganho vários troféus nas últimas épocas. Isso não nos interessa. Somos do Vitória, independentemente do resto.

Dentro das quatro linhas os branquinhos estiveram à altura, com Marega a marcar um hat-trick e a isolar-se como melhor marcador do campeonato. O Vitória encontra-se no quinto lugar na tabela classificativa, a apenas um ponto do quarto lugar e a três pontos do segundo e terceiro classificado. Estamos a fazer o nosso caminho e estamos a cumprir. A continuar assim, com um bom desempenho da equipa e com o 12º jogador em máxima força e sempre presente, podemos fazer uma época muito bonita e começar a recuperar o lugar que nos pertence por direito. Quanto a nós, resta-nos fazer o que sabemos fazer melhor: ir ao estádio e mostrar que o Vitória não caminha sozinho. É mais um desafio que certamente será superado mais facilmente com as bancadas compostas e com o nosso apoio de sempre. O décimo segundo jogador foi, e é sempre, o homem mais importante do jogo. Comecei por perguntar o que torna o futebol numa modalidade tão apaixonante. A minha resposta pode ser condicionada, mas a verdade é que é a única explicação que encontro. O futebol é tão apaixonante por causa dos vitorianos e de adeptos como estes. Adeptos que são incondicionais e apaixonados. Enquanto estivermos presentes, o Vitória será sempre O grande.

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Uma vitória importante num período difícil

Foto: Vitória SC
A equipa vitoriana foi ao estádio do Estoril conquistar a 4ª vitória do campeonato. À 8ª jornada estamos na quinta posição da tabela classificativa e a três pontos do terceiro lugar. Um jogo bem conseguido do ponto de vista colectivo que provou que temos uma equipa com qualidade e personalidade que pode almejar, se souber ser consistente na qualidade e se for bem gerida a todos os níveis (principalmente em Janeiro!), a uma época de alto nível e com o bonito desenlace que nos tem faltado nos últimos anos. Apesar das estatísticas indicarem que foi o Estoril quem teve mais posse de bola, a verdade é que foi o Vitória quem fez melhor uso da mesma e que controlou o jogo desde o apito inicial. Foram os representantes do Rei que entraram com uma grande ambição que os levou a procurar o golo e criar muitas oportunidades. E, sob o mote "Marca golo na luta contra o cancro" no âmbito de uma excelente campanha dos estorilistas, foi o Vitória a facturar por duas vezes e a deixar o marcador em 0-2. Não fosse a ineficácia dos branquinhos (que não é de hoje) e estaríamos, certamente, a falar de um resultado mais dilatado e mais expressivo. O problema não se ficou só pela ineficácia. A arbitragem deixou muito a desejar, ou não fosse Carlos Xistra o dono do apito. Se me parece que esteve certo ao assinalar os foras-de-jogo e assim não validar os golos, esteve muito mal ao ignorar as duas grandes penalidades que ficaram por marcar e eram claras e a ser demasiado interventivo e a não deixar o jogo fluir naturalmente. Uma arbitragem à imagem do árbitro!

Foi uma vitória importante num período da época que não se afigura fácil. Na verdade não há jogos fáceis, portanto também não há etapas fáceis, seja no campeonato ou em qualquer outra competição e o jogo com o Santa Iria deixou-nos cientes disso. No entanto o Vitória está num período importante longe de casa e do estádio do Rei. O último jogo do Vitória em casa foi o empate épico frente ao Sporting no primeiro dia de Outubro. Desde então defrontamos o Santa Iria para a Taça de Portugal, no estádio do Sacavenense, e agora o Estoril, no Antónia Coimbra de Mota. Segue-se o Rio Ave, no próximo Domingo, no Estádio dos Arcos. Entretanto passa-se um mês até voltarmos a casa. No dia 4 de Novembro (sexta-feira) recebemos o Nacional. Voltamos a ter uma série de dois jogos fora de portas. Primeiro para a Taça de Portugal, no Bessa, num jogo em que só pode ter um desfecho: a vitória do Vitória. Voltamos então, na semana seguinte, ao campeonato e o Vitória desloca-se ao Estádio João Cardoso para disputar três pontos com o Tondela. Regressamos a casa no primeiro domingo de Dezembro. Isto significa que em cerca de dois meses os conquistadores vão disputar apenas três jogos no belíssimo D. Afonso Henriques. O Vitória tem um registo muito positivo em jogos fora de casa esta época com quatro vitórias em cinco jogos. Portanto, apesar de não ser um período fácil, acredito que o balanço seja positivo. E, uma vez que estamos a falar do Vitória e não de um clube banal, jogar fora de casa não é necessariamente jogar longe das suas gentes e de todas as vozes ensurdecedoras que, com os cachecóis no ar e com o símbolo perto do coração, compõem um décimo segundo jogador que tantas vezes é o melhor em campo. 

Quanto ao próximo desafio, em Vila do Conde, é sem dúvida um desafio que tem de ser trabalhado e preparado seriamente. No histórico de confrontos o Vitória apresenta uma vantagem clara: ganhou mais de metade dos quarenta e quatro jogos disputados a contar para o campeonato na casa de ambas as equipas e perdeu apenas nove. Só que a conversa muda de rumo se analisarmos apenas os confrontos no Estádio dos Arcos: em vinte e dois jogos, o Vitória conseguiu trazer os três pontos para Guimarães por apenas sete vezes e perdeu oito jogos. Realmente não é um reduto fácil e o Rio Ave costuma impor dificuldades enquanto anfitrião. O último jogo em Vila do Conde resultou na derrota vitoriana, com o resultado de 2-0. Mas não é o passado que entra em campo e, com a atitude certa, humildade e muito trabalho, é possível contrariar a história!

Nos restantes escalões foi um fim-de-semana que, apesar de haver um resultado positivo, deixou a desejar. Os juvenis não vacilaram frente aos vizinhos do Moreirense e marcaram três golos sem resposta. Os júniores foram à casa do rival conseguir um empate num jogo em que o menos importante me parece ser o resultado. Durante o jogo o guarda-redes vitoriano e internacional sub-19, Daniel Figueira, magoou-se na cervical durante o jogo. Isto é normal no futebol. O que não é normal é que um jogador tenha de esperar meia hora (!) para ser assistido pelos Bombeiros. Isto demonstra um profundo amadorismo e descuido por parte da estrutura do Sporting de Braga. Podia ser qualquer jogador e podia ser muito mais grave e um tempo de espera de meia hora pode fazer toda a diferença. É uma situação que tem de ser averiguada. Não se pode admitir que isto aconteça! A equipa B, por sua vez, continua numa má fase e numa série de derrotas demasiado longa - o jogo frente ao Cova da Piedade é a quinta derrota consecutiva. A equipa B encontra-se agora com apenas dez pontos e na zona de despromoção. É preciso encontrar o problema e as soluções. Ainda há imensos jogos pela frente mas é importante não desvalorizar a situação. O Vitória não se faz só de futebol e a equipa de basquetebol felizmente não nos faz esquecer disso: venceram o Sampaense por 77-90. Estes nossos conquistadores estreiam-se em casa à quarta jornada no próximo sábado pelas quinze horas. É hora de irmos ao pavilhão mostrar-lhes que estamos com eles!

P.S.: O Estoril teve a excelente iniciativa de dedicar este mês à luta contra o cancro e portanto vestiu-se de cor-de-rosa e em campo, com cada jogador, entrou uma mulher que conseguiu vencer este flagelo que afecta tantas pessoas. Esta iniciativa incluía conceder a entrada gratuita a todos os adeptos que se vestissem da cor referida e doar 250€ por cada golo marcado. No entanto estavam menos de dois mil adeptos no estádio. E isto não é uma crítica. É só um facto. E o facto é que os estádios portugueses estão cada vez mais vazios. As razões são muitas. No entanto entristece-me. O futebol merece mais e é muito mais bonito com estádios cheios!

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Taça dos sonhos

Foto: Grupo Santiago
A Taça de Portugal é uma competição especial. É, efectivamente, a Taça dos Sonhos. É a competição que proporciona oportunidades únicas e jogos ímpares. O jogo que o Vitória disputou no último Domingo, frente ao Santa Iria que compete nas Distritais de Lisboa, foi um exemplo disso mesmo. De um lado estavam jogadores profissionais que envergam um dos símbolos mais importantes e míticos do futebol português e do outro lado estava uma equipa amadora, composta por uma miríade de profissionais de outras áreas (o golo do Santa Iria foi apontado por Flecha, um maquinista) que decidem utilizar o seu tempo livre para jogar futebol. São realidades completamente distintas aos mais diversos níveis e não tenho dúvidas de que só o facto de disputar um jogo com o Vitória e com os jogadores que vêem jogar ao mais alto nível já foi, de certa forma, uma vitória para estes jogadores. Apesar de serem realidades distintas, a verdade é que estes jogos não são fáceis. Principalmente por duas razões: as equipas teoricamente superiores facilmente caem no erro de ser condescendentes e, consciente ou inconscientemente, diminuem o adversário e as equipas que são de escalões mais baixos estão sempre tremendamente motivadas, os jogadores querem mostrar serviço e sabem que jogar contra um clube da primeira divisão, principalmente clubes com mais prestígio, é um óptimo palco e pode traduzir-se numa oportunidade de dar um passo importante na carreira. Por isso é que eu não acredito em sorteios fáceis e muito menos acredito em jogos fáceis. A Taça de Portugal é fértil em mostrar-nos isso e há quase sempre surpresas, umas mais esperadas do que outras. Apesar de essas surpresas já me terem deixado triste, por exemplo na época passada em que o Vitória foi eliminados pelo Penafiel da II Divisão, acho que são estas surpresas que dão um encanto sem igual a esta competição.

O Vitória tem uma história bonita na Taça de Portugal e é uma competição, tal como todas as competições em que o Vitória se envolve, em que a ambição não deve ter limites. Se participamos então tem de ser para ganhar. Menos do que isso não pode, nem deve, satisfazer-nos. O discurso do presidente Júlio Mendes, que me parece estar em harmonia com o discurso de Pedro Martins, revela essa ambição: não só a ambição de chegar à final mas também a ambição de vencer. É essa ambição que, enquadrada num plano de acção condizente, deve vigorar no Vitória - não só para a Taça de Portugal, mas sim para todas as competições incluindo o campeonato. Não me canso de dizer que o lugar do Vitória é no cume do futebol português. A nossa ambição tem de se ajustar à nossa história, dimensão, paixão e amor.

Infelizmente não tive possibilidade de assistir ao último jogo, frente ao Santa Iria, portanto vou abster-me de comentários sobre o mesmo. No entanto, e pelo que li e vi posteriormente, acho que este jogo foi essencialmente uma aprendizagem. O melhor foi, obviamente, garantir a passagem à 4ª eliminatória da competição e saber que os nossos objectivos ainda estão ao nosso alcance. Não foi uma vitória fácil. Foi uma vitória sofrida e um jogo disputado até ao final. As mudanças, relativamente à equipa do épico jogo frente ao Sporting foram muitas: Pedro Martins decidiu manter apenas dois jogadores e no total foram seis jogadores que se estrearam de Rei ao Peito em jogos oficiais. Para além destas mudanças o relvado sintético do Sacavenense com diferentes dimensões das habituais dificultaram a tarefa. Se é uma prestação, ou melhor, resultado que me agrade? Não, de facto não é um resultado seguro frente a uma equipa que joga nas Distritais mas há alguns pontos positivos para além da vitória. Este jogo provavelmente serviu para Pedro Martins perceber quais jogadores precisam de limar algumas arestas, quais estão prontos para entrar em campo, serviu para dar ritmo competitivo e oportunidades àqueles que ainda não o têm e foi a oportunidade de ver Alex regressar aos relvados depois de uma paragem ingrata e prolongada. Foi uma experiência que podia ter acabado muito, muito mal - não se podia admitir perder já - mas que acabou por ter um resultado positivo. Foi uma experiência que nos mostrou que não pode haver facilitismos, que já ninguém quer ser o bombo da festa e que, cada vez mais, os clubes são competitivos e não querem saber do statuos quo para nada dentro de campo. Isso é bom mas torna o futebol mais competitivo e mais exigente e não nos podemos esquecer disso nem por um segundo.

O mais importante é que cabe-nos desenhar o nosso futuro, a nossa jornada, o nosso processo. O tenista indiano Leander Paes em tempos disse que, para ele, a jornada é muito mais importante do que o destino porque a euforia de chegar ao destino não dura muito, complementou dizendo que a euforia de ganhar o seu primeiro Grand Slam durou doze horas e não podia comparar essas doze horas com os vinte anos de trabalho que o levaram àquele momento. Há uma verdade intrínseca nestas declarações. Realizar um objectivo é, sem dúvida nenhuma, uma sensação quase transcendente e incrivelmente boa. No entanto não dura sempre, essa sensação eventualmente desvanece-se e não há como o inverter ou impedir. Depois ficam as memórias desse momento que guardamos para sempre com muito carinho. Mas o que nos transforma, nos muda, nos faz melhores no que quer que seja e que nos torna naquilo que somos não é aquele momento isolado da vitória, da realização. É o caminho que nos conduz até esse momento. Um caminho que pode ser tortuoso, do qual nos podemos desviar por momentos, um caminho que nos leva a desafios e obstáculos e durante o qual podemos cair mais vezes do que nos parece possível mas um caminho em que nos levantamos de cada vez que nos caímos. É como na vida, se pensarem bem no assunto. Nenhum homem é recordado pela forma como morre mas pode ser recordado pela sua vida. É o processo que valoriza o destino e não o contrário. Portanto estas dificuldades são o que vamos recordar mais quando pisarmos o relvado do Jamor, quando virmos o nosso capitão e a nossa equipa subir à tribuna e levantar aquela taça tão bonita. Estive duas vezes no Jamor, em 2011 e 2013. Conheço muito bem a derrota e a vitória naquele mesmo estádio, naquela mesma competição. A derrota pesada de 2011 foi parte do processo que nos levou à vitória dois anos depois. Caímos mas soubemos levantar-nos magistralmente. E nunca o Jamor foi tão bonito como quando nos viu dar vida àquele estádio!

P.S.: Os meus parabéns à administração do Vitória pela iniciativa de abdicar da parte da receita em favor do Santa Iria. É um gesto bonito mas acima de tudo estou certa de que é um gesto com significado e importância para este clube e para os seus jogadores e, em última instância, para o futebol em Portugal. No entanto não posso deixar de sancionar os adeptos do clube de Lisboa que, apesar de comparecerem em grande número (e isso é admirável) também vão causar algumas perdas financeiras ao clube que apoiam e que certamente não tem condições para as suportar. Os adeptos devem estar presentes para suportar e elevar o clube, nunca para o prejudicar! Pelas imagens que pude ver viveu-se um ambiente extraordinário e de festa naquele estádio, com adeptos de ambos os lados a dar o exemplo do que deve ser o futebol!

terça-feira, 11 de outubro de 2016

Os guarda-redes

Foto: Vitória SC
A posição de guarda-redes é talvez a mais ingrata de todas no futebol e é, no entanto, absolutamente indispensável para o sucesso do colectivo. Se o guarda-redes falha e a equipa perde é muitas vezes ele o alvo de todas as acusações. Se o guarda-redes tem um desempenho irrepreensível e a equipa ganha são raras as vezes em que recolhe todos os louros. Posto isto quero reiterar o que disse no início da época: é talvez a única posição que não me preocupa de forma alguma nesta equipa do Vitória. Não me preocupa porque estou certa do valor e da qualidade dos nossos activos.

Douglas chegou ao Vitória no mercado de Inverno da época 2010/2011, com Manuel Machado aos comandos da equipa. Cumpre, assim, a sétima época de Rei ao peito. Não é filho da casa mas já conquistou o seu lugar na história do Vitória e no coração dos vitorianos. Afinal foi um dos jogadores que ajudou a escrever aquela que é talvez a página mais dourada e mais bonita da nossa história. Quando chegou ao Vitória era Nilson o "dono" incontestável da baliza vitoriana. Douglas mostrou que, para além da qualidade, era um homem humilde, paciente e disposto a aprender. Passaram duas épocas (ou uma época e meio, para ser mais precisa) até conquistar o lugar na baliza e nesse período somou apenas um total de sete jogos. Tornou-se na nossa muralha e esta é uma alcunha que não lhe podia assentar melhor. Revelou-se um excelente guarda-redes e um dos melhores a actuar em Portugal. Isso tornou-o na escolha natural e óbvia para a baliza depois de Nilson sair. Nas três épocas seguintes foi sempre a primeira opção e só deixava a baliza, sob a liderança de Rui Vitória, em raras excepções - e normalmente por lesão ou castigo. Na última época foi a primeira opção do primeiro treinador: Armando Evangelista apostou em Douglas, sem nenhuma surpresa. Era o mais natural. No entanto Douglas tinha um concorrente pronto a tomar as rédeas da baliza.

Era o "miúdo" Miguel Silva. Ao contrário de Douglas, que chegou ao Vitória como um guarda-redes experiente e com provas dadas, Miguel chegou ao Vitória com 17 anos, pela mão do ex-treinador de guarda-redes Luís Esteves, para reforçar os juniores em 2013/2014 e nessa época alinhou por 18 jogos nos juniores e ainda foi chamado à baliza da equipa B umá vez. Tenho a certeza de que trabalhou arduamente, mas o salto para a baliza da equipa principal não foi demorado. A qualidade era muita! Foi no final de Outubro do ano transacto, no Estádio do Bessa, que Sérgio Conceição decidiu arriscar e pôr este "miúdo" na baliza (e ainda considero esta decisão como a melhor de Sérgio Conceição no Vitória) O jogo não era fácil - era na casa de um adversário difícil e com uma rivalidade histórica. Era imperativo que estivesse à altura do desafio. E esteve! Os comentários de desconfiança que ouvi no início do jogo nas bancadas (eu estava lá) dissiparam-se e no final ouviam-se elogios ao jovem que tomou bem conta da baliza. Os elogios multiplicaram-se quando os vitorianos chegaram a casa e viram que Miguel Silva não só guardou bem a baliza como acompanhou os adeptos nos cânticos. Naturalmente os vitorianos (e tantos outros rivais) apaixonaram-se por aquele miúdo que era tão nosso e que nos representava tão bem. Era único, tal como o Vitória. Desde aí, e até ao final da época, foi sempre o escolhido de Sérgio Conceição e os adeptos de futebol desdobrabam-se em elogios. Era unânime: este miúdo tem futuro! 

Esta época Douglas voltou à baliza e ganhou a titularidade de volta. As opiniões dividiam-se: de um lado estavam os que não entendiam e queriam Miguel Silva e do outro estavam aqueles que achavam uma boa decisão. Eu confiei em Pedro Martins e acreditei que ia tomar a decisão mais benéfica para a equipa. Aliás, acredito que o faz todos os dias. É a sua função! Tinha a minha opinião, claro, mas ela era irrelevante. Era Pedro Martins quem trabalhava todos os dias com estes dois jogadores, não eu. Eu pouco ou nada sabia. Sabia uma coisa: não seríamos mal representados! Ambos os guarda-redes representam bem o nosso símbolo e a competição, se saudável como acredito que seja, só pode ser benéfica: geralmente a competição estimula e motiva os dois jogadores. Quem ganha, para além dos próprios? O Vitória.

No último jogo do Vitória, frente ao Sporting em nossa casa, Douglas cometeu erros. Eu sei, tu que estás a ler sabes e tenho a certeza absoluta de que Douglas o sabe e por isso levantou as mãos e pediu desculpa aos adeptos. Se esses erros justificam as muitas críticas gratuitas e nada construtivas que ouvi? Não, na minha opinião não. Os erros têm de ser apontados e as críticas construtivas fazem parte e são sinal de interesse e apoio também. Não podemos é ser ingratos ou injustos. Naturalmente fiquei desagradada com os golos que sofremos porque podiam perfeitamente ser evitados. Não tomo partido de ninguém - nem do Douglas nem do Miguel - nem apoio uma guerra entre ambos que com certeza não existe no balneário. Não faz sentido. Acho que podemos estar certos de que temos bons e íntegros profissionais que já deram provas da sua qualidade. Não acredito em titulares indiscutíveis e acho que a titularidade nunca pode ser um posto. A Douglas temos de estar sempre agradecidos por nos ter ajudado a levantar aquela taça tão bonita. Miguel Silva já é um excelente guarda-redes e tem muita margem de manobra para melhorar. São os dois nossos pelo que dão e pela mestria e orgulho com que ostentam o nosso símbolo. Não sei se Douglas vai continuar na baliza ou se será Miguel Silva. Como já disse não me alarma e não me preocupa. Temos é de estar conscientes de uma coisa: o Miguel também vai cometer erros. E isso é normal. Esses erros vão ser cruciais e vão torná-lo num guarda-redes ainda melhor. Os erros fazem os profissionais crescerem. O que importa saber é que ambos vão dar o seu melhor pelo Vitória, apesar dos erros. E nós, enquanto instituição, temos de aprender com os nossos erros e depois crescer com eles. Agora o que importa realmente é o próximo jogo, frente ao Santa Iria. Seja com Miguel ou Douglas na baliza deve ser o início de um caminho a culminar no Estádio do Jamor com a conquista da Taça!

P.S.: Excelente iniciativa da Direcção do Vitória em ceder material desportivo a crianças de Timor, a pedido de um adepto que fundou recentemente o Académico Vitória Club. Sou da opinião de que todas as instituições devem ter uma obrigação social. Não tenho dúvida de que estes equipamentos irão fazer muitas crianças felizes e, afinal, essa é a verdadeira finalidade do futebol. Fico muito feliz em ver o meu clube fazer parte de uma sociedade melhor e mais feliz!

terça-feira, 4 de outubro de 2016

Resiliência

Quisieron enterrarnos, pero se les olvido que somos semillas.
- Provérbio mexicano
Foto: @jdiogo10
No cinema todos os momentos épicos têm uma banda sonora igualmente épica. Há momentos que o merecem. Eu acho que tenho a minha para os 20 minutos finais do jogo disputado no último sábado. Não foi aleatoriamente escolhida. Ao intervalo a inconfundível voz de David Bowie encheu o estádio com Heroes. Não pude deixar de trautear uma música que sei de cor. Nem eu nem o senhor que se senta religiosamente na fila atrás da minha todos os jogos. Com o marcador a ser claro quanto à desvantagem dos nossos branquinhos, não sei se a trauteamos porque acreditávamos que podíamos ser "heróis" e mudar o rumo dos acontecimentos que, sejamos sinceros, não estavam nada a nosso favor. Em última instância, trauteamos a música porque gostamos os dois de Bowie. Mas isso é tema para outro dia e outro lugar.

A desvantagem, que já era desanimadora ao intervalo, aumentou para uns expressivos 0-3 quando restavam apenas 20 minutos para o apito final. Dar a volta ao resultado, ou pelo menos lutar por um ponto, já parecia tarefa para super-heróis. Apesar do Vitória ter entrado melhor que o adversário, o Sporting conseguiu impor-se e dominar o jogo até ao terceiro golo. Os 20 minutos finais foram, nas palavras de Pedro Martins, "à Vitória". Marega iniciou, da linha de grande penalidade, um final de jogo tão inesperado como incrível. Fez o bis no minuto seguinte e Soares encerrou o marcador ao minuto 89. Em termos de classificação foi um acrescento de apenas um ponto mas todos sabemos que foi muito mais do que isso. Mostrou-nos que a nossa equipa tem uma qualidade tremendamente importante: resiliência. É um elemento do nosso ADN e da nossa identidade, enquanto instituição, desde o primeiro dia e é imprescindível para termos sucesso. Na área da física, resiliência é a "propriedade de um corpo recuperar a sua forma original após sofrer choque ou deformação". Num sentido figurado, resiliência é a qualidade de persistir, por mais difíceis que sejam as adversidades e os obstáculos. É a qualidade de tentar, mesmo quando nada parece estar em conformidade com a nossa vontade. Ninguém desistiu do jogo - nem dentro das quatro linhas nem na bancada. Ninguém se silenciou, ninguém acatou, ninguém aceitou. Consciente ou inconscientemente acreditamos em nós e acreditamos que podíamos fazer muito mais. Tínhamos essa obrigação. Não podíamos baixar os braços e deitar a toalha ao chão. Superamo-nos.

Não há nenhuma certeza sobre os primórdios do futebol ou sobre como começou. Há algumas teorias, mas não há certezas. Eu também não sei mas quero acreditar que o futebol nasceu para que possamos ter a oportunidade de viver momentos assim. A comunicação social não nos chama "grandes" nem nos dá esse tratamento e percebo cada vez melhor a razão. A palavra "grande" é demasiado banal para um clube como o Vitória. Quem esteve no estádio entende as minhas palavras. Nós não somos grandes, nós somos resilientes, somos incomparáveis. Somos um fenómeno inexplicável. Desconfio que não há, e talvez nunca haja, palavras que possam descrever com exactidão o turbilhão de emoções que toma conta de mim quando estou no estádio, com o símbolo do Rei bem junto ao meu coração e a entoar cânticos em uníssono com todas aquelas pessoas que partilham este amor tão grande comigo. O futebol nasceu por causa disto. Talvez para que, um dia, pudesse haver um elemento tão unificador como este. O Vitória é inexplicável e, portanto, é incompreensível para quem não sente.

Talvez a banda sonora deste jogo não seja nenhuma música do David Bowie. A banda sonora deste jogo, e de todos os outros, somos nós. Somos nós, os que não se escondem e o que estão sempre presentes e que cantam até que a garganta doa. Nós que, com as nossas vozes, calamos jornalistas e adversários. Nós, os que nunca se calam. São as nossas vozes, unidas, que personificam o Vitória. Enquanto não desistirmos, ninguém vai desistir dentro do campo. Somos o Vitória!

Um dos momentos mais bonitos do dia foi quando o nosso campeão Manuel Mendes subiu ao relvado. O estádio juntou-se numa ovação de agradecimento (vitorianos e sportinguistas) enquanto o nosso conquistador, orgulhosamente de Rei ao peito e com a medalha de bronze na mão, percorria o estádio. O nosso herói da vida real!

O provérbio mexicano com que dou início à minha crónica enquadra-se perfeitamente na nossa história. Quiseram enterrar-nos, mas não sabiam que somos sementes. Perdi a conta ao número de vezes que já anunciaram o nosso fim, a morte de um lendário. Fizeram-no vezes sem conta. De todas essas vezes mostramos que somos sempre maiores e mais fortes. Mostramos sempre que estão errados. Acredito que o Sporting, desde os jogadores aos sportinguistas em geral, já nos tinham "enterrado". Uns antes do jogo, outros durante. Esqueceram-se que não somos comuns. Somos o Vitória e, por cada passo atrás, somos motivados a dar mais passos em frente. De cada vez que nos deram como acabados, ficamos mais fortes. Talvez sejamos indestrutíveis, não sei. Mas sei que somos sementes e de cada vez que vamos ao chão levantamo-nos ainda maiores.