quarta-feira, 16 de março de 2016

A menina bonita do ténis

O sucesso mundial de Sharapova começou em 2004 quando venceu Wimbledon, o torneio mais prestigiante da modalidade, com apenas 17 anos. Desde aí, a menina querida do ténis acumulou uma data de títulos, ganhou 601 jogos e perdeu 145 e tornou-se na atleta feminina mais bem paga do mundo. Por tudo isso, e por muito mais, o anúncio que fez há pouco mais de uma semana foi tudo menos o que se esperava.

O teste anti-doping revelou que Sharapova competiu no Australian Open sob o efeito de meldonium. No anúncio que deu, informou-nos que tem tomado esta substância nos últimos dez anos sob aconselhamento médico. Não sou médica e os meus conhecimentos na área são reduzidos, para não dizer nulos. Portanto fiquei um bocado à toa, sem saber muito bem o que pensar. De notar que esta substância só passou a ser ilegal a partir do dia 1 de Janeiro do corrente ano.

Obviamente que a partir do momento em que se torna ilegal (seja pelo que for) que a substância deve ser deixada imediatamente. Sharapova disse que nem ela nem a sua equipa leram o e-mail enviado pela WADA (World Anti-Doping Agency) em que se podia ler no assunto Main Changes to The Tennis Anti-Doping Programme for 2016 (Alterações importantes no Progama de Anti-Doping do Ténis para 2016). A única coisa que pensei foi que, se de facto este e-mail não foi lido, é de uma incompetência indesculpável. Coisas destas não deviam acontecer a uma atleta que tem, sempre, atrás de si um enorme staff para que ela própria não tenha de se preocupar com estes assuntos.

Segundo apurei, através da leitura de algumas notícias referentes ao caso, é que se trata de uma substância que faz com que se liberte a mesma energia mas gastando menos oxigénio do que seria normal. Dito assim pode parecer pouca coisa, mas para atletas acredito que seja uma diferença abismal. Um porta-voz da empresa que produz a substância disse que o tratamento normal será de 4 a 6 semanas. A não ser que estejamos perante um caso anormal e com características muito peculiares, (se for o caso, e duvido que seja, conhecer-se-ao os detalhes brevemente), em que o tratamento passe de 4 a 6 semanas para muitos anos, parece-me um caso suspeito.

Desde o anúncio alguns patrocinadores foram rescindindo os contratos publicitários com a Sharapova. A primeira foi a Nike, seguindo-se pela Tag Heuer e a Porsche. E ainda foi suspesa, pela ONU como embaixadora da Boa Vontade. Provavelmente o início do fim. Seja qual for a decisão da WTA, a verdade é que a carreira brilhante que construiu durante anos levou um golpe muito duro e provavelmente irreparável.

Já muita tinta correu sobre o caso na imprensa e já muitos atletas da modalidade deram o seu apoio a Sharapova, enquanto outros foram mais duros. Serena Williams, a actual número um, aplaudiu a coragem enquanto que, por exemplo, Andy Murray foi mais duro nas críticas e está a ponderar até em rescindir o contrato com a Head, que mostrou o seu apoio a Sharapova.

Não sou ninguém para apontar o dedo, nem o quero fazer. Cresci a ouvir ténis e Sharapova quase lado a lado, como se fossem quase indissociáveis. No entanto fico sempre triste quando escândalos destes rebentam. Não consigo deixar de questionar tudo e todos os atletas. Se a Sharapova o fez, quantos mais não o poderão ter feito?

Vir a público fazer um anúncio destes exige coragem. No entanto, parece-me a única coisa que poderia fazer. Seria mil vezes pior se se escondesse e deixasse isto vir a público por terceiros. Demonstra coragem mas não apaga o uso desta substância.

Pessoalmente, e apesar de gostar muito da Sharapova, espero que não saía impune. No final a verdade é que acusou positivo para uma substância ilegal, e uma substância que já foi confirmada como sendo uma droga capaz de melhorar o desempenho de quem a consume. Isso é faltar à verdade. É desrespeitar o adversário e a modalidade. Na minha opinião, todos os que o fazem merecem ser punidos!

Se a carreira de Maria Sharapova, a tenista russa que conquistou o mundo e que se tornou uma das melhores tenistas de sempre (se bem que é legítimo questionar tudo aquilo que venceu até agora, como se questiona sempre que sabemos de coisas destas), será um final de carreira triste e inesperado.


Sem comentários :

Enviar um comentário