terça-feira, 22 de março de 2016

Que venham dias melhores

Foto: Vitória SC
Não adianta andar com rodeios: o Vitória está mal. Acho que já todos percebemos isso e dizer o contrário é negar a realidade. Um clube que devia andar a lutar pelos lugares cimeiros da tabela classificativa, já com a Europa garantida sem contar os pontos, e se encontra no 9º lugar não pode estar bem, pelo menos do ponto de vista desportivo.

Parece-me insustentável continuar desta forma. Nos últimos três jogos não conquistámos um único ponto e não só saímos derrotados como, ainda mais alarmante, o Vitória praticou um futebol pobre e limitado. Em 30 pontos disputados desde o início da 2ª volta até hoje, conquistámos apenas uns míseros 11 pontos (2 vitórias, 5 empates e 3 derrotas). Podem até dizer-me que não é mau, afinal nos jogos teoricamente mais complicados obtivemos bons resultados: vencemos o Porto, fomos empatar à pedreira e empatámos em casa contra o Sporting. Infelizmente, não são só os jogos "grandes" que contam . Preferia, sem qualquer tipo de dúvida, ter perdido esses três jogos e ter ganho os restantes 7 da segunda volta. Se assim fosse, teríamos somado 21 pontos, mais dez do que os que temos agora. Não soa mal, pois não?

Sempre que há um problema (neste caso parecem-me ser vários), é peremptório identificá-lo(s) e encontrar a(s) solução/ões para o(s) resolver. Não acho que há só uma fonte de problemas no Vitória. Há apenas uma parte do clube que eu tenho a certeza absoluta que não tem culpa nenhuma: nós, os adeptos. Isso é inquestionável!

Seria muito fácil colocar a culpa só nos ombros dos jogadores porque afinal são eles que jogam, que estão dentro de campo e que têm de levar a equipa ao encontro dos três pontos porque mais ninguém tem a bola nos pés para além deles. Têm, naturalmente, a sua quota parte de culpa mas não são os donos dela, de forma nenhuma. Parece-me que, a alguns jogadores, lhes falta por vezes atitude (basta comparar o jogo contra o Sporting, que não foi excelente mas foi um jogo que empatámos porque fomos lutadores durante os noventa minutos, com o jogo seguinte em Coimbra, em que vi uma equipa mais apática e conformada). Não quero carregar sempre na mesma tecla mas olho para o Victor Andrade e não vejo a atitude de dar o litro em campo como se não houvesse amanhã nem a garra de jogar para o melhor da equipa, quando tem os pés na bola vejo-o mais a trabalhar para se mostrar individualmente do que para o sucesso colectivo. Posso estar a ser tremendamente injusta mas fico sempre com essa sensação.

Sérgio Conceição, naturalmente, também toma parte na situação. Na semana passada eu disse que discordo da política de emprestados. Discordo com mais veemência quando os emprestados não acrescentam muito à equipa e, sabendo disso, se insiste em tê-los dentro das quatro linhas quando há, na minha opinião, soluções que poderiam dar mais frutos (e isto é só a minha humilde opinião, que não sou treinadora de futebol). A sua função é, como dizia Steve Jobs, comandar a orquestra. Manter a equipa motivada, tirar o melhor de cada jogador, estudar o adversário e encontrar a melhor forma de o enfrentar. É essa a sua função. É isso que nós, enquanto adeptos, esperamos do treinador. Não é isso que temos visto, pelo menos ultimamente. Vimos alguns jogadores importantes (e muito importantes no balneário, pela experiência e sabedoria que têm e que deve ser transmitida aos mais novos) serem "afastados", um onze que nunca é certo e uma equipa que devia jogar melhor do que o que joga. Não digo que todo o trabalho do Sérgio foi mau, porque não foi, mas também não digo que foi muito bom, porque não foi. Se é verdade que não foi ele que formou a equipa no início da época, não é menos verdade que já era ele que estava nos comandos da equipa em Janeiro, e não vimos melhorias significativas desde aí, nem vimos ninguém entrar capaz de acrescentar grande valor à equipa.

No entanto, a maior culpa parece-me vir "do topo", da direcção. Uma época visivelmente muito mal preparada para uma equipa que tem como objectivo a Europa não podia dar bom resultado. Esse foi o maior problema de todos. Não posso negar que a direcção entrou para o Vitória numa altura de debilidade e numa situação francamente má, o que requer a coragem de quem se candidata. Financeiramente a direcção tem feito um bom trabalho, o abatimento do passivo é um dos exemplos e nesse aspecto estou satisfeita. Só que não chega! Como vitoriana gostava muito de ver uma maior progressão no panorama desportivo. Não adianta dizer que ganhámos a Taça de Portugal em 2013 com esta direcção, para dar a ideia de que o Vitória tem tido um sucesso tremendo no futebol. Felizmente vencemos, mas e depois? Vamos estar a dizer isso pelos próximos dez anos enquanto vemos o Vitória a lutar pelo meio da tabela classificativa? A contar os pontos para alcançar a Europa? A ser eliminados das competições bem no início das mesmas? Não são essas as minhas aspirações. Quero ver o Vitória a conquistar muito mais, a ser muito mais feroz, a ser um pesadelo para qualquer adversário, seja no berço ou fora. Para isso precisamos que o nosso presidente seja capaz de fazer mais pelo futebol, de ter uma mão forte e de defender exclusivamente os interesses do Vitória - e de mais ninguém!

Faltam sete jogos para o final do campeonato, ainda estão em disputa 21 pontos. Agora já não depende só de nós, mas ainda é possível alcançar a Europa. Espero que esta época sirva de exemplo para que se possa preparar, cuidadosa e meticulosamente, a próxima época. Espero (como sei que vocês também) que possamos voltar a um caminho de conquistas no futuro próximo. Afinal somos os conquistadores deste país, não somos?

Para terminar, só uma nota final: sou sócia pagante do Vitória há muitos anos, portanto acho que estou no direito de comentar a situação do meu clube. Não o faço, de forma nenhuma, pejorativamente. Sou vitoriana portanto o que faço não é por ser do contra pela diversão de ser do contra. Eu não sou contra ninguém, mas sou a favor do Vitória. Não tenho nada pessoal contra qualquer jogador do Vitória, nem contra o Sérgio Conceição ou contra o presidente Júlio Mendes. Pelo contrário, enquanto são "nossos", estão no Vitória, desejo que tenham o maior sucesso do mundo porque isso leva ao sucesso do Vitória. Acho que uma grande qualidade dos vitorianos é que são, no geral, muito pro-activos. Sempre vi, desde que me lembro, muitos vitorianos discutir soluções e melhorias para o Vitória porque somos uma massa associativa apaixonada e que só quer, mesmo que as opiniões se dividam, que o Vitória cresça. Portanto deixem-se de coisas e discutam o Vitória, porque o nosso objectivo é o mesmo: um Vitória ainda mais grandioso e capaz de lutar para o máximo possível em todas as competições em que se envolve. Esse é o objectivo! Todos sabemos muito bem que o Vitória é mais do que isto, mais do que maus resultados, mais do que jogadores, mais do que os treinadores que passam por cá e mais do que a direcção. O Vitória continua, nós também mas o resto não!

6 comentários :

  1. Excelente texto Raquel. De uma verdadeira vitoriana que sabe ver para lá da "espuma" das coisas.
    E de uma pessoa inteligente e bem formada que sabe que a nossa grandeza também assenta na liberdade de discutir tudo que diz respeito ao nosso clube. Sem inibições, sem tabus, sempre com o amor ao Vitória a comandar o pensamento. Muito bem.

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  2. Muito obrigada.
    Acho que é fundamental discutir a actualidade do Vitória. Por norma quando concordamos com tudo é mau sinal. Só é uma pena que os sócios não sejam mais ouvidos. Acredito que seríamos ainda maiores e melhores!

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  3. Uma das razões da nossa riqueza associativa é a paixão com que sempre discutimos o nosso clube. Sempre! É pena que nos tempos que correm exista gente que acha que a obrigação dos adeptos é apoiarem cegamente a SAD e o treinador sem nada discutirem e sem nada porem em causa. Comigo não contarão nunca para isso. E sei que com a Raquel também não. Pela simples razão, que alguns não compreendem e outros fazem de conta não compreender,que somos adeptos do Vitória. Não de dirigentes,treinadores ou jogadores.

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    1. Não conseguia dizer melhor. Quem está no Vitória tem o apoio de todos até porque todos queremos ver o Vitória vencer. Ninguém está contra ninguém, só que estamos a favor do Vitória e isso é o que importa. Se todos discutirmos o que se passa, o único risco é o de tornar o Vitória maior. Se concordarmos com tudo o que vemos o risco é o de piorar ao deixar tudo nas mãos de poucos. Enquanto há discussão, há interesse. Quando há silêncio, nem tanto...

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  4. Olá Raquel,
    Mais uma vez cá estamos a falar do nosso Vitória (com mais um excelente texto) mas não pelas melhores razões. Já há dias tinhas falado do problema dos emprestados e comentei esse texto concordando que não é a política a seguir. O que é certo é que parece ser mesmo essa a política com os frutos que vemos. É realmente degradante ver atualmente o Vitória jogar, com 6/7 jogadores emprestados com a mais-valia que isso tem trazido. Algo vai mal no Nosso Reino e só espero que se aprenda com os erros cometidos, porque de palavras vazias estamos nós cheios. Somos fieis, é verdade, mas há limites...

    Rui

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    1. Olá Rui,
      é verdade... Desta vez não falamos do Vitória pelas melhores razões. De facto, o Vitória tem passado por alguns problemas (diria que a maioria podiam ter sido evitados e que o devem ser a partir de agora porque já vimos o resultado) que não nos têm permitido subir para os lugares pelos quais devíamos estar a lutar. Que sejam corrigidos rapidamente e que a próxima época seja devidamente preparada para que o desfecho seja diferente e melhor. Nós estaremos presentes, como sempre estamos!

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