terça-feira, 14 de março de 2017

No futebol e nas modalidades: (ainda) podemos sonhar

Foto: Vitória SC
O futebol é apaixonante. As reviravoltas, as histórias improváveis de conquista, a união, o sentimento de pertença, a família, o pai que contagia a filha, os golos incríveis marcados aos 90 minutos e que selam a vitória. Infelizmente, e apesar de tudo isso, não é difícil perceber porque é que, da bancada, há quem se sinta cada vez mais afastado da modalidade. Há dias em que o encanto do futebol é manchado e denegrido por quem se julga de direito. Não são casos isolados, são uma constante do futebol português. O Vitória já se viu envolvido em muitas polémicas relacionadas com a arbitragem - seja, não raro, por simples incompetência do senhor do apito, porque a outra equipa, toda poderosa, precisa dos pontos ou porque começamos a incomodar alguém. É neste estado que está o futebol português: sem valores e, portanto, usa-se daqueles valores que, no momento, dão mais jeito. Foi o que fez Tiago Martins, relativamente aos seus critérios. Não gosto de falar das arbitragens, uma vez que está fora do nosso domínio - jogadores, equipa técnica, adeptos e toda a estrutura -, e por isso dispenso alongar-me mais neste assunto. Na flash interview Pedro Martins foi directo, conciso e assertivo. Eu só subscrevo, sem acrescentar mais nada.

Apesar de tudo isto, seria ingénuo imputar a culpa apenas à arbitragem. Podemos apontar o dedo em duas direcções: à arbitragem e a nós próprios. Cometemos erros fatais, não soubemos concretizar e, no final, desperdiçamos a oportunidade de ocupar o 4º lugar, igualando pontualmente o Sporting de Braga, que empatou em Chaves. Infelizmente, é isso que temos dito quase desde o início da temporada: mais uma oportunidade perdida. Quando os outros escorregam, nós também escorregamos. Quando vemos os outros a dar-se mal, nós também nos damos mal. Quando temos uma boa oportunidade somos incapazes de a agarrar. É o fantasma da época. Impediu-nos primeiramente a inexperiência, depois a janela de transferências, depois os jogadores que não estavam entrosados com a equipa e que chegaram com pouco ritmo, depois a arbitragem e pelo quinto lugar andamos, sempre à procura do 4º ou, no melhor cenário, do pódio. Não me interpretem mal. Não estamos a fazer uma má temporada, mas tenho a certeza absoluta que temos (talvez tivéssemos mais em Dezembro, mas ainda temos) armas para fazer uma época bem melhor. E isso é, talvez, o mais frustrante. Digo e repito inúmeras vezes que só interessa o nosso caminho. A nossa época não deve pautar-se por ficar à frente de certos clubes, como se isso fosse uma vitória. Não é. O nosso objectivo no campeonato deve passar por ficar no topo da tabela classificativa, onde pertencemos. No entanto, não deixa de ser frustrante continuar atrás de um Sporting (o de Braga) que é o pior das últimas épocas com um Vitória capaz e que foi anunciado como sendo o melhor dos últimos anos. Podemos argumentar que ainda estamos a disputar a Taça de Portugal, coisa que os nossos adversários directos já não fazem, mas não chega - por muito bom que seja. Júlio Mendes assumiu, finalmente, na conferência de imprensa a vontade de ficar no 4º lugar. Ainda há muitos jogos por disputar e muitos pontos por discutir. É possível, mas temos de ser mais taxativos e não podemos cometer tantos erros. Não vamos encontrar benefícios, apenas dificuldades. Contamos apenas connosco e temos de ser realistas e esperar os erros dos outros - sejam eles propositados ou não; seja o Tiago Martins ou outro qualquer - e isso, automaticamente, diminuí a nossa margem para errar.

Noutros campos, foram outros jogadores a honrar a branquinha. No complexo, os sub-19 bateram o Sporting pela margem mínima e ocupam agora o 2º lugar na classificação, a 2 pontos do Belenenses. Mas nem só de futebol se faz o Vitória. No Domingo foram muitos os vitorianos a deslocar-se ao Pavilhão para apoiar os seniores do basquetebol, que receberam o Benfica. A equipa que nos tem feito sonhar em todas as frentes (vai defrontar a Oliveirense nos oitavos-de-final da Taça de Portugal) fez um excelente jogo frente ao poderoso Benfica e manteve-se na frente a maioria do tempo, muitas vezes com mais de 10 pontos de avanço. Infelizmente a equipa não teve armas para segurar a vantagem e acabou derrotada por 80-85. Os nossos conquistadores estão no 3º lugar, já a disputar a 2ª fase da competição, em igualdade pontual com a Oliveirense e a dois pontos do líder, o FC Porto. No próximo domingo, às 18 horas, é precisamente o actual líder que se desloca ao pavilhão vimaranense num jogo que se perspectiva ser um grande espectáculo. Vamos voltar a fazer deste um Domingo dedicado ao Vitória: primeiro no Pavilhão, depois no Estádio. Não menos importante nos últimos dias foi a vitória do Pólo Aquático. A formação vitoriana deslocou-se a Paços de Ferreira para derrotar o Pacense por 8-10. Está assim apurada para a Final 8 da Taça de Portugal. Não tenho dúvidas de que podemos sonhar com uma época de ouro nas modalidades e que pode ser coroada com a Taça de Portugal em futebol em Maio.

Nas bancadas, onde o apito não chega, os vitorianos voltaram a dar provas da sua unicidade. Ainda que as bancadas não estivessem cheias, estavam preenchidas por mais de 16 mil vitorianos. Um número que mostra a resistência dos vimaranenses em converter-se ao estarolismo e que dá alento a todos aqueles que apoiam o clube da sua terra, num país de mentalidade fraca e tripartida. Não é só no número de espectadores que o Estádio D. Afonso Henriques se diferencia. Na grande maioria dos estádios em que já vi futebol - e não foram assim tão poucos -, na condição de visitante, há focos de apoio no(s) sector(es) onde estão as claques e o resto do estádio costuma ficar acometido numa apatia e num desalento estranho. Em Guimarães não é assim. Em Guimarães as claques envolvem os adeptos "anónimos", em detrimento de os afastar. Na Sul inferior o apoio está sempre garantido e os White Angels e os Suspeitos do Costume acabam por dinamizar o resto do estádio. Na mítica Nascente, a presença dos Insane Guys - menores em número, mas nunca em mentalidade e no apoio - já é tradição. E, as claques juntamente com os restantes adeptos, fazem do nosso estádio um castelo em que o apoio nunca falta e onde os adversários nunca jogam em casa. "Gostar do teu pai, da tua mãe, da tua cidade e do teu clube": é assim que se vê - e se vive, sobretudo - o futebol em Guimarães. E é melhor que se habituem a isso e que se habituem a nós, porque não vamos a lado nenhum e, enquanto houver Vitória, nós vamos resistir.

terça-feira, 7 de março de 2017

Objectivos ao virar da esquina

Foto: Vitória SC
Na última semana o Vitória disputou dois jogos de extrema importância para a época desportiva. Na última quarta-feira recebeu e venceu o Chaves, a contar para a primeira mão das meias-finais da competição rainha do futebol português. Viajou então para Lisboa, para disputar a 24ª jornada da Liga NOS em Alvalade. Importava conseguir uma vitória com muitos golos no primeiro desafio, enquanto que no segundo só importava a vitória que valia 3 pontos, independentemente do resultado. A realidade não é tão boa, mas o balanço da semana, no que à principal equipa de futebol profissional diz respeito, parece-me ser positivo.

O Estádio D. Afonso Henriques foi palco do primeiro confronto da história entre o Vitória e o Chaves a contar para a Taça de Portugal. O clube da casa (e do meu coração) não foi o melhor anfitrião para os flavienses e para a história fica a vitória do Vitória, conseguida com dois golos incríveis de Hernâni. Foi um jogo que respeitou a história. O primeiro jogo de sempre entre as duas equipas foi em Chaves, a contar para a II Divisão na época 1955/1956. Um jogo repleto de golos que acabou com a vitória dos branquinhos por 6-4. Na segunda volta a vitória foi ainda mais categórica: o Vitória marcou por 7 vezes, sem nenhuma resposta. Foi a primeira vez que os transmontanos saíram derrotados de Guimarães. Muitos anos e alguns jogos depois, o Chaves continua sem saber o que é sair de Guimarães com uma vitória. O jogo da última quarta-feira não contrariou a tendência. Apesar de um resultado menos expressivo e de um jogo, acredito eu, mais equilibrado o vencedor foi o do costume. Os dois golos, para além de merecerem ser vistos e revistos, dão a vantagem ao Vitória. A vantagem deve dar confiança - à equipa e aos adeptos -, mas não deve descurar a preparação para o próximo jogo, disputado no Municipal Engenheiro Manuel Branco Teixeira. Entrar no tapete verde com uma postura relaxada e despreocupada é um risco que não podemos correr, especialmente agora que estamos tão perto do Jamor. Devemos entrar sem pressão, afinal é o Vitória quem está em vantagem, mas sem facilitismos. As bancadas, como é hábito no mais belo estádio português, estiveram compostas. Muitos vitorianos e uma falange de apoio flaviense merecedora de aplausos. Tirando os insultos, os apupos e assobios durante os festejos da equipa da casa é assim que as bancadas dos estádios portugueses deviam estar mais vezes: com adeptos que apoiam a equipa da sua cidade!

Depois da vitória caseira, os conquistadores viajaram até Lisboa. Pedro Martins seguiu a máxima de que em equipa que ganha não se mexe e foram os mesmos onze jogadores que subiram ao relvado de Alvalade, com destaque para Miguel Silva que, depois de uma excelente exibição no jogo da Taça de Portugal, recuperou as redes vitorianas no campeonato. Com a vitória do Marítimo a meio da tarde de Domingo, e consequente aproximação pontual ao Vitória, era fulcral pontuar em Alvalade. Para além de fulcral, sabíamos que ia ser complicado. Apesar do jogo da primeira volta ter sido épico (e impróprio para cardíacos), com um empate a 3 bolas, as deslocações ao reduto sportinguista nas duas últimas épocas ainda me faziam mossa. Duas derrotas pesadas, por 4-1 e 5-1, não são facilmente esquecidas. No entanto, a equipa vitoriana entrou no relvado sem fazer caso disso. De cabeça levantada, peito feito e vontade de conquistar fizeram uma primeira parte de muita qualidade, a disputar o jogo de igual para igual. Ao intervalo perdíamos pela margem mínima, mas a exibição dava-me confiança de que o rumo do jogo ainda podia mudar. A segunda parte foi menos frenética, mas igualmente equilibrada. Aos 76 minutos, Marega regressou aos golos. Depois de muitos jogos a fazer por marcar e de muitos outros a merecer o tão almejado golo, desta vez foram os pés do maliano a concretizar a conquista de um tão importante ponto. O resultado não é o melhor, mas é condizente com o que se passou dentro das quatro linhas. Foi um bom espectáculo de futebol, manchado apenas pela exibição pouco satisfatória de Jorge Sousa. No entanto, e quanto a isso, a minha posição é falar o menos possível, como já o disse. Não porque me conformei ou porque acho normal, mas porque pressionar ou coagir árbitros é uma constante no futebol português, amplamente aceite por dirigentes, pelos órgãos responsáveis, pela comunicação social e pela maioria dos adeptos que, cegos de fanatismo, só querem que o seu clube ganhe para poder exibir taças e campeonatos e justificar o seu "amor", o facto de isso custar a verdade desportiva é só um pormenor no meio de tantos outros. 

Com o ponto conquistado em Alvalade, a equipa orientada por Pedro Martins chega ao marco dos 40 pontos. A 10 jornadas do fim do campeonato, estamos no 5º lugar da tabela classificativa. O 3º lugar já se encontra a 8 pontos, mas o também apetecível 4º lugar está a apenas dois pontos e deve ser o objectivo no campeonato. Por agora! Voltar aos primeiros quatro melhores classificados é, sem dúvida, um novo passo para acordar este monstro vitoriano que tem andado adormecido. A final da Taça de Portugal parece estar também muito perto. Depois desta semana com resultados e exibições positivas, temos razões para esperar um término de campeonato que satisfatório. Ainda sem lançar foguetes, sem fazer a festa, sem demasiado entusiasmo. Apenas cientes de que sabemos fazer o nosso caminho, e sabemos fazê-lo bem - apesar de todas as contrariedades, e são muitas -, sem nos perdermos dos nossos objectivos. Cientes de que a luta vai ser muito dura e vai exigir muito trabalho. Mas se há quem mereça o trabalho e o esforço são as gentes de Guimarães. As gentes de Guimarães que a meio da semana marcaram presença no estádio, as gentes de Guimarães que, antes de um dia de trabalho, fizeram uma viagem longa e morosa para apoiar a equipa durante pouco mais de 90 minutos, as gentes de Guimarães que, ano após ano, acompanham o Vitória para todo o lado sem esperar ou pedir alguma coisa em troca, essas gentes de Guimarães que são incansáveis merecem. Nós, os que somos e sentimos o Vitória, merecemos! 
Foto: Joaquim Galante em Vitória SC

terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Destino: Jamor

Foto: Vitória SC
A Taça de Portugal é, talvez, a competição mais querida da maioria dos adeptos portugueses e, acredito, é a mais acarinhada pelos vitorianos. É o palco dos sonhos para todas as equipas. É o nosso palco dos sonhos. Os jogos têm um sabor diferente, todos querem ganhar, o estatuto tem pouca ou nenhuma relevância, a classificação do campeonato não significa nada e as equipas agigantam-se na expectativa de pisar o relvado do Jamor e, quiçá, levantar a tão cobiçada taça. Todas as equipas têm uma certa urgência em ganhar e isso é, porventura, a característica que torna esta competição tão bonita.

O Vitória entra em campo amanhã para disputar o primeiro jogo da meia-final, dentro das muralhas da nossa cidade. O adversário é o Chaves, outro emblema histórico português que tem uma massa adepta muito dedicada. Esta era a final que eu gostaria de ver no Jamor. Na impossibilidade de isso se poder concretizar quero, naturalmente, que o (meu) Vitória chegue ao Jamor e, mais do que isso, que volte a levantar a taça. Esse é o sonho, mas não vai ser fácil. Entrar em campo a achar que sim é um erro e pode ser fatal. O Vitória não está na sua melhor fase e, apesar da importante vitória caseira frente ao Moreirense, tem de batalhar muito para conseguir conquistar este jogo. O ideal é conseguir uma vantagem confortável sem sofrer golos.

Já fui duas vezes ao Jamor ver o Vitória disputar a final da Taça de Portugal. Em 2011 vi, com muita tristeza, o Vitória ser derrotado pelo Porto por 6-2. Uma derrota pesada que doeu a todos os vitorianos. Ao deixar a bancada do Jamor só queria voltar lá outra vez. Queria vingar-me daquele resultado e queria ver o capitão vitoriano finalmente levantar a taça. No ano seguinte ficamos pelo caminho muito cedo, na casa do Desportivo das Aves. Estava no estádio, e a derrota foi quase tão dolorosa como na final uns meses antes porque deitava por terra a hipótese de voltar ao Jamor, deitava por terra a hipótese de vencer a taça. Na edição seguinte, um percurso tumultuoso levou-nos ao Jamor. Na 3ª eliminatória, a vitória foi categórica sobre o Vilaverdense. De seguida, a vitória na casa do homónimo de Setúbal, com o jogo a decidir-se nas grandes penalidades. Nos oitavos-de-final, a decisão foi adiada outra vez para os penaltis, e a vitória foi arrancada ao Marítimo, longe da nossa casa. Os quartos-de-final tiveram sabor a final, com o Vitória a receber o eterno rival Sporting de Braga. Sofremos, mais uma vez, mas acabámos por ganhar por 2-1. As meias-finais foram disputadas com o Belenenses, com o Vitória a levar a melhor e vencer a eliminatória, disputada a duas mãos, por 3-0. O resto é história e é uma história bonita. Foi um momento extraordinário para a família vitoriana e, ainda hoje, indescritível.

Quando olho para as equipas que disputaram as duas finais, em 2011 e 2013, não posso deixar de pensar nas diferenças, que são muitas. E é com facilidade que percebo ainda melhor que a verdadeira essência do Vitória somos nós, os adeptos. Os jogadores - os que perderam e os que ganharam - passam, saem do clube, vestem outras camisolas. Eventualmente todos acabam por sair e por rumar a outros clubes. Mas nós não. Nós nunca vestimos outra camisola, nós nunca queremos segurar outro cachecol, nós nunca deixamos este símbolo por outro. Se voltarmos ao Jamor, no próximo mês de Maio, a maioria dos jogadores que lá estiveram pela última vez ao serviço do Vitória já não vão estar lá, mas nas bancadas vão estar lá muitos dos que estiveram há 4 anos e há 6 anos porque, de facto, somos os únicos que nunca deixam o clube. Amanhã vamos marcar presença uma vez mais e vamos caminhar, juntos, para o Jamor. Assim espero!

terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Cinco notas

Foto: aqui.
- O Vitória deslocou-se a Belém numa jornada que os vitorianos esperavam ser de reviravolta, contrariando os maus resultados dos últimos tempos. O Vitória entrou bem e foram precisos apenas dez minutos de jogo para que Hernâni, com muita categoria, fizesse o gosto ao pé. Infelizmente o Vitória viu-se incapaz de segurar o resultado e Miguel Rosa acabou por empatar o jogo pouco depois. O marcador não sofreu mais alterações. Num jogo ameno, principalmente na segunda parte, fica a sensação de que, mais do que um ponto ganho, perdemos dois pontos importantes quando a vitória esteve na mão e ao nosso alcance. A equipa não esteve num dia particularmente feliz, assim como Pedro Martins. Parece-me uma incógnita o porquê de, numa equipa que claramente não estava a funcionar, ser necessário esperar até aos 86 minutos para fazer a última substituição. Compreendia isso numa equipa que estivesse constantemente perto do jogo e com um futebol irrepreensível, mas mesmo assim alguma coisa não estava a funcionar se ninguém fosse capaz de marcar. Rafael Martins, que acrescentou pouco ao jogo, foi substituído demasiado tarde. Marega apesar de não estar no seu melhor período constituí sempre um perigo para o adversário, foi substituído demasiado cedo. Claro que Pedro Martins terá as suas razões e eu, longe de ter as suas competências, não quero questionar o seu trabalho, mas de facto não percebo porque não se arrisca mais.
Estamos no 5º lugar da tabela classificativa com 36 pontos, a 12 jornadas do fim do campeonato. Apesar de ser matematicamente possível lutar por mais, parece-me que é importante ser realista e perceber que o que está ao nosso alcance, neste momento, é o 4º lugar. O 3º lugar está a oito pontos e o 4º lugar apenas a dois. Claro que o único que realmente depende de nós - e é absolutamente indesculpável não o segurar - é o 5º lugar. O Marítimo, depois do empate no derby madeirense, está apenas a 3 pontos. Como no futebol nada é estático, não é uma distância segura, mas o último lugar europeu é o mínimo aceitável e, repito, só depende de nós. 

- As juvenis do voleibol do Vitória foram a Vizela defrontar o Sporting de Braga num jogo a contar para a final da Taça Associação de Voleibol de Braga. Apesar das conquistadoras não terem entrado da melhor forma no jogo, perdendo inclusive o primeiro set, foram as atletas vitorianas a levar a melhor e conquistaram a Taça pelo terceiro ano consecutivo reforçando o domínio categórico do Vitória na região - as nossas juvenis têm vencido não só a Taça, mas também o campeonato regional. É um motivo de orgulho e mais uma prova, no meio de tantas outras dadas ao longo dos anos e não só no voleibol, de que as modalidades enriquecem tremendamente a identidade vitoriana. 

- Ouvi, com atenção, a entrevista do Vice Presidente Armando Marques, concedida a Carlos Ribeiro da Rádio Fundação. Naturalmente há coisas com as quais concordo e outras com as quais discordo. Uma das coisas com que estou absolutamente de acordo é que não ficar, pelo menos, na quinta posição da tabela classificativa seria um falhanço. No entanto, e com tantos assuntos importantes que poderiam ter sido abordados, pareceu-me que Armando Marques passou demasiado tempo a discorrer sobre as críticas. Num clube com a dimensão do Vitória, é normal que sejam diversas as interpretações e que surjam críticas. Rejeita-las é negligenciar a incrível massa adepta do clube. A crítica construtiva é fundamental para o crescimento. Claro que as críticas gratuitas e à pessoa, ao invés de ser às ideias, devem ser veemente condenadas e não têm lugar em lado nenhum. No entanto, e pelo que eu vejo, a larga maioria das críticas são às ideias, por interpretações diferentes e porque todos querem fazer o Vitória crescer. E isso é importante. Há muita gente que despende do seu tempo para fazer o que pode em prol do Vitória, seja isso o que for, e inclua, ou não, críticas. Os vitorianos importam-se muito com a instituição que apoiam e que sentem que os representa. Reprimir essas críticas construtivas, ou condená-las como um acto menos vitoriano (como frequentemente acontece nas redes sociais), é um erro. Quando os vitorianos deixarem de se importar, o Vitória passará a ser um clube como todos os outros. 

- O futebol é muitas vezes manchado por violência desnecessária entre adeptos adversários. Já o disse, e repito hoje, que sou da opinião que a violência não tem lugar em nenhum sector da vida, inclusive no futebol. São muitos os adversários, um grupo restrito de rivais, mas nenhuns são inimigos. Podemos concordar ou discordar, apreciar ou não, mas há espaço para todos. Menos para a violência. O grupo Fúria Azul, afecto ao Belenenses, organizou um convívio com os grupos de vitorianos numa excelente demonstração de desportivismo. Sempre que fui a Belém, fui bem recebida e lembro-me particularmente de um jogo para a Taça de Portugal em que, alternadamente, os adeptos de cada clube iam gritando pelo nome do seu clube, terminando com um aplauso colectivo. É disso que se faz o futebol: paixão, desportivismo, saber estar e saber receber. Um aplauso aos adeptos vitorianos que fizeram a deslocação a Belém e um aplauso aos adeptos do Belenenses, pelo desportivismo. Adeptos que, com fervor, apoiam o clube das suas terras. Portugal precisa, cada vez mais, disso.

- Por fim, e não menos importante, tenho de fazer referência à batalha que Rui Salgado, um dos nossos, venceu. Na altura em que tive conhecimento da situação do Rui contribuí e partilhei aqui um apelo, num pequeno gesto que tentava fazer chegar a situação a mais gente. É com grande satisfação que vejo que o cancro já é passado na vida do nosso conquistador. As bancadas ficaram mais felizes, com toda a certeza! Parabéns, Rui, e obrigada pelo exemplo de superação!

terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Berço de campeões

Foto: Vitória SC
O empate caseiro frente ao Porto deixou o Vitória mais vulnerável na tabela classificativa. Depois de um início fulgurante da segunda volta, com uma vitória histórica - por ser a primeira - na Pedreira, os branquinhos estão com dificuldades em somar pontos, consolidar o lugar europeu e, quiçá, lançar-se para o pódio. É impossível uma equipa ser consistente durante toda a época e, eventualmente, há fases menos boas. Seja pelo cansaço colectivo, pelas baixas forçadas ou por qualquer um dos muitos motivos que podem enfraquecer uma equipa. No nosso caso, parece-me que estamos ainda a ressacar da janela de transferências. Ficamos sem dois titulares importantes: João Pedro que, com exibições sólidas e de qualidade, se transformou num pilar da equipa e numa das suas mais importantes referências, e Soares, o segundo melhor marcador da equipa e que se revelou importante para além dos golos que marcou por desassossegar (e muito) a equipa adversária. O primeiro rumou a Los Angeles e o segundo esteve, no último sábado, do outro lado da "barricada". O facto é que já não representam o Vitória e eu sou da opinião de que não vale a pena chorar sobre leite derramado, portanto é necessário acreditar e depositar toda a confiança naqueles que entram no relvado com o símbolo vitoriano ao peito. Eu acredito no Vitória e acredito na equipa, mas o lugar de sonho no pódio parece cada vez mais uma miragem e o lugar europeu começa a parecer estar em risco. 

O terceiro lugar nunca foi um objectivo assumido e, em boa verdade, provavelmente nunca foi um objectivo - assumido ou não. No entanto, a ambição dos vitorianos de ver o clube da sua cidade que fervorosamente apoiam - esteja chuva ou faça sol - combinada com a saudade de ver o Vitória actuar nos principais palcos europeus e de se elevar (ainda mais) no panorama do futebol português deixa-nos sempre com a sensação de que tudo é possível. Inclusive o terceiro lugar. Depois de épocas que ficaram muito aquém das expectativas, depois de épocas de graves dificuldades financeiras e com menos recursos do que aqueles que os adversários possuem. Apesar de todas as contrariedades, os vitorianos acreditaram - e acreditam (?) - num lugar "ao sol". Uma espécie de bonança, muito merecida, depois da tempestade. A primeira volta fez-nos acreditar: a goleada, em casa, ao Paços de Ferreira; a recuperação caseira incrível frente ao Sporting, quando a derrota por 3-0 parecia certa aos 72 minutos de jogo; a boa prestação na Taça de Portugal (que nos faz sonhar com o levantar da Taça no Jamor); a deslocação incrível dos vitorianos a Vila do Conde para ver o hat-trick de Marega a selar o marcador; as duas vitórias - para o campeonato e para a Taça de Portugal - no Bessa. A primeira volta não foi idílica, mas foi boa. Apesar dos momentos de frustração, nomeadamente nos empates inesperados que deixaram os vitorianos com um amargo de boca, a primeira volta foi marcada pela união entre os adeptos e a equipa com muitas demonstrações de amor épicas por esse país fora que, tenho a certeza, contribuíram muitas vezes para a conquista dos tão almejados pontos. Muitas foram as vezes em que saí de estádios adversários a pensar que, se alguém me perguntasse o que é o Vitória eu só os poderia convidar a assistir um jogo para que tivessem a oportunidade de ver a paixão com que "as gentes de Guimarães" levantam os seus cachecóis e cantam, sem saltar nenhuma sílaba, as músicas que sabem de cor.

Depois de disputada a primeira jornada da segunda volta (correspondente à 18ª jornada do campeonato), o Vitória encontrava-se com 34 pontos, a um ponto do 4º lugar (ocupado, na altura, pelo Sporting) e a dois pontos do 3º lugar (ocupado, na altura, pelo Sporting de Braga). O Chaves e o Marítimo, na 6ª e 7ª posição, em igualdade pontual - 27 pontos - não faziam soar alarmes. Os sete pontos de vantagem pareciam deixar seladas as primeiras cinco posições da tabela, sendo que as alterações nesses lugares seriam entre os clubes que já lá se encontravam. Desde a 18ª à 21ª jornada, o Vitória somou apenas uma vitória. O registo é de uma vitória (Sp. de Braga), empate (Marítimo) e duas derrotas (Paços de Ferreira e Porto). Em 12 pontos possíveis na segunda volta, o Vitória conquistou apenas três. Apesar dos adversários directos não terem feito grandes progressos, o fosso para o quarto e, principalmente, para o terceiro lugar aumentou, enquanto que o fosso que separava o último lugar europeu (deve ser o mínimo dos nossos objectivos), que ocupamos, do sexto lugar diminuiu drasticamente. Actualmente o Vitória está a 3 pontos do 4º lugar e a 6 pontos do 3º lugar, sendo que o 6º classificado está a apenas 3 pontos de distância do Vitória. Isto já faz soar alarmes, pelo menos os meus. As próximas jornadas não vão ser fáceis - deslocações tipicamente complicadas (Restelo e Alvalade), a disputa do derby de Guimarães com um Moreirense muito motivado e confiante, e um encontro importante a contar para a Taça de Portugal. 

A próxima deslocação é ao Estádio do Restelo. Fiquei surpreendida quando, ao pesquisar o histórico de confrontos entre estes dois símbolos emblemáticos do futebol português, constatei que é o Belenenses que leva a vantagem. As duas equipas já disputaram 141 jogos no total (a contar para o campeonato, a Taça de Portugal e a Taça da Liga), sendo que o Vitória levou a melhor 45 vezes, empatou outras 34 e saiu derrotado em 62 jogos. Quando restringimos a pesquisa somente aos jogos disputados em casa do Belenenses a história repete-se, sendo que o que sobressaí é que a vantagem é muito mais categórica: os azuis venceram 42, dos 64, encontros, e o Vitória venceu apenas 7. Apesar dos números não serem encorajadores, a supremacia do Belenenses tem sido contrariada nos últimos anos. Nos últimos cinco jogos disputados longe do Berço, o Vitória venceu três vezes e saiu derrotado apenas uma vez. O último encontro, a contar para o campeonato, foi repleto de golos com o resultado final a fixar-se em 3-3. A equipa vitoriana era, na época, comandada por Sérgio Conceição e os golos foram apontados pelos saudosos Bouba Saré e Henrique Dourado, e Filipe Ferreira, que marcou na própria baliza. Do onze inicial preto e branco que pisou o relvado em Belém na última época, apenas Bruno Gaspar, Josué e Pedro Henrique se mantêm, sendo que Miguel Silva, que foi titular, agora se senta no banco, "cedendo" o seu lugar na baliza a Douglas. Espero que no Domingo os adeptos de ambos os clubes possam ver um bom espectáculo de futebol e proporcionar um bom espectáculo nas bancadas - como é hábito - e que seja o tão necessário ponto de viragem no Vitória para consolidar verdadeiramente a presença europeia e, no melhor dos cenários, assaltar o terceiro lugar. A margem de erro é cada vez menor, mas ainda é possível.

Enquanto for possível, eu acredito. Até porque Guimarães é um berço de campeões. Ontem foram premiados, com os troféus desportivos "O Minhoto", vários atletas da região. Muitos dos nomeados e dos vencedores são vimaranenses e foram formados, actuam ou actuaram no representante desportivo máximo da cidade - o Vitória, claro. É, indubitavelmente, um motivo de orgulho, apesar dos vimaranenses e vitorianos reconhecem o valor dos seus todos os dias. Na categoria das Artes Marciais, o atleta de Taekwondo Nuno Costa ganhou o troféu. Atleta da mesma modalidade, Rui Bragança foi o vencedor do Grande Prémio do Júri (Individual). Dois atletas que, apesar de agora pertencerem aos quadros do Benfica, viveram e ganharam muito no e com o Vitória enquanto atletas e que são de Guimarães - e serão sempre, independentemente do clube que representam (com muita pena minha, já não é o Vitória). Na categoria que Rui Bragança venceu, estava nomeado outro vimaranense que leva o nome de Portugal ao mundo: o número um do ténis português, João Sousa - que nunca se esquece das suas raízes nem do seu (e nosso) Vitória. Na categoria de Basquetebol foi o "nosso" Filipe Lima, que actua na incansável equipa de basquetebol vitoriana, o vencedor. O medalhado olímpico Manuel Mendes - vimaranense e vitoriano, enquanto adepto e atleta -, venceu com muito mérito na categoria de Desporto Adaptado. Paulo Oliveira, que nasceu em Vila Nova de Famalicão e actuou no Vitória, fazendo parte do selecto grupo de jogadores que conquistou a Taça de Portugal e que, por isso e por nunca se esquecer do Vitória, é sempre lembrado com muito carinho. Envergando, agora, a camisola do Sporting venceu Nélson Oliveira e Pedro Tiba na categoria de Futebol Profissional. Na categoria de Voleibol, estavam nomeados, para além de uma atleta do Sporting de Braga, Bruno Cunha e João Oliveira, dois atletas do Vitória na modalidade, e foi o último a levar o troféu para casa. Na categoria Treinador, o incrível treinador de basquetebol do Vitória, Fernando Sá estava também nomeado, mas perdeu, com muita pena minha, para Carlos Resende. Um homem que merece o reconhecimento de todos os vitorianos por tudo o que já fez pela modalidade e pelo nosso nome. Em suma, foi um bom dia para o desporto vimaranense e vitoriano. (E é com alguma tristeza que constato que o Vitória ainda não felicitou, através dos seus sítios oficiais, nenhum dos seus antigos e actuais atletas. Espero que o façam. Vitória não é só futebol!)

Para terminar, tenho (sempre) de falar de outros campeões. Aqueles que, jornada após jornada, enchem as bancadas do nosso - ou outro - estádio com amor (e também daqueles que se deslocam aos pavilhões - ao nosso ou a outros - para acompanhar os incríveis e dedicados atletas das modalidades). É admirável e é incrível a atmosfera vivida num estádio praticamente cheio (com a maioria dos adeptos a ser os da casa, contrariando a tendência do que se vive em Portugal), em que se entoam as músicas a uma só voz e em que os cachecóis se atropelam de tantos que são e de tanto os querermos elevar. Isto de apoiar o clube da terra é realmente bonito. Seja a perder ou a ganhar. Não é só bonito, também é admirável. Estes campeões das bancadas que não se movem por troféus, que não se mobilizam por esperar vitórias, que não se importam com o resultado são, porventura, o mais importante jogador da equipa vitoriana. São os nossos valores que nos distinguem dos outros, porque são os nossos valores que nos levam ao estádio - depois das derrotas e depois das vitórias. Percebo, cada vez mais e cada vez melhor, que é tudo uma questão de valores e educação. Percebo, cada vez com mais orgulho, que em Guimarães se vive o que de mais bonito há no futebol: a paixão e o interesse genuínos, baseados somente no amor e na paixão a uma instituição e a uma cidade que se fundem de cada vez que passamos o cartão de associados, de que tanto nos orgulhamos de ter na carteira, no torniquete, de cada vez que passamos um bilhete - que muitas vezes compramos com muito esforço - no torniquete de outro estádio, de cada vez que, com os olhos a brilhar, falámos do Vitória sem sequer mencionar um título ou uma vitória. Estar presente basta, é disso que nos orgulhamos e é disso que nos alimentámos. E é, também por isso, que tenho cada vez mais pena daqueles que nos perguntam pelos nossos títulos com a ironia vincada em cada comentário, como se isso fosse o que realmente importa. Eles não entendem que o nosso amor não se alimenta de títulos e vitórias, não entendem que o nosso amor se alimenta do orgulho que temos daquilo que é nosso e daquilo que faz parte da nossa identidade. Eles não entendem que nós somos a resistência ao fácil. É difícil ser de um clube que não ganha troféus atrás de troféus, que não está sempre bem, que tem muitos problemas. É muito difícil, mas eu não podia imaginar-me a apoiar de outra forma. É muito difícil, mas não podia ser melhor. Afinal, é nosso. Isso não se compra!

terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

O décimo segundo jogador

Foto: Vitória SC
Depois de encerrada a vigésima jornada do campeonato, parece-me importante fazer um ponto da situação. Olhando para a tabela classificativa, facilmente percebemos que ainda está tudo em aberto. Ainda é muito cedo para declarar um vencedor, mas o título será disputado, provavelmente, entre Benfica e Porto, primeiro e segundo classificado respectivamente. Quem ocupará o sempre apetecível terceiro lugar, que dá acesso ao play-off da Liga dos Campeões, é também uma incógnita. Por enquanto, os candidatos são o Sporting, o Braga e o Vitória - terceiro, quarto e quinto classificado. A corrida aos dois lugares europeus será também entre esses clubes, não ignorando o Marítimo que, depois de uma jornada que lhes correu de feição, parece cada vez mais querer intrometer-se na corrida. Os lugares que ninguém quer, no fundo da tabela, também estão longe de estar atribuídos. Apesar de ser este o apanhado geral possível, depois de vinte jornadas disputadas, todos sabemos que a tabela classificativa não é estática e três ou quatro jornadas são suficientes para alterar muita coisa. E, para o fecho do campeonato, ainda faltam... 14! Isto significa que ainda estão em jogo quarenta e dois pontos.

O que nos interessa é o Vitória e, na minha ambição talvez desmedida de ver o nosso histórico símbolo de regresso aos grandes palcos do futebol europeu, o terceiro lugar. O lugar no pódio não é impossível, mas começa a parecer uma miragem, tantas foram as oportunidades desperdiçadas de dar o salto ou de, pelo menos, começar a preparar o assalto ao lugar que os adeptos tanto desejam. A deslocação a Paços de Ferreira, na última sexta-feira, não correu como planeado e os três pontos não viajaram com a comitiva vitoriana para Guimarães. Num jogo que não pautou pela qualidade, o Vitória conseguiu entrar melhor e ser superior ao adversário na primeira parte. Na segunda parte, o Paços de Ferreira foi inteligente, soube aproveitar as oportunidades e, com mérito, conseguiu a vitória. Os adversários directos do Vitória também não aproveitaram a vigésima jornada para se aproximarem ou consolidarem o terceiro lugar, com a derrota do Sporting no Dragão e o empate caseiro do Sporting de Braga. O Marítimo, por sua vez, manteve os três pontos na Madeira e aproximou-se do Vitória, sendo que agora se encontra a quatro pontos de distância.

O próximo jogo não vai ser fácil para nenhuma das equipas. O Vitória recebe o Porto, ao início noite do próximo sábado. Se é verdade que, no histórico de confrontos, há uma supremacia arrebatadora do Porto, não é menos verdade que, nos últimos anos, a equipa agora sob a tutela de Nuno Espírito Santo não tem tido tarefa facilitada quando joga no nosso "castelo". Os três últimos confrontos, no nosso estádio, acabaram com dois empates e uma vitória. Em 2013/2014, o Vitória perdia por duas bolas a zero e, com golos de Maazou e Marco Matias, conseguiu igualar o marcador. Na temporada seguinte, o Porto adiantou-se no marcador, mas viu Bernard empatar o jogo. nem dez minutos depois. Na última temporada, com Sérgio Conceição ao leme, Bouba Saré marcou o único tento da partida e o Vitória conquistou os três pontos. A primeira das 162 partidas já disputadas entre as duas equipas foi em Guimarães, no Campo do Bem-Lhe-Vai, a contar para a primeira mão dos oitavos de final da Taça de Portugal. Foi em 1939 e os branquinhos conquistaram a vitória, por 3-2. No próximo sábado, voltar a triunfar é de extrema importância. A margem de manobra é cada vez mais reduzida e todos os pontos são de extrema importância para consolidar uma posição europeia e para lutar pelo último lugar do pódio.

Nas bancadas, a vitória é já um dado adquirido, como é habitual. O décimo segundo jogador continua a ser o melhor em campo, o único que não pode ser vendido no mercado de inverno nem em nenhum outro momento, o único que não tem preço e o único que é absolutamente indissociável do símbolo. Posso falar apenas a título pessoal e em consequência da minha experiência. Nunca saí do estádio arrependida de ter feito a viagem e de ter pago o bilhete. Nunca, em nenhuma circunstância, me arrependi de ter ido apoiar o Vitória a nenhum lado. Nem mesmo depois de sair do estádio com a camisola, que estava por baixo de um casaco impermeável, encharcada de água, como foi o caso da última sexta. Nem ouvi nenhum vitoriano queixar-se enquanto chegavam aos carros, estacionados nas imediações do estádio. Muitos depois de um dia de trabalho, muitos ainda sem jantar e muitos, mesmo muitos, sabendo da chuva e das condições nada favoráveis a que se sujeitavam voluntariamente. A tiritar de frio, muitos eram os adeptos que trocavam de camisolas e casacos abrigados nas malas abertas dos carros. O sentimento era de dever cumprido e não de arrependimento. Se fosse preciso voltar ao estádio para mais um jogo do Vitória, mesmo com o frio severo e a chuva inflexível, a grande maioria voltava lá para dentro sem levantar questões. Para nós, ser do Vitória é suficiente. É precisamente por isso que, depois de uma derrota, voltamos sempre todos ao estádio para levantar os nossos cachecóis, com o coração cheio de orgulho. É, ser do Vitória chega.

terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Oportunidades desperdiçadas

Depois de uma importante vitória - a nível da classificação, mas também a nível anímico - conquistada no Estádio Municipal de Braga ao rival de sempre, a turma vitoriana regressou a casa defrontar o Marítimo. Os verde-rubros entraram melhor no jogo e avisaram os branquinhos de que não iriam facilitar a vida ao anfitrião. A equipa da casa, depois de recuperar do choque, mostrou serviço e foi superior na maior parte do tempo. Duas oportunidades flagrantes que não foram aproveitadas por Bernard e pelo estreante Rafael Miranda fizeram com que este empate soubesse a muito pouco. Os dois pontos perdidos seriam importantes para subir, ainda que à condição, ao terceiro lugar da tabela classificativa e para cimentar o acesso à Liga Europa (quero acreditar que o quinto lugar já não escapa, mas ainda assim será bom aumentar o fosso para o sexto classificado enquanto se prepara o assalto ao quarto e, no melhor cenário, ao pódio). A época tem sido marcada por oportunidades não aproveitadas de dar um salto significativo na tabela.

O pior do jogo, e que eu condeno sempre porque julgo não beneficiar em nada o futebol, é a prática de anti-jogo. Já aconteceu com outras equipas no nosso estádio, como por exemplo com o Chaves, e voltou a acontecer perante os quase quinze mil vitorianos presentes no estádio no último sábado. O Marítimo, apesar de ter entrado bem, revelou que ficava feliz com um empate e o Vitória foi a única equipa que mostrou vontade de lutar pelos três pontos. É inadmissível que as equipas que adoptam essa posição no jogo não sejam punidas e é inadmissível que as equipas de arbitragens sejam cúmplices. No outro extremo do espectro, e apesar de eu raramente destacar individualidades, Bruno Gaspar e Konan continuam a ser dos melhores em campo. O primeiro já é bem conhecido dos vitorianos e, depois de uma fase menos positiva, encontra-se agora muito confiante e contribuí muito para a equipa. O costa-marfinense, proveniente da equipa B, encontrou o seu lugar na equipa A em Dezembro e o seu rendimento melhora de jogo para jogo. No entanto, o destaque maior é o colectivo que, apesar de não ter a pontaria afinada, jogou tanto quanto o Marítimo deixou - ou seja, sempre que não estava um jogador estendido no chão. João Pedro assistiu ao jogo da bancada e tudo o que os vitorianos lhe podem desejar é boa sorte e agradecer pelos anos de dedicação ao clube. Agora é um conquistador, como todos nós espalhados pelas bancadas e pelo mundo.

A janela de transferências encerra hoje e, apesar de já me ter pronunciado sobre a mesma há uma semana (aqui), há desenvolvimentos e, ainda assim, provavelmente não será assunto a ser encerrado hoje. Rafael Miranda, apresentado na última terça-feira, já teve oportunidade de se mostrar aos sócios no último sábado. Entrou em jogo já depois do minuto sessenta e, portanto, ainda é cedo para fazer qualquer tipo de apreciação. Não só porque jogou pouco tempo, mas também porque se juntou à equipa há poucos dias. O que marcou a sua estreia foi uma oportunidade desperdiçada que me parece fruto da ânsia de mostrar a sua competência. Não me alarma e não me preocupa.. Terá tempo de mostrar serviço e conto que o faça. O ponta-de-lança brasileiro, de 27 anos, chegou a Portugal em 2013/2014 para alinhar pelo Vitória FC e apontou 15 golos em 34 jogos. Captou a atenção do Levante e transferiu-se para o país vizinho na época seguinte. Os números não foram os melhores e apenas conseguiu apontar um tento nos 17 jogos ao serviço do clube. Em 2015/2016 regressa a Portugal e integra-se no plantel do Moreirense, onde faz uma das suas melhores épocas e, em termos de golos, a melhor época dos últimos anos: em 31 jogos, marcou 20 golos, conseguindo uma simpática média de 0,65 golos por jogo. Regressou ao Levante no início da presente época, mas foram poucos os jogos em que alinhou a titular. Chega, assim, ao Vitória a título definitivo. No último domingo, foi apresentado Fábio Sturgeon, de 22 anos, que chega do Belenenses. Esta época apontou 2 golos em 21 jogos ao serviço dos azuis do Restelo. Um dos assuntos que tem estado na ordem do dia é a demora de Marega em se apresentar ao trabalho. O Mali foi eliminado da CAN a semana passada e, à hora em que escrevo este texto, ainda não se apresentou no complexo do Vitória. Consta que o Vitória garantiu o empréstimo do jogador para o resto desta época e para a próxima, ainda incluído no negócio de Soares. Nestas situações, a transparência da SAD com os sócios evitaria novelas e especulação que não ajudam em nada. Parece-me que fica a faltar um médio, mas o mercado fecha apenas à meia-noite e, apesar de parecer pouco tempo, as próximas horas podem ser determinantes.

O Vitória desloca-se, na próxima Sexta-feira, ao terreno do Paços de Ferreira. Na primeira volta o Vitória conseguiu manter os três pontos em casa, com um resultado extraordinário de 5-3. Os golos vitorianos foram apontados por Hurtado, Soares, Marega (2) e por Mateus Silva, que marcou na própria baliza. Sempre que o Vitória vai defrontar a Paços de Ferreira defrontar a equipa da cidade, arrasta consigo uma multidão de vitorianos. Não acontece só na Mata Real, acontece em todo o lado. No entanto ninguém se esquecerá da imagem de todos aqueles adeptos que, sob uma chuva descomunal, cantavam cada vez mais alto e elevavam os seus cachecóis, e o nome do Vitória, a um patamar épico. A chuva transformou-se num sol resplandecente para os vitorianos que, não se importando com as consequências de ficar cerca de duas horas à chuva, marcaram presença. Como estiveram no último sábado. Como estão sempre. Os conquistadores não abandonam a sua equipa em nenhuma circunstância. Sexta não pode ser excepção! Sexta é dia de começar o assalto ao pódio. Se tínhamos, por ventura, margem de manobra para errar, essa margem começa a encurtar. Não tenho dúvida de que se o desempenho da equipa for espelhado na qualidade do apoio na bancada, os três pontos viajam para Guimarães.

P.S.: A comunicação social não o fez porque, provavelmente, não combina com as cores que defendem. Eu sei as cores que defendo e o meu coração só tem espaço para um clube, o Vitória. No entanto, sou de Guimarães e fico feliz quando Guimarães ganha. Guimarães escreve-se a dois nomes na primeira liga, Vitória SC e Moreirense FC. Sempre me orgulhei de ser assim e, portanto, resta-me congratular o Moreirense pela sua vitória na final da Taça da Liga. Foi o culminar de um percurso incrível. Que seja a primeira Taça da época a viajar para Guimarães. Que a segunda seja a Taça de Portugal, conquistada pelo Vitória!

segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Critérios

Todos os animais são iguais. Este era um dos mandamentos escritos numa parede da Quinta dos Animais, na obra homónima de Orwell. Esses mandamentos, inicialmente escritos com o intuito de guiar a conduta dos animais da quinta e para garantir a liberdade e igualdade de todos, foram sofrendo alterações pelas patas dos porcos que, depois de serem apanhados a violar os mandamentos que os próprios estipularam e escreveram, os modificaram para servir os seus propósitos e vontades. Depois de várias alterações, já só restava um único mandamento. Esse mandamento era uma adaptação daquele com que principiei este texto e dizia o seguinte: Todos os animais são iguais, mas uns são mais iguais do que outros

George Orwell foi um génio e a prova disso é a intemporalidade e aplicabilidade das suas obras a todas (ou quase todas) os sectores da sociedade, inclusive no futebol e na imprensa desportiva. Assim que vi as capas dos jornais desportivos de hoje confirmei as minhas suspeitas de ontem. O Moreirense, vencedor da décima edição da Taça CTT, não figura na capa de dois, dos três, jornais desportivos com distribuição nacional. Apenas o jornal O Jogo decidiu destacar o vencedor da competição e A Bola apenas o fez na edição impressa para o Norte do país (não sei se essa edição é para todo o Norte do país ou se é para certas zonas da região). 

Nos últimos anos, estes jornais guiaram-se sempre pelos mesmos critérios ao desenhar a capa do dia seguinte à final da Taça da Liga. Através de uma rápida pesquisa online consegui consultar algumas dessas capas, desde o ano de 2010, e constatei que o vencedor foi sempre o grande destaque na capa destes dois jornais. Não me dei ao trabalho de pesquisar as capas d'O Jogo, uma vez que fizeram uma capa digna e que vai de acordo com o que costumam fazer quando se trata de outros clubes. Na capa sempre figurou o vencedor - que, por norma, é o Benfica. Ontem o vencedor não foi o Benfica e o Benfica nem marcou presença na final, mas o destaque é o Benfica. O Record e A Bola (não, a capa da edição nortenha não os desculpa, uma vez que a competição é de âmbito nacional) priorizaram a convocatória dos encarnados à vitória do Moreirense que ontem se tornou no Campeão de Inverno. 

Os critérios, subitamente, são outros e o vencedor de uma competição de âmbito nacional e que serve para condecorar o Campeão de Inverno já só merece ser assunto de rodapé. Merece-o porque, para os jornais, o Moreirense é pequeno. Os pequenos sentam-se ao lado, não se sentam na mesa. É triste como as linhas editoriais servem para servir os gostos e agendas pessoais de alguns, ao invés de servir para serem isentos, intelectualmente honestos e éticos. Cada jornal decide aquilo que publica e eu decido não os comprar. Neste país, há apenas três clubes que parecem interessar. Estão acima das outras modalidades, dos outros desportistas e dos outros clubes. É uma dualidade de critérios triste, mas que combina com tudo o resto que se faz no futebol português. Há dois micro-campeonatos de diferentes níveis dentro do nosso campeonato. Um deles, o superior, é disputado a três cores: vermelho, verde e azul. O outro é disputado pelos restantes e, para a comunicação social, não vale por um. 

Escrevo hoje, no âmbito do futebol, mas já escrevi anteriormente quando o João Sousa, ao vencer um troféu inédito na história do ténis português, foi relegado para segundo, terceiro ou quarto plano. Podia escrever o mesmo quando Patrícia Mamona ganha uma competição e ela fá-lo tantas vezes! Podia escrever para muitos outros atletas que dignificam o desporto português em todo o mundo, mas que não podem ver os seus feitos nas capas dos jornais. O compromisso da imprensa desportiva portuguesa é com os lucros, nada mais. 

A culpa não é só de quem dirige os jornais e gere os seus conteúdos. A culpa é partilhada com os que compram os jornais, os que preferem apoiar o clube que não os representa mesmo que isso signifique rebaixar o clube da sua terra, é do centralismo bacoco e da falta de orgulho na sua cidade, de quem não vê o quão sectaristas são estas decisões. Isto não é uma crítica ao Benfica (porque há sempre quem ache que qualquer coisa que envolva o Benfica é um ataque directo ao clube), não é uma crítica aos benfiquistas que nasceram e cresceram em Lisboa. É uma crítica aos jornais que não respeitam os clubes e os adeptos (acima de tudo, isto é uma falta de respeito tremenda) e uma crítica ao adepto que prefere apoiar a equipa lá de longe, rebaixando a equipa da sua terra e a equipa que o representa. Diz-se com alguma leveza que em Portugal se gosta de futebol. Os portugueses, os actuais campeões europeus de futebol, não gostam de futebol. É uma generalidade que sou obrigada a fazer, por muito que me desagrade. Infelizmente em Portugal vive-se em demasia um fanatismo clubístico que cega. 

Parabéns ao Moreirense, pelo percurso incrível e pela conquista merecida desta Taça da Liga. Parabéns ao Braga, por ter chegado à final. Parabéns aos adeptos destes dois clubes que, com civismo, fizeram muitos quilómetros na última semana para apoiar o seu clube, independentemente da sua dimensão. Sempre que um clube como o Moreirense ganha, o futebol ganha outro encanto. Não é o meu clube, o meu coração só tem espaço para o Vitória, mas consigo reconhecer que quantos mais Moreirenses houver mais o futebol português cresce. 
22 de Março de 2010.
14 de Abril de 2013
30 de Maio de 2015
21 de Maio de 2016
30 de Janeiro de 2017
Acredito que podemos concluir que estes dois jornais não pretendem ser imparciais ou intelectualmente honestos e têm apenas uma linha editorial: o Benfica.
Todos os animais são iguais, mas uns são mais iguais do que outros.

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Indissociáveis


Foto: Vitória SC
A última semana fica pautada por duas vitórias basilares na presente época vitoriana. Na Covilhã, o Vitória conseguiu a primeira vitória do ano civil e garantiu a continuidade na Taça de Portugal, competição em que o objectivo tem de ser o de chegar ao Jamor e levantar a taça. A vitória no Municipal de Braga, no último Domingo à noite, foi importante não só pelos três pontos conseguidos, mas também porque foi a primeira vez que os branquinhos ganharam naquele estádio e acredito que isso dará uma injecção de confiança à equipa para enfrentar a segunda volta. Em termos de jogo jogado, é de destacar o último jogo, em especial a primeira parte. Se o desempenho da equipa não foi totalmente satisfatório na Covilhã, pese embora o resultado, a prestação da turma vitoriana em Braga convenceu e ficou a certeza de que o 5º lugar não pode ser o objectivo. Apesar da conquista do 4º ou 3º lugar já não depender exclusivamente de nós, estou certa de que podemos ambicionar em terminar a época no pódio. Não é uma ambição descabida. Estamos a um ponto do Sporting de Portugal, 4º classificado, e a dois pontos do Sporting de Braga, que ocupa a 3º posição. A verdade é que ter ambições não chega, é preciso que as acções sejam condizentes. A nossa preocupação tem de ser a de desenhar e construir o nosso caminho, unicamente. 

Tento ser ponderada em tudo aquilo que digo e escrevo, portanto ainda me parece ser muito cedo para falar de transferências com a objectividade desejada. No entanto, há algumas coisas que posso dizer desde já. Não sei quais os benefícios que esta janela de transferências, a meio da época, traz ao futebol. Da mesma forma que não entendo a lógica do mercado só fechar no final de Agosto, já depois do início das competições. É descabido e beneficia apenas a carteira dos empresários e os clubes com poder financeiro. Isto não é de hoje e será tema para outro dia, certamente. Quanto ao que é particular ao Vitória, o que realmente interessa, não fiquei agradada com as saídas conhecidas até ao momento, pese embora qualquer comentário da minha parte seja feito sempre com alguma cautela por não conhecer os contornos dos negócios. Gostaria de ver a SAD ser mais transparente com os sócios quanto às vendas e aquisições de jogadores. Não sendo esse o caso, comento aquilo que depreendo do que leio e do que vou sabendo. O que sei, com certeza, é que a saída de dois jogadores titulares deixa sempre danos. Mesmo que sejam contratados jogadores de qualidade, estes precisam de se entrosar com os companheiros, de conhecer a equipa e de se adaptar ao futebol português, se estiverem a militar em campeonatos estrangeiros. É para isso que, antes do início do campeonato, existe a pré-época. A pré-época dos jogadores que chegam em Janeiro é numa altura determinante no campeonato e, no nosso caso, da Taça de Portugal. João Pedro foi vendido aos LA Galaxy. Apesar de não ser conhecido o valor da transferência, estima-se que tenha saído por cerca de um milhão e meio de euros. Parece-me um valor irrisório, tendo em conta a importância do jogador para a equipa e a sua margem de progressão. É impossível dizer se iria valorizar, são muitas as variáveis a ter em conta e o futebol é imprevisível, mas uma vez que a sua venda não permite um encaixe financeiro considerável. não vejo quais os grandes benefícios imediatos, ou a longo prazo, para o Vitória. A transferência de Soares, para o Porto, é mais difícil de comentar. Não há declarações oficiais nem consenso quanto ao valor e parece ainda estar em cima da mesa a possibilidade de jogadores da equipa portuense serem transferidos, inclusive a título definitivo, para o Vitória. Resta-nos esperar e desejar aos dois jogadores todo o sucesso possível.

A última semana, para além de ficar marcada pelas duas vitórias importantes já referidas, ficou marcada, mais uma vez, pelo apoio incondicional e extraordinário dos melhores adeptos do mundo. Não tive possibilidade de me deslocar à Covilhã, mas acompanhei o jogo pela televisão. Não comecei a ver o Vitória há dois dias, bem pelo contrário. Já conto alguns anos a acompanhar o Vitória - fora e em casa - e espero contar muitos mais. No que depender de mim, enquanto tiver condições para o fazer, vou passar muitos dias nas bancadas do nosso estádio ou noutras bancadas por esse país - e quiçá, por esse mundo - fora. Isto tudo para dizer que, depois de tantos anos, ainda fico surpreendida com a capacidade desta massa associativa se desdobrar para acompanhar a sua equipa do coração. Quando vi a moldura humana composta pelos vitorianos, a quase 300 km de distância, ao final da tarde de um dia da semana e com graus negativos fiquei boquiaberta. Sabia que os vitorianos não iam deixar a equipa jogar sozinha. Nunca deixamos, mas ainda assim não contava que tanta gente o fizesse, tendo em conta as péssimas condições. Fiquei emocionada e extremamente orgulhosa por fazer parte desta família. 

No Domingo à noite, assim como muitos outros vitorianos, desloquei-me a Braga para acompanhar a equipa. É uma deslocação ímpar, pela rivalidade entre os dois clubes. Os vitorianos não desiludiram, claro. Compareceram em massa e, mais uma vez, proporcionaram a todos os braguistas um espectáculo dentro do espectáculo. Nada de novo. Quem compra bilhete para assistir a um jogo do Vitória já deve saber que compra um bilhete 2 em 1: para além do jogo de futebol em si, ainda há um espectáculo único nas bancadas. No entanto, os artistas (nós, claro) foram muito mal recebidos. Ainda antes de chegar às imediações do estádio, já havia graúdos com medo - e miúdos a chorar - dentro dos autocarros ao ver a polícia de intervenção correr em direcção aos autocarros de bastão na mão. Episódios desnecessários protagonizados por quem devia ter, mas aparentemente não tem, formação para lidar com multidões. Depois de chegar às imediações do estádio, toda a gente percebeu que não estavam prontos para receber a força conquistadora. Só assim se pode explicar a forma como os adeptos entraram no estádio. Iam passando grupos para a revista que depois se amontoaram na zona dos torniquetes de acesso que tinham, se não estou em erro, duas ou três pessoas a recolher os bilhetes. Entrei já perto da hora, mas provavelmente muitos só conseguiram entrar depois do apito inicial. Quando cheguei ao último piso ainda estava muita gente à espera de ser revistada e, nesse momento, chegaram mais cinco autocarros. 

Se o que acabei de descrever é o que me faz espécie no futebol (bem, a incompetência incomoda-me em todas as áreas), o que aconteceu nas (cerca de) duas horas seguintes foi o que me fez apaixonar por futebol e é o que me faz continuar a dar dinheiro e tempo para ir aos estádios acompanhar uma equipa de futebol. Um apoio digno de registo. Cada vez mais me apercebo que nós, vitorianos, somos o sinónimo de amor. Somos nós que impulsionamos o futebol nas bancadas, num país que tem a mentalidade tacanha de apoiar um clube só porque é esse clube que ganha. Realmente o Vitória tem poucos troféus, não faz épocas incríveis, não tem os melhores jogadores do mundo e não tem os cofres cheios. É a realidade e é inegável. No entanto tem o que muitos outros, principalmente em Portugal, não têm: adeptos resilientes, verdadeiramente apaixonados e sempre dispostos a apoiar o clube. É o verdadeiro décimo segundo jogador, capaz de empurrar a equipa para a vitória. Eu, que sou de letras e gosto tanto de palavras, não as encontro para descrever aquilo que vejo e sinto quando estou na bancada, junto de pessoas que eu não conheço, mas que têm o mesmo objectivo do que eu: fazer do Vitória um clube maior! O Vitória é maior por nossa causa e por causa do nosso inenarrável apoio. Não tenho dúvidas disso. Aliás, tenho cada vez mais essa certeza. O Vitória é indissociável dos seus adeptos e, juntos, somos indissociáveis da palavra amor. 
Foto: Pedro Cunha

terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Os tipos admiráveis

O Vitória encerrou a primeira volta do campeonato no Estádio Marcolino de Castro, em Santa Maria da Feira, com um empate que soube a pouco. A exibição não foi excelência, mas chegaria para somar três pontos, ao invés de um, se a equipa soubesse ser mais assertiva na altura de alvejar a baliza. É notório que há limitações, que devem ser tratadas no mercado de Inverno, e algum cansaço, provocado por um mês de Janeiro com um calendário extenso e exigente. Desde o dia 30 de Dezembro do ano transacto, em que o Vitória foi a Vizela arrancar uma vitória para a Taça CTT, a equipa já disputou quatro jogos - dois deles para a referida Taça e os restantes dois para o campeonato. Destes jogos, os resultados repartem-se igualmente em empates (frente ao Paços de Ferreira, para a Taça, e frente ao Feirense, para o campeonato) e derrotas (as duas frente ao Benfica, para a Taça e para o campeonato). De forma simplificada, bastará dizer que 2017 ainda não convenceu. O Vitória somou apenas 1 ponto para o campeonato, de seis possíveis, e foi eliminado de uma competição que tinha todas as possibilidades de ganhar. Até ao final de Janeiro, disputam-se jogos muito importantes para o campeonato (Braga fora e Marítimo em casa) e para a Taça de Portugal, frente ao Covilhã. O início de Fevereiro trará, também, os seus desafios: começa com uma deslocação ao Estádio da Mata Real e com a recepção ao Porto.

Apesar do ano não ter começado da melhor forma, o balanço da primeira volta é positivo. Não é satisfatório e deixa a sensação de que se podia ter feito mais e melhor, mas é, no geral, positivo. O Vitória encontra-se na 5ª posição da tabela classificativa, na posição mínima que dá acesso à 3ª pré-eliminatória da Liga Europa. Parece-me que este lugar tem de ser sempre o mínimo exigido e não o objectivo da época. Logo abaixo, na 6ª posição e a 6 pontos, encontra-se o Marítimo. Acima, para onde temos de olhar, encontra-se imediatamente o Sporting, com mais três pontos; o Braga, em 3º lugar, com mais cinco pontos; e, na 2ª posição, está o Porto, com mais sete pontos. Parece-me importante declarar, de imediato, um facto óbvio, mas que por vezes pode passar despercebido. São seis pontos que separam o 6º classificado, o Marítimo, do Vitória e são cinco pontos que separam o Vitória do 3º classificado, o Braga. Outro facto óbvio, e de grande importância, é que na jornada inaugural da segunda volta o Vitória desloca-se ao sempre complicado reduto do Sporting de Braga, enquanto que na jornada seguinte recebe o Marítimo. Se as duas jornadas correrem bem, e o Vitória conseguir somar seis pontos, pode aproximar-se do 3º posto ou, até mesmo, instalar-se nesse lugar agradável - contando, para isso, com deslizes do Sporting de Braga e do Sporting de Lisboa. No outro extremo do espectro, o 5º lugar pode ficar em risco se as próximas duas jornadas correrem mal para o Vitória e correrem bem ao Marítimo, que inicia a segunda volta defrontando o Sporting. Naturalmente prefiro - e acredito - no primeiro cenário, apesar de ser a primeira a admitir que não vai ser nada fácil e que não podemos ser condescendentes, em nenhum período dos jogos (e, de preferência, em toda a segunda volta e isso incluí o mercado de transferências).

Os próximos dois jogos são peculiares e com características muito próprias. Começando pelo início: amanhã o Vitória desloca-se à fria Covilhã para tentar desbravar caminho até ao Jamor. Não há alternativa à vitória. A Taça de Portugal é o palco dos sonhos e é fundamental estar ciente de que o é para todos os clubes. Da mesma forma que o é para nós, também é para o Covilhã. A mentalidade com que se entra em campo, num jogo assim, tem de ser forte e inflexível. O adversário chegou ao mesmo patamar por mérito. Cair na armadilha de questionar esse mérito, é meio caminho andado para sair da prova. Não é, de forma nenhuma, o primeiro confronto entre os dois emblemas. Nem é o primeiro confronto para a Taça de Portugal. No computo geral até é o Covilhã que leva a vantagem. Em 37 jogos, o Covilhã venceu 17 e o Vitória 15, sendo que os restantes 5 terminaram em empate. Na Taça de Portugal, o caso muda de figura. Foram 6 os confrontos e o Vitória levou a sua avante por 4 vezes. O último jogo disputado, e o único disputado este milénio, foi em 2009 para a Taça da Liga, na altura designada por Carlsberg Cup. O jogo disputado no nosso estádio ficou 2-0, com golos de Moreno e Targino. O Vitória acabou por ficar em primeiro do grupo e passar à próxima fase. O jogo de amanhã não se adivinha fácil, mas ganhar é a palavra de ordem!

No próximo Domingo, o Vitória entra em campo na Pedreira. Um dérbi tem sempre contornos especiais. Os nervos estão à flor da pele, os pequenos detalhes ganham proporções megalómanas e a pressão triplica para quem está dentro de campo. Não é um jogo fácil, para ninguém. No entanto é sempre um jogo emocionante e que, por norma, é um espectáculo sem igual. Arrisco-me a dizer, não pela primeira vez, que este é o mais emocionante dérbi a nível nacional. Pela história que comporta e, principalmente, por ser um dérbi milenar que é apenas uma extensão da disputa entre as duas cidades minhotas. É difícil, para quem vê de fora, entender as dimensões deste jogo. Para quem o vive, na sua essência e há muitos anos, é um dos jogos da época. Não só porque pode ser decisivo, mas porque dá uma força anímica sem igual a um dos clubes. Isto, no início da segunda volta, pode ser muito importante. Não só em termos classificativos. No entanto, tal como o jogo de amanhã, não vai ser tarefa fácil para os nossos branquinhos. Aliás, o Vitória ainda não conseguiu ganhar nenhum dos 12 jogos disputados no Municipal de Braga. Destes, 11 contaram para a Liga. O Vitória perdeu 8 vezes e empatou nos outros três jogos, sendo que os últimos dois jogos acabaram em empate. Em 2014, sem golos. Em 2016 foram 6 os golos apontados, três para cada emblema. Do onze titular que alinhou frente ao Braga a época passada restam apenas 4 jogadores: João Miguel, Josué, Pedro Henrique e Bruno Gaspar. Os três golos vitorianos foram apontados por jogadores que já não estão no clube, nomeadamente Licá, Dourado e Otávio. O Sporting de Braga tem, em sua casa, um campo muito difícil. Para o campeonato ainda não perderem nenhum jogo. Os dois jogos que perderam contaram para a Taça CTT, frente ao Rio Ave, e para a Taça de Portugal, precisamente pelo Covilhã, que os eliminaram da prova. Para todos os efeitos são três pontos como todos os outros, mas podem ser determinantes na principal prova portuguesa.

A minha última nota não pode deixar de ser para os do costume: para nós, adeptos. Se me pedirem para eleger o melhor desta primeira volta, a minha resposta seria a mais natural do mundo e sem nenhuma hesitação. O melhor desta primeira volta, como em todas as voltas de todas as épocas, são os adeptos. Temos de ser justos e intelectualmente honestos: um clube não se faz só de adeptos. O Vitória não é excepção. O Vitória é uma instituição constituída por várias partes, desde a administração aos adeptos - passando, naturalmente, pela equipa e equipa técnica, entre todos os outros departamentos que contribuem (e devem contribuir sempre) para fazer do Vitória um clube cada vez melhor e maior. No entanto, são os adeptos a força motriz deste clube, de um dos símbolos mais importantes e indispensáveis do futebol português. São os adeptos vitorianos, grupo em que me estou incluída, que são verdadeiramente admiráveis - mais do que qualquer jogador, marque ele os golos que marcar; mais do que qualquer treinador, independentemente dos troféus que ganhe ao serviço do clube. Não os desmereço, naturalmente. Não desmereço nenhum jogador, nenhum treinador e ninguém que faça o seu melhor ao serviço do Vitória. São os irredutíveis e incomparáveis adeptos vitorianos que têm, cada vez mais, a minha maior admiração. Aqueles que, como eu, gerem os seus horários para poder ir apoiar a equipa. Aqueles que, como eu, estão no autocarro a regressar de Santa Maria da Feira a planear a próxima deslocação, sem querer saber se estamos há quatro jogos sem ganhar. Aqueles que, como eu, ficam verdadeiramente tristes quando não podem acompanhar a equipa. Aqueles que, como eu, preferem estar na bancada de qualquer estádio português, ao frio e à chuva, do que estar confortavelmente sentados no sofá a ver o jogo pela televisão.

A minha admiração pelos adeptos vitorianos é, de dia para dia, maior. Àqueles que eu nem sequer conheço, mas que partilham este amor comigo: o meu obrigada! Por partilharem as bancadas comigo, por comporem molduras humanas extraordinárias comigo, por fazerem tudo em prol do Vitória como eu faço, por tornarem do Vitória o clube com os adeptos mais épicos e extraordinários do país. Quem acompanhou o Vitória na primeira volta da presente temporada, quem foi ao Dragão, a Moreira, a Vila do Conde, ao Bessa, a Tondela, a Arouca, a Vizela e ao Feirense - e a todas as outras deslocações que não estão enumeradas aqui -, tem muitas novas histórias para contar e para juntar a todas aquelas que já têm anos e que, carinhosamente, vamos contando em jantares e aos amigos quando eles já estão cansados de ver o nosso cartão do Vitória e cansados de ouvir as nossas histórias. Nós contamos sempre, uma e outra vez. E vamos contar no futuro, porque nós fazemos parte dessas histórias. Acrescentamos sempre, embebecidos, que "vocês, que estão de fora, não entendem". Dizemos isso porque sabemos que não entendem mesmo. Não conhecem aquela sensação incrível de sair do estádio com um sorriso estampado no rosto, depois de uma derrota, porque nas bancadas demos 15-0. Nem conhecem a sensação maravilhosa de perceber que, de certa forma, fomos nós que empurramos a equipa para a vitória. Muito menos sabem o que é chegar a casa, depois de uma viagem cansativa, de peito feito e com o coração a transbordar de orgulho. Nem conhecem - e desconfio que são poucos os que vão conhecer - a sensação de nos sentirmos uns super-heróis no final do jogo, com a camisola do Vitória, a camisola do clube da cidade que me viu crescer e que faz parte da minha identidade.

Quem apoia o clube da terra, contra todas as adversidades (e são muitas), é capaz de conseguir ter uma ideia daquilo que aqui falo. Há umas semanas li que "em Portugal, ser adepto de um clube do meio da tabela é cada vez mais um acto de masoquismo. Um acto de heroísmo." e, de facto, é. É difícil ir contra o que é normal, habitual, contra os jornais e as televisões, contra o que nos querem impor a ferro e fogo. É difícil, mas o lado bom compensa todo o lado mau que possa existir. É por isso que, quando chego a casa, vejo e revejo as fotos e os vídeos dos adeptos vitorianos e não consigo deixar de pensar que "estes tipos são mesmo admiráveis". E são. Somos admiráveis, somos arte. Muitos não entendem, nem é necessário. Nós sabemos dos esforços que fazemos e sabemos da paixão que nos move. Somos o combustível do Vitória. Onde houver um vitoriano apaixonado, estamos todos. Enquanto houver o Vitória, o futebol português é um bocadinho mais bonito.