terça-feira, 1 de março de 2016

Um fenómeno inexplicável chamado Vitória

Foto: Vitória SC
"Desde que eu vim ao mundo
Que canto por ti
O tempo vai passando
E eu vou-me apaixonando sempre, cada vez mais
Olha p'ra tua curva
E sente a nossa voz
Este amor é tão louco
Eu queria-te explicar
Mas não vais entender
Ninguém vai entender"

Os ingleses usam muito a frase (acho que surgiu numa campanha de um clube, mas não me lembro qual, se souberem agradeço que deixem na caixa de comentários) "Football without fans is nothing". É a típica mentalidade inglesa (e não só) que faz com que os estádios estejam sempre, ou quase sempre, cheios. Sem adeptos o futebol não passa de um jogo que envolve imenso dinheiro e que junta uns indivíduos dentro do campo, a correr atrás da bola para tentar marcar golo. Continuavam a haver jogadas e golos espectaculares mas para quem era isso se não estavam lá os adeptos? Perdia parte da magia.
Ontem, numa segunda-feira à noite, o estádio do Vitória esteve perto de atingir os 20 000 espectadores. Muita gente saiu do trabalho e foi directamente para o estádio e muitos levantaram-se às 5 horas da manhã de hoje, fez esforços, sacrificou o jantar por um dia para estar ali, para apoiar o clube do coração. Isto na mesma jornada em que o Arouca - Braga (que se realizou no sábado passado a uma hora simpática, 18:30) juntou... 740 pessoas! O ambiente que se viveu no Dom Afonso Henriques ontem vive-se cada vez menos em Portugal e isso, como adepta de futebol, entristece-me.
O primeiro jogo que vi do Vitória foi contra o Sporting. Ontem senti o mesmo que senti nesse dia que já está longínquo. Não me consigo lembrar do resultado, dos jogadores ou do árbitro mas lembro-me de uma coisa com tamanha vivacidade que me surpreendo a mim mesma: os arrepios que senti durante o jogo todo quando, num estádio cheio, todas aquelas pessoas, unidas por um símbolo, irromperam em cânticos e em aplausos e fiquei com a certeza, enquanto criança, que do outro lado do mundo nos estavam a ouvir. Lembro-me da paixão que senti nesse dia, eu não queria saber dos jogadores para nada, muito menos se marcávamos mais ou menos golos do que os outros. Não foi pelo resultado que eu me apaixonei, foi por aquela gente e por aquele símbolo que me acompanha até hoje e que tenho a certeza que me vai acompanhar até ao fim. Por isso lamento tanto que não se viva um ambiente destes todos os jogos e lamento que tão poucas crianças (e adultos) se possam apaixonar da forma arrebatadora como eu me apaixonei naquele dia. Não quero ser dramática e muito menos radicalista mas viver sem conhecer um amor destes é viver sem conhecer uma das melhores coisas que a vida oferece. O sentimento de envergar o símbolo do Rei ao peito, do clube da minha cidade, é um sentimento inesquecível e incomparável. Quando era criança, achava que dava super poderes, ontem quando saí do estádio, apesar do empate, senti o mesmo e percebi qual era o super poder que me dava. O poder de, em algumas ocasiões transcender o amor e a vida. Há fenómenos inexplicáveis!

6 comentários :

  1. A frase é originária do Celtic de Glasgow ou do Liverpool
    http://www.thecelticwiki.com/page/Jock+Stein+-+Quotes

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    1. Tinha ideia que era originária do Liverpool, mas não sabia quanto ao Celtic de Glasgow. Obrigada. :)

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  2. Olá Raquel. Aqui há tempos comentei um post teu acerca de música (Pearl Jam) e disse-te que me chamou a atenção o modo como escreves. Hoje, ao ler esta tua "poesia" (não estou a exagerar, pois falar desta forma do nosso Vitória é pura poesia) não resisti a deixar por cá este comentário em forma de vénia. Muito bem escrito e que qualquer Vitoriano se identificaria.
    Continua que eu vou passando...
    P.S. Vou descobrindo que temos também em comum o prazer da leitura, mas tipo "old school", que é insubstituível.

    Rui

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    1. Olá Rui. Muito obrigada pelo teu comentário, é muito bom ter feedback assim positivo! Falar do Vitória é sempre muito especial, é daquelas coisas que deixam qualquer vitoriano com brilho nos olhos, por isso escrever sobre o assunto é uma extensão disso e fico muito feliz por, como vitoriano, te identificares!
      P.S.: É raro encontrar alguém que goste tanto de ler como eu, e concordo contigo, é mesmo insubstituível!

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