quarta-feira, 30 de março de 2016

No meu tempo não era nada disto

Sempre quis dizer que no meu tempo não era nada disto. Faz-me sentir uma pessoa cheia de experiências e sabedoria, como aquelas avozinhas (ou avozinhos) de 100 anos que contam sempre uma (ou vinte e sete) história maravilhosa que nos faz pensar e repensar toda a vida enquanto nos empanturram de bolachas e bolos dos mais variados feitios, cores e sabores e não nos deixam parar de comer até sermos umas pequenas bolinhas. Nunca conheci nenhuma senhora, ou senhor, assim. Mas gostava.
O que eu queria dizer é que no meu tempo os telejornais dos canais generalistas acabavam às 21 horas mais ou menos em ponto e as notícias eram interessantes e com conteúdo (em retrospectiva, e já lá vão uns anos por isso as memórias já não são tão claras como isso principalmente no que a telejornais diz respeito, diria que a laaaarga maioria eram notícias no verdadeiro sentido da palavra). Nos dias que correm não costumo ver o telejornal da noite porque quando chego da universidade já costuma estar a dar outra coisa qualquer. Hoje vi a última meia hora do Jornal das 8 na TVI. Lembro-me especialmente de duas "notícias": a primeira sobre o casamento ultra-mega-secreto do Iker Casillas com a Sara Carbonero e a outra sobre a presença da Jennifer Lopez no Carpool Karaoke, do talk show Late Late Show.
Isto de estar a reclamar é mais ou menos parte da minha natureza, porque eu tenho o hábito de reclamar de tudo o que me parece mau e que pode ser melhorado. No entanto, e por muito que procure, não consigo encontrar nenhum motivo para isto ser notícia do telejornal. Parece-me que são assuntos da categoria de revistas cor-de-rosa. Ou então não. Se calhar não podíamos continuar a nossa vida sem notícias importantes como estas, e seríamos pessoas muito mal informadas sobre a actualidade mundial.
Haja paciência minhas senhoras e meus senhores, haja paciência!!

A arte de elogiar


Diria que os italianos dominam a arte dos elogio, eu diria que sim pela imagem que acompanha este post. Todos sabemos o quão belo é um golo aos noventa minutos e a intensidade que tem. Por isso, e este é um conselho de amiga, digam às mulheres das vossas vidas que elas são tão bonitas como um golo aos noventa minutos. Não há elogio melhor, garanto-vos!
Ah Itália, como gosto de ti sem te conhecer!

terça-feira, 29 de março de 2016

Berço de campeões

Foto: O Lado V
O futebol é o desporto-rei em Portugal, e também o costuma ser neste blogue quando falo do Vitória. Hoje não é. Hoje os protagonistas são outros, e não é porque o campeonato esteve interrompido no fim-de-semana passado. Hoje os protagonistas são outros porque me parece importante reconhecer quem tanto dá por este símbolo e que que tantas vezes representa o Vitória de forma magistral no resto do mundo.

Uma das características do Vitória que mais orgulho me dá é o seu ecletismo. O Vitória é, indubitavelmente, o clube mais ecléctico do Minho e um dos mais eclécticos de Portugal. Isso julgo que é ponto assente. É mais uma das tantas coisas que contribuí para que sejamos tão únicos e diferentes do resto.

A modalidade que mais acompanho a seguir ao futebol é o Basquetebol. Apesar de não ir a todos os jogos, a maioria das vezes por incompatibilidade de horários, vou sempre que posso. Vejo sempre uma equipa com muita garra e muita vontade de vencer. Infelizmente são raras as vezes em que o pavilhão enche - no entanto, somos os únicos capazes de o fazer (e já o fizemos muitíssimo bem!). Nos últimos anos fui a Fafe ver os jogos do Vitória na Final 8 da Taça de Portugal. Em campo vi sempre equipas que mostravam que o dinheiro não joga. Vi o Vitória lutar de igual para igual contra, por exemplo, o Benfica, que tem um orçamento para o basquetebol muito superior ao nosso. Vi os adeptos do Vitória chegar uma hora antes do jogo e encher a sua parte da bancada e apoiar incessantemente, enquanto que os adversários tinham dificuldades em ocupar metade da sua parte. Vi, com enorme satisfação, o Vitória levantar a Taça de Portugal em 2013. No palmarés do basquetebol o Vitória já conta, entre outros troféus, com duas Taças de Portugal, um Troféu António Pratas, um título de Campeão Nacional e uma Taça Nacional de Júniores Femininos.

A modalidade amadora mais antiga do clube é o Judo. Os judocas vitorianos somam 9 títulos: 1 título de Campeão Nacional de Júniores, 3 títulos de Campeão Nacional de Judo Adaptado Síndrome de Down e 5 títulos de Campeão Nacional de Judo Adaptado. Ao abrigo do projecto "Judo para Todos", o Vitória forma atletas com deficiência que são verdadeiros campeões! A modalidade mais recente é o Jiu-Jitsu que surgiu apenas na época passada mas que já tem 55 atletas distribuídos por diversos escalões. Apesar de ser uma modalidade recente, os nossos conquistadores já exibem no seu palmarés 5 títulos de Campeão Nacional!

A natação apresenta números extraordinários. Modalidade criada em 2001, tem um total de 282 títulos regionais e 77 títulos nacionais. Os nossos atletas já bateram 15 records nacionais e 8 desses ainda estão em vigor. O nome mais sonante da modalidade será Daniela Pinto que ficou em sexto lugar nos Campeonatos da Europa de Absolutos de Águas Abertas em Israel, sendo a primeira portuguesa a consegui-lo! O ténis de mesa surgiu na década de sessenta e desde aí conquistou 10 títulos regionais e 3 títulos concelhios. Os atletas vitorianos conseguiram o primeiro título em 1961 e o último na época passada numa clara demonstração de garra e vontade em manter a modalidade viva e a vencer!

O voleibol tem um palmarés invejável e soma títulos em todos os escalões. Os melhores anos da modalidade foram, em termos de títulos, entre 2007 e 2010: em três épocas conquistaram 1 Taça de Portugal Masculinos, 1 título de Campeões Nacionais da 1ª Divisão A1 Masculinos, 1 título de Campeões Nacionais de Juvenis Masculinos ao ar livre, 1 título de Campeões Nacionais de Infantis Masculinos e 2 títulos de Campeões Nacionais de Iniciados Femininos. Os primeiros títulos da modalidade datam dos anos oitenta. Uma modalidade que conquistou, desde aí, imensos títulos.

O Pólo-Aquático tem um percurso semelhante: os primeiros títulos foram arrecadados no início dos anos oitenta e desde aí construíram um palmarés muito interessante com títulos como a Taça de Portugal de seniores masculinos, 3 títulos de Campeões Nacionais das iniciadas femininas e, mais recentemente, o título de Campeões Nacionais de Juvenis! O atletismo do Vitória contava, em 2015, com 39 atletas amadores que participam nas maratonas de todo o mundo, onde arrecadam medalhas e títulos. Em Fevereiro do último ano, Manuel Mendes classificou-se para os Jogos Paraolímpicos do Rio de Janeiro.

Dez anos depois da criação da secção de Kickboxing do Vitória (em 2012 surgiu a secção de Boxe) sob a liderança de Alberto Costa. Os atletas destas duas modalidades já trouxeram para Guimarães mais de 30 títulos. É obrigatório destacar os 6 títulos de Campeão Mundial, os 2 títulos de Campeão Europeu, o título de Campeão Intercontinental e os impressionantes 13 títulos de Campeão Nacional!

O Taekwondo é, a par do Jiu-Jitsu, a modalidade mais nova. Nasceu em 2014 mas já deu frutos e por frutos eu quero dizer dois campeões made in Guimarães. Não foi preciso muito tempo para Rui Bragança e Nuno Costa se tornarem nomes incontornáveis no universo vitoriano e no resto do mundo. Nunca passamos muito tempo sem receber uma notícia positiva sobre um deles, ou sobre os dois. O Nuno Costa sagrou-se Campeão Nacional e o Rui Bragança soma  seis medalhas de Ouro (uma delas nos Jogos Europeus) em 2015 e vai representar-nos nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, onde estão os 16 melhores atletas do mundo.

Para além dos títulos nas modalidades que referi, o Vitória ainda soma mais uns quantos noutras modalidades como por exemplo no Hóquei em Patins (títulos vencidos nos anos 50 e os primeiros troféus das modalidades) ou em Andebol (que conta com quase 20 títulos, sendo a maioria distritais mas também o título de Campeão Nacional de Juvenis).

Infelizmente os feitos dos nossos atletas não abrem telejornais nem são motivos de primeira página dos jornais "desportivos", por muito que honrem o nome de Portugal no resto do mundo. Infelizmente os jornais desportivos não passam de jornais sobre futebol e que não têm outro tópico para além dos que são levantados pelos três do costume. Infelizmente há muita gente que não sabe que o Vitória é um berço de campeões.

Os nossos atletas não se cansam de nos mostrar o que é, de facto, a excelência vitoriana. Acho que, por isso, nunca será demais agradecer. Todos os atletas do Vitória, desde a menina pequenina que aprende a jogar voleibol até ao senhor que é campeão de Ténis de Mesa, são parte fundamental e inalienável da grandeza do Vitória!

Fossem todos como vós. Obrigada a todos os atletas que dão tudo pelo Vitória, conquistando troféu atrás de troféu, e que são estandartes do Vitória em todas as partes do mundo. Obrigada por representarem o nosso símbolo tão bem conquistadores!

segunda-feira, 28 de março de 2016

Conquistador

Foto: O Lado V
Acompanho os jogos do João sempre que possível. Recentemente tive, inclusive, o prazer de o ver jogar ao vivo na Taça Davis. Acho sempre que é uma honra ver portugueses a conquistar o mundo e o orgulho é sempre maior quando é um vimaranense (e vitoriano). É impossível não apoiar o João. No entanto apoio-o por muito mais do que pelo lugar (maravilhoso, diga-se de passagem) onde nasceu e pelo clube que torce (que, diga-se de passagem também, é o melhor) - apesar de isso ajudar. Apoio o João porque é um excelente tenista e porque é muito bom naquilo que faz. Hoje, apesar da derrota, voltou a mostrar que assim é. Fez um primeiro set de grande categoria e deu muito trabalho ao actual número um no mundo. Gostava de ver, depois de dois encontros, a primeira vitória contra o Djokovic. Não foi hoje, mas com muito trabalho acredito que poderá ser brevemente. Acredito que sim. Não há limites para conquistadores.

domingo, 27 de março de 2016

Se ele está de parabéns, o cinema também está de parabéns


Parabéns Tarantino! Que continues a deliciar-nos com as tuas maravilhas cinematográficas. O cinema é muito maior e muito mais completo contigo. Que venham mais 53!

terça-feira, 22 de março de 2016

Que venham dias melhores

Foto: Vitória SC
Não adianta andar com rodeios: o Vitória está mal. Acho que já todos percebemos isso e dizer o contrário é negar a realidade. Um clube que devia andar a lutar pelos lugares cimeiros da tabela classificativa, já com a Europa garantida sem contar os pontos, e se encontra no 9º lugar não pode estar bem, pelo menos do ponto de vista desportivo.

Parece-me insustentável continuar desta forma. Nos últimos três jogos não conquistámos um único ponto e não só saímos derrotados como, ainda mais alarmante, o Vitória praticou um futebol pobre e limitado. Em 30 pontos disputados desde o início da 2ª volta até hoje, conquistámos apenas uns míseros 11 pontos (2 vitórias, 5 empates e 3 derrotas). Podem até dizer-me que não é mau, afinal nos jogos teoricamente mais complicados obtivemos bons resultados: vencemos o Porto, fomos empatar à pedreira e empatámos em casa contra o Sporting. Infelizmente, não são só os jogos "grandes" que contam . Preferia, sem qualquer tipo de dúvida, ter perdido esses três jogos e ter ganho os restantes 7 da segunda volta. Se assim fosse, teríamos somado 21 pontos, mais dez do que os que temos agora. Não soa mal, pois não?

Sempre que há um problema (neste caso parecem-me ser vários), é peremptório identificá-lo(s) e encontrar a(s) solução/ões para o(s) resolver. Não acho que há só uma fonte de problemas no Vitória. Há apenas uma parte do clube que eu tenho a certeza absoluta que não tem culpa nenhuma: nós, os adeptos. Isso é inquestionável!

Seria muito fácil colocar a culpa só nos ombros dos jogadores porque afinal são eles que jogam, que estão dentro de campo e que têm de levar a equipa ao encontro dos três pontos porque mais ninguém tem a bola nos pés para além deles. Têm, naturalmente, a sua quota parte de culpa mas não são os donos dela, de forma nenhuma. Parece-me que, a alguns jogadores, lhes falta por vezes atitude (basta comparar o jogo contra o Sporting, que não foi excelente mas foi um jogo que empatámos porque fomos lutadores durante os noventa minutos, com o jogo seguinte em Coimbra, em que vi uma equipa mais apática e conformada). Não quero carregar sempre na mesma tecla mas olho para o Victor Andrade e não vejo a atitude de dar o litro em campo como se não houvesse amanhã nem a garra de jogar para o melhor da equipa, quando tem os pés na bola vejo-o mais a trabalhar para se mostrar individualmente do que para o sucesso colectivo. Posso estar a ser tremendamente injusta mas fico sempre com essa sensação.

Sérgio Conceição, naturalmente, também toma parte na situação. Na semana passada eu disse que discordo da política de emprestados. Discordo com mais veemência quando os emprestados não acrescentam muito à equipa e, sabendo disso, se insiste em tê-los dentro das quatro linhas quando há, na minha opinião, soluções que poderiam dar mais frutos (e isto é só a minha humilde opinião, que não sou treinadora de futebol). A sua função é, como dizia Steve Jobs, comandar a orquestra. Manter a equipa motivada, tirar o melhor de cada jogador, estudar o adversário e encontrar a melhor forma de o enfrentar. É essa a sua função. É isso que nós, enquanto adeptos, esperamos do treinador. Não é isso que temos visto, pelo menos ultimamente. Vimos alguns jogadores importantes (e muito importantes no balneário, pela experiência e sabedoria que têm e que deve ser transmitida aos mais novos) serem "afastados", um onze que nunca é certo e uma equipa que devia jogar melhor do que o que joga. Não digo que todo o trabalho do Sérgio foi mau, porque não foi, mas também não digo que foi muito bom, porque não foi. Se é verdade que não foi ele que formou a equipa no início da época, não é menos verdade que já era ele que estava nos comandos da equipa em Janeiro, e não vimos melhorias significativas desde aí, nem vimos ninguém entrar capaz de acrescentar grande valor à equipa.

No entanto, a maior culpa parece-me vir "do topo", da direcção. Uma época visivelmente muito mal preparada para uma equipa que tem como objectivo a Europa não podia dar bom resultado. Esse foi o maior problema de todos. Não posso negar que a direcção entrou para o Vitória numa altura de debilidade e numa situação francamente má, o que requer a coragem de quem se candidata. Financeiramente a direcção tem feito um bom trabalho, o abatimento do passivo é um dos exemplos e nesse aspecto estou satisfeita. Só que não chega! Como vitoriana gostava muito de ver uma maior progressão no panorama desportivo. Não adianta dizer que ganhámos a Taça de Portugal em 2013 com esta direcção, para dar a ideia de que o Vitória tem tido um sucesso tremendo no futebol. Felizmente vencemos, mas e depois? Vamos estar a dizer isso pelos próximos dez anos enquanto vemos o Vitória a lutar pelo meio da tabela classificativa? A contar os pontos para alcançar a Europa? A ser eliminados das competições bem no início das mesmas? Não são essas as minhas aspirações. Quero ver o Vitória a conquistar muito mais, a ser muito mais feroz, a ser um pesadelo para qualquer adversário, seja no berço ou fora. Para isso precisamos que o nosso presidente seja capaz de fazer mais pelo futebol, de ter uma mão forte e de defender exclusivamente os interesses do Vitória - e de mais ninguém!

Faltam sete jogos para o final do campeonato, ainda estão em disputa 21 pontos. Agora já não depende só de nós, mas ainda é possível alcançar a Europa. Espero que esta época sirva de exemplo para que se possa preparar, cuidadosa e meticulosamente, a próxima época. Espero (como sei que vocês também) que possamos voltar a um caminho de conquistas no futuro próximo. Afinal somos os conquistadores deste país, não somos?

Para terminar, só uma nota final: sou sócia pagante do Vitória há muitos anos, portanto acho que estou no direito de comentar a situação do meu clube. Não o faço, de forma nenhuma, pejorativamente. Sou vitoriana portanto o que faço não é por ser do contra pela diversão de ser do contra. Eu não sou contra ninguém, mas sou a favor do Vitória. Não tenho nada pessoal contra qualquer jogador do Vitória, nem contra o Sérgio Conceição ou contra o presidente Júlio Mendes. Pelo contrário, enquanto são "nossos", estão no Vitória, desejo que tenham o maior sucesso do mundo porque isso leva ao sucesso do Vitória. Acho que uma grande qualidade dos vitorianos é que são, no geral, muito pro-activos. Sempre vi, desde que me lembro, muitos vitorianos discutir soluções e melhorias para o Vitória porque somos uma massa associativa apaixonada e que só quer, mesmo que as opiniões se dividam, que o Vitória cresça. Portanto deixem-se de coisas e discutam o Vitória, porque o nosso objectivo é o mesmo: um Vitória ainda mais grandioso e capaz de lutar para o máximo possível em todas as competições em que se envolve. Esse é o objectivo! Todos sabemos muito bem que o Vitória é mais do que isto, mais do que maus resultados, mais do que jogadores, mais do que os treinadores que passam por cá e mais do que a direcção. O Vitória continua, nós também mas o resto não!

"Como comunidade a espécie humana é um desastre"

Parece-me certo dar um título a este post com a frase de José Saramago. É uma frase que recordo cada vez com mais frequência. Infelizmente o mundo tem vivido dias de insegurança, tristeza e medo. Todas as semanas há ataques terroristas. Cada vez mais acordamos com notícias destas, capazes de deixar o coração de qualquer pessoa bem apertado. Felizmente, a minha família e amigos que vivem fora do país (inclusive em cidades que já sofreram ataques terroristas como Paris e Istambul) sempre estiveram a salvo. Mas infelizmente já muitos perderam pais, irmãos, amigos e namorados, e isso deixa-me com o coração nas mãos e um sentimento de revolta que não consigo expressar correctamente por palavras. É com essas pessoas que os meus pensamentos estão. Não só em Bruxelas, mas em todos os lugares onde estes ataques ocorrem e onde pessoas sem culpa de nada perdem a vida. No sábado passado, depois de saber do ataque terrorista em Istambul, mandei mensagem a uma amiga minha turca e que vive em Istambul por quem tenho imenso carinho para confirmar se estava bem. Poucos minutos depois recebi uma mensagem positiva, que confirmou que estava tudo bem, apesar da insegurança e do medo que todos sentiam.
Infelizmente há muitas pessoas que não recebem essa mensagem positiva. Recebem apenas notícias más e tristes. Notícias que surgem em virtude de uns quantos cobardes julgarem que são melhores e que são superiores. Notícias que surgem de acontecimentos não se sabe bem em nome do quê ou de quem mas que destroem vidas e famílias em segundos da forma mais cobarde de todas. Sem aviso, sem dar oportunidade para defesa, sem dar a cara. Um ataque pelas costas de inocentes que derramam sangue e perdem a vida quando vão para o trabalho, quando vão viajar ou quando estão só a passear. Pessoas que mereciam chegar a casa no fim do dia, que mereciam ver os filhos crescer, que mereciam dar mais um abraço ao pai e à mãe, que mereciam, acima de tudo, viver!
Comecei com Saramago e termino com um excerto do livro de Carl Sagan, Pale Blue Dot:

"Think of the rivers of blood spilled by all those generals and emperors so that, in glory and triumph, they could become the momentary masters of a fraction of a dot. Think of the endless cruelties visited by the inhabitants of one corner (...) how eager they are to kill one another, how fervent their hatreds.
(...) In our obscurity, in all this vastness, there is no hint that help will come from elsewhere to save us from ouselves."

segunda-feira, 21 de março de 2016

My dear Amy

Acho que a Amy Winehouse é das artistas mais peculiares que já ouvi. Não há ninguém comparável. Única em tantos sentidos. A música precisa de mais artistas como ela. Que sobem ao palco e, sem o mínimo esforço, conseguem transmitir tanto e com tanta mestria. Sem auto tune, sem playback, sem truques. Só ela e o interminável talento que tinha.

Os problemas da estupidez humana

Gregarismo é, segundo o Priberam, "a tendência humana para viver em comunidade". Aprendi numa das minhas aulas de psicologia que o ser humano tem tendências gregárias. Aprendi, na vida real, que a tendência gregária torna algumas pessoas estúpidas. Provavelmente já há um estudo científico a comprovar o que acabei de dizer. Acredito que sim, em 2016 há estudos sobre tudo e mais alguma coisa. Se não houver disponho-me a fazer um estudo sobre o tópico!
Vocês devem estar a questionar o porquê de eu me pôr com esta conversa hoje. É hoje porque ainda estava à espera de que o vídeo que vi e que despoletou a minha raiva e me deixou corada de vergonha alheia fosse mentira, nada mais do que um estúpido fruto da minha imaginação. Só que não foi, e eu sou o tipo de pessoa que tem dificuldade em estar calada sobre o que me incomoda.
Faz precisamente hoje uma semana desde que o vídeo foi publicado na internet. Como pano de fundo: Plaza Mayor, Madrid. A maioria de vocês já sabe do que falo. Falo do vídeo que mostra os adeptos do PSV Eindhoven a humilhar algumas senhoras, pedintes alegadamente de nacionalidade romena, que lá estavam.
A cena é triste. Na esplanada, confortavelmente a beber as suas cervejas os holandeses pensaram que seria um bom passatempo atirar moedas para ver as pedintes correr desesperadas para as apanhar do chão. Como se estivessem num espectáculo e aquelas senhoras fossem uns fantoches feitos de pano que se encontravam ali com o único objectivo de os entreter. Não bastou atirar-lhes moedas, e alegadamente a entoar "não passem a fronteira", obrigaram-nas a fazer flexões no meio da rua (alguns transeuntes dizem mesmo que estas mulheres foram ameaçadas). O jogo ainda ia longe e tinham de passar o tempo de alguma forma, coitados. Na esplanada a diversão era rainha e todos riam completamente divertidos com o que estavam a fazer.
Como se humilhar outro ser humano fosse divertido. Como se pensar que se é superior fosse divertido. Como se ser uma cambada de energúmenos inúteis e desprovidos da mais básica educação fosse divertido. Não é. Pessoas sem educação não são divertidas, são só ignorantes, tristes e são do pior da espécie humana! Chego à conclusão que a culpa não é da tendência gregária (apesar de ajudar - quero acreditar que alguns dos que lá estavam a rir não fizeram nada por medo e por necessidade de se sentirem integrados e parte do "grupo", porque se todas aquelas pessoas são iguais, torna a situação ainda mais grave), o maior problema são as pessoas más e desprovidas de humanidade que se julgam, seja pelo que for, superiores a alguém.

sábado, 19 de março de 2016

Pai

Estão sempre a dizer-me que sou igual a ti. Sei que sou. Tenho os teus olhos e as tuas mãos. Acredito que também fiquei com o teu sentido de humor. Não sei bem como era o teu sentido de humor, mas pelo que já ouvi, acredito que somos muito parecidos até nisso. Fico feliz. Fico feliz por saber que fiquei com tantas heranças tuas. É a melhor forma de superar dias como estes. Deste-me muito. Por isso já não consigo ficar triste porque foste. Fico triste porque não estás comigo, não estás agora aqui para me ver crescer. No entanto fico feliz porque sei que te tenho comigo de tantas formas. Isso já é meu, tu és meu. Mesmo que nunca mais estejas comigo. Ninguém te tira de mim.
Tenho os teus olhos e espero que possas, de alguma forma, ver-me através deles. Saber que cresci, que estou a crescer e espero que consigas sentir o quanto eu gosto de ti, que consigas ver que tenho muito de ti comigo. Vou ter. Para sempre.
A tua miúda adora-te, mas eu desconfio que tu já sabes disso.

Um abraço gigante para todos os pais do mundo.
Outro para quem, como eu, já não o tem fisicamente.
Outro para as mães que fazem os dois papéis.
Outro para o meu tio que foi o pai que eu não tive e que eu adoro de coração.

sexta-feira, 18 de março de 2016

Queridos leitores,

eu temo não entender pessoas que escrevem fatos em vez de factos. Eu não sou nenhuma nazi da língua portuguesa e provavelmente até dou um erro ali e aqui. São coisas da vida. Atire a primeira pedra quem nunca deu erros! Convém referir também que não sou fã do novo Acordo Ortográfico. Não sendo a maior especialista no assunto, continuo a achar que factos se escreve... factos! As letras que desaparecem são as que não são lidas, certo? Se experimentarem dizer factos vão perceber, rapidamente, que o c não foi a lado nenhum. Se de facto o c desapareceu de vez, fico muito agradecida se me informarem do sucedido (e fico muito triste também). Não porque vou passar a escrever fatos quando quero dizer factos mas só mesmo para eu perceber que afinal até há algum motivo válido que leva as pessoas a fazer isso.
Caso factos permaneça factos, fiquem já a saber que pessoas que escrevem fatos, em vez de factos, começam a entrar naquele patamar de escrever muituh em vez de muito e cenas do género.
Atenciosamente.

Por que será que existe o que quer que seja

Hoje apeteceu-me ouvir o Caetano. Que é como quem diz, pura poesia para os ouvidos. Sabe sempre bem. Também para relembrar que o Brasil tem muito, muito mas muito mais para oferecer do que Dilmas e Lulas. Haja ordem e progresso!

quinta-feira, 17 de março de 2016

Smoking Kid

Sou o tipo de pessoa que fica incomodada com o fumo do tabaco. Não gosto, pronto. Às vezes digo isso a alguém que está a fumar à minha beira e que eu conheça bem (também não ando por aí a dizer a toda a gente que deviam ir fumar para outro lado porque cada um faz o que lhe apetecer). Acrescento sempre: isso faz mal à saúde, sabias? As pessoas sabem. Sabem perfeitamente o quão mal o tabaco faz. No entanto, insistem em fumar de qualquer forma. Uma campanha intitulada Smoking kid mostra o que acabei de dizer na perfeição. As pessoas sabem que o cancro envelhece, causa cancro e que no pior dos cenários, leva à morte.
Este anúncio venceu o bronze em Cannes no ano de 2012 e é, para muitos, o melhor anúncio contra o tabaco. Só o descobri hoje, mas gostei imediatamente do anúncio. Não sei se será o melhor do mundo, mas deve ser dos melhores que já vi dentro do tema. Melhor do que as minhas palavras, o vídeo:

Ordem e Progresso (?)

Em 1988, uns bons anos antes de eu nascer, Lula da Silva já dizia que "no Brasil é assim: quando um pobre rouba vai para a cadeia, mas quando um rico rouba ele vira ministro". Ironias das ironias, Lula da Silva virou ministro. Assim num esquema um tanto ou quanto duvidoso que faz com que Lula fique protegido e não vá para a cadeia.
Apesar de perceber pouco dos meandros da política, vou acompanhando com alguma curiosidade o desenrolar deste caso (e de outros semelhantes) porque acho curioso como é que um cargo político dá tanto poder a uns meros mortais, e acho curioso também o quão longe as pessoas conseguem ir em nome do poder e do dinheiro. Acho a natureza humana muito curiosa.
O que se tem passado no Brasil parece-me ser corrupção pura (e descarada). Só isso. Como já não é novidade. O Brasil tem sido, infelizmente, governado por pessoas cheias de más intenções e que só se preocupam consigo próprias e não com os cidadãos ou o seu país. Gastam milhões e milhões mas nunca para resolver os verdadeiros problemas, nunca para melhorar o sistema de saúde ou da educação. Gastam milhões e milhões quando há milhões de brasileiros a viver e a morrer nas ruas sem nada para comer.
O lema do Brasil é "Ordem e Progresso". Se calhar a Dilma não sabe disso, nem o Lula, nem a cambada de políticos corruptos que por lá habitam. Ordem e Progresso. Infelizmente não pode haver ordem, e muito menos progresso, num país em que o próprio governo, que supostamente serve e é eleito para zelar pelos seus cidadãos, admite, premeia e promove ladrões e corruptos.

quarta-feira, 16 de março de 2016

A menina bonita do ténis

O sucesso mundial de Sharapova começou em 2004 quando venceu Wimbledon, o torneio mais prestigiante da modalidade, com apenas 17 anos. Desde aí, a menina querida do ténis acumulou uma data de títulos, ganhou 601 jogos e perdeu 145 e tornou-se na atleta feminina mais bem paga do mundo. Por tudo isso, e por muito mais, o anúncio que fez há pouco mais de uma semana foi tudo menos o que se esperava.

O teste anti-doping revelou que Sharapova competiu no Australian Open sob o efeito de meldonium. No anúncio que deu, informou-nos que tem tomado esta substância nos últimos dez anos sob aconselhamento médico. Não sou médica e os meus conhecimentos na área são reduzidos, para não dizer nulos. Portanto fiquei um bocado à toa, sem saber muito bem o que pensar. De notar que esta substância só passou a ser ilegal a partir do dia 1 de Janeiro do corrente ano.

Obviamente que a partir do momento em que se torna ilegal (seja pelo que for) que a substância deve ser deixada imediatamente. Sharapova disse que nem ela nem a sua equipa leram o e-mail enviado pela WADA (World Anti-Doping Agency) em que se podia ler no assunto Main Changes to The Tennis Anti-Doping Programme for 2016 (Alterações importantes no Progama de Anti-Doping do Ténis para 2016). A única coisa que pensei foi que, se de facto este e-mail não foi lido, é de uma incompetência indesculpável. Coisas destas não deviam acontecer a uma atleta que tem, sempre, atrás de si um enorme staff para que ela própria não tenha de se preocupar com estes assuntos.

Segundo apurei, através da leitura de algumas notícias referentes ao caso, é que se trata de uma substância que faz com que se liberte a mesma energia mas gastando menos oxigénio do que seria normal. Dito assim pode parecer pouca coisa, mas para atletas acredito que seja uma diferença abismal. Um porta-voz da empresa que produz a substância disse que o tratamento normal será de 4 a 6 semanas. A não ser que estejamos perante um caso anormal e com características muito peculiares, (se for o caso, e duvido que seja, conhecer-se-ao os detalhes brevemente), em que o tratamento passe de 4 a 6 semanas para muitos anos, parece-me um caso suspeito.

Desde o anúncio alguns patrocinadores foram rescindindo os contratos publicitários com a Sharapova. A primeira foi a Nike, seguindo-se pela Tag Heuer e a Porsche. E ainda foi suspesa, pela ONU como embaixadora da Boa Vontade. Provavelmente o início do fim. Seja qual for a decisão da WTA, a verdade é que a carreira brilhante que construiu durante anos levou um golpe muito duro e provavelmente irreparável.

Já muita tinta correu sobre o caso na imprensa e já muitos atletas da modalidade deram o seu apoio a Sharapova, enquanto outros foram mais duros. Serena Williams, a actual número um, aplaudiu a coragem enquanto que, por exemplo, Andy Murray foi mais duro nas críticas e está a ponderar até em rescindir o contrato com a Head, que mostrou o seu apoio a Sharapova.

Não sou ninguém para apontar o dedo, nem o quero fazer. Cresci a ouvir ténis e Sharapova quase lado a lado, como se fossem quase indissociáveis. No entanto fico sempre triste quando escândalos destes rebentam. Não consigo deixar de questionar tudo e todos os atletas. Se a Sharapova o fez, quantos mais não o poderão ter feito?

Vir a público fazer um anúncio destes exige coragem. No entanto, parece-me a única coisa que poderia fazer. Seria mil vezes pior se se escondesse e deixasse isto vir a público por terceiros. Demonstra coragem mas não apaga o uso desta substância.

Pessoalmente, e apesar de gostar muito da Sharapova, espero que não saía impune. No final a verdade é que acusou positivo para uma substância ilegal, e uma substância que já foi confirmada como sendo uma droga capaz de melhorar o desempenho de quem a consume. Isso é faltar à verdade. É desrespeitar o adversário e a modalidade. Na minha opinião, todos os que o fazem merecem ser punidos!

Se a carreira de Maria Sharapova, a tenista russa que conquistou o mundo e que se tornou uma das melhores tenistas de sempre (se bem que é legítimo questionar tudo aquilo que venceu até agora, como se questiona sempre que sabemos de coisas destas), será um final de carreira triste e inesperado.


terça-feira, 15 de março de 2016

As contas complicam-se

Foto: Vitória SC
Acho que a minha observação relativamente ao jogo do último Domingo, frente ao sempre complicado Paços de Ferreira, pode ser comprimida em quatro notas:

- Quando vou ver futebol, espero ver... futebol. Não sei se em Paços de Ferreira se faz o mesmo, mas dado o anti-jogo que os pacenses praticaram desde o início do jogo até ao final, diria que não. Se calhar vão só ao estádio ver teatro ou qualquer coisa que se assemelhe. Porque futebol os jogadores recusaram-se a jogar, dada a quantidade de vezes que precisaram de assistência médica ou os atrasos em repor a bola - claramente intencionais e com o intento de não dar espaço para o Vitória impor ritmo no jogo e de o quebrar sempre que possível. Acho que equipas assim não pertencem ao escalão máximo do futebol nacional, que merece um bocadinho mais (apesar de tudo...).

- Acho curioso, no mínimo, que João Capela ainda ande por aí a arbitrar jogos como se fizesse bem o seu trabalho. Acho ainda mais curioso ter sido nomeado para voltar a arbitrar o Vitória depois do que já fez em jogos passados contra nós. Não entendo com quais critérios se regem os responsáveis pelas nomeações e não sei como é que estas decisões são aceites. Há dois erros sobre os quais não posso deixar de falar. Em primeiro lugar, não entendo como é permitiu todo o anti-jogo do Paços, que roçou o ridículo (e estou a ser simpática...). O segundo erro (e também o maior) foi a expulsão de João Teixeira, num lance em que este toca... na bola. Na conferência de imprensa, Júlio Mendes disse que "não temos nada contra Capela, mas exige-se um bocado mais". Em parte tem razão. Deve exigir-se mais. No entanto, tenho cada vez mais contra Capela. Não me parece difícil entender porquê!

- As duas notas anteriores não pretendem, de forma absolutamente nenhuma, justificar ou desculpar a derrota e a perda de (mais) três pontos. Não deixa de ser verdade que fomos prejudicados pelo anti-jogo do adversário nem deixa de ser verdade que fomos prejudicados por um homem que acha que é árbitro porque lhe puseram um apito na boca e o vestiram de amarelo e preto. Não deixa de ser verdade, mas não justifica. Não justifica a passividade da equipa nem justifica mais uma exibição fraca e que em nada honra o nosso símbolo. Acho que é importante reconhecer a culpa da derrota - que, desta vez, é nossa. A partir do momento em que somos capazes de reconhecer a nossa culpa, somos capazes de identificar o problema e encontrar uma solução. É isso que o Vitória tem, obrigatoriamente, de fazer e de preferência antes de viajar para a Madeira para defrontar o Nacional porque cada vez mais todos os pontos contam e as contas estão cada vez mais complicadas e a Europa cada vez mais longe.

- Não gostei de ver o Vitória com seis jogadores emprestados no onze inicial. Qualquer jogador a envergar a camisola com o símbolo do Rei junto ao peito tem o meu apoio. Seja ele emprestado ou não - afinal é dos nossos, está cá e quer o mesmo que eu quero! No entanto não me posso admitir fã da política de emprestados, ou seja qual for o nome que lhe queiram dar. Isto é uma opinião pessoal, uma questão de visão do futebol e cada um tem a sua. Não acho, e perdoem-me se estou a ser injusta, que um jogador emprestado tenha a mesma motivação que um jogador do clube. Naturalmente julgo haver excepções. Uma das quais, por exemplo, será o Bruno Gaspar. Chegou a Guimarães na condição de emprestado mas sempre se notou a garra com que jogava pelo Vitória e nota-se que gosta da camisola que veste. Outro problema desta política - e talvez o maior deles todos - é que os jogadores emprestados só continuarão cá se o clube que os empresta não os quiser. É tão simples quanto isso. Se forem bons jogadores e se estiverem em boa forma, ou seja, quando estão a acrescentar valor à nossa equipa, acabam por ser "resgatados" pelas equipas que detêm os seus passes. Não são nossos! É uma forma de algumas equipas rodarem jogadores, fazendo com que acumulem minutos na primeira liga e experiência. Acho que esta política de emprestados pode beneficiar algumas equipas, mas julgo não ser benéfico para uma equipa como o Vitória, que se deve assentar numa estrutura sólida (e não dá para ter uma estrutura sólida se metade da equipa não é nossa) e que deve ter objectivos ambiciosos a longo prazo e acho que não preciso de dizer que não é possível ter objectivos ambiciosos a longo prazo quando não fazemos ideia de qual será a equipa que temos no próximo ano (ou sempre que o mercado abre) porque metade da equipa é emprestada. Não me importo que o Vitória jogue com um ou outro jogador emprestado (desde que acrescente valor à equipa naturalmente), mas mais de meia equipa parece-me não só exagerado como irresponsável. Por fim, outro problema igualmente grave é que esta política vai contra uma das políticas pelas quais o Vitória se regeu nos últimos anos e que foi pioneiro em Portugal, primeiramente por necessidade, mas que deu frutos: a aposta na formação. Ao jogar com tantos jogadores emprestados, os nossos jogadores da formação vêem as oportunidades a escapar-lhes. Não se pode ter tudo e das duas, uma: ou se opta por uma política de emprestados ou então opta-se por um projecto de valorização da formação. Acho que já perceberam que prefiro a segunda opção. Por fim, e para terminar esta nota, a equipa B, que tem sido tão pobremente gerida e isso está, infelizmente, a reflectir-se nos resultados e na tabela classificativa (mas isso são outros quinhentos), tem perdido um dos seus propósitos iniciais de potencializar jogadores para a equipa A.

O Vitória encontra-se, no fecho da vigésima sexta jornada, no 8º lugar da classificação. Antes das últimas duas derrotas (fora na Académica e em casa contra o Paços), tínhamos uma série de nove jogos sem perder. Isto soa bem e é positivo, claro, mas só somámos 15 de 27 pontos possíveis (3 vitórias e 6 empates). Embora não seja uma calamidade, podia ser francamente melhor! A luta para conseguir a Europa complica-se e está muito renhida. 
O Arouca, que já leva uma vantagem mais ou menos confortável, ocupa a 5ª posição com 41 pontos. Seguem-se com 36 e 35, respectivamente, o Rio Ave e o Paços de Ferreira. O Vitória tem 34 pontos. A seguir-nos de perto estão o Estoril e o Belenenses, com 33 e 32 pontos. De um ponto de vista realista, a nossa luta é pelo sexto lugar (que é o aceitável dentro dos mínimos). Se é verdade que estamos perto do Rio Ave e do Paços, é igualmente verdade que temos à perna o Estoril e o Belenenses. Parece-me que está na hora de arregaçar as mangas e lutar por cada ponto com toda a garra possível!

Nas bancadas, como sempre, estaremos nós. Sempre presentes e sempre incomparáveis. No final da época, somos nós que continuamos cá porque o Vitória somos nós. O resto passa, passam todos, os jogadores emprestados e os que não são emprestados, o treinador, a direcção, tudo. Uns deixam uma marca positiva, outros negativa. Mas nós ficamos, incondicionalmente e isso, tenho a certeza, dinheiro nenhum ou lugar na tabela consegue definir e muito menos comprar!

P.S.: Não podia escolher outra foto para acompanhar o post. O futebol é isto e é para todos. O futebol é uma modalidade que desde sempre pretende incluir toda a gente ao invés de excluir. Para além da magia dentro das quatro linhas, é também por isto que é a o desporto rei. Quem defende o contrário não sabe o que é futebol!

Nico


"Não aconteceu nada de especial no mundo por eu ter nascido. Nasci, pronto. E? O mundo girou e no dia em que eu morrer, ao contrário do que (...) todos nós temos aquela impressão de "Quando eu morrer o mundo vai parar". Não vai parar porra nenhuma. Nada pára. O mundo gira, as lojas abrem. As pessoas riem, as pessoas choram, nascem pessoas. Tudo isso no dia em que eu morrer"
Nicolau Breyner, Alta Definição (2010)

A minha estante | Comer Orar Amar

Em 2010 (salvo o erro) fui ao cinema ver o filme Eat Pray Love. Não me lembro muito bem do filme, só me lembro que era protagonizado pela Julia Roberts e contava com Javier Bardem. Agora, e depois de ir ao youtube ver o trailer, acho que não passa de um filme de domingo à tarde. Li o livro que dá o mote para o filme, da autoria de Elizabeth Gilbert, porque andava cá por casa e apetecia-me ler alguma coisa mais leve e que exigisse, em termos emocionais, pouco de mim. Isto será o equivalente a um típico filme de domingo à tarde mas com a esperança de que fosse mais do que isso porque afinal de um livro eu espero sempre mais profundidade.
Liz, como é tratada pelos amigos, é uma jornalista americana imensamente apaixonada por viajar. Depois de um divórcio complicado e extenuante, e de perceber que a vida dela tem sido sempre centrada no namorado ou marido ao invés de ser centrada em si própria, decide partir à descoberta de uma vida nova e do mundo durante um ano. Comer Orar Amar é o relato, em primeira mão, das suas viagens.
O livro divide-se em três partes, 3 destinos, com 36 capítulos cada. Primeiro Itália, depois Índia e por fim Indonésia. Não sei se já referi em algum post anterior mas a Índia é o país que mais quero visitar na minha vida, a minha viagem de sonho, e sempre quis viver em Itália (nem que fosse por poucos meses, como acontece com Liz) e era impossível dizer não à Indonésia. Portanto, se não fosse por mais nada, estes destinos chamavam por mim.
Apesar de ter gostado da vida no ashram da Índia e da tranquilidade que vive na Indonésia, a minha parte favorita foi a primeira, em Itália. Primeiro, porque a Liz tem um amigo chamado Luca Spaghetti (imaginem só o que é ter o nome Spaghetti em Itália!). Segundo, porque eu adoro comer e a comida italiana é, no mínimo, tentadora e a Liz farta-se de comer pizza e massas e afins. Terceiro, porque num dos capítulos (talvez o capítulo que gostei mais de ler) ela nos relata a sua primeira experiência num jogo de futebol, mais especificamente num Lazio - Roma, e nos dá a conhecer algum calão italiano, naquilo que nos descreve como um "delirante banquete de língua italiana", através de um adepto que começa por achar que o jogador está a fazer tudo bem e é o maior, para achar que está a fazer tudo mal e é um cafone e traitore (ou seja, um estúpido e um traidor). Todos nós conhecemos adeptos destes, certo? Termina este capítulo com a frase "Adoro Itália" depois de perceber que, quando a Lazio perde (ou ganha, ou empata... não importa), os adeptos vão sair. Não para um bar, como ela esperava. Mas para uma padaria e depois ficam "na rua durante horas, encostados às suas motas, a falar sobre o jogo, com um ar todo másculo a comerem folhados com creme". Eu pergunto-me: há como não adorar Itália?
Não é o tipo de livro que me faz ficar desconfortável ou irrequieta e que não me deixa dormir à noite (e eu adoro esses livros!) mas é um livro com uma escrita fluída, fácil de ler e com histórias muito divertidas e personagens (reais!) de quem nos apetece ficar amigos! Era aquilo que me apetecia ler. E deixou-me com uma tremenda vontade de viajar!

segunda-feira, 14 de março de 2016

Querido Julho,

achas que te podes despachar a chegar? Traz contigo o sol quente, as noites de verão e o concerto dos Radiohead. Eu sei que ainda falta muiiiiito mas estou especialmente ansiosa hoje por isso faz o que tens a fazer e chega rápido.



quinta-feira, 10 de março de 2016

Parabéns BMW, de mim, da Mercedes e da Porsche

Há marcas que respiram classe. Não tem de ser necessariamente uma marca de luxo (apesar de as marcas de que vos quero falar hoje o serem). Gosto daquelas marcas que associamos imediatamente a classe e excelência e que são ícones. Três exemplos: BMW, Mercedes e Porsche. O que têm em comum: são fabricantes de automóveis alemãs e têm classe que nunca mais acaba. Naturalmente são marcas rivais e todos sabemos que rivalidades com classe são muito melhores.
Ao longo dos anos já várias campanhas foram lançadas de todas as marcas que referi anteriormente (assim como da Audi) que pretendiam "picar" as outras marcas. Adoro ver os golpes que vão dando umas nas outras porque o fazem sempre de forma muito desportiva, divertida e nunca tentam rebaixar o rival. Aliás, reconhecem-no como tal, reconhecem a sua grandeza e admitem-no, com imenso respeito e humor. Sabem que a competição que mantêm os ajuda a melhorar cada vez mais e a ser cada vez melhores. A competição, quando saudável, tem esses bons resultados.
A BMW completou 100 anos recentemente. Cem anos! Um número redondo e impossível de não ser celebrado. A BMW celebrou-o, assim como os amantes de carros em geral e, claro, os fãs da marca (principalmente os mais entusiastas). Não se ficou por aí! A Mercedes e a Porsche também o fizeram. De forma sincera, cordial e verdadeira. De gigante para gigante. De ícone para ícone. Resumidamente, mostraram como se faz!
Na conta do Twitter da Mercedes foi publicado um vídeo com a mensagem: "Obrigada pelos 100 anos de competição. Os últimos 30 anos foram, no entanto, um bocado aborrecidos" (fazendo referência aos 130 anos da Mercedes). Os anúncios publicados em jornais alemães, acompanhados pela primeira frase do vídeo, eram dominados pela componente visual mais carismática e característica de todos os carros BMW.
O anúncio da Porsche põe lado a lado os carros eléctricos de ambas as marcas: de um lado o Porsche Mission E e ao lado o BMW i8. A acompanhá-los pode ler-se a mensagem: "O futuro presenteia-nos com grandes desafios. Nós enfrentámo-los com o puro prazer de conduzir. A Porsche curva-se perante 100 anos de história automobilística fascinantes e felicita, de todo o coração, a BMW neste jubileu."
Em baixo podem ver, respectivamente, os anúncios da Mercedes e da Porsche (que infelizmente não encontrei com melhor qualidade).




terça-feira, 8 de março de 2016

Nas vitórias e nas derrotas

Foto: Vitória SC
O vídeo do Rafa a liderar os White Angels no jogo contra o Sporting fez furor, naturalmente. As redes sociais inundaram-se de comentários positivos. Toda a gente estava apaixonada pelo mini-ultra vitoriano! Li comentários de adeptos dos mais variados clubes, numa demonstração de civismo. Só que, como nem todas as pessoas são civilizadas, li comentários disparatados e até uma crónica num jornal desportivo de um pseudo-jornalista que só me fez rir e questionar se alguém lhe paga para publicar o que ele escreve (e tantos jornalistas no desemprego...). Vocês sabem de quem eu falo. Aquele que já nos comparou aos jihadistas do Estado Islâmico. Esse mesmo! Quem mais poderia ser? A estupidez não lhe passa. Dizia ele, convicto de que acrescentava alguma coisa ao mundo, que "a última coisa que se possa dizer é que seja dignificante pertencer a uma claque" e mais um chorrilho de disparates que eu não me vou dar ao trabalho de transcrever para aqui. O comentário mais engraçado que li dizia que a Comissão de Protecção de Menores devia ser alertada para esta situação porque o pequeno Rafael não ia ter condições para se desenvolver cívica e intelectualmente por causa da "doença do futebol". Pode parecer que eu estou a inventar um comentário destes mas não, é mesmo verdade!

A primeira reacção depois de ler coisas destas é rir e a segunda é pensar que quando as pessoas são ignorantes relativamente a algum assunto deviam estar caladas. Este vídeo, de uma criança a aplaudir, a cantar e a apoiar a sua equipa mostra o melhor do futebol. Infelizmente, pessoas más vão sempre ver o mau em tudo. Este vídeo mostra que o futebol é para todos e que todos fazem parte do futebol. Acho que estereótipos são para ignorantes. E há um estereótipo de que quem vai ao estádio (e principalmente quem pertence a claques) apoiar a sua equipa de futebol são uma cambada de vândalos prontos a armar confusão e que são estúpidos. Este estereótipo não podia estar mais errado. As pessoas que vão ver futebol são pessoas normais, que gostam de futebol e que apoiam um clube e fazem parte dele. Obviamente, há pessoas que vão ao estádio que vão para armar confusão e que não prestam. Mas pessoas dessas há-as em todo o lado, sem excepção! Para além disso, este vídeo desmistifica a ideia de que é perigoso levar crianças ao estádio. Mas alguém queria alertar a Comissão de Protecção de Menores porque um rapaz de cinco anos estava, de forma segura, e feliz a bater palmas e a entoar cânticos de apoio a um clube. Pessoalmente considero ser mais importante alertar para problemas verdadeiramente preocupantes como a exploração infantil ou com as crianças que sofrem de violência. No entanto, é só a minha opinião e vale o que vale...


Depois de mais um empate em casa, contra o Sporting, e do vídeo viral do Rafa, tínhamos de ir a Coimbra e lutar para trazer os três pontos. Isto, claro, se quisermos cumprir com o mínimo  dos nossos objectivos! Sinceramente não estava à espera de outro resultado que não a vitória, ainda que estivesse plenamente consciente de que a Académica estava desejosa pelos três pontos para se manter na luta pela manutenção. Não há jogos fáceis, este não ia ser excepção.

Este, em particular, foi mais difícil do que o que devia e do que o que eu estava à espera. O que vi dentro das quatro linhas não me agradou: uma equipa apática, com pouca garra e com graves dificuldades em disputar o jogo. Nesta altura do campeonato, podíamos já estar numa posição mais confortável, a disputar o 4º lugar com os nossos rivais e não a disputar o 5º ou o 6º lugar. Podíamos, se não fossem os erros e uma época má preparada.

Neste momento, e depois do fecho da 25ª jornada, estamos na 7ª posição da tabela classificativa com 34 pontos. Estamos a 4 pontos do quinto classificado, o Arouca, e estamos a 2 pontos do sexto, o Rio Ave. No oitavo e no nono lugar da tabela estão o Estoril (com 33 pontos) e o Paços de Ferreira (com 32 pontos), respectivamente. Nas 9 jornadas que ainda temos pela frente até ao fecho do campeonato, ainda vamos jogar contra o Paços (já no próximo domingo) e o Estoril em casa, e vamos até Vila do Conde e terminamos em Arouca. Sou terrível a matemática, mas sei que ainda temos 27 pontos em disputa. Sei também que não nos podemos dar "ao luxo" de perder muitos pontos a partir de agora.

Como adepta julgo que os objectivos do Vitória devem ser sempre, pelo menos, conquistar o 4º lugar. Pela nossa história, pela massa associativa incomparável e pelo nosso símbolo que tem um grande peso, temos de ser ambiciosos e deixar de disputar o meio da tabela e o mínimo possível. Para além disto, devemos sempre lutar para chegar longe em todas as competições. Estes devem ser sempre os objectivos! Naturalmente não podemos ser tão ambiciosos se os erros se forem sucedendo, se for necessário substituir peças-chave da equipa todas as épocas ou se não houver um investimento sério no futebol. De forma mais simples, não podemos ser tão ambiciosos se não houver meios, garra ou ambição para alcançar estes objectivos!

Por fim, e para terminar, tenho mais uma vez de referir o apoio incondicional e único dos vitorianos em Coimbra. Uma viagem longa e cansativa (e para quem foi de autocarro, como eu, desconfortável) mas que vale sempre a pena. Apesar da derrota. O nosso amor ultrapassa os resultados. Pode parecer um cliché ou um lugar comum porque eu falo sempre disto, e vou continuar a falar, mas a verdade é essa: não há ninguém como nós e dizê-lo deixa-me muito orgulhosa. Tenho muita pena que o nosso apoio incondicional não seja reflectido no relvado. Se fosse, acredito piamente que seríamos campeões. Época após época após época!

Acham que é fácil ser mulher?

O calendário marca oito de março de dois mil e dezasseis. Não sei se já sabem, mas é o dia internacional da mulher. Agora que já sabem deixem-me recuar uns anos na história e contar-vos uma pequena história.

O dia 8 de Março de 1857 foi um dia incomum em Nova Iorque. Um grupo de trabalhadoras de uma empresa têxtil decidiu protestar e fazer uma greve geral. Não exigiam muito: a redução das 16 horas diárias de trabalho para 10 horas, o salário igual ao dos homens (estavam a ganhar 1/3 do que os homens ganhavam, a fazer o mesmo trabalho) e queriam condições dignas no ambiente de trabalho. Era só isso que este grupo de mulheres exigia, nada mais do que o justo. No entanto, não era isso que lhes queriam dar. Não foi isso que lhes deram. Ao invés de as ouvir e respeitar, trancaram-nas dentro da fábrica e incendiaram a fábrica. Este acto cobarde teve como resultado a morte de 130 (!) mulheres. Cento e trinta mulheres morreram queimadas porque levantaram as suas vozes para protestar contra o abuso que sofriam.

É esta a origem deste dia. Celebrar 130 mulheres trabalhadoras que foram mortas como se fossem pedaços de cartão que estava a estorvar, como se não fossem pessoas, como se não fossem ninguém. O meu apreço e respeito por estas mulheres, pela coragem que tiveram e que infelizmente lhes roubou tão desumanamente a vida, é incalculável.

Passaram 159 anos desde esse dia mas ainda hoje as mulheres são vistas como seres inferiores. Costumo dizer que ser mulher ainda é muito difícil. E é. Ser mulher dá trabalho. Tantos anos depois e continuamos a viver num mundo machista e misógino. Tenho repulsa e nojo de quem despreza as mulheres por serem mulheres, de quem ataca as mulheres por serem mulheres, de quem subjuga as mulheres, de quem as considera inferiores.

Neste dia não são flores que quero porque nasci mulher. Neste dia quero respeito porque sou mulher. Quero respeito para mim e quero respeito para todas as mulheres, independentemente de quem são, da cor da pele, de onde são, do que fazem, do que dizem, do que vestem, da profissão que têm. Quero respeito para todas as mulheres. Aliás, eu já não quero nem peço respeito. Exijo-o! Não exijo respeito "porque podia ser a tua mãe ou irmã". Exijo respeito porque sou uma pessoa. Porque as mulheres são pessoas. Simplesmente por isso.

sábado, 5 de março de 2016

A minha estante | The Revenant

Não sei qual é a vossa definição da expressão "rato de biblioteca". Seja ela qual for, há fortes probabilidades de eu me enquadrar nela perfeitamente. Livros físicos são, para mim, uma espécie de paraíso que posso ter na mala para me fazer feliz a qualquer instante. É frequente ter uma data deles espalhados pelo quarto e guardo-os (principalmente os meus favoritos) com imenso carinho. Apesar de me considerar amiga do ambiente, não me imagino a aderir aos livros digitais e a essas modernices (sou assumidamente da old school). Quando olho para os meus livros, do mais antigo ao mais recente, é como ver a história do meu amadurecimento porque tenho livros (e autores) que adorava à uns anos e agora não os suporto e acho que são a coisa mais chata de sempre. Apesar de adorar e consumir filmes à velocidade da luz, relativamente às adaptações costumo preferir o livro ao filme. Raramente acontece o contrário.
O último livro que passou pela minha mesa de cabeceira foi The Revenant de Michael Punk que, a não ser que tenham estado encarcerados numa prisão de segurança máxima pelos últimos meses e ler este post é a primeira coisa que estão a fazer (se for essa a situação, muito obrigada pela preferência!), já devem saber que foi adaptado ao cinema por Alejandro G. Iñarritu. Este caso foi a excepção. Prefiro o filme ao livro, apesar de se regerem por linhas totalmente diferentes. Há, de facto, diferenças abismais. Por exemplo, a cena em que o urso ataca Hugh Glass tem uma importância enorme no filme, é uma cena relativamente longa e violenta. No livro ocupa uma parte pequena e não é tão violenta ou fulcral. Para além disso, e foi um pormenor que me deixou triste, no livro Glass não tem um filho (como acontece no filme) que motiva aquela vingança urgente do filme.
Apesar de tudo, Punke consegue o que nem sempre os autores conseguem mas que é um dos objectivos fulcrais: capturar a essência do período retratado. A história remonta a 1823. Eu não sei como é viver em 1823 (devem ter percebido isso sem eu dizer, mas just in case...) mas se me pedissem para imaginar como seria viver nessa época, eu imaginava da forma como Punke nos descreve em The Revenant  e essa sensação é óptima!
No geral, é um livro que entretém com a acção e aventura qb. No entanto, e depois de ver o filme, tornou-se um bocadinho decepcionante para mim. Não sei se é a magia de Iñarritu ou se, caso não tivesse ainda visto o filme, ia achar o mesmo. É, acima de tudo, uma boa viagem a 1823 e uma boa história de vingança pura e dura!

Talento em português

Fotografia: Odeith
O artista português Odeith fez esta obra-de-arte na Damaia. É uma bela homenagem à melhor série de sempre, Breaking Bad, e de tão boa que é fez-me ficar com saudade do Pinkman e do Mr. White. Portugal é pequenino, mas está cheio de talento!

terça-feira, 1 de março de 2016

Um fenómeno inexplicável chamado Vitória

Foto: Vitória SC
"Desde que eu vim ao mundo
Que canto por ti
O tempo vai passando
E eu vou-me apaixonando sempre, cada vez mais
Olha p'ra tua curva
E sente a nossa voz
Este amor é tão louco
Eu queria-te explicar
Mas não vais entender
Ninguém vai entender"

Os ingleses usam muito a frase (acho que surgiu numa campanha de um clube, mas não me lembro qual, se souberem agradeço que deixem na caixa de comentários) "Football without fans is nothing". É a típica mentalidade inglesa (e não só) que faz com que os estádios estejam sempre, ou quase sempre, cheios. Sem adeptos o futebol não passa de um jogo que envolve imenso dinheiro e que junta uns indivíduos dentro do campo, a correr atrás da bola para tentar marcar golo. Continuavam a haver jogadas e golos espectaculares mas para quem era isso se não estavam lá os adeptos? Perdia parte da magia.
Ontem, numa segunda-feira à noite, o estádio do Vitória esteve perto de atingir os 20 000 espectadores. Muita gente saiu do trabalho e foi directamente para o estádio e muitos levantaram-se às 5 horas da manhã de hoje, fez esforços, sacrificou o jantar por um dia para estar ali, para apoiar o clube do coração. Isto na mesma jornada em que o Arouca - Braga (que se realizou no sábado passado a uma hora simpática, 18:30) juntou... 740 pessoas! O ambiente que se viveu no Dom Afonso Henriques ontem vive-se cada vez menos em Portugal e isso, como adepta de futebol, entristece-me.
O primeiro jogo que vi do Vitória foi contra o Sporting. Ontem senti o mesmo que senti nesse dia que já está longínquo. Não me consigo lembrar do resultado, dos jogadores ou do árbitro mas lembro-me de uma coisa com tamanha vivacidade que me surpreendo a mim mesma: os arrepios que senti durante o jogo todo quando, num estádio cheio, todas aquelas pessoas, unidas por um símbolo, irromperam em cânticos e em aplausos e fiquei com a certeza, enquanto criança, que do outro lado do mundo nos estavam a ouvir. Lembro-me da paixão que senti nesse dia, eu não queria saber dos jogadores para nada, muito menos se marcávamos mais ou menos golos do que os outros. Não foi pelo resultado que eu me apaixonei, foi por aquela gente e por aquele símbolo que me acompanha até hoje e que tenho a certeza que me vai acompanhar até ao fim. Por isso lamento tanto que não se viva um ambiente destes todos os jogos e lamento que tão poucas crianças (e adultos) se possam apaixonar da forma arrebatadora como eu me apaixonei naquele dia. Não quero ser dramática e muito menos radicalista mas viver sem conhecer um amor destes é viver sem conhecer uma das melhores coisas que a vida oferece. O sentimento de envergar o símbolo do Rei ao peito, do clube da minha cidade, é um sentimento inesquecível e incomparável. Quando era criança, achava que dava super poderes, ontem quando saí do estádio, apesar do empate, senti o mesmo e percebi qual era o super poder que me dava. O poder de, em algumas ocasiões transcender o amor e a vida. Há fenómenos inexplicáveis!

Valeu pelo DiCaprio, pelo Morricone, pela (surpresa) Spotlight e pouco mais

Acompanhei a gala dos Prémios da Academia do início ao fim, apesar de ter sido complicado manter-me acordada por um sem fim de motivos. Primeiro, as horas são impróprias. Segundo, a red carpet demorou eternidades e eu estava a ver que aquilo nunca mais acabava. Terceiro, acompanhei em directo na SIC Caras e a quantidade de pausas que fizeram ao longo da emissão para uma jornalista falar do que se comentava no Twitter foi no mínimo irritante. Quarto, por volta das 3 da manhã o sono atacou-me e foi difícil não adormecer. A cerimónia não foi nada de especial, como o costume, as surpresas não foram muitas, Chris Rock usou e abusou da polémica de falta de diversidade e acho que só há mais umas pequenas notas a tirar:
- Foi uma surpresa, para mim, The Revenant não ter sido o grande vencedor da noite e arrecadou só 3 estatuetas: melhor actor (Leonardo DiCaprio), melhor realizador (Alejandro G. Iñarritu, que vence pelo segundo ano consecutivo; em 2015 venceu com Birdman) e melhor fotografia ( Emmanuel Lubezki, que vence pela terceira vez consecutiva depois de vencer com Gravity e Birdman);
- Mad Max: Fury Road venceu quase todos os prémios técnicos (melhor edição, melhor edição de som, melhor mistura de som, melhor caracterização, melhor guarda-roupa e melhor cenografia) acumulando o total de 6 que fazem dele o filme com mais prémios da noite;
- Finalmente, e 500 bandas sonoras depois, Ennio Morricone venceu o prémio aos 87 com o fantástico trabalho em The Hateful Eight. Não podia ter sido melhor entregue!
- Nas categorias de melhor actriz e melhor actriz secundária foi entregue a quem se esperava: Brie Larson (Room) e Alicia Vikander (The Danish Girl), respectivamente;
- Uma das surpresas da noite foi ver Mark Rylance (Bridge of Spies) subir ao palco para receber o prémio de melhor actor secundário, quando toda a gente esperava ver Stallone. Preferi ver Rylance vencer porque não só teve um desempenho mais satisfatório como é melhor actor.
- A grande surpresa da noite foi, no entanto, ver Spotlight vencer a categoria mais esperada: melhor filme. Pensei que ia ser The Revenant mas fiquei contente porque, apesar do filme de Iñarritu ser muito bom, as questões que Spotlight levanta são questões muito importantes e que merecem os holofotes pela sua seriedade.
- E como não podia deixar de ser fiquei muito feliz pela vitória de Leonardo DiCaprio, é indiscutível e completamente merecido. O mundo ficou todo neste mood: