terça-feira, 28 de junho de 2016

A união faz a força

Foto: O Lado V
Acho que não é novidade nenhuma o que hoje escrevo. A união é um dos elementos fundamentais para o sucesso. Cada vez temos mais exemplos disso no futebol. Recentemente vimos o Chile ganhar a final da Copa América a uma Argentina com nomes mais sonantes. Ontem vimos, com alguma surpresa, a Islândia vencer a Inglaterra e passar aos quartos-de-final do Europeu. Vimos, na mesma competição, a Itália que muitos descreveram antes do início do Europeu como ter "a pior selecção da sua história" vencer à selecção espanhola, bi-campeã europeia. Se estas vitórias acontecem, e ainda bem que sim, é por haver muito trabalho e muita dedicação mas também porque entram em campo unidas, sem medo. São "mais equipa".

Ser equipa não é só juntar uns quantos jogadores e treiná-los. Exige muito mais trabalho e esforço do que isso. Uma equipa de verdade tem de ser coesa e entrosada, dentro e fora de campo. Para que seja eficaz, a coesão e o entrosamento tem de se estender a toda a estrutura - jogadores, equipa técnica, staff e administração porque no fim do dia o trabalho de uns depende, em parte, do trabalho dos outros. Todos os que estão a bordo têm de estar cientes dos objectivos que se pretendem alcançar a curto, médio e longo prazo, têm de saber a história do símbolo que representam, têm de entender os detalhes, as particularidades. Nenhum barco afunda por causa da água que o rodeia mas sim pela água que entra dentro dele.

Num caso tão particular e único como é o Vitória não basta haver uma união apenas entre os jogadores, equipa técnica, staff e administração porque o Vitória é muito, muito mais do que qualquer nome passageiro. É preciso que a união seja também com as bancadas, com quem apoia incessantemente, com quem marca presença esteja bom ou mau tempo, com o 12º jogador. Somos parte da equipa, parte da identidade, parte da essência que nos torna únicos. Estamos sempre presentes, prontos para defender o símbolo contra quem o ataque, sempre a trabalhar para e pelo Vitória - vejam-se as opiniões, textos e demonstrações de apoio que continuam com a mesma intensidade até quando o campeonato está parado. Somos a maior força do Vitória, a força propulsora. Por isso, sejam os tempos fáceis ou difíceis, temos de estar a bordo! Todos!

O mais importante de sermos uma equipa e agirmos todos como tal é que as equipas preocupam-se em primeiro lugar com o símbolo que está ao peito, só depois se preocupam com o nome estampado atrás. As críticas construtivas e as discussões são em prol do progresso, o trabalho dos jogadores e equipa técnica deve ser em prol de bons resultados, o trabalho da administração deve ser em prol de defender e manter o Vitória num caminho saudável e vitorioso. Tudo tem de ser feito em prol de um Vitória de sucesso, um Vitória ainda maior, um Vitória desportivamente competitivo e financeiramente estável. O nosso Vitória!

No fim da época que se inicia em breve espero que possamos ser capazes de olhar para trás e conectar todos os pontos. Espero que nos últimos 90 minutos possamos entender que valeu a pena todos os momentos em que nos foi pedida paciência, todos os momentos em que a frustração era tanta e quase deitamos a toalha ao chão. Desta vez tem de valer a pena! Está finalmente na altura de uma época de sucesso, de vitórias, de conquistas. Desta vez temos de honrar o nosso nome e a nossa história!

segunda-feira, 27 de junho de 2016

À magia do futebol

Vivemos numa altura em que é ingénuo (e uma demonstração clara de arrogância) dividir os campeonatos e as competições em equipas difíceis ou fáceis, subestimar certas equipas que aparentemente não são favoritas. As equipas que anteriormente eram consideradas fracas e acessíveis já não querem ser o bombo da festa. Fartaram-se! Agora preparam-se, trabalham muito, entram em campo com atitude, unidas, organizadas e com uma ideia clara de jogo. Entram a olhar o adversário nos olhos, sem medos. Não interessa quem é, sabem que estão onze de cada lado e tudo é possível. São vitórias merecidas e alcançadas pela superioridade e pela qualidade dentro das quatro linhas.
Nos últimos tempos os amantes de futebol têm sido presenteados com estas surpresas. O futebol, todos sabemos, proporcionou-nos histórias incríveis ao longo dos anos e continua a fazê-lo. É parte da magia. Histórias de superação, de recompensa pelo trabalho árduo.
Hoje foi mais uma dessas histórias. A Islândia eliminou a Inglaterra e, na sua primeira presença no Europeu, fazem história. Um país com cerca de 330 000 habitantes está a fazer frente a todas as selecções que encontra pelo caminho. Um percurso bonito e que ainda não acabou!
No final festejaram todos juntos, num momento de grande cumplicidade entre os jogadores, equipa técnica, staff e os adeptos. Uns no relvado, outros na bancada. Todos com as mãos no ar e a gritar em uníssono. Arrepiante! Não sei até onde vão chegar. Sei que hoje estou agradecida pelos bons momentos que me proporcionaram. Foi bonito, tão bonito!
Parabéns Islândia. Acho que todos vemos futebol também porque esperamos assistir a momentos destes: em que se escreve história e que nos fazem acreditar que tudo é possível. Se fosse sempre tudo conforme as previsões e os favoritismos não éramos tão apaixonados por esta modalidade. Por isso obrigada!

quinta-feira, 23 de junho de 2016

Liberdade de expressão


Há quem diga que "a nossa liberdade acaba onde começa a do outro". Uma frase feita repetida constantemente quando se fala de liberdade de expressão. Entendo a intenção de quem a diz mas nunca consegui concordar inteiramente por um simples motivo: impõe um limite à liberdade, "a liberdade acaba". Não, a liberdade não tem um fim. Se tem um fim ou se é limitada então não é realmente liberdade. É liberdade... condicionada. Não é liberdade!

Isto não significa que se pode dizer tudo e mais alguma coisa. Não significa que possamos dizer um chorrilho de disparates sempre que nos apeteça. Não significa que as pessoas não sejam responsáveis pelo que dizem. Não significa que não temos de ter provas quando acusámos alguém. Eu começo a achar que muitas pessoas julgam que liberdade de expressão é o direito de dizer qualquer coisa sem nenhuma responsabilidade sobre o que dizem. Alegam sempre a liberdade de expressão aqueles que falam sem saber o que falam e que julgam que as palavras são só e apenas uma combinação fortuita de letras.

Liberdade de expressão não é nada disso é triste saber que ainda há muita gente que julga que sim. Basta olhar para as presidenciais dos EUA e ouvir durante cinco minutos o Trump. Basta ler uma notícia de um dos jornais mais vendidos em Portugal. Podia citar muitos mais casos mas não me vou dar ao trabalho. Não perceber um conceito tão básico e importante como o de liberdade de expressão só tem uma única explicação: ignorância. Nada mais. E há tantos ignorantes por aí.

A liberdade tem de ser, obrigatoriamente, acompanhada pelo respeito. Respeito pelos outros e por nós próprios. Só depois de se entender plenamente o que é o respeito é que se poderá perceber o que é a liberdade de expressão. São dois conceitos inseparáveis e com os quais temos e devemos viver. Já chega de dar tempo de antena a quem não os entende e principalmente não quer entender.

terça-feira, 21 de junho de 2016

2022

Foto: Vitória Sport Clube
Em 2022 o Vitória completará cem anos. Um século. Não é um número irrisório, muito pelo contrário. É um número redondo e um número bonito. Ainda faltam seis anos para comemorar o centenário e até lá é certo que muitas coisas, boas e más, vão acontecer. Hoje vou aproveitar-me de uma pergunta que o Carlos Ribeiro, da rádio Fundação, fez ao Júlio Mendes quando o entrevistou: o que será o Vitória em 2022? Não tenho qualquer pretensão de adivinhar o futuro mas não posso deixar de pensar no que eu quero para o Vitória daqui a 6 anos.

Em 2016 o Vitória é um clube frágil. Esta fragilidade é o resultado, em grande parte, de anos de má gestão financeira. Em nome da recuperação e de continuar com "as portas abertas" várias alterações tiveram de ser feitas. O plano desportivo foi relegado em detrimento da recuperação financeira e hoje parece não haver ainda um projecto desportivo a longo prazo. Apesar de tudo isto, nos últimos anos tivemos também momentos muito positivos no futebol vitoriano, a começar por aquela que é talvez a página mais bonita de toda a nossa história - falo, como é óbvio, da conquista da Taça de Portugal - mas também da aposta (ganha) nos jogadores da formação, uma medida necessária mas que teve um resultado muito positiva, e acabou por ser um exemplo para muitas equipas portuguesas. Na formação não posso deixar de referir o campeonato nacional conquistado pelos juvenis na época 2014/2015 e que é mais um indicador, de muitos, de que o Vitória é uma óptima escola.

No entanto, o Vitória que vemos hoje, muitas vezes apático, adormecido e silencioso, não é aquele que gostaríamos de ver. Muitas vezes nem parece o nosso Vitória, com a identidade conquistadora herdada de D. Afonso Henriques, com ambição, garra e uma vontade incontestável de vencer! O Vitória de hoje parece ser um Vitória de conformado - "não foi uma época boa, mas ganhámos a Taça de Portugal em 2013" -, resignado e que aceita qualquer coisa que aconteça. A nossa história não é essa. A nossa história diz que somos nós, e mais ninguém, a construir a nossa história. Não deixamos que o façam por nós, nem aceitamos tal coisa. Tal como D. Afonso Henriques, que orgulhosamente ostentamos ao peito, conquistámos aquilo que queremos conquistar e aniquilámos as adversidades, fáceis ou difíceis. Esse é, e acredito que estejam de acordo comigo, o nosso Vitória.

É esse o Vitória que quero sempre e é esse o Vitória que quero em 2022. Um Vitória vencedor, capaz, forte e seguro de si. Até 2022 quero que este monstro adormecido acorde. Continuar no caminho silencioso de hoje não é opção se queremos estar na frente da batalha do futebol português e se queremos ser fortes na Europa. É esse o lugar do Vitória, estar na frente não deve ser um objectivo mas sim a realidade. Chamem-me sonhadora, mas até 2022 quero o Vitória campeão. Sim, campeão. Numa liga comprada e nojenta, como a nossa, é um objectivo difícil e tendo em conta a nossa situação actual poderá parecer, principalmente a quem está de fora, um objectivo impossível mas não é. Deve ser um objectivo real de um clube como o Vitória.

Em 2022 quero o Vitória desperto, vivo, emocionante, apaixonante. Quero ver o estádio cheio, as cadeiras sempre ocupadas por pessoas que gostam tanto do Vitória quanto eu, quero ver o Vitória fazer frente aos que por aí andam intocáveis todos os dias, quero ver o Vitória seguro de si, capaz de surpreender. Quero a nossa unicidade e autenticidade presente, quero que a vejam. Quero ver cada jogador a envergar a branquinha apaixonado e com a mesma vontade que eu tenho de carregar um símbolo tão especial como o nosso para sempre. Quero o inferno branco de volta. Quero que os adversários tremam de medo quando chega o dia de jogar em Guimarães, quero ver-lhes as pernas a tremer e as mãos suadas porque sabem que aqui não é como lá, aqui a paixão sufoca e é avassaladora.

Não basta dizer que queremos este Vitória em 2022, é preciso concretizar através de medidas concretas e reais. Medidas em prol do sucesso. O Vitória tem tudo para ser tudo o Vitória dos nossos sonhos. Só falta serem tomadas as medidas certas e em prol destes objectivos. Quando se está no Vitória, os objectivos não podem ser pequenos pela simples razão de que o Vitória não é pequeno. Não é difícil ver a grandeza do Vitória quando se anda pelas bancadas do estádio, o nosso ou outros, quando se encontra um vitoriano fora de Portugal, quando perguntamos a um vitoriano o que é o Vitória. Quando a nossa grandeza em campo for igual à nossa grandeza na bancada e ao amor dos vitorianos, então vai ser difícil alguém fazer-nos frente. O objectivo é ser o melhor que podemos ser e nenhum objectivo é grande demais quando comparados à dimensão do Vitória!

segunda-feira, 20 de junho de 2016

Génio Ronaldo

Sejamos coerentes. Para criticar e/ou elogiar é necessário haver sempre alguma ponderação e coerência. Naturalmente que num desporto tão apaixonante como o futebol vão haver sempre comentários de cabeça quente, comentários do momento e coisas ditas sem pensar. Acontece a toda a gente. O que não pode acontecer é viver permanentemente com memória curta e/ou selectiva.
Ontem o Ronaldo falhou um penalti. O guarda-redes não o defendeu nem a relva teve culpa da trajectória da bola. A culpa foi única e exclusivamente do Ronaldo! Eu sei isso, tu sabes isso e eu tenho a certeza de que ele também sabe disso e provavelmente sabe-o melhor do que ninguém.
No entanto nunca, em momento algum, podemos culpar apenas um jogador pelo empate (ou pela perda de dois pontos) de uma equipa. Não estou a dizer que o Ronaldo está imune da culpa do resultado de ontem. O que eu estou a dizer é que o Ronaldo tem a mesma culpa de todos os outros jogadores. Num jogo colectivo é ingénuo imputar a culpa apenas num "bode expiatório". Não é correcto nem faz sentido. Num jogo colectivo, como é o futebol, a culpa é dividida entre todos os intervenientes e a grande maioria dos comentários que leio culpam apenas o Ronaldo.
Talvez estes críticos, sempre tão ávidos e prontos a atacar, não vejam as estatísticas, não tenham interesse em vê-las ou desviem os olhos quando lhes são apresentadas porque afinal o Ronaldo é "egoísta", "só quer marcar lá no clube dele", "só quer saber da imagem e de selfies" e é "arrogante". Vou ser breve e deixar aqui apenas três comentários que são "só" fundados em estatísticas e factos:
- Há uma imagem a circular na Internet que compara o número de remates do Cristiano Ronaldo com os remates de outras equipas do Europeu, como por exemplo a Itália ou a Islândia. O curioso é que o Ronaldo soma mais remates do que essas equipas (nove equipas, para ser precisa). Para terem uma ideia: o Ronaldo soma 20 remates, a Itália 19 e a Suécia 11. Eu sei, os remates não dão pontos mas não deixa de ser uma estatística muito interessante.
- Durante toda a sua carreira, o Ronaldo falhou apenas 19 penalties das 110 oportunidades que teve. Isto significa que concretizou com sucesso 91. Na selecção falhou no total 4 (quatro) penalties. Para quem diz que ele só se interessa em marcar os penalties nas equipas em que joga... andam muito mal informados.
- Tornou-se ontem no jogador português com mais internacionalizações (128). São mais jogos nas pernas só pela selecção nacional do que estes os críticos provavelmente têm na vida inteira. Jogou com lágrimas nos olhos quando o pai morreu (e só quem sabe o que é perder o pai pode imaginar o quanto isso dói), jogou quando todos estavam contra ele, jogou quando estava lesionado e é visível que veste com orgulho a nossa camisola. É o melhor marcador de sempre da selecção nacional com um total de 58 golos - ainda não acabou a carreira e é provável que deixe este recorde num patamar tão alto que vão passar anos até alguém ficar perto de bater esse recorde. Nunca viu um cartão vermelho na selecção, nem por acumulação de amarelos, nem em jogos oficiais, nem em amigáveis.
A isto podia juntar histórias que só demonstram a força, a qualidade, a humildade e a as particularidades únicas do génio do futebol Cristiano Ronaldo. Não o vou fazer, quem prefere ver com palas nos olhos nunca entenderia tudo.
O Ronaldo não está, tal como os outros jogadores, imune a críticas. Bateu mal o penalti ontem, falhou. Reconheço e critico quando tenho de criticar mas tento ser coerente, justa, realista e não me esqueço de que, apesar de por vezes não parecer, o Ronaldo é humano e tem o direito de falhar e de ter fases menos boas. Os comentários que leio e ouço são provavelmente de quem não conhece a sua história nem a sua carreira. São comentários que destilam ódio e inveja pelo sucesso alheio. Quem o critica gratuitamente certamente não tem a menor ideia do que este miúdo, que nasceu pobre e com poucos recursos se fez um futebolista e profissional de excelência e ganhou tudo o que hoje tem, já deu à selecção portuguesa, ao futebol português e a Portugal. Não me esqueço quando conquista a Champions pelo Real Madrid, não me esqueço quando ganha outra bola de ouro ou outro troféu individual, não me esqueço quando o vejo elogiado por todo o mundo e só se for hipócrita me vou esquecer quando falha um penalti ou quando faz um jogo menos bom (e não acho que fez um jogo péssimo ontem).
Não é a hora adequada para comentários incendiários que em nada ajudam. As criticas são boas quando construtivas e são essas que devem surgir agora. O caminho está difícil, e ficou mais difícil ontem, mas ainda não é impossível. Por isso, e enquanto não for, eu vou acreditar. Vou acreditar e vou apoiar. FORÇA PORTUGAL!

terça-feira, 14 de junho de 2016

Uma identidade que não podemos perder

Foto: O Lado V
Todos temos consciência de que ser vitoriano não é ser iguais a todos os outros. Há uma identidade e uma cultura com contornos especiais que nos diferencia dos restantes. Tenho consciência de que sou suspeita para o dizer mas é difícil negar, mesmo a quem está de fora, que eu estou certa. Preservar a nossa cultura e identidade, com contornos tão particulares, bem como transmiti-la a qualquer pessoa que represente este símbolo é fundamental para o nosso sucesso.

A nossa identidade nasce dos princípios de independência e de conquista. Da mesma forma que nasceu Portugal. Com muita luta mas sempre com a mesma vontade de vencer e de crescer, de elevar o nosso nome ao mais alto nível. Claro que tudo isto não passam de palavras e palavras não entram em campo, não marcam e não ganham títulos. São só isso mesmo: palavras. No entanto estas que hoje escrevo transmitem uma verdade difícil de negar e que mesmo para aqueles que não entendem e são apenas espectadores de tamanha paixão e amor é praticamente inegável.

A identidade de que falo é o que faz atletas, que não são atletas do Vitória, como o João Sousa ou o Pedro Meireles terem sempre o símbolo presente em qualquer parte do mundo. É o que faz com que os ex-atletas do Vitória lembrem com carinho os tempos em que o foram, não se esqueçam do quão especial é ter a camisola do Rei ao peito e falem com um brilho inconfundível nos olhos, anos depois, dos adeptos e da instituição vitoriana. É o que faz com que estes ex-atletas levantem bem alto o nosso símbolo quando ganham um troféu por outro clube. É o que faz com que tenhamos a necessidade de viajar com pelo menos um cachecol ou uma camisola do Vitória na mala de viagem para o outro lado do mundo se for preciso. É o que nos faz oferecer um cachecol com todo o amor do mundo a quem conhecemos quando viajamos, com a consciência da importância daquilo que para outros é apenas um pedaço de tecido mas que para nós é muito mais do que isso.

Já vi, mais vezes do que desejado, a nossa identidade ser negligenciada ou a ser relegada para segundo plano através de políticas e politiquices que em nada representam o Vitória. Talvez se todos os parâmetros que definem a época forem definidos de acordo com a nossa identidade e a nossa cultura, possamos chegar então ao sítio que queremos - o de transformar o Vitória num clube vencedor em todas as competições onde participa.

A poucas horas da selecção portuguesa iniciar a sua caminhada no Europeu, e para terminar, tenho de deixar uma última nota. Conto que todos os que entrem em campo e entoem A Portuguesa antes do início do jogo possam ter o espírito conquistador de que falo como D. Afonso Henriques tinha. De um lado o escudo para defender e proteger e do outro a espada para atacar e lutar.

quarta-feira, 8 de junho de 2016

A contar os dias como uma criança

Falta um mês e os meus meninos têm dado concertos incríveis por essa Europa fora com uma set list naturalmente guiada pelo novo álbum mas que honra os clássicos. Desde Idioteque a Creep, passando por No Surprises (e já não tocavam as duas últimas desde 2009). Com a certeza de que vai ser um concerto memorável em Lisboa já começo a contar os dias como uma criança conta os dias para receber os presentes no Natal. Não há remédio para mim, em muitos aspectos vou ser sempre uma criança. Por exemplo nestas ocasiões, quando falta muito pouco tempo para ver uma das minhas bandas favoritas e que me acompanha há muitos, muitos anos e que também me fez ser quem hoje sou. A vida devia ser sempre feita disto!

(Malta que vai a festivais de Verão, nomeadamente ao NOS Alive, e tiver algumas dicas práticas sobre o assunto pode deixá-las nos comentários que eu fico muito, muito agradecida!)

terça-feira, 7 de junho de 2016

Escalar o céu

Pergunto continuamente a mim próprio: 
será um sinal de cobardia ou um sinal de maturidade?
CARL SAGAN, O Ponto Azul-Claro, 1995


A pergunta de Carl Sagan não está, de nenhum modo, directamente ligada ao Vitória. Aliás, nem directa nem indirectamente. Quando a escreveu em 1995, no livro que está agora na minha mesa-de-cabeceira, questionava-se se o retrocesso da exploração espacial depois das décadas douradas de 60 e 70, em que os homens chegaram à Lua pela primeira vez e foi feito um reconhecimento preliminar do sistema solar até Neptuno em missões que enviaram para a Terra informações valiosas, seria um sinal de cobardia ou maturidade. Sagan questiona o porquê de estarmos atemorizados por causa de uma viagem a Marte quando há 7 mil anos os nossos antepassados atravessaram os mares polares em embarcações abertas ou circum-navegaram a Terra impulsionados apenas pelo vento. Será cobardia abandonar a ideia de tal viagem? Depois questiona-se se não será afinal um sinal de maturidade ficar "em casa" em vez de partir para uma viagem a um mundo desconhecido; afinal quantas crianças podiam ser salvas apenas com o dinheiro de uma hipotética missão tripulada a Marte?

Depois da entrevista concedida por Júlio Mendes à Rádio Fundação, com um discurso sempre na base da cautela e do realismo e nas palavras do próprio "alimentando a esperança mas não o fazendo de forma irresponsável", não pude deixar de transpor esta pergunta para a situação do Vitória dos últimos anos. A direcção anterior, presidida por Emílio Macedo da Silva e eleita em 2007, devolveu o Vitória ao escalão máximo do futebol português depois de uma breve passagem pelo "inferno" e deixou os destinos do clube no final de um mandato e meio por causa da forte contestação à sua gestão financeira. Em 2012 é eleito Júlio Mendes; no ano seguinte constitui a SAD e o Vitória conquista a tão almejada Taça de Portugal e verifica-se uma melhoria na vertente financeira do clube, depois de um período muito negativo que incluía salários em atraso e um passivo ridiculamente elevado à altura da eleição. É reeleito para um segundo mandato em 2015.

Referi, de cada direcção, os pontos que julgo serem mais marcantes e positivos, pelo menos no que ao futebol profissional diz respeito. Não pretendo traçar nenhum paralelismo entre ambas as direcções, nem fazia sentido fazê-lo! O que não consigo deixar passar é que, pelo menos, nos últimos 10 anos, sob a alçada destas duas últimas direcções, o Vitória tem sido um monstro adormecido que vai dando uns sinais de que pode acordar mas que cai num sono mais ou menos profundo outra vez. Desde a época 2007/2008 em que regressámos à primeira divisão e alcançámos, com Manuel Cajuda no comando técnico, o 3º lugar na tabela classificativa, não acabámos a época nos quatro primeiros lugares e terminamos abaixo da sétima posição em quatro temporadas. Alcançamos o 5º lugar em duas épocas: em 2010/11 com Manuel Machado e em 2014/15, com Rui Vitória e terminamos, também por duas vezes, no 10º lugar: em 2013/14 com Rui Vitória e na época passada com Armando Evangelista e Sérgio Conceição. Ou seja, nas últimas três épocas acabamos por duas vezes no 10º lugar. São números alarmantes e que, julgo eu, preocupam qualquer vitoriano e agradam apenas aos adversários. Números que mostram que desportivamente (e apenas desportivamente) o Vitória tem ficado para trás e tem sido tristemente ultrapassado pelos rivais.

Júlio Mendes disse, durante a Assembleia Geral do sábado passado, que basta apenas "uma gota de água para o copo transbordar". Não sei o que quis exactamente dizer com isso, se pretendia ter mais cuidado na preparação e gestão da próxima época para que possa correr melhor ou se a situação do Vitória continua frágil a esse ponto. O que sei é que os Vitorianos têm segurado incondicionalmente esse copo de água, com paciência e a dedicação de sempre. O problema em segurar um copo de água, ou qualquer outro objecto, é o tempo. O peso desse copo é sempre o mesmo. Se pesar 100 gramas hoje e não houver alterações vai pesar efectivamente 100 gramas amanhã e depois de amanhã. Quando pegamos num copo de água que pesa 100 gramas é perfeitamente suportável, aguentámos, temos paciência quando nos pedem, é apenas incómodo. Se pegarmos num copo de água que pesa 100 gramas durante muito tempo dá-nos a sensação de que pesa mais, o braço acaba por ficar dormente e o peso passa a ser insuportável consoante o tempo vai passando - apesar de serem os mesmos 100 gramas de sempre. O que quero dizer é que o "copo" começa a pesar nas mãos vitorianas depois de tantas épocas a pedir paciência e calma, depois de esgotar todas as desculpas possíveis, depois de esperar por dias melhores e serem sempre dias iguais e depois da instabilidade relatada no parágrafo acima, de ver o "monstro" dar sinais de estar a acordar mas de voltar a adormecer de seguida.

Volto à minha pergunta inicial: será um sinal de cobardia ou maturidade? As respostas serão as mais variadas, naturalmente. Haverá quem acredite que é um sinal de cobardia (não será a palavra mais indicada mas acho que se adequa) negligenciar a aposta desportiva em nome de uma política financeira estável e sólida no futuro e haverá quem acredite que é um sinal de maturidade fazê-lo. Para outros, e para mim. é uma dicotomia falsa. Não podemos alcançar a plenitude em ambos os campos? Não se podem fazer campeonatos consistentes e que honrem este símbolo tão bonito enquanto se faz uma gestão financeira condizente e que traga garantias? Não acredito que seja fácil e não estou a dizer que é, mas acredito que seja possível com muito esforço, espírito de sacrifício e paixão. O Vitória não é como os outros, tem um suporte mais forte e resistente do que os outros e por isso aqui é possível fazer o que parece impossível a muitos.

Nós também pousamos os pés na lua em 2013 quando o nosso capitão elevou a Taça bem alto para que todos pudessem ver que era nossa e de mais ninguém, conquistada com muito trabalho e esforço de todos os que faziam parte do Vitória - desde o roupeiro ao adepto mais pequenino, passando por todos os profissionais que envergavam o símbolo fosse no equipamento com que pisavam a relva ou no fato que vestiam na bancada. Foi o resultado de um esforço colectivo. No entanto há muito mais para ver e para conquistar e a Lua foi só o primeiro passo. O retrocesso que houve depois das décadas de 60 e 70 na exploração espacial pode ser talvez comparável com a situação do Vitória nos últimos anos. Um estagnamento que desencoraja e entristece. Somos muito mais do que isto e podemos fazer muito mais do que estamos a fazer, não tenho dúvidas disso. Para que tal aconteça é preciso fazer-se mais do que o que se está a fazer. Se queremos escalar o céu, e conquistá-lo, não podemos ficar apenas a olhar para as estrelas. Tal como os nossos antepassados nunca tivemos medo de lutar, vamos ter agora?

domingo, 5 de junho de 2016

THE GREATEST

Senti-me verdadeiramente afectada com a morte de celebridades por duas vezes na minha vida, se bem que acho redutor reduzir a celebridades estas duas lendas. Uma delas foi em 2013, quando li a notícia que dava conta da morte de Nelson Mandela. A outra foi sábado assim que acordei: tinha morrido Muhammad Ali.

A minha admiração por Ali já tem alguns anos. O primeiro contacto que tive foi através do filme Ali de 2001, com Will Smith no papel principal. Em 2001 ainda era uma criança, por isso vi-o uns anos mais tarde mas não foi através do filme que cresceu a minha admiração. Uns tempos depois de ver o filme, provavelmente em 2009 ou 2010, um amigo meu chamou-me Ali. Chamou-me Ali porque eu gosto muito de boxe e porque tenho o hábito de não me calar perante tudo o que me revolta. Naturalmente não me estava a comparar a Muhammad Ali, foi apenas uma comparação com pouca importância mas que despertou a minha atenção. Comecei a pesquisar, a ler e a ver vídeos sobre Ali.

Primeiro descobri o pugilista. Um atleta ambicioso, positivo e cheio de vontade de vencer. Um campeão. Fiquei fascinada. Inteirei-me da carreira, dos títulos, das vitórias, dos feitos. Sabia-os e admirava-os. Ainda os sei e admiro e podia escrever um post enorme sobre tudo isso mas sei que não sou capaz de lhe fazer jus. É impossível não admirar o atleta, mesmo para aqueles que não são grandes fãs da modalidade em questão.

Depois conheci o homem. O homem que nasceu Cassius Clay. O homem que lutava por aquilo em que acreditava, mesmo que isso o deixasse atrás das grades e na miséria no auge da sua carreira. O homem que lutava pelos direitos civis e pela igualdade. O homem que lutou contra a guerra no Vietname. O homem que se recusou a ficar calado, por muitas vantagens que isso lhe pudesse trazer. Este homem, que mais tarde e depois de se converter ao islamismo, mudou o nome para Muhammad Ali inspirou-me a cada coisa nova que eu descobria. Inspirou-me e inspira-me até hoje. Inspirou-me a não me calar, a intervir quando as coisas não estivessem bem e a lutar. A lutar sempre. 

Ali lutou a vida toda. No ringue e fora dela. A minha admiração estende-se para lá do atleta. Admiro também o homem e por isso não consegui conter uma lágrima quando vi que a luta tinha acabado. Não sou de ter muitos ídolos. As palavras têm um grande significado para mim e ser ídolo é ser muito. Admiro o trabalho de várias pessoas, seja no cinema, desporto, escrita mas poucos são meus ídolos, pouco me inspiram enquanto pessoas. Muhammad Ali fazia-o. Um homem muito maior que o atleta, e o atleta já era enorme.

Muhammad Ali vai inspirar-me para sempre. Tirou as luvas e acabou a luta, mas o legado que deixa não morre. O que fez não morre. Nenhumas palavras minhas serão capazes de fazer justiça "ao maior" nem me acho capaz de pôr em palavras toda a minha admiração. Ali será sempre uma fonte de inspiração para mim. 

Obrigada campeão! You're the greatest!

quinta-feira, 2 de junho de 2016

Somos todos Charlie, mas só quando dá jeito

Fomos todos Charlie a 7 de Janeiro do ano passado, na altura do estúpido atentado terrorista que roubou a vida a doze pessoas na sede do jornal satírico Charlie Hebdo. Foram partilhadas milhões de imagens em que se lia Je Suis Charlie em solidariedade com aqueles que perderam a vida porque expressaram a sua opinião de forma humorística. Somos Charlie. Somos Charlie porque enojava-nos o atentado à liberdade de expressão.

Os mesmos que foram Charlie são os mesmos que se revoltaram quando a Joana Vasconcelos disse que levava o iPad e óculos de sol e mais umas quantas coisas na mala se fosse refugiada e são os mesmos que ameaçam o José Cid de morte porque disse que os transmontanos são desdentados e feios e coisas do género numa entrevista que já tem 6 anos e são os mesmos que estenderam as ameaças ao apresentador, Nuno Markl, e até ao filho deste porque se riu de um disparate.

Se concordo com ambas as pessoas que referi? Não, com nenhuma delas. Levava outras coisas na mala se tivesse numa situação tão delicada como a dos refugiados e não tenho essa imagem dos transmontanos. No entanto não me revolto, em nenhum dos casos porque não é importante. Há assuntos mais importantes para ser discutidos. Por exemplo, a crise dos refugiados.

Quem deixa de ser Charlie no momento em que encontra alguém com uma perspectiva diferente, e são muitos, passa a ser um grande hipócrita.

quarta-feira, 1 de junho de 2016

As crianças que não podemos esquecer

As crianças podem ser muito cruéis e mesquinhas, principalmente na relação uns com os outros. Há muitos exemplos disso e provavelmente todos, enquanto crianças, fomos cruéis em algum momento. É triste porque as crianças não têm noção da importância das palavras ou das acções e por isso nem sabem o quanto podem magoar os outros. No entanto as crianças são, por norma, os seres mais puros e sinceros de todos. Não se preocupam em mascarar quase nada. São frontais e muito atrevidas. Riem-se de qualquer situação e a maioria tem uma competência natural para ser feliz. Por vezes incompreensivelmente felizes. Com sorrisos estampados na cara.

Hoje não quero falar da minha infância, de quando era pequena. Hoje quero lembrar as crianças de que não nos podemos esquecer nunca. Aquelas que, sem culpa de viverem num mundo mau, violento e cruel, são obrigadas a entrar num barco sem condições para 50 pessoas fazerem uma viagem de longa distância mas onde fazem essa mesma viagem 200 pessoas. As crianças que não têm uma escola mas que querem aprender e por isso fazem-no sentado no chão e em qualquer lugar onde se possam sentar e aprender - porque é só isso que querem. As crianças que não têm água potável em casa e que por isso percorrem quilómetros todos os dias, por vezes descalços, para beber água. As crianças que são recrutadas por pessoas sem um coração a bater no peito para lutarem por uma causa que não conhecem, para matar o inimigo que não conhecem.

Hoje não nos podemos esquecer de todas as crianças que não têm oportunidade para ser crianças mas que são genuinamente felizes e têm um sorriso enorme na cara em todos os momentos. Momentos esses que provavelmente nos poriam a todos a chamar pela mãe. Hoje não nos podemos esquecer também de todas as crianças que não têm oportunidade de viver por causa das injustiças nojentas deste mundo tão sujo e triste. Não nos podemos esquecer das crianças, de todas elas. Hoje especialmente destas e outras como estas para que possamos lutar sempre por um mundo melhor e sem injustiças. As crianças deviam todas ter o direito a ser crianças.

Bebé sem identificação encontrado morto no Mar Mediterrâneo. Foto: Reuters
África do Sul
Afeganistão. Foto: Parwiz
Índia
A "ponte" que as crianças têm de atravessar para ir para a escola, Indonésia
Foto: Mio Cade
Quénia. Foto: Noor Khamis
Foto: Steve McCurry
Duas crianças e colegas de escola ao lado dos maridos, Yemen
Costa do Marfim. Foto: Luc Gnago
Thaminah Sadiq, de 7 anos, ganha menos de $3 por dia. Foto: Muhammed Muheisen
Crianças do Bangladesh trabalham 10 horas por dia e ganham cerca de 200 tk por semana (1$=70tk). Foto: GMB Akash
Gaza, Palestina. Foto: Kenny Rae, Oxfam America
Foto: Eric Valli
Foto: Mono Asia
Foto: Michael Biach
Foto: Thomas Tham


Bangladesh. Foto: GMB Akash 
Foto: GMB Akash
Bangladesh
Etiópia
Nigéria. Foto: Julien Germain
Foto: Muhammed Muheisen
Foto: Muhammed Muhein
Foto: Maurice.ee
Farzana (11 anos) e Jamila (7) fumam cristal, heroína pura dada pelos pais para que fiquem em casa sem dores enquanto vão pedir para a cidade. Foto: Philip Poupin
Haiti. Foto: Rafael Fabres
Foto: Nikola Jovandic 
Malásia
Foto: Meghan Dhaliwal
Campo de refugiados, Quénia. Foto: Nicholas Kristof
Paquistão. Foto: Caren Firouz
DR Congo. Foto: Uriel Sinai
Afeganistão. Foto: Fayaz Kabli
Kabul. Foto: Shah Marai
Foto: Jean-Michel Turpin
Cambodja. Foto: Claude Gourlay
Casamento infantil, Arábia Saudita. Foto: Cathy Gier
Somália
Gana. Foto: Alexandra Borges
Foto: Muhammed Muheisen
DR Congo

Escola sem electricidade e sem livros. Vietname. Foto: Kham