sexta-feira, 22 de abril de 2016

Querida Terra,

Foto: NASA - "Earthrise" (1968)
há um rio perto da casa onde cresci. Um rio que agora corre doente e envenenado. Envenenado pela ganância dos homens e das mulheres que não querem saber dele, nem de ti. Só se preocupam com o dinheiro e com os lucros, sejam a que preço for. Como se o fim justificasse os meios. Este rio não foi sempre assim. Ele era saudável, muito antes de eu nascer. Os meus primos e os meus tios contam-me que iam para lá quando eram pequenos e que era um sítio agradável e bonito. Um pulmão saudável e forte da natureza. Infelizmente quando o conheci já estava doente e a doença já está em estado avançado. Há uns meses chegou a estar branco. Os rios não devem ser brancos, pois não? 
Como este rio de que te falo, há muitos pulmões que murcham e sufocam às mãos dos mais gananciosos ou dos ignorantes. Acham que vais estar aqui para sempre, tranquila e calma mesmo depois das quantidades absurdas de lixo e porcarias com que te atiram sem misericórdia. Tens sido paciente, apesar de todos os avisos... Uns mais fortes do que outros, mas vais avisando as pessoas de que não vais ser sempre calma. Sabes ser avassaladora e dominante. Sabes que nós precisamos muito mais de ti do que tu algum dia precisarás de nós - por isso, de vez em quando, sabes que tens de pôr as mãos na cintura e berrar da forma que sabes para ver se finalmente as pessoas acordam.
Se a minha espécie acabar um dia - seja daqui a 500 ou 50000 anos - tu vais continuar por cá. Provavelmente recuperarás de todo o mal que te fizeram porque para além de seres avassaladora e dominante, também és resiliente e nessa altura já ninguém te vai fazer mal.
Se calhar ainda poucos perceberam que és apenas um "pálido ponto azul" num universo imenso, como dizia Carl Sagan. No entanto és a nossa única casa e és, deixa-me que te diga, de tirar a respiração a qualquer pessoa capaz de reconhecer beleza. Ainda que haja tantos padrões de beleza como há seres humanos, tu és linda. És mais bonita ainda quando ninguém te toca, quando és fruto da tua criação, quando és tu.
Partilhas tudo connosco e nós, uma cambada de ingratos, ainda não sabemos agradecer por partilhares tudo o que tu és, nem por tudo o que nos dás. Precisamos de ti, para sempre. Obrigada pela paciência. Vou tentar cuidar melhor de ti, prometo!

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