terça-feira, 19 de abril de 2016

O segundo verbo que mais conjugamos é sofrer


Começo a achar que já não tenho mais como falar desta época. Os problemas continuam, assim como os maus resultados da equipa A e o mau futebol. Só me tranquiliza, ainda que ligeiramente porque a situação é demasiado má para estar tranquila, saber que a manutenção está garantida, caso contrário começava a preocupar-me seriamente sobre a nossa permanência no escalão máximo do futebol português. A quatro jornadas do fim do campeonato estamos para baixo do meio da tabela classificativa e eu nem sequer considero, e calculo que nenhum vitoriano o faça, o meio da tabela aceitável. Os quatro adversários que temos pela frente são o Estoril em casa, o Benfica na Luz, o Moreirense em casa e terminámos em Arouca, de onde saímos felizes o ano passado, num confortável e agradável primeiro lugar. A situação está tão drasticamente diferente que eu diria que são anos a separar esses dois jogos e não apenas um ano e uns meses. Portanto, e para não me tornar repetitiva, vou tentar resumir o que me parece pertinente dizer em cinco notas e começo pelos números, porque tudo o resto é relativo (ou então não...):

- Phileas Fogg e Passepartout deram "A Volta ao Mundo em 80 Dias" (que não durou 80 dias, mas deixemos isso para outro dia) pela mão de Júlio Verne, o nosso Vitória completa hoje 81 dias sem vencer. A última vitória foi a 29 de Janeiro no D. Afonso Henriques. O resultado fixou-se em 3-1, com os nossos golos a serem apontados por Otávio, Henrique Dourado e Licá. Desde aí, dos 10 jogos disputados, metade resultou em empates e a outra metade em derrotas. De 30 pontos possíveis, conseguimos uns míseros 5. A situação ainda me parece pior depois de escrever isto, mas a verdade é que estamos mergulhados na pior série da época, totalizando 10 jogos sem vencer e, como resultado (desta série, mas de outros maus resultados "evitáveis" anteriores) estamos como que encarcerados no 11º lugar e até ao final da época as alterações na tabela classificativa podem significar uma subida ou uma descida de posição mas nada de extraordinário e certamente nada capaz de salvar a época.

- Tenho tendência para me focar nas coisas que eu sou capaz de controlar. Todos os outros eventos têm, claro, a minha atenção - principalmente porque podem interferir com aquilo que eu controlo - mas não são o meu foco porque estão fora do meu controlo. Isto é o que eu aplico na minha vida. É uma espécie de princípio que uso para economizar tempo e concentrar-me no que é importante e não perder tempo a "chorar sobre leite derramado" porque o tempo é limitado. O que eu quero dizer é que as arbitragens estão fora do nosso controlo (nem todos podem dizer isto, o que constituí um grande problema no nosso futebol, mas nós dizemos porque nunca fomos os filhos do sistema, sempre fomos os "enteados"). É verdade que ao longo da época fomos prejudicados em alguns jogos, e um desses jogos foi o de Domingo. A expulsão de Dalbert parece-me susceptível de ser discutida e portanto o cartão mostrado também o é, no entanto o penalti é pura e simplesmente ridículo e tenho a certeza que o seria em qualquer estádio do mundo. No entanto, e a minha opinião vale o que vale, nem esta má arbitragem nem nenhuma outra justificam a má época, os maus resultados e muito menos o mau futebol. Os problemas vão para além disso e não é por causa de erros, neste caso externos e fora do controlo da equipa, que o jogo acaba. Se o jogo acaba quando há um obstáculo então o jogo está perdido desde o início! Uma das qualidades máximas do Vitória (e que está intimamente ligada com a história de Guimarães e de Portugal) é a resiliência. A resiliência é o que nos faz levantar quando estamos no chão, o que nos faz resistir às adversidades e a qualidade que nos permite não desistir. Nós somos assim, a nossa história é essa. Lamento que haja ainda muito boa gente que não a conheça e que pensa que as coisas acabam quando nos atiram um tijolo à cabeça. Não acabam. Podemos até cair mas voltamos a pôr-nos de pé, ainda mais fortes, e conquistamos. Não atiramos a toalha ao chão. Quando o fazemos, perdemos. O jogo não dura 12 minutos!

- Quando disse, no ponto anterior, que não gosto de perder tempo a"chorar sobre leite derramado", dizia-o no sentido de que os erros externos não são, por norma, justificação para as derrotas. No entanto estes erros não podem passar impunes como se nada acontecesse. Não são uma justificação mas se podem ser corrigidos, é preciso fazer com que sejam! Numa equipa ou num grupo, esse papel é, geralmente, do representante máximo, do líder. No nosso caso, a direcção em geral e o presidente em particular deviam ser as vozes do clube e dos adeptos. Deviam ser os primeiros a dar a cara para falar de injustiças, para impor respeito e denunciar estes erros. Infelizmente esta voz está calada. Não é de agora que temos uma direcção indolente, indiferente e apática. De vez em quando há umas declarações ou comunicados mas não passam de fogo de vista. Infelizmente, e digo-o com desânimo, não há uma voz forte no Vitória capaz de tomar o partido do... Vitória. Não me parece que haja alguém na estrutura oficial do Vitória capaz de o proteger das ameaças exteriores - como as arbitragens nocivas e faccionarias, mas também da comunicação social que não conhece o significado da palavra imparcial.

- Há uma parte integrante e inseparável do Vitória que o protege e nutre para que ele cresça ainda mais. Estou a falar dos adeptos claro. Só lamento que nem todos os que fazem parte do Vitória estejam na mesma página que nós, adeptos. Se estivessem seríamos muito mais fortes! Na Madeira marcaram presença cerca de cem adeptos que mereceram, inclusive, o aplauso dos adeptos adversários. Também mereceram o meu! Neste ponto não posso deixar de felicitar os White Angels pelos 17 anos de vida. Apesar de não fazer parte de nenhuma claque, lembro-me dos White Angels desde que vou ver o Vitória. Estão lá, nos bons e nos maus momentos, e isso é o que conta. Parabéns!

- A foto que acompanha o post é do jogo da equipa B no passado domingo, contra o Braga B, e deixa transmitir muito daquilo que é o Vitória: muita garra e uma relação próxima entre os adeptos e a equipa, nos bons e maus momentos. A equipa começou mal e sofreu dois golos, mas foi resiliente e acabou por vencer 3-2. Isso aconteceu por uma razão muito simples: os nossos jogadores perceberam que as adversidades estão no nosso caminho para serem ultrapassadas e por isso ultrapassaram-nas num momento em que muitos deitavam a toalha ao chão e desistiam. Areias marcou um hat-trick e há notícias que dão conta de que é "a última esperança de Sérgio Conceição". Julgo que não seria justo chamá-lo num momento de tanta pressão, na recta final, quando já há pouco a ser feito. O único objectivo agora deve ser a manutenção da equipa B e, para tal, o Areias é mais necessário na equipa B do que na A!

Já o disse e repito: que seja uma época para servir de lição para que no futuro não se cometam erros semelhantes. O Vitória é mais do que isto e nós merecemos mais do que isto. A época está acabada mas a dignidade e a honra ainda estão em jogo. Faltam quatro. Quatro batalhas. Como sempre vou marcar presença nos jogos que faltam porque sou adepta do Vitória e não de vitórias e apesar de estar triste com a situação, o meu amor é mais forte. A verdade é que, como li há já algum tempo, sofrer é o segundo verbo que mais conjugamos. O primeiro é amar!

6 comentários :

  1. Só posso estar completamente de acordo. E realço que o maior problema que o Vitória actualmente tem é a falta de liderança. Há quem ache que o maior problema é o passivo mas não é. Os "passivos" esses sim são um problema cada vez maior. Nota final sobre o Areias: É um crime lesa Vitória tira-lo agora da equipa B. Porque essa tem objectivos pelos quais lutar e o Areias é fundamental. A equipa A só tem o objecto de não nos envergonhar mais. E para isso passa bem sem prejudicar os objectivos da B

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    1. E a falta de liderança reflecte-se na falta de objectivos. Não basta dizer para a comunicação social ver que o nosso objectivo é x e y, é preciso proporcionar condições para tal. Se, de facto, o Areias for chamado agora à equipa A só demonstra essa falta de liderança e de objectivos concretos porque, tal como referiu no comentário, a equipa B é a única que ainda tem objectivos pelos quais lutar e que têm de ser alcançados. Seria de uma falta de responsabilidade e eu arrisco-me a dizer de respeito, porque tirar o Areias de um grupo pelo qual lutou e pode lutar por alguma coisa para um grupo que anda à deriva e não tem grandes objectivos (pelo menos nenhum que seja "palpável") porque marcou um hat-trick, também demonstra que talvez quem esteja à frente da equipa A não esteja tão atento assim porque não é um hat-trick por si só que faz de um jogador "adequado" ou lhe dá de repente uma qualidade que não tinha no sábado à noite. Acredito que o Areias já tenha mostrado o seu valor antes, só que talvez os olhos estivessem focados no que não é nosso, se é que me faço entender...

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  2. Parabéns!!!
    Dizes tudo aquilo que penso, acredita.
    Vamos todos esperar que isto seja só uma fase má, e o Nosso Vitória vai levantar a cabeça :)

    Parabéns pelo blog, muitos parabéns mesmo!

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    1. Muito obrigada Inês, sinceramente. Esperamos todos que sim, que seja passageiro e que em breve possamos voltar aos lugares habituais, que são os do topo da tabela e que possamos voltar também às vitórias!

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  3. O Areias tem imensa qualidade e é um ponta de lança nato que pode marcar muitos golos pelo Vitória. É verdade que esta época passou uma fase má mas agora voltou ao seu normal que é fazer golos. Só que preferiram, mesmo quando ser chamado à A podia ser um clique para ultrapassar essa fase má, dar oportunidades a tudo que era emprestado e a ele nem uma. A ele, ao Vigário (que serve para jogar mundiais de sub 20 por Portugal mas para a nossa equipa A não),ao João Pedro e a outros da equipa B que tem qualidade para isso. Responsáveis? A incompetência de Sérgio Conceição e a falta de gestão desportiva da SAD. Lá está...a liderança que não existe!

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    1. Totalmente de acordo. Infelizmente esta época foi regida por aquele paradigma de que o que vem de fora é melhor do que o que já temos. A equipa B, apesar da má fase pela qual está a passar, tem recursos que podiam ter sido muito úteis à equipa A. Afinal "auxiliar" a equipa A é um dos objectivos dessa equipa, e uma forma de evitar o que aconteceu, que é ter meia equipa titular de emprestados. Não costumo ser fã de teorias da conspiração nem nada do género, mas acredito que a má fase que da equipa B também esteja ligada ao facto de muitos jogadores não se sentirem valorizados nem sentirem que têm oportunidade de progredir enquanto vêm os emprestados tomar, de certa forma, o "seu" lugar e no final não acrescentam muito... e eles continuam sem oportunidades. Acredito que dão sempre o seu melhor, mas acho que é universalmente aceite o princípio de que os melhores funcionários são os que estão satisfeitos e, mesmo que não estejam conscientes disso ou não o façam de forma consciente, o rendimento acaba por cair ou passar por uma fase pior como referiu. Talvez não seja nada disso, mas...

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