terça-feira, 12 de abril de 2016

A nossa herança


O meu amor e paixão pelo Vitória não depende de uma posição na tabela classificativa ou de uma vitória. Os vitorianos são assim. Nós somos assim. Se não fossemos, não havia nenhum interesse em tentar fazer o Vitória ainda maior. A esta altura e na 11ª posição do campeonato, mergulhados numa série de maus resultados, se não fosse a paixão pelo nosso símbolo e a vontade de o tornar ainda maior que todos partilhamos não haveriam discussões nas redes sociais nem existia tempo ou vontade para escrever crónicas em blogues porque já ninguém queria saber. Nós continuamos a querer saber. É isso que nos caracteriza agora e é isso que sempre nos caracterizou. O amor incondicional e uma dedicação ímpar.

Não sei até que ponto é que, quem veste de Rei ao peito, e quem toma decisões em seu nome, entende isto, pelo menos da forma como todos nós, que gastámos dinheiro e tempo em viagens e bilhetes e tudo o mais, entendemos. Se todos entendessem o amor e a dedicação dos vitorianos, eu acredito que haveria mais vontade para fazer melhor - e com vontade tudo se faz.

O amor pelo Vitória é uma herança. Aprendi a gostar do Vitória através de pessoas que me são queridas e que eu admiro e depois apaixonei-me no estádio, a minha segunda casa. Acredito que seja assim com grande parte das pessoas - a não ser os tais que gostam de um certo clube pelas vitórias ou títulos, mas esses nem estão na equação. Os bilhetes que podem ver na fotografia que acompanha este post estão comigo mas não são meus. Alguns deles são mais velhos do que eu. Há bilhetes de jogos para a Taça UEFA, bilhetes para a Taça de Portugal, para o campeonato, bilhetes em que nos chamavam "Guimarães" e bilhetes em que já nem se consegue ver nada do que lá estava escrito. Estou certa de que todos contam histórias, mas estou ainda mais certa de que são parte história. Essa história é a herança que todos aqueles envolvidos no Vitória e que envergam a branquinha recebem.

Na semana passada perdi um dos meus tios mais queridos. O meu tio era um senhor cheio de vida e sempre bem-disposto a quem o cancro roubou a vida muito cedo. Lembro-me de, quando eu era mais pequenina, ele ir sempre ver o Vitória. Lembro-me dos domingos em que ir ver o Vitória era um verdadeiro deleite, o estádio repleto de pessoas que não se conheciam mas que se juntavam pelo Vitória, a satisfação de ver o Vitória jogar bom futebol e a emoção de ter objectivos pelos quais lutar. E o meu tio estava lá, escolhia estar lá quando podia estar em muitos outros sítios durante aquelas horas. Escolhia estar lá como nós escolhemos estar sempre lá, onde quer que seja, sem desistir e sem parar de apoiar por mais negativo que seja o cenário. Antes do funeral do meu tio, ouvi uma das suas filhas dizer que "ele leva o símbolo do Vitória com ele, gostava tanto do Vitória". Eu sabia que sim, sabia do amor que tinha pelo Vitória, e apesar do momento de despedida ser tão triste, encontrei conforto no facto de saber que vamos estar sempre ligados, mesmo que nunca mais possamos falar ou ver. Estamos ligados através de um elo comum, de uma paixão comum. O meu tio foi parte da história do Vitória, como eu sou e tu também. Como são aqueles que o construíram, como somos nós que agora o mantemos.

Essa é a magia do Vitória, e do futebol em geral. Mais do que as épocas em terceiro ou segundo lugar na tabela classificativa, mais do que as taças ganhas, mais do que qualquer palmarés, essa é a herança que qualquer vitoriano e qualquer pessoa que represente o Vitória tem de honrar e da qual não se pode esquecer nunca! A melhor forma de honrar uma herança tão pesada e tão carregada de história e histórias é fazer do Vitória ainda maior, fazer o Vitória alcançar tudo o que os vitorianos almejam (e merecem) há muitos anos - tudo aquilo que, mesmo os vitorianos que já não estão connosco sempre quiseram ver mas que infelizmente não viram e que, mesmo assim, estavam lá sempre. Incondicionalmente!

2 comentários :

  1. (O Rui - iur.vsc - deixou um comentário que eu eliminei sem querer e não consegui recuperar para o publicar, por isso vou publicar através da minha conta porque consegui copiá-lo do e-mail que recebi. Peço desculpa desde já!):

    iur.vsc deixou um novo comentário na sua mensagem "A nossa herança":

    Olá Raquel,

    E cá estamos nós outra vez a falar do nosso Vitória por razões que não devíamos. Antes de mais começar pela foto que encima o (mais uma vez) excelente texto (que me traz saudades, sabes?). Tenho também em meu poder vários bilhetes desse género e alguns ainda mais antigos (Vitória-At. Madrid; Vitória-Groningen; Vitória-Sparta de Praga; etc) do tempo do Paulinho Cascavel e companhia. Foi nesse tempo que comecei a apaixonar-me a sério pelo Vitória (tinha eu 13/14 anos) e realmente era entusiasmante ir ao futebol. Depois disso já tivemos outras excelentes equipas e também por elas valia a pena ir ao futebol, e não tenhamos dúvida de que é esse entusiasmo que faz com que as pessoas de Guimarães sejam como são em relação ao Vitória, aliado ao nosso bairrismo natural. Mas embora sejamos naturalmente assim, se a equipa não puxa por nós não há milagres. Nota-se no Estádio a desolação das pessoas e o "abandono" de outras, facto que me entristece muito. Tenho levado a minha filha de 8 anos ao futebol (que já tem o bichinho do Vitória, naturalmente) mas começo a ficar preocupado com a cultura de derrota que ela está a assimilar, pois é nestas idades que começa a ganhar força o entusiasmo de ir ao futebol pelas alegrias e não pelas tristezas.
    Claro que isto tem muito de desabafo pela situação atual, e sei que não vai durar sempre, mas estou um pouco farto destas oscilações constantes no clube (ora fica em 4º como logo a seguir em 10º e depois em 7º, etc). Tenho saudades de ver as outras equipas a passar por dificuldades quando vinham cá jogar, a saber que a derrota era quase certa e um empate era muito bom; tenho saudades de ver o estádio quase sempre com 15.000/17.000 pessoas independentemente da equipa adversária; tenho saudades de um Vitória com ambição, de ser sem sombra de dúvida o 4º grande.
    Falas no texto da magia do Vitória, que existe sem sombra de dúvida, mas não tenhamos ilusões de que essa magia sem contrapartidas começa a esmorecer, e não me lembro, nestes meus já "longos" anos como Vitoriano, de ver tanto desânimo por estas bandas. Espero que seja apenas "uma nuvem passageira", como dizia o cantor (de que não me lembro o nome neste momento).

    Rui (Vitoriano desolado)

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    1. Olá Rui,
      Infelizmente têm sido escassas as oportunidades para falar de coisas melhores... Os bilhetes que tenho, e que guardo junto a estes, são mais recentes mas já ouvi, em jantares de família e noutras situações semelhantes, falar do Vitória desses tempos e, por exemplo, do tempo do "Paulinho Cascavel e companhia". Já ouvi a frase "nessa altura é que se jogava futebol" muitas e muitas vezes para recordar esses tempos. Com muita pena minha, não sou dessa altura mas também já vi o Vitória jogar muito bom futebol, e a ser constante, com casas cheias mesmo em jogos mais "pequenos"... Há, de facto, uma desolação muito grande. Não é fácil olhar para o Vitória de há uns anos e olhar para este Vitória. Têm sido tempos adversos mas ainda assim os adeptos continuam muito presentes e preocupados com o destino do clube. Quando não for assim é que começo a preocupar-me muito mais. O estádio do Vitória costumava ser um verdadeiro "Inferno Branco" em todos os sentidos, em que os adversários temiam cá vir não só pelo ambiente criado nas bancadas de grande pressão e apoio aos nossos mas também porque os nossos jogadores davam tudo por tudo, deixavam tudo no relvado mesmo que por vezes o jogo jogado não fosse o melhor... Já disse muitas vezes, e repito, o Vitória tem tudo o que precisa para fazer muito mais do que épocas mornas e inconstantes: desde a massa associativa às infraestruturas. Só falta um "clique", uma aposta pelas pessoas certas nas pessoas certas para o fazer.
      Não podia estar mais de acordo, nos últimos anos os adeptos do Vitória têm dado muito e não têm recebido os mínimos em contrapartida. Isso, aliado ao facto de as quotas não serem baratas e as altas taxas de desemprego, têm esmorecido o tal "Inferno Branco" a que eu me habituei. Espero que melhore e que a sua filha se possa apaixonar pelo mesmo Vitória pelo qual eu me apaixonei há alguns anos. Paixão essa que está cá para durar, por mais desanimador que seja o cenário!
      Quero mesmo que seja, como referiu, uma situação passageira e que possamos recuperar o nosso estatuto de um dos maiores de Portugal. Para mim nunca deixamos de ser O Grande mas infelizmente julgo que nem os nossos adversários, nem a comunicação social, nem as equipas de arbitragem olham para nós dessa forma. Já não amedrontamos como acontecia há alguns anos. Que possamos despertar brevemente e voltar aos lugares que nos pertencem, quase que por direito histórico, para lutar por aquilo que nós, enquanto adeptos, merecemos já há muito muito tempo!

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