Foto: O Lado V |
Ao longo da temporada fui dando a minha opinião sobre a situação do Vitória - sempre com a intenção de contribuir e nunca de estar contra ninguém pessoalmente - e abordei os problemas que me pareceram mais pertinentes. Em suma, o grande problema esteve sempre na época preparada em cima do joelho e numa aposta tímida na vertente desportiva. Tenho poucas (ou nenhumas) dúvidas disso.
Toda a época foi, figuradamente, uma espécie de avalanche. Uma avalanche ocorre quando uma massa de neve se movimenta de forma súbita e rápida até ao vale, acumulando mais massa de neve na descida. Arrasta com ela praticamente tudo aquilo que encontra pela frente. Pode ser causada por vários factores, sendo um deles a acção de ventos fortes. Devem estar a perguntar-se como é que um fenómeno extremo da natureza está relacionado com a época do Vitória. Eu explico mas é necessário que façam, como eu, o exercício de tentar estender o tempo de uma avalanche real ao tempo de uma época desportiva - ou seja, tudo vai ser mais moroso e nunca tão estrondoso como a realidade. Podemos desde já concluir que o vale é o fim da avalanche e, neste caso, o vale é o 10º lugar da tabela classificativa e a eliminação prematura das restantes competições. A causa - ou seja, os ventos fortes - é, como referi no parágrafo anterior, a época mal preparada. A massa de neve que a avalanche acumula na sua descida até ao vale são, basicamente, os problemas. De problemas tivemos a nossa dose e refiro apenas dois exemplos: o erro de casting Armando Evangelista e o erro de trazer para o Vitória um número elevado de emprestados. Sérgio Conceição foi a solução encontrada para tentar parar a avalanche (é impossível parar uma avalanche na realidade principalmente porque acontecem com demasiada rapidez, mas vamos imaginar que sim só por uns minutos) - uma acção imediata para tentar pará-la a meio do caminho; vamos supor que é uma espécie de uma placa gigante que impede a passagem da referida massa de neve. O problema é que acções imediatas raramente apagam os problemas de raiz. Resumidamente: a natureza é soberana! Por isso mesmo a placa cede, apesar de proporcionar janelas de bom tempo que dão esperança de que a tempestade já passou e que, apesar de todos os danos, vai amainar e trazer consigo o bom tempo. Eu tive esperança com o Sérgio Conceição e acreditei ser possível alcançar o mínimo dos objectivos. Não foi. A placa, que nunca esteve realmente ancorada, eventualmente cedeu com uma série de doze jogos sem vencer. Já sem esperança caiu com estrondo! Convém realçar, antes de prosseguir, que a placa cede em resultado de dois factores: em primeiro por causa da massa de neve, ou seja, todos os problemas e erros acumulados, mas também devido ao material da placa, isto é, devido ao trabalho de Sérgio Conceição. Julgo, no entanto, que o primeiro factor é mais responsável.
É desta forma que vejo a época do Vitória. Há, no entanto, diferenças inegáveis e evidentes entre uma avalanche e uma época desportiva de um clube de futebol, nomeadamente do Vitória: a avalanche não pode ser prevista e é uma manifestação espontânea da natureza. A minha comparação pode ser ligeiramente extrema, tola e ridícula mas para mim faz sentido - ao contrário do 10º lugar, que como já disse não condiz com a nossa história, o nosso ADN ou o nosso nome.
Como em tudo a avalanche é uma moeda de duas faces. Não quero que o Vitória faça um campeonato tranquilo! Geralmente a tranquilidade e sossego não são o caminho para o sucesso. O caminho para o sucesso é, salvo raras excepções, montanhoso e difícil. Uma avalanche pode ser, como descrevi anteriormente, desastrosa e um sinal de que as coisas estão más. O que a maioria das pessoas não sabe é que as avalanches são necessárias, vão ocorrer sempre e podem ser positivas - é um mecanismo que restaura o equilíbrio natural e assegurar uma posição mais durável e segura, uma vez que a tal massa de neve é expelida porque é um excesso, e pode até construir novos habitats. Pequenas avalanches podem também prevenir avalanches maiores. É a forma da natureza funcionar e criar harmonia. As avalanches do Vitória têm sido, infelizmente, mais destruidoras do que positivas. Por isso mesmo está na hora de mudar o cenário.
"Loucura é fazer sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes". Esta definição de loucura, atribuída a Einstein mas sem absoluta certeza de que teve origem no mesmo, é uma noção básica da vida. Para mudar o cenário é necessário mudar a preparação e as políticas e nunca esperar que estas se mudem sozinhas. Está na hora de restaurar o equilíbrio, voltar ao nosso curso e seguir a nossa história. Está na hora de ter o nosso Vitória de volta!
Já perdi a conta às vezes que me perguntaram "mas afinal o que é que tu ganhas por seres do Vitória?" ou "quando foi a última vez que festejaste o campeonato?". Naturalmente eu não respondo e não me deixo incomodar por perguntas ignorantes. Nem sequer me dou ao trabalho de responder ou tentar explicar o meu (nosso) amor a quem mede o amor pelo número de títulos ou jogos ganhos. Eles medem o amor deles porque é dependente de uma qualquer variável e é finito. O meu (nosso) não, portanto não o posso medir. É independente e pode até ser incompreensível para muitos. Principalmente para os que nos dias que correm vestem uma camisola que deixam no armário durante todo o ano ou para os que mudam de cor conforme o desfecho da época. É fácil apoiar certos clubes quando estes ganham, uma e outra vez, ou quando as televisões e jornais estão infestados com essas cores. Seria fácil pintar a cidade de vermelho, festejar até às 4 ou 5 horas da manhã, ir para as redes sociais declarar amor a um clube que está sempre a ganhar (não vamos discutir a legitimidade disso agora, mas dava panos para mangas). Seria fácil se Guimarães não fosse... Guimarães. O que vou dizer a seguir é um cliché, um chavão mas a maior das verdades. O melhor do mundo é amar o difícil. Amar o Vitória é, seguramente, difícil. No entanto é isso que fazemos. Não por imposição ou porque nascemos todos programados para tal mas porque o símbolo, onde se pode ver D. Afonso Henriques, nos apaixona. Cada vez mais. Avalanche atrás de avalanche - independentemente do quão destruidoras são!
P.S.: Não posso terminar sem deixar de dar os parabéns ao Rui Vitória pelo seu sucesso individual enquanto treinador. Um homem íntegro, com respeito por si e pelos seus adversários e um profissional cheio de qualidade. Nunca duvidei de nada disso!
Olá Raquel,
ResponderEliminarTenho andado por aqui a ver as tuas opiniões sobre vários temas. Alguns interessa-me (já agora assino por baixo o pequeno texto sobre os Globos de Ouro e o Agir) outros nem por isso, o que é normal. Mas o nosso Vitória interessa-me sempre, apesar de não ter tido vontade de comentar os excelentes textos que tens escrito por falta de ânimo. Mas este terei de comentar, até porque ontem tivemos a novidade de ficar sem treinador, e nem te sei dizer se gostei ou não. Não acho o Sérgio particularmente um bom treinador, mas até gostava de ver o trabalho dele numa época em que fosse ele a planear desde o início. Não vou conseguir. E partimos novamente do zero.
E aqui chego à analogia que fazes no teu texto e que me tem atormentado. Será que a avalanche já chegou ao vale? Será que o fundo do vale ainda vem longe e a avalanche vai continuar? Vamos aguardar pelas cenas dos próximos capítulos e esperar um final feliz (sim, ainda acredito em finais felizes). Quem poderá vir? Tens alguma opinião?
Saudações Vitorianas
Rui
Olá Rui,
Eliminaré sempre bem-vindo, assim como o são os seus comentários sempre coerentes e inteligentes. Quanto ao Vitória, a verdade é que foi uma época que tirou o ânimo a muita gente. Foi uma época difícil, com um futebol pobre e resultados ainda mais pobres. Tal como o Rui também não acho o Sérgio um treinador com qualidades acima da média mas realmente acaba por ser injusto avaliar o trabalho que fez pois quando chegou viu-se obrigado a trabalhar com uma equipa que para além de estar "de rastos" não tinha sido delineada por ele. Ainda assim podia ter reforçado a equipa no mercado de inverno e o que vimos chegar foi, sucintamente, emprestados. Uma das razões pelas quais não queria que o Sérgio viesse pelo Vitória era a sua instabilidade emocional. O Sérgio tem muita raça, isso é inegável, e acho que foi com base na raça e na motivação que conseguiu levar a equipa a bons resultados - contra o Porto e o Sporting em casa e com o Braga na pedreira, por exemplo - porque a verdade é que nem nesses jogos o Vitória apresentou um futebol de encher o olho mas jogou com garra (julgo que fez um jogo melhor na luz, mas a derrota aí teve outros intervenientes...)!
Quanto ao novo treinador fala-se do Pedro Martins. Ainda não foi confirmado oficialmente pelo Vitória nem pelo próprio e especulava-se de que ia para o estrangeiro mas se se confirmar parece-me uma boa notícia. Consideraria Cajuda, apesar de achar que a direcção nunca pensou nele como alternativa, não só por lhe reconhecer capacidades enquanto treinador mas porque traria as recordações de outros bons tempos e que, acredito, poderia trazer alguma união no seio dos adeptos. Dos outros nomes referidos não há nenhum que me suscite particular interesse: Lito Vidigal fez um óptimo trabalho no Arouca e seria hipótese mas tenho duvidas de que esteja disposto a deixar a Europa e como tem contrato, acabava por ser uma despesa maior para o Vitória (mas também já vimos com Evangelista as "vantagens" de querer poupar...) e Domingos Paciência não me agrada. Qual dessas opções já consideradas (pelo menos pelos adeptos e comunicação social) lhe agrada mais?
Atormenta-o o mesmo que me atormenta a mim. Acredito que as coisas possam melhorar. Acho que é essencial fazê-lo. Não perco essa esperança. Para além disso acredito também que nós, adeptos, seremos capazes de mudar o curso da situação. Sempre tivemos essa força, espero que assim permaneça!
Olá Raquel,
ResponderEliminarSinceramente, dos nomes possíveis preferia o José Mourinho mas o Manchester antecipou-se. Falando um pouco mais a sério, o Pedro Martins ou o Lito Vidigal seriam boas escolhas embora pelas razões que falaste o Pedro Martins seja o mais provável. Não concordo, embora tenha boas recordações e simpatia por ele, com a possibilidade do Cajuda. Eventualmente poderia trazer experiência e conhecimento profundo do clube, que nesta altura seria muito importante, mas não sei por que carga de água normalmente as segundas passagens de treinadores por cá não são bem sucedidas. Para nomear os que me lembro (alguns não são do "teu tempo") o Marinho Peres (péssima segunda passagem), Paulo Autuori (má segunda passagem), Pacheco (desastrosa segunda passagem)...
Preferia sangue novo, com vontade de vencer e o Pedro Martins penso que encaixa bem no clube, com a vantagem de já por cá ter passado como jogador.
Falou-se durante o fim de semana na possibilidade do Jorge Costa, mas espero muito sinceramente que não passe disso. Não tem categoria nem mostrou capacidades para treinar um clube como o Vitória. Vamos ver o que nos calha na rifa, mas espero não sofrer nenhuma desilusão.
Rui
Olá Rui,
Eliminara minha primeira opção seria também Mourinho, mas aparentemente ainda quer ganhar experiência no Manchester antes de ter oportunidade para treinar O grande... Aparentemente já está tudo resolvido, pelo menos do que já li e vi hoje será Pedro Martins e já deixa a possibilidade de Jorge Costa que também não me agradava nada mais afastada. Exactamente pelo que referiu o Cajuda seria, a par de Pedro Martins, o nome que eu consideraria. De facto não sou do tempo dos treinadores que referiu, exceptuando Jaime Pacheco de quem me lembro embora vagamente mas sem nenhuma análise profunda porque ainda era pequenina e foi mais ou menos nessa altura que comecei a acompanhar o Vitória no estádio com mais regularidade.
Se Pedro Martins for confirmado fico contente. Claro que o treinador sozinho não faz milagres mas se lhe forem dispensados meios para que ele possa trabalhar e construir uma equipa forte e competente acredito que ele possa fazer um bom trabalho. Não quero ficar cheia de expectativas porque infelizmente as desilusões têm sido muitas. Estou, no entanto, a torcer pelo melhor e qualquer treinador terá o meu apoio a partir do momento em que assumir os destinos da equipa. O que quero é um treinador que perceba o Vitória, o estime tão bem como nós adeptos e tenha a mesma força de vencer e a mesma qualidade. Quando for assim, o Vitória voltará ao seu lugar!