terça-feira, 3 de maio de 2016

ADN do Rei

Foto: O Lado V
O Vitória foi defrontar o Lisboa ao Estádio da Luz mergulhado numa série de maus resultados e, pior do que isso, mergulhado numa série de exibições em nada satisfatórias. Os maus resultados mantiveram-se, com uma derrota que aumentou para doze o número de jogos sem vencer mas o Vitória não foi o mesmo. Finalmente vimos uma equipa entrar no relvado com atitude, garra e muita vontade de vencer. Uma equipa que sabia o que fazer à bola. Infelizmente isso aconteceu contra o filho querido de um sistema sujo, gasto e podre que é o futebol português. Não é novidade nenhuma que há um sem número de factores que pesam no resultado mas que são decididos bem longe das quatro linhas. Afinal, o jogo da primeira volta quando descaradamente nos foram roubados pontos na nossa própria casa não é uma memória assim tão distante. Pela segunda vez esta época o Vitória defrontou um Lisboa que não apresenta um futebol extraordinário (nem com o tão anunciado futuro melhor do mundo que supostamente vale 40M€ Renato Sanches, que acabou por ser substituído) e seria uma equipa normal, não fosse uns tantos ajudantes que por aí andam. Para não me alongar muito, algumas notas:

- Perguntei-me algumas vezes no decorrer do jogo o porquê de Bruno Paixão continuar como interveniente do escalão máximo do futebol português. Claramente um milagre... se eu acreditasse neles. Eu já sabia a resposta, principalmente porque não comecei a ver futebol ontem. Indivíduos incompetentes como Paixão, Xistra e companhia ainda não foram eliminados do futebol porque com eles se fazem, na maioria das vezes, campeões. A incompetência deste árbitro foi manifesta: o Eliseu não acabava a primeira parte depois daquele pontapé ao Hurtado que, tenho a certeza, deixou o Anderson Silva a corar de vergonha (e que, surpresa das surpresas resultou em falta contra o Vitória) mas só foi amarelado depois do golo quando decidiu dar uma palmadinha no nosso jogador. Enquanto isso os nossos jogadores viram quatro cartões amarelos em trinta minutos e sete no total, sendo que este foi o jogo em que os jogadores vitorianos viram mais cartões durante toda a época. Sérgio Conceição foi obrigado a assistir a mais de metade da partida da bancada sabe-se lá porquê. Talvez porque, nas palavras do próprio, "estávamos a bater o pé ao Benfica". Paixão a ser... Paixão. A impor as suas preferências e a gerir o jogo através do medo e da autoridade e nunca através do respeito que geralmente é fruto de um trabalho coerente e justo. Isso ele não sabe ser. Pior do que ele é quem o selecciona cuidadosamente para arbitrar estes jogos e compactua com a fraude que é, e sempre foi. Se houvesse algum tipo de verdade desportiva em Portugal, Paixão nem a arbitrar jogos das distritais tinha lugar.

- O Lisboa está habituado a que todos se ajoelhem e lhes facilitem a vida. Quando isso não acontece revoltam-se. Revoltaram-se durante o jogo e depois. Ver o jogo na BenficaTV só por si já é um martírio, um verdadeiro esforço. Durante o intervalo lá estava um comentador, de quem não me interessa saber o nome porque ele não se dignificou em saber o nosso, a choramingar e a queixar-se que "eles estão a jogar para intimidar o Benfica" e "o anti-jogo deles não honra o futebol". Continuou nesse registo de vitima e coitadinho. Não se lembrou do anti-jogo ao estilo de equipa pequena que está a ser pressionada que eles adoptaram no final do jogo e muito menos se lembrou do quanto desonram o futebol com o famoso colinho. A habitual coerência! Só sabem chorar. Choram e choram e choram quando as coisas não correm como planeado. Choram como se algum dia respeitassem a ética ou a verdade desportiva. Choram como se o Eliseu não merecesse ser expulso na maioria dos jogos. Choramingam porque são os filhos queridos e têm tudo de bandeja. Quando não têm... choram! No final, já depois de terem ganho um jogo que não mereciam ganhar choraram mais um bocadinho. Começou com o director de comunicação do Lisboa a tentar ser engraçado no twitter. Chorou. Depois foi a vez de o vice-presidente chorar. Questionou-se sobre o porquê de o Vitória ter jogado como jogou contra eles. Talvez este individuo não se lembre que, por exemplo, o Sporting veio empatar a Guimarães. Por fim, outro comentador, que já não surpreende ninguém pela sua incompetência e falta de postura, chorou. Afirmava com toda a certeza que o Sérgio Conceição disse aos jogadores que estava em jogo um prémio de 280 mil euros. Não sei se o Benfica põe escutas no balneário do adversário ou se tem infiltrados agentes secretos em todas as equipas adversárias visto que é pelo menos a segunda vez que boatos destes são lançados. A minha teoria é a de que Pedro Guerra não sabe o que diz e não tem noção dos disparates. Só chora, jornada atrás de jornada no sítio onde, infelizmente, lhe dão tempo de antena.

- Eles choram e a direcção deixa-os chorar. Eles roubam e a direcção deixa-os roubar. Tem sido assim. Um silêncio que compactua com aquilo que se tem passado. Mais uma vez, e não é a primeira vez que falo disto, a direcção calou-se e ninguém, para além do treinador, foi capaz de defender publicamente os interesses do Vitória. A anestesia da direcção irrita-me. Eles falam e choram e dizem um sem fim de disparates a atacar o Vitória e prejudicam deliberadamente o Vitória e ninguém fala, ninguém procura explicações. Ninguém que conhece minimamente a história do Vitória e de Guimarães, que estão intimamente ligadas, é capaz de ser subserviente e de se ajoelhar a quem tem mais poder. Isso é o que a direcção tem feito. Dom Afonso Henriques conquistou a independência porque lutou e lutou até conseguir o que pretendia. Conseguiu sem nunca se ajoelhar aos pés de ninguém, sem nunca compactuar com os poderosos e sem consentir. É essa a nossa história e por isso eu não aceito este silêncio, nem compreendo. Um dos maiores erros da direcção, a par da falta de um plano desportivo a médio/longo prazo e da pobre gestão desportiva, é o de continuar a apanhar as migalhas que caem da mesa em vez de tentar ter um lugar nela. O Vitória não é um clube que se ajoelha, o Vitória é o clube que faz os outros ajoelharem-se perante si. Isso é parte do nosso ADN, tentar contrariá-lo é imprudente e de uma profunda falta de conhecimento.

- Não posso deixar de saudar todos os adeptos do Vitória que foram à Luz apoiar a equipa. É difícil fazê-lo a uma sexta-feira porque há sempre trabalho e/ou aulas - eu sei, porque já o fiz. Os vitorianos marcaram presença num estádio que só tem as bancadas completas quando o clube está prestes a sagrar-se campeão (mas nem assim fazem barulho o suficiente e só cantam e apoiam quando estão a ganhar e o jogo prestes a terminar). São seis milhões e 98% são adeptos de sofá - que ontem não chegaram a 25 mil no jogo para a Taça CTT e o Seixal está sempre às moscas para ver jogar a equipa B (e todos sabemos o que é que atrai as moscas...). É triste que, sentados no sofá sem gastar 1€ para apoiar a equipa, ainda sejam cegos ao ponto de escrever comentários inflamados nas redes sociais sobre adeptos que fazem uma viagem cansativa e longa a uma sexta, dia de trabalho, e que não é de graça. Podem ser seis milhões, ou o número que quiserem inventar para se sentir superiores, mas a pequenez que os caracteriza é assustadora. Deviam mostrar respeito aos adeptos que têm a grandeza que eles almejam um dia ter!

Entristece-me ver o futebol português continuar neste ciclo vicioso do qual não parece encontrar saída. Persiste uma dualidade de critérios preocupante e que em nada beneficia o futebol. Continuam pessoas com algum peso no mundo do futebol que nunca deviam ter feito algum dia parte dele. Ontem o Leicester sagrou-se campeão porque os jogos decidem-se dentro das quatro linhas, sem bastidores. Anseio pelo dia em que o mesmo possa acontecer aqui. Em que a verdade e ética desportiva estejam na ordem do dia e em que todos tenham igualdade de oportunidades. Não será amanhã, ou para o ano. A liberdade ainda não chegou ao futebol. Um dia chegará, espero. Com as pessoas, mentalidade e atitudes certas. Entretanto, clubes com tudo para triunfar como o Vitória têm de lutar e não se podem vergar nunca. Afinal de contas, somos descentes directos do Rei, somos conquistadores. O Rei está gravado na nossa peleComo disse, o Rei nunca se ajoelha perante ninguém. Os outros ajoelham-se perante o Rei. Sempre!

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