terça-feira, 31 de maio de 2016

A cadeira de sonho

Considero-me uma pessoa comedida. Costumo ser positiva mas não tenho o hábito de me dar a grandes esperanças para que, em caso de queda, esta possa ser amortizada ou ligeiramente amparada. A pouco mais de um mês do início dos trabalhos de pré-época, confesso-me mais esperançosa do que estava no início da época passada. Essa confiança passa por me parecer que a época está a ser melhor preparada e porque tenho mais confiança no trabalho de Pedro Martins do que tinha no de Armando Evangelista quando assumiu o comando técnico do Vitória a meio de Junho do ano passado. Na altura da sua apresentação dei-lhe o benefício da dúvida porque não tinha feito um mau trabalho na equipa B e porque já fazia parte da estrutura do Vitória, conhecia a história e objectivos do clube. Infelizmente percebemos rapidamente que não estava à altura de um clube como este nem possuía ainda qualidades para tal.

Ser treinador do Vitória não é para qualquer um porque o Vitória não é qualquer um. Sou suspeita para o dizer, reconheço-o. No entanto acho que não é uma afirmação disparatada. O Vitória distingue-se pela sua unicidade e mística tão ímpares e raras em Portugal. Esta distinção é reconhecida pelos que estão de fora por uma diversidade de factores. Começo pela história. Não nascemos dos outros nem fomos clube satélite de ninguém como muitos o foram e ainda são. Nascemos de ideais e princípios próprios. Não há origem ou fundação mais verdadeira do que esta. Uma história profundamente entrelaçada com a história de Guimarães e Portugal: basta olhar o nosso símbolo para o saber. No nosso símbolo está a figura daquele que iniciou a conquista deste país, de espada na mão, sonhos na cabeça e uma ambição extraordinária. Ficou na história como O Conquistador. Enquanto vimaranenses e vitorianos somos a descendência directa do primeiro rei de Portugal. Os conquistadores. Não garanto a veracidade histórica de tal afirmação, mas julgo que é difícil alguém duvidar do que disse quando vê estes adeptos de cachecol ao peito e com os olhos a brilhar de tanto orgulho independentemente do resto. Somos apaixonados e a nossa paixão, dedicação e amor fazem-nos ser exigentes com todos os que representam este símbolo. Treinar o Vitória é difícil, reconheço-o.

Pedro Martins assume agora os comandos da equipa. Parece-me ser um homem com postura, inteligente e com qualidade. Não tem uma carreira longa como treinador na 1ª liga, mas até agora fez um bom trabalho nas equipas por onde passou. Iniciou a carreira no escalão máximo do futebol português no Marítimo na época 2010/2011. Fez a ascensão da equipa B para a equipa principal para substituir Mitchell van der Gaag. O mesmo aconteceu com Armando Evangelista no Vitória. A diferença é que Pedro Martins foi uma "aposta" ganha. Nas três épocas seguintes garantiu os objectivos do clube no campeonato para além de ter alcançado por duas vezes os oitavos de final na Taça de Portugal (em 2012/2013 foram eliminados da competição em Guimarães, pelo Vitória que acabou por se consagrar o vencedor). Em 2014 trocou a Madeira por Vila do Conde para orientar o Rio Ave por duas épocas onde voltou a assegurar os objectivos do clube no campeonato e onde fez boas campanhas mais uma vez na Taça de Portugal ao conduzir por dois anos seguidos o Rio Ave às meias-finais da competição, onde foi pelas duas vezes eliminado pelo Braga que foi o vencedor na época transacta. Não o conheci enquanto jogador mas saber que envergou a branquinha em 1994/1995 dá-me alguma confiança no que toca aos conhecimentos e carinho que tem pelo clube. Tem agora o maior desafio da sua carreira, disso estou certa. Está "na cadeira de sonho" mas o que eu quero, para além de sonhar, é muito trabalho para tornar todos os sonhos realidades.

Tal como uma época não se faz só de discursos, também não se faz só de um bom treinador. O treinador comanda a orquestra. Para que possa fazer um bom trabalho, precisa em primeiro lugar de uma boa orquestra. Isto é o mesmo que dizer que precisa de uma boa equipa. Do que é feita uma boa equipa? Quais são as bases do sucesso de uma equipa? Estas são perguntas fundamentais e que podem ter várias respostas e respostas diferentes até porque não há uma fórmula para o sucesso em nenhum sector da vida. Para mim há três fundamentos basilares. Em primeiro lugar é importante que seja um núcleo forte e consistente. Ou seja, é necessário transformar as individualidades num bom colectivo. Nem sempre uma coisa implica a outra. Há equipas que funcionam como um todo em que os jogadores, por si só, não têm qualidades extraordinárias. Da mesma forma há equipas com jogadores com qualidades acima da média mas que simplesmente não funcionam em conjunto por vários motivos que não vale a pena discutir aqui. É necessário encontrar o equilíbrio. Em segundo lugar está a importância de ter referências nas posições essenciais. Passa, por exemplo, por manter o Miguel Silva na baliza do Vitória. O guarda-redes é um dos pilares fundamentais de qualquer equipa, acho que tal é inquestionável. O Miguel já demonstrou vontade de ficar e tenho a certeza de que, com toda a sua qualidade e trabalho vai ser fundamental na próxima época - como já o foi esta e a aposta nele foi, para mim, o melhor da passagem de Sérgio Conceição. O terceiro acho que é o mais consensual: trabalho, muito trabalho. Trabalho que passa por motivar os jogadores, fazê-los acreditar, fazê-los lutar, tirar o melhor de cada um, estudar os adversários, saber os pontos fracos e fortes dos adversários e os nossos também. Muito trabalho, muito treino e muita dedicação. Qualquer treinador ou jogador saberá isso muito melhor do que eu.

Ainda assim, estes três princípios não são tudo. É necessário um suporte, um apoio à orquestra e a quem a comanda. Esse suporte é, claro está, uma estrutura e um projecto bem organizados e condizentes com os objectivos a alcançar. Esses objectivos devem passar por ficar nos 4 primeiros lugares da tabela classificativa bem como por vencer as competições em que o clube se envolver, nomeadamente a Taça de Portugal. Para isto é necessário que sejam descartadas algumas políticas que vigoraram na época passada e que contribuíram para uma época negativa, tal como a política de emprestados numa quantidade exagerada e em que nada acrescentam à equipa e adoptar novas medidas que visem defender e honrar o clube.

Ao Vitória nunca pedi títulos nem vitórias como condição do meu amor. Como tal, não peço títulos nem vitórias a Pedro Martins, como não o faria se fosse qualquer outro treinador. Faço um pedido que me parece de maior importância. Peço apenas que enquanto usar a braçadeira de treinador no braço sinta o Vitória da mesma forma que todos os que, tal como eu, preenchem as bancadas do D. Afonso Henriques e de todos os outros estádios sentimos. Que tenha o mesmo carinho, estima, respeito, dedicação, amor e paixão pelo símbolo que nós temos. Se assim for os títulos e as vitórias tornam-se numa realidade porque, verdade seja dita, se os resultados fossem disputados nas bancadas os vitorianos goleavam em praticamente todos os jogos.

O nosso apoio está garantido independentemente dos resultados, mas somos também minuciosos com todos aqueles que representam o símbolo pela simples razão de que queremos que seja bem tratado. Posto isto e quase uma semana depois da confirmação: sê bem-vindo Pedro Martins. Bem-vindo ao clube mais único do mundo! Bem-vindo ao Vitória!

segunda-feira, 30 de maio de 2016

A importância do consentimento

Há tópicos importantes que ainda parecem interditos e tabu na sociedade apesar de serem, muitas vezes, as coisas mais naturais do mundo. Há uma disciplina/tema que eu, pessoalmente, gostava que fosse obrigatória no percurso escolar de cada aluno. Não para que se possa atribuir mais uma nota no final do ano mas para que possa formar cidadãos e cidadãs respeitantes do espaço, da vida e vontade do próximo. Nunca achei que a escola deva servir só para formar doutores e doutoras. Fazê-lo seria desperdiçar recursos e tempo. A escola deve formar também cidadãos e cidadãs preparados/as para a vida real.

É necessário falar-se de sexo nas escolas (e também em casa). Sempre que se aborda este assunto é sempre em tom ligeiro, principalmente em tom de brincadeira e sem qualquer intenção didáctica. Há até quem tenha vergonha de o fazer. Não que seja necessário falar do assunto com um tom demasiado sério e muito menos quero com isto dizer que as pessoas devem expor a sua vida sexual. Cada um sabe de si. O que pretendo dizer é que uma parte tão fundamental da vida de todos os seres vivos não pode ser abordado ou tratado com timidez, vergonha ou como se fosse um "pecado" (há quem queira fazer parecer que é... mas deixemos isso para outro dia). É natural e por isso deve ser falado com naturalidade até porque há diversos cuidados a ter. Felizmente o paradigma começa a mudar e as últimas gerações já começam a falar mais abertamente e de forma mais informada e interessante sobre o tema. Cada vez mais há conversas interessantes ao invés de piadas grosseiras. Nas escolas ainda continua a ser um tema pouco abordado. Eu compreendo que seja difícil expor um tema tão sensível a adolescentes complicados e difíceis, mas é uma parte essencial do crescimento destes e eventualmente eles vão entendê-lo. Eu gostava que o tivessem feito. Não me considero mal informada, mas em 12 anos (desde que entrei para a secundária, até ter saído do secundário) tive no máximo uma ou duas aulas sobre o tema e essas aulas foram sempre para ver filmes e não para falar ou debater o assunto.

Lembro-me de ver o Philadelphia com o Denzel Washington e Tom Hanks nos papeis principais. Um filme excelente de 1993 sobre um homem infectado com sida, vítima de preconceitos e a quem são colocados obstáculos que parecem intransponíveis e assustadoramente difíceis. Aborda a descriminação e toda a envolvente de uma forma que me parece muito realista. Infelizmente a descriminação ainda é uma realidade nos dias de hoje e se este filme tivesse sido lançado ontem seria tão actual como o foi há mais de dez anos atrás. As doenças sexualmente transmissíveis e a necessidade de usar métodos contraceptivos são naturalmente temas mais do que obrigatórios e fundamentais e acredito que sejam o tópico mais abordado nas escolas.

No entanto julgo que há pelo menos um tópico tão ou mais importante mas que passa despercebido. A minha opinião vale o que vale, obviamente, mas acredito que há um conceito que é a base de qualquer relação sexual: consentimento. É necessário ensinar todas as crianças desde cedo, para que fiquem com a ideia completamente enraizada, que o consentimento é fundamental e ninguém tem poderes sobre o corpo de ninguém a não ser do próprio. Não estou a dizer que se deve começar a falar de sexo com crianças de três anos (mas também acho que dizer que os bebés nascem das cegonhas não trás proveito nenhum à criança no futuro) mas há um sem número de formas de ensinar a uma criança o conceito de consentimento para que depois isso seja naturalmente integrado em tudo na sua vida enquanto adolescente e adulto - inclusive e fundamentalmente no sexo. Sem consentimento não pode haver nada, absolutamente nada. Não significa não, independentemente das circunstâncias.

Senti uma necessidade de escrever este post depois de ler um artigo que dava conta de que um dos 33 violadores (monstros?) da adolescente de 16 anos no Rio de Janeiro disse que o que aconteceu foi consentido. Não estava lá mas não acredito nem por um segundo nestas declarações. Espero que os responsáveis que estão a cuidar do caso não acreditem também. Passo a explicar o porquê de não acreditar, se isso for necessário para alguém: há um vídeo que mostra a menina desmaiada e a sangrar, depois de tudo o que fizeram com ela. Isso não pode, em caso algum, ser consentido.

O consentimento acontece quando todas as pessoas envolvidas estão de acordo em relação ao que estão a fazer. É preciso esclarecer e educar as pessoas para que percebam isso, para que seja um princípio inquestionável partilhado por toda a gente. É fundamental que assim seja. Uma pessoa desmaiada ou alterada (seja através de que substância for, ingerida por livre e espontânea vontade ou, muito grave, colocadas na bebida por outras pessoas com más intenções) ao ponto de não conseguir tomar decisões conscientes não pode consentir. Logo, qualquer acto sexual com uma pessoa na condição que referi é violação e nada mais! Uma pessoa que inicie uma actividade sexual com outra pessoa ou pessoas tem o direito a dizer que não quer continuar. O que quer que aconteça depois desse momento, com a pessoa coagida ou obrigada a continuar e sem que a sua vontade seja respeitada, é violação e nada mais! Entender isto é fundamental. Afinal o corpo não pertence a mais ninguém a não ser a si próprio. Cada pessoa tem o direito de fazer do e com o seu corpo aquilo que quiser e tem o direito de parar aquilo que não quer. Não há nada como "sexo sem consentimento". O nome disso é violação.

Por ser um conceito tão fundamental e importante é necessário que seja abordado não só em casa pelos pais/educadores (e isso é primordial) mas também na escola pelos professores de forma natural mas com a importância e atenção necessária. Gostava muito de ver uma disciplina de Educação Sexual, ou equivalente, implementada nas escolas. Provavelmente não ia acabar com as violações ou com os violadores mas é uma boa forma de o tentar fazer e acredito que tinha efeitos muito positivos na vida particular de cada um e também na sociedade como um todo.

É através do sexo que se preserva as espécies, não só a nossa mas todas. É a necessidade mais básica do ser humano. É uma necessidade fisiológica e uma fonte de prazer. É a actividade mais natural de todas. Não se deve encarar o sexo de outra forma. É contraproducente - como disse, o sexo assegura a sobrevivência de todas as espécies. Se o transmitirmos como algo mau, um "pecado" ou coisa que o valha acabamos por estar a ir contra aquilo que nos "fez", digamos assim. É o princípio de tudo e é, portanto, fundamental educar as pessoas para tal de forma consciente e natural. Nada mais!

sexta-feira, 27 de maio de 2016

30 contra 1. A sociedade contra todas.

No Brasil uma menina de dezasseis anos foi violada por trinta monstros. Na Gâmbia uma menina de cinco anos teve os genitais mutilados pela mesma faca que mutilou os e da mãe e da mãe e da mãe porque é tradição. No Irão, onde a palavra de uma mulher "vale metade da palavra de dois homens", uma mulher foi apedrejada até à morte porque foi violada e perante a lei foi considerada adultera. No Afeganistão uma mulher pode ser obrigada, por lei, a casar com um monstro que a violou. Na Índia uma menina de seis anos foi obrigada a casar com um homem de trinta e cinco. No Congo mais de mil mulheres são violadas por dia, os soldados dizem que "isso lhes dá força para combater o inimigo". Em Portugal várias mulheres são espancadas e/ou mortas pelos maridos todos os dias.

A luta começa ainda no útero. A vida das mulheres vale tão pouco em alguns países que as mães abortam na perspectiva de ter uma filha. Depois do nascimento a luta intensifica-se e nunca acaba. Dizem-nos para termos cuidado. "Não uses uma saia muito curta", dizem-nos antes de sairmos de casa. "Não aceites bebidas de estranhos", dizem quando saímos à noite. "Vê por onde andas, não vás por lugares isolados", uma recomendação de todos os dias. As nossas mães e os nossos pais dizem-nos o que vestir, o que fazer e por onde andar. Dizem-nos para nos manterem salvas, para não sermos violadas, para não nos fazerem mal.

Não seria mais eficaz tentar outra abordagem? Infelizmente as mulheres são violadas independentemente de todas as recomendações. Independentemente do que vestem, do que aceitam ou de onde andam. As mulheres que se cobrem da cabeça aos pés também são violadas, as mulheres que não aceitam bebidas de estranhos também são violadas, as mulheres que não andam por lugares isolados também são violadas. Porquê? Porque a culpa não é das mulheres que são violadas, é dos violadores. Se calhar era mais eficaz todos os pais e todas as mães ensinarem os filhos a não violar, a não ver as mulheres como objectos à sua disposição, a não avaliar uma mulher pelo tamanho da saia ou do decote que tem.

Motivou-me a escrever este texto a menina violada por mais de trinta homens no Brasil. Revoltou-me, enojou-me, fez-me descrer na humanidade, fez-me querer não viver num mundo tão sujo e desprezível. Mas a verdade é que há mulheres a sofrer só porque são mulheres todos os dias. Descrevo-o no primeiro parágrafo.

Aqui, neste país plantado à beira-mar, tudo nos pode parecer distante e longe. Virámos a cara e dizemos "mas isso não acontece aqui". Virámos a cara a todos os assuntos que são importantes, às causas importantes. Arrumámos para baixo do tapete o que nos incomoda, aquilo que nos deixa exaustos e aquilo que nos faz tremer de nojo, de medo e de horror.

Já não quero arrumar nada para baixo do tapete. Não quero mais estar calada e fingir que nada aconteceu e que tudo está bem. Num mundo tão pequeno como este nada é longe. Estamos perto uns dos outros, partilhamos apenas uma casa. Uma casa com tectos tão diferentes, mas no fim a mesma. Por isso quando trinta homens atacam uma mulher, ataca-nos a todas nós. Não são trinta contra uma, são trinta contra todas.

Não vou voltar a ficar calada numa sociedade que não valoriza as mulheres, que as vê como "menos que...", que humilha as mulheres, que justifica a violação pelas roupas quando a violação é injustificável, que afasta as mulheres dos seus direitos, que força a mulher ao casamento. Não vou ficar calada nunca mais. Sou mulher! Tenho orgulho em sê-lo e não admito a ninguém inferiorizar-me por isso. Nem admito que ninguém o faça a nenhuma mulher. Por isso recuso-me a aceitar e a resignar-me!

Como já disse neste blogue não exijo respeito por causa da tua mãe, irmã ou prima. Exijo respeito porque sou mulher, porque sou um ser humano. Não é uma noção complicada, pois não?

terça-feira, 24 de maio de 2016

Novos dias de conquistas

É muito difícil nesta altura do ano não pensar num dia em particular que nos é muito especial a todos. Eu não consigo, nem quero, evitar. Afinal foi dos dias mais maravilhosos que já vivi - podia dizer que foi o melhor dia da minha vida, e provavelmente foi, mas não gosto de ser radical. Vinte e seis de Maio de dois mil e treze. Vocês já sabiam porque a maioria pensa no mesmo e por mais que possamos discordar das opiniões uns dos outros, nisto julgo todos concordamos: todas as discórdias e discussões são para fazer do Vitória maior e melhor e para que dias como estes sejam frequentes.

Lembro-me deste dia com detalhe. O tempo parecia não passar, a viagem parecia interminável. A viagem não começou só às seis da manhã - hora em que deixei Guimarães para rumar ao Jamor - desse dia. Não, começou muito antes. Não foi uma viagem calma nem tranquila. Nós somos demasiado apaixonados para tal. Conquistámos todos os obstáculos, um por um. Acumulamos forças e sabíamos que era a hora! Tinha de ser a nossa hora! Volvidos três anos não consigo precisar se a viagem parecia interminável ou se estava demasiado ansiosa. Agora já não interessa.

Lembro-me com precisão de ver pessoas totalmente diferentes com lágrimas de emoção no final do jogo. Rapazes de cinco anos e senhoras de setenta. Gerações e gerações separadas por tantas coisas mas unidas ali, num estádio de futebol, pelo Vitória. Não porque precisamos de troféus para estar presentes mas porque é o nosso Vitória e queremos ver bem quem gostamos. Lembro-me do que pensei enquanto via a magnífica Taça ser levantada e nos dias seguintes. É o mesmo que penso até agora: quero viver mais momentos destes.

A Taça faz parte da nossa história, fez-nos crescer ainda mais e aumentou o nosso palmarés. Tudo verdade. Foi um dia extraordinário e que nunca ninguém que o viveu esquecerá. No entanto não quero voltar a viver este dia, por mais carinho que tenha por ele. Quero novos dias de conquistas. Quero este Vitória emocionante, forte, sólido e orgulhoso da camisola que vi no Jamor e que já vi tantas outras vezes mas que, com uma enorme tristeza, não tenho visto. Não peço muito, só peço este Vitória. Quero a garra, a mística e o inferno branco de volta. 

Já me disseram que a conquista da Taça foi um acaso, uma sorte. Não acredito nisso porque não acredito que a sorte marque golos ou vença jogos. Nós vencemos os jogos, não a sorte. Foi uma vitória fruto de muito sacrifício, muito trabalho, dedicação e garra. Quero fazer história outra vez. Quero fazer história mais vezes! Não quero mais ver o Vitória, com o Dom Afonso Henriques e a sua espada ao peito, apático e fraco. Quero lutar. A nossa história fez-se de luta. Não podemos de forma nenhuma negligenciar uma história tão bonita agora. Só quem não ama pode ser incapaz de sentir o que eu sinto.

Vou recordar sempre este dia tão especial mas não vou fingir que chega porque não chega. Não está tudo bem porque ganhamos a Taça de Portugal há três anos. Todas as desculpas já estão gastas e chegou a hora de trabalhar para mais dias assim. Não vou tolerar mais descansar à sombra de uma Taça. O Vitória não é apatia nem sossego. O Vitória é um fenómeno inexplicável da natureza e tem contornos especiais. Não podemos nem vamos deixar que façam dele o que ele não é. Afinal o Vitória é nosso e o Vitória somos nós!

domingo, 22 de maio de 2016

Uma pequena reflexão sobre os destinos da selecção

Com o Europeu a começar dentro de dias para a selecção A e depois da selecção sub-17 ter vencido o Europeu na sua categoria e com números extraordinários (apenas um golo sofrido na final, por exemplo) parece-me que é necessário tirar algumas notas.
Ao longo dos anos as camadas jovens têm revelado uma grande qualidade com vários troféus conquistados e com excelentes campanhas mas poucos desses jovens chegam à selecção A. Compreendo que nem todos os jogadores que têm qualidade enquanto jovens continuam a evoluir e a mostrar qualidade suficiente para merecer a chamada à selecção mais tarde. Há jovens jogadores que estagnam, que não evoluem, que não se adaptam e nesse percurso há mais uma data de factores que fogem ao controlo do jogador e que prejudicam a sua evolução. Por outro lado há jogadores que enquanto jovens não são chamados à selecção mas que são uma aposta natural mais tarde. Tudo isso é natural e eu compreendo.
No entanto penso que há duas causas que para mim são igualmente preocupantes e determinantes para que as camadas jovens tenham sucesso e a selecção A nem por isso:
- Nas camadas jovens a fibra das camisolas usadas pelos jogadores ou os agentes que os representam têm pouca ou nenhuma importância. Quer isto dizer que o critério é a qualidade e/ou a forma do jogador na altura da convocatória. Só quem usa palas é que não percebe que na selecção A há lugares cativos e lugares reservados aos "enteados" que mesmo depois de uma época (ou épocas) em nada convincente continuam incompreensivelmente a ser chamados.
- A maioria dos clubes portugueses tem pouco interesse em apostar no desenvolvimento dos jovens e na formação destes e prefere apostar em jogadores estrangeiros. Já disse muitas vezes aqui no blogue que sou a favor da aposta na formação e também já disse que gostei de ver o Vitória fazê-lo há uns anos atrás (infelizmente mais pela situação financeira complicada da altura do que pela vontade espontânea) com sucesso. Infelizmente é uma reflexão em parte da mentalidade portuguesa de que o estrangeiro é sempre melhor do que o nacional - e nem sempre é assim!
Resta-me agora dar os parabéns aos miúdos que mereceram muito este troféu e foram um grande exemplo para todos os que vestem esta camisola, na esperança de que todos se tornem grandes jogadores e que sejam valorizados por isso numa altura em que também a selecção A se importe com a qualidade e nada mais!

A minha estante | Putin e o Despertar da Rússia

Sempre tive curiosidade sobre quem Vladimir Putin realmente é. Lembro-me de já há muito questionar quem seria este homem e mais importante ainda como seria. A larga maioria dos filmes que vejo são americanos e portanto a visão americana da Rússia não me é estranha. O "confronto" Rússia/EUA continua a ser muito abordado pelo cinema americano e na maioria das vezes em jeito de propaganda: os russos são o diabo encarnado e os americanos estão sempre prontos a salvar o dia.
O que me agradou mais neste livro de Michael Stuermer, um historiador alemão, foi a imparcialidade com que analisa Putin e a história da Rússia. Não tenta fazer de ninguém santo, nem o contrário. Limita-se aos factos. No entanto não era o livro que esperava: queria ler especificamente sobre este homem que me intriga e não tanto sobre a história da Rússia. O que conhecemos de Putin é basicamente o que este transmite na sessões de Q&A com académicos e jornalistas ocidentais - sessões denominadas "Valdai Club". Apesar de ser interessante o relato que Stuermer faz dessas reuniões, Putin parece ser o homem que eu achava que era: um líder com uma forte presença e com ideias extremamente firmes que são o resultado do amor à Rússia e à sua própria nacionalidade e não o agente impiedoso do KGB que por vezes possamos imaginar (até porque o trabalho que aparentemente fazia enquanto agente do KGB era completamente diferente do trabalho dos agentes de serviços secretos nos filmes).
Outro problema mas que é natural num mundo tão dinâmico como o nosso é que já está datado - tem quase 10 anos, foi lançado em 2008 e desde aí já muita água correu e o mundo já é um sítio muito diferente. Apesar disso vale a pena ler por algumas das cenas dos bastidores a que dificilmente teríamos acesso com tanta imparcialidade. No entanto fico a aguardar uma verdadeira biografia sobre Putin, o homem - se alguma vez houver uma. Se houver e desse lado souberem de alguma avisem-me porque este homem continua a ser, para mim, um verdadeiro enigma!

sexta-feira, 20 de maio de 2016

Por causa do Rui Bragança e de todos os atletas que engrandecem Portugal

Não sou da opinião de que as pessoas devem estar sentadas no sofá à espera que toda e qualquer informação lhes caía no colo como por magia. Com isto quero dizer que acho fundamental ao crescimento (seja cultural, intelectual, etc.) a investigação e a procura. De certo modo é necessário ao crescimento uma espécie de rebelião - saber que não devemos acreditar em tudo aquilo que está escrito dos jornais ou na internet, ter a consciência de que há um mundo inteiro para além do que aquilo que lá está escrito, não acreditar em tudo como se fosse uma verdade absoluta sem investigar a veracidade dos factos. Sim, questionar é um acto de rebelião nos dias que correm!

Quando comento com alguém alguma vitória do Rui Bragança - e ele ganha tantas vezes! - vejo que há um certo ar de confusão na cara de quem me ouve. Aquele ar de confusão que diz "eu não sei de quem estás a falar mas não vou perguntar para não parecer ignorante". Como disse, questionar é um acto de rebelião. Fico perplexa. Tenho acompanhado com alguma atenção a carreira do jovem atleta de Taekwondo que referi anteriormente. Em parte porque é atleta do Vitória e é impossível este ser desconhecido para um vitoriano informado mas também porque gosto de desporto no geral e gosto de saber quem anda a fazer coisas boas lá fora.

Para além de ser atleta do Vitória, também é português. Tenho a consciência de que não conheço todos os atletas que representam de forma honrada o nome de Portugal no estrangeiro mas tento informar-me, tento saber, tento conhecer e louvá-los: desde o ténis à canoagem. Portugal é um país pequeno mas cheio de atletas - e não só - com uma ética de trabalho, energia, empenho e talento incríveis. Extravasa largamente o futebol - e é uma amante de futebol que vos diz isto. Infelizmente a maioria das pessoas não sabe disso e muitas vezes não tentam saber mais porque se não está nos jornais então não deve ser importante..

Há uma espécie de ignorância plantada por alguns meios de comunicação social que fazem capas todos os dias com jogadores de futebol estrangeiros, que vestem três cores de apenas três clubes nacionais. A maioria dos dias com notícias que não contam nada de novo, são só notíciazinhas para encher os bolsos. O problema não está nesses tais jogadores de futebol que de nada disso têm culpa, mas sim dos meios de comunicação e de quem os controla e que prefere dar destaque a quem, muitas das vezes, tem menos talento do que os nossos atletas nacionais que fazem furor no mundo mas que tristemente são postos de lado no país que tanto elevam.

Hoje apenas quero agradecer a esses mesmos atletas. Ao Rui Bragança, o conquistador que se sagrou ontem Campeão Europeu de Taekwondo. Deixem-me corrigir: Bicampeão! Talvez seja Tricampeão em breve. Não tenho muitas duvidas quanto a isso e acredito piamente que vá acontecer. Provavelmente não será motivo de abertura de telejornais, não vai provocar uma celebração nas praças principais de todas as cidades portuguesas, não vai inundar as redes socais nem vai ser alvo de edições especiais de revistas ou jornais. Em Portugal há sempre dois pesos e duas medidas - até para os Tricampeões.

Vou repetir aqui o que já disse sobre o João Sousa: é outro atleta demasiado grande para capas de jornais destes. Escrevi este texto por causa do Rui Bragança que foi campeão ontem mas que quase nenhum destaque teve hoje, mas podia ter sido por qualquer outro atleta que eleva o nome de Portugal. São tantos! A eles o meu mais sincero agradecimento por fazerem de Portugal um país maior e que é referido muitas vezes por causa de vocês - sempre por bons motivos. São enormes!

terça-feira, 17 de maio de 2016

Avalanches

Foto: O Lado V
Qualquer balanço que se possa fazer da época que terminou no passado sábado relativamente ao percurso da equipa A será, por certo, negativo. Há um provérbio português do qual eu não sou particular fã mas que me parece adequado à situação: quem nasce torto, tarde ou nunca se endireita. Faz sentido se devidamente adequado à situação do Vitória na época 2015/2016. A verdade é que o caminho, iniciado na Áustria para a Liga Europa, foi tortuoso e chegou mesmo a ser penoso ver a forma como a equipa se arrastava apática pelos relvados que pisava.

Ao longo da temporada fui dando a minha opinião sobre a situação do Vitória - sempre com a intenção de contribuir e nunca de estar contra ninguém pessoalmente - e abordei os problemas que me pareceram mais pertinentes. Em suma, o grande problema esteve sempre na época preparada em cima do joelho e numa aposta tímida na vertente desportiva. Tenho poucas (ou nenhumas) dúvidas disso.

Toda a época foi, figuradamente, uma espécie de avalanche. Uma avalanche ocorre quando uma massa de neve se movimenta de forma súbita e rápida até ao vale, acumulando mais massa de neve na descida. Arrasta com ela praticamente tudo aquilo que encontra pela frente. Pode ser causada por vários factores, sendo um deles a acção de ventos fortes. Devem estar a perguntar-se como é que um fenómeno extremo da natureza está relacionado com a época do Vitória. Eu explico mas é necessário que façam, como eu, o exercício de tentar estender o tempo de uma avalanche real ao tempo de uma época desportiva - ou seja, tudo vai ser mais moroso e nunca tão estrondoso como a realidade. Podemos desde já concluir que o vale é o fim da avalanche e, neste caso, o vale é o 10º lugar da tabela classificativa e a eliminação prematura das restantes competições. A causa - ou seja, os ventos fortes - é, como referi no parágrafo anterior, a época mal preparada. A massa de neve que a avalanche acumula na sua descida até ao vale são, basicamente, os problemas. De problemas tivemos a nossa dose e refiro apenas dois exemplos: o erro de casting Armando Evangelista e o erro de trazer para o Vitória um número elevado de emprestados. Sérgio Conceição foi a solução encontrada para tentar parar a avalanche (é impossível parar uma avalanche na realidade principalmente porque acontecem com demasiada rapidez, mas vamos imaginar que sim só por uns minutos) - uma acção imediata para tentar pará-la a meio do caminho; vamos supor que é uma espécie de uma placa gigante que impede a passagem da referida massa de neve. O problema é que acções imediatas raramente apagam os problemas de raiz. Resumidamente: a natureza é soberana! Por isso mesmo a placa cede, apesar de proporcionar janelas de bom tempo que dão esperança de que a tempestade já passou e que, apesar de todos os danos, vai amainar e trazer consigo o bom tempo. Eu tive esperança com o Sérgio Conceição e acreditei ser possível alcançar o mínimo dos objectivos. Não foi. A placa, que nunca esteve realmente ancorada, eventualmente cedeu com uma série de doze jogos sem vencer. Já sem esperança caiu com estrondo! Convém realçar, antes de prosseguir, que a placa cede em resultado de dois factores: em primeiro por causa da massa de neve, ou seja, todos os problemas e erros acumulados, mas também devido ao material da placa, isto é, devido ao trabalho de Sérgio Conceição. Julgo, no entanto, que o primeiro factor é mais responsável.

É desta forma que vejo a época do Vitória. Há, no entanto, diferenças inegáveis e evidentes entre uma avalanche e uma época desportiva de um clube de futebol, nomeadamente do Vitória: a avalanche não pode ser prevista e é uma manifestação espontânea da natureza. A minha comparação pode ser ligeiramente extrema, tola e ridícula mas para mim faz sentido - ao contrário do 10º lugar, que como já disse não condiz com a nossa história, o nosso ADN ou o nosso nome.

Como em tudo a avalanche é uma moeda de duas faces. Não quero que o Vitória faça um campeonato tranquilo! Geralmente a tranquilidade e sossego não são o caminho para o sucesso. O caminho para o sucesso é, salvo raras excepções, montanhoso e difícil. Uma avalanche pode ser, como descrevi anteriormente, desastrosa e um sinal de que as coisas estão más. O que a maioria das pessoas não sabe é que as avalanches são necessárias, vão ocorrer sempre e podem ser positivas - é um mecanismo que restaura o equilíbrio natural e assegurar uma posição mais durável e segura, uma vez que a tal massa de neve é expelida porque é um excesso, e pode até construir novos habitats. Pequenas avalanches podem também prevenir avalanches maiores. É a forma da natureza funcionar e criar harmonia. As avalanches do Vitória têm sido, infelizmente, mais destruidoras do que positivas. Por isso mesmo está na hora de mudar o cenário.

"Loucura é fazer sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes". Esta definição de loucura, atribuída a Einstein mas sem absoluta certeza de que teve origem no mesmo, é uma noção básica da vida. Para mudar o cenário é necessário mudar a preparação e as políticas e nunca esperar que estas se mudem sozinhas. Está na hora de restaurar o equilíbrio, voltar ao nosso curso e seguir a nossa história. Está na hora de ter o nosso Vitória de volta!

Já perdi a conta às vezes que me perguntaram "mas afinal o que é que tu ganhas por seres do Vitória?" ou "quando foi a última vez que festejaste o campeonato?". Naturalmente eu não respondo e não me deixo incomodar por perguntas ignorantes. Nem sequer me dou ao trabalho de responder ou tentar explicar o meu (nosso) amor a quem mede o amor pelo número de títulos ou jogos ganhos. Eles medem o amor deles porque é dependente de uma qualquer variável e é finito. O meu (nosso) não, portanto não o posso medir. É independente e pode até ser incompreensível para muitos. Principalmente para os que nos dias que correm vestem uma camisola que deixam no armário durante todo o ano ou para os que mudam de cor conforme o desfecho da época. É fácil apoiar certos clubes quando estes ganham, uma e outra vez, ou quando as televisões e jornais estão infestados com essas cores. Seria fácil pintar a cidade de vermelho, festejar até às 4 ou 5 horas da manhã, ir para as redes sociais declarar amor a um clube que está sempre a ganhar (não vamos discutir a legitimidade disso agora, mas dava panos para mangas). Seria fácil se Guimarães não fosse... Guimarães. O que vou dizer a seguir é um cliché, um chavão mas a maior das verdades. O melhor do mundo é amar o difícil. Amar o Vitória é, seguramente, difícil. No entanto é isso que fazemos. Não por imposição ou porque nascemos todos programados para tal mas porque o símbolo, onde se pode ver D. Afonso Henriques, nos apaixona. Cada vez mais. Avalanche atrás de avalanche - independentemente do quão destruidoras são!

P.S.: Não posso terminar sem deixar de dar os parabéns ao Rui Vitória pelo seu sucesso individual enquanto treinador. Um homem íntegro, com respeito por si e pelos seus adversários e um profissional cheio de qualidade. Nunca duvidei de nada disso!

segunda-feira, 16 de maio de 2016

O momento cómico dos Globos De Ouro...

foi quando o Agir ganhou numa categoria em que estavam nomeadas artistas como Mariza e Ana Moura. Fiquei dez minutos a olhar para a televisão para ter a certeza que era verdade. Depois desatei a rir porque não havia outra reacção possível. Podia chorar, mas não sou tão dramática assim. Pronto, é isto.

O do costume!

A semana passada entrou no TOP 30, esta semana leva Portugal pela primeira vez ao vigésimo oitavo lugar, o novo máximo da carreira e de um tenista português. Nada é impossível para um conquistador e aqui está a prova disso. Tenho a certeza que ainda há muitos feitos históricos pela frente e sei que vou voltar a escrever sobre o nosso campeão outra vez cheia de orgulho. Obrigada João!

terça-feira, 10 de maio de 2016

O peso deste símbolo

Foto: O Lado V
Com a época decidida há já algumas semanas, é fulcral que a próxima já esteja a ser planeada e preparada para que os erros que se cometeram esta época e que nos vão deixar numa atípica posição da tabela classificativa que em nada respeita ou condiz com a nossa história não voltem a ser repetidos. Nos últimos jogos, e parafraseando Dostoiévski, "o mais importante é a honra e o dever". Infelizmente os objectivos não foram cumpridos (a manutenção não é um objectivo, é uma obrigação) e quando assim é só resta defender a honra do símbolo e do colectivo e cumprir o dever individual de fazer o máximo para que tal aconteça.

Uma das questões fundamentais, e que acredito já estar resolvida internamente, é a continuação de Sérgio Conceição ou a solução encontrada para ser o seu sucessor. Os vitorianos continuam divididos e apesar de Pedro Martins já ter sido apontado como seu sucessor, nada está confirmado de nenhuma das partes. A verdade é que o contrato de Sérgio Conceição termina no final da temporada. Por mim Sérgio Conceição não continua à frente da equipa vitoriana pelas mesmas razões que eu não queria que viesse para o Vitória em primeiro lugar: continuo a achar que não tem qualidade suficiente para treinar o Vitória e continuo a achar que é psicologicamente instável e desde que chegou não me convenceu totalmente, não me convenceu de que está à altura do símbolo que carrega. Não considero que seja o maior responsável pela época péssima do Vitória, principalmente porque não preparou a equipa e encontrou no Vitória uma equipa desmotivada, mal preparada e montada pelo treinador anterior. Com isto não pode ser ilibado de toda a culpa porque também a tem. A gestão desportiva foi péssima até no penúltimo jogo (não compreendo a lógica de continuar a apostar em jogadores emprestados - que em princípio não continuarão - ao invés de apostar nos nossos e nos que estarão cá na próxima época). Destaco positivamente a coragem para apostar em Miguel Silva no Bessa - o dono e senhor da nossa baliza. No entanto, os números também não mentem e dos 28 jogos que disputou para o campeonato (disputou mais dois, para a Taça CTT e Taça de Portugal que resultaram na eliminação de ambas as competições), 11 terminaram em derrota, 9 em empate e somou apenas 8 vitórias. Para além dos números, as exibições deixaram muito a desejar na maioria dos jogos - algumas delas, como em Coimbra, foram francamente más-, apesar de algumas exibições mais positivas mas nada de extraordinário e mesmo essas foram positivas mais pelo esforço e dedicação (admito que  a "mão" de Sérgio Conceição possa ter sido decisiva para motivar a equipa) do que pela qualidade. O balanço que faço é de que foi uma solução razoável (não a melhor) para substituir Armando Evangelista mas sem capacidade ou qualidade para fazer o Vitória cumprir os objectivos a que se deve propor no início de cada época - um deles passa por ficar nos primeiros lugares da tabela classificativa e não a meio da mesma!

Do jogo do último domingo, que finalmente quebrou o ciclo de doze jogos sem vencer, deixo três notas:
- Preocupa-me cada vez mais o gradual afastamento dos adeptos. É verdade que ontem o tempo não ajudava em nada (e na maioria dos jogos esteve mais ou menos assim), era um jogo "a feijões" e estamos todos descontentes com esta época mas eu cresci no estádio com as bancadas sempre bem preenchidas e portanto custa-me muito vê-las despidas!
- Não assobiei o Victor Andrade quando este entrou em campo por uma simples razão: tinha a camisola do Rei vestida. Compreendo os assobios no fim do jogo ou quando um jogador sai de campo mas não compreendo os assobios a um jogador que está a entrar em campo para representar o nosso símbolo. Já disse anteriormente que sou contra a política dos emprestados e por mim o Victor Andrade não estava no Vitória e muito menos entrava em campo ontem quando os nossos estavam no banco, mas está e entrou e a culpa não é dele. Nunca assobiei e nunca vou assobiar um jogador que entra em campo para representar e defender o símbolo que eu amo - pelo menos conto que todos entrem em campo com esse objectivo.
- A minha nota anterior não pretende justificar as atitudes deste jogador porque depois depois do que ele fez não o podia defender de forma nenhuma. Valorizo o respeito acima de qualquer outra coisa. Quem desrespeita o Vitória, desrespeita-me a mim. Não admito a ninguém, seja a quem for. Quem deita a camisola ao chão não merece nunca mais vesti-la! Seja uma atitude de raiva ou uma atitude de menino mimado que não tem respeito por ninguém. Espero que tenha sido severamente repreendido por alguém da estrutura interna do Vitória e dispensado imediatamente. Quem não sente o peso deste símbolo não merece representá-lo!

A contrastar com a falta de respeito de quem nada entende temos os nossos conquistadores que cumpriram vários objectivos esta semana. Em Lisboa, a equipa B aplicou chapa 4 no Sporting B e garantiu assim a manutenção (o último jogo da época é em casa na próxima sexta-feira e merecem totalmente o nosso apoio uma última vez). As conquistadoras do basquetebol conseguiram garantir a subida à 1ª liga. Por fim, e apesar de não ser um atleta do Vitória, não posso deixar de referir um dos nossos conquistadores que eleva o nome de Portugal, de Guimarães e também do Vitória: João Sousa, que alcançou o 30º lugar, ou seja, a melhor posição de sempre no ranking ATP. Todos eles merecem o nosso agradecimento e os nossos aplausos por fazerem o Vitória ainda mais grandioso!

O final da temporada é sempre um momento de fazer balanços, e eu vou fazendo os meus. Enquanto faço balanços, também tiro algumas conclusões. A maior conclusão que tiro sempre é que este amor é eterno e incondicional, seja no 3º lugar ou no 9º lugar, corram as coisas bem ou mal, chova ou faça sol. É, sem dúvida nenhuma, até morrer! Este fim-de-semana tirei outra conclusão muito importante: por cada atleta que desrespeita o Vitória, há um sem número de atletas que fazem do Vitória maior - as nossas conquistadoras do basquetebol, os atletas que pisaram o relvado no intervalo e que ganham tanto pelas mais diversas modalidades, o conquistador do ténis e todos os atletas que não representam o Vitória mas que fazem questão de referir qual o clube que apoiam, entre tantos outros - todos aqueles que se preocupam mais com o símbolo que carregam na frente da camisola do que com o nome que está escrito atrás! Esses, e unicamente esses, são os que vale a pena manter porque entendem o peso deste símbolo. 

sexta-feira, 6 de maio de 2016

O Conquistador fez história, mais uma vez

Ontem o João voltou a ser histórico. Chegou ao TOP30 mundial e chegou, pela primeira vez na carreira, aos quartos-de-final de um ATP Masters 1000. Escreveu, mais uma vez, um capítulo de ouro na história do ténis e do desporto português. Voltou a ser histórico e a pôr o nome de Portugal em destaque. Os jornais desportivos reservaram-lhe um cantinho nas suas capas. Voltaram a dar destaque a sensacionalismos e a personagens que não trazem nada de novo ao futebol ou ao desporto português. Não me surpreendeu. Afinal, o João é muito maior do que as capas desses jornais que pouca ou nenhuma qualidade têm. Qualidade tem o João! Por isso é muito grande para esses pedaços de papel. Independentemente do que acontecer hoje frente ao Nadal, o rei da terra batida e um dos melhores jogadores de sempre, já conquistou mais um pedaço de história. Continua a ser um estandarte de Portugal e de Guimarães. Por isso hoje somos todos pelo João. Não tem as capas desses pasquins mas tem o apoio de todos os portugueses. Isso é muito mais importante. O jogo começa a partir das 15:00. Talvez seja dia para voltar a fazer história!
De qualquer das formas: obrigada João!


terça-feira, 3 de maio de 2016

ADN do Rei

Foto: O Lado V
O Vitória foi defrontar o Lisboa ao Estádio da Luz mergulhado numa série de maus resultados e, pior do que isso, mergulhado numa série de exibições em nada satisfatórias. Os maus resultados mantiveram-se, com uma derrota que aumentou para doze o número de jogos sem vencer mas o Vitória não foi o mesmo. Finalmente vimos uma equipa entrar no relvado com atitude, garra e muita vontade de vencer. Uma equipa que sabia o que fazer à bola. Infelizmente isso aconteceu contra o filho querido de um sistema sujo, gasto e podre que é o futebol português. Não é novidade nenhuma que há um sem número de factores que pesam no resultado mas que são decididos bem longe das quatro linhas. Afinal, o jogo da primeira volta quando descaradamente nos foram roubados pontos na nossa própria casa não é uma memória assim tão distante. Pela segunda vez esta época o Vitória defrontou um Lisboa que não apresenta um futebol extraordinário (nem com o tão anunciado futuro melhor do mundo que supostamente vale 40M€ Renato Sanches, que acabou por ser substituído) e seria uma equipa normal, não fosse uns tantos ajudantes que por aí andam. Para não me alongar muito, algumas notas:

- Perguntei-me algumas vezes no decorrer do jogo o porquê de Bruno Paixão continuar como interveniente do escalão máximo do futebol português. Claramente um milagre... se eu acreditasse neles. Eu já sabia a resposta, principalmente porque não comecei a ver futebol ontem. Indivíduos incompetentes como Paixão, Xistra e companhia ainda não foram eliminados do futebol porque com eles se fazem, na maioria das vezes, campeões. A incompetência deste árbitro foi manifesta: o Eliseu não acabava a primeira parte depois daquele pontapé ao Hurtado que, tenho a certeza, deixou o Anderson Silva a corar de vergonha (e que, surpresa das surpresas resultou em falta contra o Vitória) mas só foi amarelado depois do golo quando decidiu dar uma palmadinha no nosso jogador. Enquanto isso os nossos jogadores viram quatro cartões amarelos em trinta minutos e sete no total, sendo que este foi o jogo em que os jogadores vitorianos viram mais cartões durante toda a época. Sérgio Conceição foi obrigado a assistir a mais de metade da partida da bancada sabe-se lá porquê. Talvez porque, nas palavras do próprio, "estávamos a bater o pé ao Benfica". Paixão a ser... Paixão. A impor as suas preferências e a gerir o jogo através do medo e da autoridade e nunca através do respeito que geralmente é fruto de um trabalho coerente e justo. Isso ele não sabe ser. Pior do que ele é quem o selecciona cuidadosamente para arbitrar estes jogos e compactua com a fraude que é, e sempre foi. Se houvesse algum tipo de verdade desportiva em Portugal, Paixão nem a arbitrar jogos das distritais tinha lugar.

- O Lisboa está habituado a que todos se ajoelhem e lhes facilitem a vida. Quando isso não acontece revoltam-se. Revoltaram-se durante o jogo e depois. Ver o jogo na BenficaTV só por si já é um martírio, um verdadeiro esforço. Durante o intervalo lá estava um comentador, de quem não me interessa saber o nome porque ele não se dignificou em saber o nosso, a choramingar e a queixar-se que "eles estão a jogar para intimidar o Benfica" e "o anti-jogo deles não honra o futebol". Continuou nesse registo de vitima e coitadinho. Não se lembrou do anti-jogo ao estilo de equipa pequena que está a ser pressionada que eles adoptaram no final do jogo e muito menos se lembrou do quanto desonram o futebol com o famoso colinho. A habitual coerência! Só sabem chorar. Choram e choram e choram quando as coisas não correm como planeado. Choram como se algum dia respeitassem a ética ou a verdade desportiva. Choram como se o Eliseu não merecesse ser expulso na maioria dos jogos. Choramingam porque são os filhos queridos e têm tudo de bandeja. Quando não têm... choram! No final, já depois de terem ganho um jogo que não mereciam ganhar choraram mais um bocadinho. Começou com o director de comunicação do Lisboa a tentar ser engraçado no twitter. Chorou. Depois foi a vez de o vice-presidente chorar. Questionou-se sobre o porquê de o Vitória ter jogado como jogou contra eles. Talvez este individuo não se lembre que, por exemplo, o Sporting veio empatar a Guimarães. Por fim, outro comentador, que já não surpreende ninguém pela sua incompetência e falta de postura, chorou. Afirmava com toda a certeza que o Sérgio Conceição disse aos jogadores que estava em jogo um prémio de 280 mil euros. Não sei se o Benfica põe escutas no balneário do adversário ou se tem infiltrados agentes secretos em todas as equipas adversárias visto que é pelo menos a segunda vez que boatos destes são lançados. A minha teoria é a de que Pedro Guerra não sabe o que diz e não tem noção dos disparates. Só chora, jornada atrás de jornada no sítio onde, infelizmente, lhe dão tempo de antena.

- Eles choram e a direcção deixa-os chorar. Eles roubam e a direcção deixa-os roubar. Tem sido assim. Um silêncio que compactua com aquilo que se tem passado. Mais uma vez, e não é a primeira vez que falo disto, a direcção calou-se e ninguém, para além do treinador, foi capaz de defender publicamente os interesses do Vitória. A anestesia da direcção irrita-me. Eles falam e choram e dizem um sem fim de disparates a atacar o Vitória e prejudicam deliberadamente o Vitória e ninguém fala, ninguém procura explicações. Ninguém que conhece minimamente a história do Vitória e de Guimarães, que estão intimamente ligadas, é capaz de ser subserviente e de se ajoelhar a quem tem mais poder. Isso é o que a direcção tem feito. Dom Afonso Henriques conquistou a independência porque lutou e lutou até conseguir o que pretendia. Conseguiu sem nunca se ajoelhar aos pés de ninguém, sem nunca compactuar com os poderosos e sem consentir. É essa a nossa história e por isso eu não aceito este silêncio, nem compreendo. Um dos maiores erros da direcção, a par da falta de um plano desportivo a médio/longo prazo e da pobre gestão desportiva, é o de continuar a apanhar as migalhas que caem da mesa em vez de tentar ter um lugar nela. O Vitória não é um clube que se ajoelha, o Vitória é o clube que faz os outros ajoelharem-se perante si. Isso é parte do nosso ADN, tentar contrariá-lo é imprudente e de uma profunda falta de conhecimento.

- Não posso deixar de saudar todos os adeptos do Vitória que foram à Luz apoiar a equipa. É difícil fazê-lo a uma sexta-feira porque há sempre trabalho e/ou aulas - eu sei, porque já o fiz. Os vitorianos marcaram presença num estádio que só tem as bancadas completas quando o clube está prestes a sagrar-se campeão (mas nem assim fazem barulho o suficiente e só cantam e apoiam quando estão a ganhar e o jogo prestes a terminar). São seis milhões e 98% são adeptos de sofá - que ontem não chegaram a 25 mil no jogo para a Taça CTT e o Seixal está sempre às moscas para ver jogar a equipa B (e todos sabemos o que é que atrai as moscas...). É triste que, sentados no sofá sem gastar 1€ para apoiar a equipa, ainda sejam cegos ao ponto de escrever comentários inflamados nas redes sociais sobre adeptos que fazem uma viagem cansativa e longa a uma sexta, dia de trabalho, e que não é de graça. Podem ser seis milhões, ou o número que quiserem inventar para se sentir superiores, mas a pequenez que os caracteriza é assustadora. Deviam mostrar respeito aos adeptos que têm a grandeza que eles almejam um dia ter!

Entristece-me ver o futebol português continuar neste ciclo vicioso do qual não parece encontrar saída. Persiste uma dualidade de critérios preocupante e que em nada beneficia o futebol. Continuam pessoas com algum peso no mundo do futebol que nunca deviam ter feito algum dia parte dele. Ontem o Leicester sagrou-se campeão porque os jogos decidem-se dentro das quatro linhas, sem bastidores. Anseio pelo dia em que o mesmo possa acontecer aqui. Em que a verdade e ética desportiva estejam na ordem do dia e em que todos tenham igualdade de oportunidades. Não será amanhã, ou para o ano. A liberdade ainda não chegou ao futebol. Um dia chegará, espero. Com as pessoas, mentalidade e atitudes certas. Entretanto, clubes com tudo para triunfar como o Vitória têm de lutar e não se podem vergar nunca. Afinal de contas, somos descentes directos do Rei, somos conquistadores. O Rei está gravado na nossa peleComo disse, o Rei nunca se ajoelha perante ninguém. Os outros ajoelham-se perante o Rei. Sempre!

segunda-feira, 2 de maio de 2016

LEICESTER

Num dos jogos que vi do Leicester reparei que tinham escrito no túnel de acesso ao relvado a palavra Fearless. Sem medo. Quando entraram no relvado entravam assim, sem medo. Fosse em que relvado fosse, fosse contra quem fosse. Entravam a olhar nos olhos do adversário. Sabiam o que tinham de fazer dentro das quatro linhas. Faziam-no sem medo. Tornaram-se os campeões de Inglaterra há apenas umas horas. Fizeram história. Honraram o futebol. Honraram a verdade no futebol. O sonho comanda a vida. Eles sabiam-no desde o início e mostraram ao mundo inteiro. Fizeram-no com a atitude certa, a mentalidade adequada e a estrutura ideal. Fizeram-no com vontade, dedicação, trabalho, lágrimas, sangue e suor. Fizeram-no contra todas as expectativas. O sonho comanda a vida e o Leicester é, pela primeira vez na sua história de 132 anos, campeão de Inglaterra. Hoje ganhamos todos porque o futebol ganhou. PARABÉNS LEICESTER!