A partir do momento em que começamos a ler este livro (escrito em colaboração com JR Moehringer) não há volta a dar, nem nós queremos que haja até porque nos dá vontade de o devorar de um só fôlego como se fossemos o dragão cuspidor de bolas de ténis. Entrámos na história da construção de um dos melhores tenistas de todos os tempos mas mais do que isso, na construção do Andre como pessoa, mais do que como tenista.
Apesar de tudo o que Andre conquistou, ficamos sempre com a sensação de que a derrota está muito mais presente do que a vitória ao longo da história que nos conta - e nos prende. Afinal venceu oito Grand Slams e foi o primeiro tenista a conseguir o Career Golden Slam (vencer todos os quatro torneios do Grand Slam e a medalha de ouro olímpica). Esse facto, no entanto, demonstra que esta autobiografia não podia ser mais o espelho de Agassi que luta quando perde e luta quando vence.
A sua vida é uma verdadeira luta e uma procura constante. Uma procura incessante para descobrir quem é, o que quer e o que vai fazer. Percebemos, de imediato, que odeia o ténis. Odeia mesmo o ténis. Odeia o ténis de verdade mas não consegue parar nem tem escolha. Torna-se profissional aos 16 anos mas a sua preparação para ser o número 1 do ranking começa aos 6 anos no quintal da sua casa de Las Vegas onde o pai montou um campo de ténis e onde Andre defronta todos os dias até à exaustão "o dragão" que não é mesmo um dragão mas uma máquina que o seu pai modificou para cuspir bolas de ténis a grande velocidade. Aos 8 anos está a bater bolas com as grandes lendas de ténis como Björn Borg, a ganhar a miúdos mais velhos e até a defrontar jogadores de futebol americano. O miúdo tem talento e isso é inegável.
Quando atinge os 13 anos e depois de defrontar e vencer todos os miúdos da sua zona, o seu pai acha que a única solução para que Andre continue a evoluir e se possa tornar no melhor tenista do mundo é mandá-lo para a Academia de Ténis de Nick Bollettieri, na Flórida. Agassi descreve a academia como uma prisão, não poupa críticas à gestão de Nick Bollettieri e faz-nos perceber o quanto quer desistir do ténis, só que não consegue. Odeia o ténis, mas nunca consegue. A sua perspicácia vale-lhe uma espécie de estatuto especial e consegue desistir da escola ainda cedo. É na Academia de Nick que ele se torna num rebelde incompreendido que usa brincos e pinta o cabelo de rosa só porque sim.
Essa rebeldia acompanha-o no início da sua carreira. Joga com calções de ganga, um penteado peculiar, de brinco, faz capas de revistas porque joga com óculos de sol ou de cor-de-rosa (aliás, Lava Quente).
Andre descobre a fama, o melhor e o pior. Questiona-se se os jornalistas que dizem que ele não passa de um fiasco não estarão certos. Questiona-se sobre tudo. Vezes sem conta. Tem dificuldades em descobrir-se, mas descobre a sua equipa. A equipa certa. A equipa que é capaz de o motivar, de o levar a fazer mais do que julga ser humanamente possível. Uma equipa de pessoas leais, esforçadas e verdadeiras. No meio disto conta-nos também como era a sua vida amorosa, ficamos a conhecer o seu casamento com Brooke Shields, a modelo com quem ele sonhava e que aparecia nas capas da Sports Illustrated e o seu casamento com Steffanie Graff, a tenista com quem ele estava desejoso por dançar quando ganhou o Wimbledon e que se tornou na sua esposa incansável e na mãe dos seus filhos.
Andre conta-nos também sobre o pânico que sentiu quando a sua carreira esteve em risco de ser suspensa por uso de metanfetaminas, o medo que teve de desiludir os fãs, a sua equipa, todos os que estavam do seu lado. Conta-nos sobre o seu renascimento, quando teve de começar do início depois de um período menos positivo, a forma como se levantou, onde ia buscar motivação e propósito. Sabemos do grande projecto da sua vida, Andre Agassi Foundation for Education, onde encontra surpreendentemente na construção de uma escola (Andre nunca foi de estudar), a sua escola o propósito que tanto procurava.
Conhecemos Andre Agassi, o homem. Quase em jeito de confissão conta-nos e mostra-nos a sua vida em detalhe porque Agassi é um homem de detalhes. Por momentos somos o Andre Agassi, por momentos odiamos o ténis, mas odiamos mesmo, por momentos ficamos sem rumo e sem chão, por momentos sabemos como é ganhar tudo o que se pode ganhar e por momentos sabemos que uma vitória não consegue tapar as feridas das derrotas. Por momentos sabemos como é perder contra Pete, sempre Pete.
Ler Open é perceber o homem que se tornou, não por acaso, num nome incontornável no ténis. Um livro que é, também ele, incontornável!
A despedida emocionada de Andre Agassi no US Open de 2006
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