Já exprimi, aqui no blogue, a minha confiança na equipa que nos representa. Acho que temos uma equipa com qualidade, muito lutadora, que nunca desiste do jogo (e isto é muitíssimo importante), com alternativas de confiança e que está a dar provas de ser consistente. Os números não mentem. A vitória no Bessa para a Taça de Portugal foi a quinta vitória consecutiva em jogos oficiais e foi o oitavo jogo sem perder. São números interessantes e que nos dão alento e confiança para continuar. Acredito que o caminho que estamos a trilhar nos vai levar a sítios muito bonitos.
Sobre o jogo do passado Domingo há ainda muito a dizer, pese embora já se tenha dito muito - principalmente pelos adeptos, porque para a comunicação social um jogo sem vermelho, verde ou azul tem pouco ou nenhum interesse. O melhor será começar pelo inicio, que foi muito antes do apito inicial. O amor que caracteriza os adeptos vitorianos, o carinho pela competição em questão, aliado a uma antiga disputa entre os dois clubes que ainda é bem presente, prometia uma deslocação em massa ao Estádio do Bessa. Para quem passava na estação de comboios de Guimarães por volta das 15 horas isso já era evidente. Mais de uma hora antes da hora prevista para sair já havia um vitoriano em cada canto e recanto, devidamente equipado. Se havia alguma dúvida, a rapidez com que os comboios encheram foi esclarecedora: íamos jogar em casa. Mais uma vez. A viagem até à estação da Campanhã, no Porto, fez-se tranquila e rapidamente e uma deslocação que tinha tudo para correr bem acabou por se tornar frustrante.
Ao contrário do que aconteceu na época transacta, desta vez os cerca de quatro mil vitorianos ficaram retidos na estação de metro. Num espaço demasiado pequeno e demasiado quente, íamos cantando o mais alto que podíamos, muito desconfortáveis e muito apertados, sem saber muito bem aquilo que se estava a passar. Pessoalmente achei que era uma questão de minutos para garantir que estávamos todos e que era seguro continuar o percurso. Rapidamente me apercebi que os minutos estavam a demorar muito a passar. O relógio já ia avançado e, como já conhecia o percurso que ainda tínhamos pela frente, percebi que dificilmente chegaríamos a tempo. Esses minutos transformaram-se numa hora (eu demorei cerca de uma hora a sair para a estação de metro, mas houve quem ficasse lá retido ainda mais tempo). Sem aviso prévio, sem recibo e sem nos ser dado nenhum bilhete, a polícia estava a cobrar 1€ a cada vitoriano (para quem foi o dinheiro?) e por isso os adeptos estavam a passar a conta-gotas, em grupos demasiado pequenos e com demasiada lentidão. Só a muito custo e depois da insistência e assobios dos adeptos, a polícia ia deixando passar as crianças devidamente acompanhadas pelos pais - infelizmente nem essa consciência tiveram.
Depois de chegar à estação tivemos de esperar pelo metro, para nos juntarmos aos grupos que já estavam prontos a seguir para o estádio, perto da Casa da Música. Faltava cerca de um quarto de hora para o apito inicial e já estávamos cientes de que não íamos ver todo o jogo que pagámos para ver. Às 19h15 já se ouvia o relato e até se conseguia ver o jogo... através do ecrã do telemóvel. O percurso decorreu tranquilamente, com os melhores adeptos do mundo a invadir as ruas e ruelas do Porto, sempre a cantar, a ser constantemente aplaudidos e filmados pelos transeuntes e por quem acorria à janela para ver o espectáculo. Quando chegamos ao estádio só queríamos entrar o mais rapidamente possível, afinal já estávamos quase meia hora atrasados. Entrei mesmo a tempo de festejar o golo de Soares, marcado da linha de grande penalidade, enquanto muitos ainda festejavam fora do estádio. Não vi os primeiros vinte e sete ou vinte e oito minutos nem sequer vi o lance que deu origem ao penalti. Cheguei e festejei, no exacto momento em que os poucos adeptos que estavam do outro lado do estádio levantavam uma tarja a chamar-nos pequeninos (voltaram a levantar outra tarja, a dizer o mesmo por outras palavras, mais tarde enquanto nós, munidos "só" do nosso amor pelo Vitória, lhes íamos mostrando o quão grandiosos somos).
O Boavista conseguiu empatar, e nós cantávamos mais alto. Pensei que estávamos sozinhos no estádio. Os vitorianos acreditavam e puxavam pela equipa, o décimo segundo jogador não deitava a toalha ao chão - nem ninguém o fazia dentro de campo. O marcador não se mexeu e levar o jogo a prolongamento foi inevitável. Os nervos estavam à flor da pele e o coração já batia muito rápido. Então cantávamos ainda mais alto, para que se ouvisse melhor. Os jogadores boavisteiros atiravam-se para o chão e provocavam quem estava no banco vitoriano. E nós cantávamos ainda mais alto. O tempo passava. E nós cantávamos mais alto. Acredito que Hurtado, com uma visão privilegiada, se tenha inspirado na moldura humana que tinha diante de si para bater a bola. O nervosismo era palpável. Só passou quando a bola trespassou a linha de fundo.
Golo! O jogo ainda não tinha acabado, mas ninguém tinha dúvidas de que aquela vitória já era nossa.
Ouviu-se o apito final. Era irreversível. Aquele triunfo já ninguém nos tirava. No entanto, e numa competição tão bonita e histórica, o espectáculo dentro de campo não terminou da melhor forma. Sem me alongar muito neste assunto até saber quais vão ser os
castigos (que têm de ser obrigatoriamente severos e céleres, como foi com
Marega), só tenho a dizer que comportamentos destes não dignificam em nada o
futebol. Pelo contrário. O futebol não é violência e quem optar por ser tão
sujo (e isto já não é novidade no Boavista), não tem lugar nenhum no futebol. O
Miguel Silva foi pontapeado por alguém do staff adversário e foi agredido por
dois jogadores - isto é o que se vê nas imagens, ainda antes das equipas recolherem aos balneários. Quanto ao que se
passou no túnel só os envolvidos podem esclarecer o que realmente se passou, mas
espero que hajam imagens - o estádio do Boavista tem câmaras em tudo o que é
sítio, espero que o túnel não seja uma milagrosa excepção. A violência não se
ficou dentro das quatro linhas. Antes do início do jogo um casal vitoriano na casa dos sessenta anos foi violentado e roubado nas imediações do estádio e, segundo consta,
sob uma polícia serena e nada interventiva. Não desejo a despromoção a ninguém,
porque sei o quanto isso custa a quem ama verdadeiramente o símbolo, mas sou da
opinião de que quem não sabe estar... não merece estar. O Vitória volta ao
Bessa daqui a menos de um mês. Convém que até lá sejam tomadas medidas
adequadas e que o Vitória seja publicamente defendido por quem de direito. Quem
nos ataca, seja de que forma for, não pode sair impune. As críticas à arbitragem por parte dos axadrezados não passam de uma tentativa de tirar o foco do verdadeiro problema que foi a constante violência - e não falo só do que se passou depois do final do jogo. O "nosso" Rafael Miranda teve de sair porque lhe fracturaram uma costela. Deve pontapear-se a bola, não o jogador.
Por fim, e depois de mais de meia hora de espera dentro do Bessa,
fizemos o percurso a pé de regresso à estação, e depois de metro para a Campanhã para voltar finalmente à cidade berço. Mais uma vez a polícia não nos tratou da melhor
maneira. O que já não é nenhuma surpresa. Fizeram-nos esperar à porta da
estação de metro durante cerca de vinte minutos. Iniciamos a viagem de regresso a
Guimarães precisamente à meia-noite. Foi a minha segunda viagem ao Porto esta
época a acompanhar o Vitória - a primeira foi no início de Setembro,
ao Dragão,
e agora ao Bessa. Duas deslocações que podiam ser tranquilas mas em que fomos mal recebidos por uma organização incapaz. Nestas duas deslocações puseram os vitorianos sob
situações de grande tensão e, das duas vezes, houve agentes de
"segurança" a provocar deliberadamente adeptos vitorianos com o
sorriso arrogante que só um bastão lhes dá. Recuam sempre, quando percebem que
estão a ser filmados. Fazem-no porque sabem do comportamento errático que
têm connosco. Só connosco. Estas situações não se podem repetir. Acabam por afastar os adeptos dos estádios, por muito grande que seja o amor. Os pais
ficam com medo de levar os filhos. E todos sabemos que futebol sem adeptos não
é nada.
Agora, e uns dias depois do jogo, ainda me lembro da cara de cada jogador naqueles épicos momentos depois do jogo acabar. Os olhares de admiração e os sorrisos de agradecimento enquanto estavam ali, à nossa frente, a cantar connosco. Cada um deles era um de nós. Éramos todos uma equipa - já não interessavam as distinções. Éramos um grande grupo de pessoas unidas por um amor comum que tentamos engrandecer de formas diferentes. O que eu vi nenhuma câmara filmou mas eu gostava de mostrar aquilo ao mundo e perguntar a toda a gente se realmente não conseguem entender. Não há forma melhor de explicar o que é o Vitória. Na minha cabeça, em repetição, estavam as palavras de Carlos Daniel de há uns anos, e que ainda hoje me arrepiam:
"eles tornaram-se ídolos dos próprios ídolos". A simbiose perfeita. Apesar de todos os pontos negativos que referi - que não foram queixas, de forma nenhuma - tudo valeu a pena. Já me perguntaram, inúmeras vezes, porque é que não fico em casa. Não gastava dinheiro, não passava frio, não apanhava chuva nem passava por muitas situações desconfortáveis. Ficava confortavelmente sentada no sofá, como muitos fazem. Era mais fácil, de facto. No entanto eu não seria tão feliz. Então vou, vou sempre. Vou depois de uma derrota, vou depois de ficar doente, vou depois de eles dizerem (e fazerem tudo) para não irmos. Vou sempre, e não sou feliz se não for. Os momentos protagonizados pelos vitorianos nas bancadas do Bessa foram um verdadeiro hino ao futebol, a Guimarães, a todos os que apoiam o clube que amam, o clube da terra, o clube que os representa. Perdoem-me se, com tantas palavras, não consegui expressar a nossa grandiosidade. Não consigo pensar em palavras que façam justiça àquilo que vivi (vivemos). As palavras ainda me faltam, ou ainda não foram inventadas. Mas se vos perguntarem o que é que aconteceu, afinal, de tão especial no Bessa, digam-lhes que viveram o Vitória.
Eu vivi o Vitória. Um dicionário completo não seria suficiente para explicar isso.