terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Que medo é este?

Foto: Marco Jacobeu
Numa noite agradável para ir ao estádio ver futebol e em que a equipa entrou com o símbolo da Chapecoense em verde solidariedade, o Vitória mostrou que não aprendeu a lição, voltou a cometer erros e deixou escapar a oportunidade de escalar na tabela. Um ponto é sempre melhor do que nenhum, naturalmente, mas este empate não pode ser considerado um bom resultado. Não por ser contra o Chaves. Os Flavienses bateram-se bem, não desistiram do jogo e mereceram o empate. A arbitragem de Fábio Veríssimo, designado para arbitrar a partida à última hora, deixou muito a desejar como já é habitual. No entanto, o Vitória pode queixar-se somente de si próprio. Uma vez mais! Continuamos, como tem sido habitual, a dar passos pequenos e a pedir permissão (e desculpa) para sermos aquilo que somos: grandes.

O jogo começou bem. A equipa parecia determinada em agarrar o jogo pelos colarinhos e redimir-se da derrota em Tondela. Não foi preciso esperar três minutos para ver Hernâni fazer o gostinho ao pé. Gritou-se golo! Estava lá dentro! Agora precisávamos de matar o jogo, não só para ficarmos mais seguros mas também porque um começo tão fulgurante iria, por certo, fazer mossa ao colectivo adversário. Em vez de lutar para chegar ao knockout, a equipa abrandou drasticamente o ritmo de jogo. Uma cena familiar e que não era particularmente querida. O Chaves percebeu imediatamente o rumo do jogo e começou a procurar o golo do empate. Ao intervalo a situação já não transmitia segurança. A segunda parte não podia ser uma continuação da primeira. Se a equipa voltasse apática dos balneários adivinhava-se o pior. Todos sabemos que quem não marca... sofre. E aos oitenta e três minutos sofremos. Só depois de sofremos o golo, quase ao fechar da cortina, é que a equipa acelerou. Não foi suficiente e, qualquer outro desfecho, não faria justiça ao que se passou em campo. Fomos vítimas de nós próprios, exactamente como tínhamos sido uma semana antes. Não aprendemos com os erros e, quem não aprende com os erros está condenado a sofrer. Voltamos a desperdiçar oportunidades. Com uma vitória no jogo do último domingo podíamos estar em 4º lugar, com 23 pontos, em igualdade pontual com o Sporting de Braga e podíamos, em simultâneo, aumentar a vantagem para as equipas que estão logo abaixo na tabela classificativa tal como o Rio Ave, o Marítimo e mesmo o Chaves. Parece que, quando podemos afirmar a nossa posição e ambição, temos de pedir desculpa e dar um passo atrás. Não é de hoje, não é desta época. Que medo é este? Temos medo de ganhar? Não temos de pedir desculpa por ser grandes, muito menos temos de pedir permissão para continuar a subir na tabela!

Os maus resultados são, parece-me, uma consequência das más exibições. No Bessa, para a Taça de Portugal, o Vitória já não protagonizou uma exibição de qualidade. As fragilidades da equipa estão a nu e conseguimos perceber que são necessários ajustamentos. O Vitória não pode sentir tanto a falta de dois jogadores. Se queremos lutar por um lugar cimeiro da tabela e pelas taças que disputamos, temos de ter alternativas de confiança. Na minha opinião, a equipa tem, actualmente, três grandes problemas: falta de agressividade, visão de jogo deficiente e pouca inteligência emocional. A falta de agressividade é notória na apatia com que a equipa parece, por vezes, arrastar-se pelo campo. Não podemos tirar o pé do acelerador imediatamente depois de marcar. Não podemos descansar durante nenhum período do jogo. Pelo contrário, temos de lutar para aumentar a vantagem e, no mínimo, para assegurar o resultado. A vantagem mínima nunca é garantia de nada. É necessário pressionar o adversário, intimidá-lo, fazê-lo recuar. A equipa, neste momento, só o faz esporadicamente. Como já percebemos não é suficiente. A visão de jogo deficiente do colectivo é bem perceptível das bancadas. Como é óbvio das nossas cadeiras temos uma visão privilegiada e não estamos sob pressão, como estão os nossos jogadores mas é preocupante ver muitas jogadas sem sentido, sem objectivo e tantos espaços para "alugar", principalmente no meio-campo. Por fim, e também porque este último ponto pode ser ilustrado com os últimos minutos do último jogo, há uma clara falta de inteligência emocional. Aos noventa minutos estávamos empatados a uma bola. Marcar o golo da vantagem seria extremamente complicado por uma panóplia de factores que não vale a pena discutir agora. No entanto tornou-se numa missão impossível com o tempo que a equipa gastou em discussões que não interessavam a ninguém e que resultaram na expulsão por duplo amarelo do nosso jogador, Rúben Ferreira, que fica excluído assim do próximo jogo, e no amarelo mostrado a Josué. Foram uns minutos de discussão em que a equipa não ganhou absolutamente nada, bem pelo contrário, e que não contribuiu para alcançar o nosso objectivo. Saímos prejudicados. Nunca joguei futebol de competição na minha vida mas compreendo que seja difícil manter a cabeça fria em todas as situações e só quem está de equipamento no relvado sabe realmente o que se passa, mas é em situações assim que é necessário manter uma distância necessária e manter a concentração no jogo porque o bem colectivo tem de estar no topo das prioridades.

Segue-se o Boavista, no Bessa. Para a Taça de Portugal não foi fácil trazer a vitória mas com uma harmonia incrível entre todos os vitorianos e a equipa conseguimos a passagem à próxima fase. Não podemos ignorar que, desta vez, os axadrezados vão estar ainda mais motivados para procurar a vitória. Também não podemos ignorar que vamos defrontar uma equipa que faz questão, como mostrou quando lá fomos, de recorrer a jogos de bastidores sujos que não devem ter lugar no futebol. É preciso preparar muito bem e com muito cuidado este próximo jogo. Não será fácil mas os três pontos em disputa podem ser fundamentais no fim das contas. Precisamos de contrariar estes maus resultados. E, de uma vez por todas, precisamos de não deixar os nossos objectivos escapar pelos nossos dedos como areia. O mostro não pode adormecer, outra vez! Os vitorianos têm de mostrar o porquê de serem os adeptos mais admirados em Portugal e voltar a formar uma moldura humana incrível capaz de empurrar a equipa para a vitória. Não podemos ter memória curta e devemos estar bem cientes do quão felizes saímos do Bessa há duas semanas. Foi por causa desta equipa. Foi por causa deste símbolo. Os grandes não abandonam o barco quando a situação parece difícil. Pegam num remo e ajudam a remar. Juntos podemos chegar onde quisermos!

Dizem que o melhor fica para último. O momento mais bonito da noite do último Domingo foi um momento que todos nós, e permitam-me que fale por todos, preferíamos não ter vivido. Isso significaria que Nuno Greno, a equipa da Chapecoense e todos os jornalistas envolvidos no acidente estavam bem. Infelizmente não podemos fazer nada quanto a isso e resta-nos, como comuns mortais com o mesmo destino, prestar-lhes as mais bonitas homenagens possíveis. O estádio, lugar de cânticos e palmas, silenciou-se. Nunca vi o D. Afonso Henriques tão silencioso. Cumpriu-se um minuto de silêncio absoluto. A emoção era palpável. Não é suficiente, nem nunca será mas foi marcante e inesquecível. Da mesma forma que foram todas as pessoas homenageadas. A vida e o futebol andam de mãos dadas. Fisicamente não estão connosco nunca mais, mas ficaram imortalizados para sempre num minuto de homenagem num estádio de futebol.

2 comentários :

  1. Já sabemos que a equipa tem lacunas em termos de soluções para alguns lugares. Rafael Miranda não tem quem com ele dispute o lugar (como foi possível deixar Bouba Saré ir embora?) embora João Aurélio tenha respondido com alguma qualidade mas não é um trinco de raiz. Marega tem caracteristicas únicas, em termos de morfologia e forma de jogar, mas mal estará o nosso clube no dia em que dois maus resultados com Tondela e Chaves possam ser explicados por essas ausências. Acho que a explicação para esta equipa "medrosa" (como diz e bem a Raquel) é outra. Eu acho que foram os incidentes do Bessa que assustaram a equipa e a fizeram sentir-se intranquila a partir desse jogo. É um problema que estará no sub inconsciente dos jogadores mas que se reflecte na forma como se posicionam em campo de forma defensiva, sem intensidade na disputa da bola, parecendo recear a prática de um futebol mais ofensivo e de maior risco. É uma equipa com os níveis de confiança abaixo do normal e que está a precisar de um "abanão". E esse "abanão", para esconjurar fantasmas, podia ser precisamente a ida ao Bessa no próximo sábado. Onde uma boa exibição e um triunfo a relançariam no caminho do sucesso. Não quero dizer que isso não aconteça mas a verdade é que o Vitória em termos mediáticos, e condicionadores dos arruaceiros do Boavista, fez tudo(ou seja não fez nada) mal feito. E então depois daquele comunicado de ontem em que só faltou pedir desculpa ao Boavista temo que entremos em campo já a perder. Oxalá me engane...

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    1. Também tenho dificuldades em entender a saída de Bouba Saré. Relativamente aos que cá estão, e estiveram ausentes destes últimos dois jogos, é muito mau – como disse – essas ausências servirem de explicação para alguém. Foram dois maus resultados e, mais do que isso, duas más exibições.
      É uma explicação muito plausível, embora a exibição no Bessa já não tenha sido de encher as medidas. Mas é natural que tudo o que se passou durante e depois do jogo tenha afectado a equipa. Espero que hoje possa ser diferente e possamos dar outro rumo ao campeonato. O comunicado também não foi do meu agrado. Apesar de, em algumas situações o perfil discreto e apaziguador do presidente seja positivo, às vezes consegue sê-lo em demasia. Gostava de ver o Boavista ser tratado com uma mão mais forte porque com gente assim nenhuma cautela é em demasia. Espero que hoje os episódios “sujos” não se repitam!

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