segunda-feira, 1 de agosto de 2016

O ódio está na moda

Destilar ódio, principalmente nas redes sociais e escondidos atrás de um ecrã, está na moda. É trendy. Desconfio que, pelo menos, 85% das publicações nas redes sociais têm um rol de comentários com críticas gratuitas, mal estruturadas e pouco ou nada fundamentadas, cheias de ódio e nascidas da ignorância e mesquinhice das pessoas. A minha táctica é dar à sola (ou ao dedo) e sair da secção de comentários o mais rápido possível. Ignorar é sempre a melhor opção nestes casos porque é literalmente impossível ter uma conversa séria com quem destila ódio só pelo prazer de o fazer, e acredito que assim é na maioria dos casos. Apesar de serem muitos os casos em que isto acontece, são duas as situações que me levaram a escrever este post. 
Uma delas tem-se prolongado pelas últimas semanas. Uma singela aplicação para o telemóvel, chamada Pokémon Go, serviu para dividir, e muito, as opiniões. Entre as pessoas civilizadas há, naturalmente, as que não gostam, as que gostam e as que ignoram - sendo que apresentam argumentos válidos para justificar a posição que tomam ou pura e simplesmente não comentam. Entre as pessoas que não sabem viver de forma civilizada e em sociedade, e há-as em números alarmantes, há o ódio. Ódio contra as pessoas de 40 ou 50 anos que jogam, contra os "jovens fúteis de hoje em dia que só se importam com os telemóveis" e em geral contra todos os utilizadores da aplicação. São automaticamente rotulados de estúpidos, desinteressantes e coisas piores.
A outra situação é mais recente e o ódio atingiu os fãs de Harry Potter que fizeram serão à porta da belíssima Livraria Lello para assistirem a um espectáculo relacionado com a saga e adquirirem o último livro sobre o feiticeiro. Pelo que apurei (e admito que foi muito pouco) algumas pessoas esperaram cerca de 35 horas na fila para conseguir uma boa visão do espectáculo e comprar o livro antes de todos os outros. As caixas de comentários das notícias eram um antro de ódio e julgamentos com base em... nada. Havia quem dissesse que "se fossem as mesmas horas de espera nas urgências todos reclamavam" ou recomendações sempre muito pertinentes como utilizar o tempo em actividades mais úteis, como por exemplo "trabalho voluntário". Há muitos mais, mas eu tenho tendência para captar o ridículo e estes dois comentários foram certamente dos mais sem noção que li. O primeiro comentário demonstra uma inegável ignorância. Em primeiro lugar porque quem vai para as urgências o faz porque há (surpresa, surpresa!) uma urgência, uma situação que precisa de atendimento rápido e eficiente porque há sempre muito em jogo, nomeadamente a vida de quem recorre a esses serviços. Em segundo lugar porque quem espera 35 horas (ou coisa que o valha) para ser atendido nas urgências está no seu pleno direito de reclamar de um serviço público deficiente. A Constituição obriga (!!!!) o Estado a assegurar diferentes serviços públicos que abrangem a prestação de cuidados de saúde. Portanto, se isso está em causa, o cidadão que cumpre com as suas obrigações pode e deve reclamar se tais serviços públicos não se mostram capazes de satisfazer as suas necessidades. O evento sobre o Harry Potter foi um evento cultural, uma actividade de lazer e os espectadores escolheram estar lá, esperaram de livre vontade e não porque estavam a morrer ou porque partiram uma perna. O segundo comentário fica-se pela hipocrisia até porque é bem mais útil fazer trabalho voluntário do que fazer comentários sobre aquilo que se desconhece ou não se entende.
Podem estar a achar que este meu post nasce de fanatismo por uma destas coisas, no entanto não é o caso. Apesar de ter feito download da app há uma ou duas semanas, apanhei apenas um pokémon que se encontrava no meu quarto. Não me cativou e acabei por não abrir mais a aplicação. No entanto entendo que, se jogado com moderação e com cuidado, pode ser engraçado porque "obriga" os jovens a sair de casa e tem uma forte componente cultural pois sinaliza alguns pontos e monumentos importantes nas cidades. Quanto ao Harry Potter, tenho de confessar que nunca tive um interesse real em conhecer a saga portanto não sinto qualquer ligação ao "fenómeno" que são os livros de J.K. Rowling, apenas alguma curiosidade mas que ainda não foi suficiente para me fazer comprá-los. Mas compreendo e apoio a maioria dos eventos que levam as pessoas a ler e todos os eventos com a magia de Hogwarts são um sucesso garantido e cativam muitos jovens para "o mundo encantado" da leitura e dos livros e nisso só vejo resultados positivos.
Se calhar está na hora de algumas pessoas compreenderem que cabe a cada um decidir o que fazer dos seus tempos livres e, em geral, o que fazer das suas vidas. Desde que, no âmbito das actividades que referi ou outras parecidas, sejam pessoas conscientes, com bom-senso, com respeito pelo outro, pela liberdade do outro e pelo ambiente então porque não? Destilar ódio é assim tão divertido? Não me parece. O mundo precisa de mais compreensão e mais amor, muito mais amor!

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