terça-feira, 9 de agosto de 2016

A mais interessante rivalidade

Foto: Ultras de Portugal
O campeonato inicia-se com um dos jogos mais esperados da época a ter lugar na cidade onde nasceu Portugal: o Derby do Minho. É, para mim, a mais interessante e intensa rivalidade em Portugal. Admito que sou suspeita para falar do assunto e para fazer tal afirmação, uma vez que a vivo há muitos anos de forma emocionante nas bancadas, a apoiar e a torcer para ver as minhas cores prevalecerem sobre o adversário. É um jogo com contornos particulares. As emoções fervilham, a tensão é praticamente palpável e as provocações começam dias antes e só param muitos dias depois.

O futebol é uma das muitas expressões desta rivalidade milenar que remonta à fundação de Portugal e à disputa de poder dos condes do Condado Portucalense e dos arcebispos de Braga. Desde essa altura, sensivelmente, começou uma rivalidade sem precedentes que se manifesta nas mais diversas áreas da sociedade: na programação cultural, na política, na economia e até na educação. Os episódios de enorme tensão entre as cidades são muitos e há inclusive relato de muitos episódios violentos. Entre Guimarães e Braga não há consenso nem aquiescência, e em termos desportivos não podia ser diferente. É uma competição contínua que não tira férias e a troca de argumentos não pára.

Será o 132º encontro entre as duas equipas e, no total de todas as competições, os números não apresentam grande diferença. No entanto, a superioridade do Vitória é categórica e indiscutível quando se olha para o histórico de confrontos disputados em Guimarães: em 66 jogos, foi o Vitória que saiu vencedor em mais de 50% dos jogos, com um total de 40 vitórias; foram 15 os jogos em que o marcador não registou diferenças; e o Braga foi feliz apenas 11 vezes. São números que não deixam espaço para discussão sobre o quão difícil é para os adversários, e em particular para os rivais, jogar no inferno branco, com o apoio incondicional e incomparável dos adeptos vitorianos e a força que os mesmos têm no desempenho da equipa.

Nos últimos anos assistimos a um afrouxar do desempenho do Vitória no campeonato e a um crescimento desportivo do Braga. De momento temos um rival com uma estrutura mais organizada e planeada que proporciona plantéis com qualidade para lutar por lugares de relevo no topo da tabela e que tem tentado consolidar uma posição saliente nas competições europeias. Ao contrário de muitas conquistas e vitórias do nosso Vitória, o crescimento dos nossos rivais não assenta maioritariamente no esforço colectivo dos adeptos e habitantes daquela cidade, mas sim na gestão de apenas um homem, António Salvador. Quanto à História, ela é-nos favorável. O Vitória conta com mais presenças na primeira liga e luta pelo topo da tabela há bem mais do que uma década.

Actualmente e em termos desportivos o Braga está mais forte. No entanto não tem (e nunca teve) a base social que o Vitória tem, uma massa associativa sem igual no país e que marca presença de forma incondicional nos jogos do Vitória, que acompanha a equipa para qualquer e todos os estádios entusiasticamente e fielmente numa demonstração de lealdade única e apaixonante. Quanto a infraestruturas é óbvia a supremacia do Vitória. Note-se que no próximo Domingo, o Braga vai defrontar o Vitória no estádio que pertence ao Vitória, é do clube, enquanto que quando o Vitória vai defrontar o Braga fá-lo num estádio camarário.

Guimarães nunca se vergou, dobrou ou curvou perante ninguém. Ainda hoje não o faz e o nome que tem é reconhecido de forma independente e soma, ano após ano, distinções cheias de honra e dignidade. É uma cidade de História e cheia de histórias a cada esquina. Um dos seus símbolos mais importantes e representativos da sua identidade é, sem dúvida, o do nosso Vitória. Guimarães e o Vitória fundem-se. São indissociáveis. Ao peito ostentamos orgulhosamente D. Afonso Henriques que começou a sua conquista a partir daqui. D. Afonso Henriques não se vergou, dobrou ou curvou perante ninguém. Fez os outros ajoelharem-se perante si e a sua grandeza. Guimarães foi construída à sua imagem, assim como o Vitória o foi e assim deverá ser mantido sempre. A nossa identidade de povo lutador e resiliente tem de ser preservada porque é isso que nós somos. É isso que nos torna únicos e inigualáveis. Domingo a "guerra" recomeça e são muitas as batalhas que temos pela frente, com os mais diversos adversários com os mais diversos estatutos, poder monetário e desempenhos. Dentro de campo o estatuto, a história, a época anterior e os discursos não jogam. É o talento, o querer e a vontade de conquistar. A primeira batalha será sob o olhar atento das mais belas muralhas, em casa! Que sejamos capazes de honrar a história desta cidade e deste clube, que possamos restabelecer a ordem natural das coisas: o Vitória a conquistar.

6 comentários :

  1. Concordo genericamente mas não deixo de chamar a atenção para uma coisa ou duas. A primeira é que há em Braga uma nova geração que é apenas braguista,que gostam tanto do Braga como nós do Vitória, e cuja tendência vai intensificar-se nesse sentido. A segunda é que o Braga está a ter sucesso há dez anos com conquistas nacionais (taça e taça da liga) e presenças europeias marcantes. Isso traz adeptos, dá estatuto, faz crescer. A isso nós opomos a Taça de 2013 e um fervor associativo que continua grande mas atenuado por um desânimo crescente nos adeptos. Ao que me dizem este ano nem 6000 lugares anuais foram vendidos até agora. No Vitória falta liderança,mobilização, projecto desportivo e objectivos ambiciosos. A continuarmos assim receio que nos tornemos num clube...banal.

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    1. Os acrescentos que faz no comentário eu podia muito bem ter dito no meu texto porque estou absolutamente de acordo. Sem dúvida que há uma nova geração que gosta e apoia só e apenas o Braga e eu, que não fiz o secundário em Guimarães, já conheci alguns casos e com o sucesso e a ascensão do Braga a tendência é de a base social que têm agora crescer até porque os braguistas fidelizados actualmente fazem questão de passar essa fidelização aos sobrinhos, afilhados e mais tarde aos filhos. O Braga está num bom caminho e como eu referi, tem tido a oportunidade de ter planteis capazes de fazer boas campanhas e de consolidar um estatuto na Europa que lhes dá uma grande credibilidade. Se esses números correspondem à realidade é um problema gravíssimo e que tem de preocupar e alertar os responsáveis a arranjar uma forma de aproximar os adeptos do clube. A forma de o fazer é, obviamente, voltar a fazer do Vitória um clube que amedronte os adversários e que tenha uma qualidade consistentes com presenças na Liga Europa sem tremer (e no futuro, na CL) com boas campanhas nessa(s) competição(ões) assim como ser capaz de disputar os lugares cimeiros da tabela (inclusive lutar pelo título), boas campanhas na Taça de Portugal e, muito importante em Guimarães, equipas com garra e capazes de proporcionar bons espectáculos de futebol aos adeptos. O Vitória está “encalhado” em muitos aspectos, infelizmente. É preciso operar muitas mudanças de forma consciente para que os danos não sejam, um dia destes, irreversíveis. Não podemos continuar deitados, por assim dizer, à sombra da Taça de Portugal que ganhamos e à sombra de uma estabilidade financeira e um passivo reduzido. Já são anos a mais a repetir o mesmo. A minha mãe costuma dizer que o que é demais é como o que não chega.

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  2. Exactamente Raquel. E fico satisfeito por na sua geração haver pessoas com a visão correcta do que deve ser o presente e o futuro do nosso clube. O Vitória é um gigante adormecido que quando acorda abana o desporto português (futebol, voleibol, basquetebol) mas infelizmente tem uma enorme tendência para voltar a adormecer e fazer sonos prolongados. Em 2012 procurei implementar um projecto desportivo com um objectivo a dez anos e metas parciais para irmos cumprindo, que apontavam para no futebol podermos lutar por troféus e títulos e nas modalidades (basquetebol e voleibol) sermos um clube de referência candidato a ganhar sempre as competições em que estivessemos envolvidos. Era um projecto pensado, estruturado,calendarizado e exequível. Infelizmente,para o Vitória, mal eu saí foi atirado para o lixo.

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    1. Apesar do afrouxamento que o Vitória tem vivido, inclusive nas bancadas, acho que felizmente há muita gente que pretende e quer discutir o Vitória. Mesmo que as ideias sejam diferentes, é bom ver que há interesse. Já testemunhamos o que o Vitória pode fazer no e ao futebol português, no entanto acho que o Vitória não teve, nos últimos anos, um líder cheio de ambição. Um líder que, a seguir à Vitória, diga que "isto não chega, é preciso ganhar mais" e isso é um grande problema e é o que eu acho que aconteceu em 2013 no Jamor. Desfrutar dos êxitos é óptimo e muito importante, mas mais do que isso é querer sempre mais. Sem descansar e sem esperar que o próximo troféu nos caia no colo como se fosse obra do divino. Quanto às modalidades, e o que eu vejo é de fora, acho que acabam sempre por andar um bocado ao sabor do vento. Ainda assim têm somado títulos e têm feito bons e fortes campeonatos. No entanto era preciso um projecto mais ambicioso para ganhar ainda mais. Vou ser repetitiva, e espero que não considere um atrevimento da minha parte, mas enquanto sócia gostava muito de ver uma candidatura do Luís em nome próprio. Conheço a paixão que tem pelo Vitória, o bom-senso e a ambição. Infelizmente, e custa-me dizê-lo, o Vitória anda a ficar para trás em vários aspectos. O Vitória precisa de uma liderança activa, e não passiva como tem sido. Não somos esse clube!

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  3. No Vitória não sabem fazer aquilo que é mais fácil que é explorar o sucesso. O Jamor devia ter sido ponto de partida, e não de chegada, criando um clube mais competitivo e mais ambicioso com base numa boa equipa que tínhamos. Como sabe a opção foi vender ao desbarato dando cabo do que devia ser a base do Vitória do futuro. E assim tem sido todos os anos por razões cada vez mais difíceis de entender numa lógica de boa gestão. Mas acredito que é possível mudar o rumo e construir o Vitória com que muitos (acredito que a grande maioria) sonhamos. E eu estarei certamente disponível para contribuir para isso. Tenho o sonho de ouvir o "We Are the Champions" no nosso estádio.

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    1. Infelizmente o resultado de ganhar a Taça de Portugal para a administração do Vitória foi a de relaxar sob a sua sombra. Há sempre uma urgência em vender jogadores sem nunca acreditar neles o suficiente para os fazer ficar e talvez render mais no futuro enquanto estão a ser uma mais-valia para o Vitória. É uma gestão complicada de perceber. O Vitória precisa de muito mais e há muito trabalho a fazer para o devolver ao patamar onde tem obrigatoriamente de estar!

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