terça-feira, 16 de agosto de 2016

Alicerces

Foto: Vitória SC
A melhor forma de começar o campeonato é sempre a de somar os primeiros três pontos, Não só pela razão mais óbvia, que é a de subir para o topo da tabela classificativa, mas também porque motiva e mobiliza os adeptos - e isso tem um resultado positivo imediato nas receitas -, dá confiança e tira pressão aos jogadores e à equipa técnica. Quando o primeiro desafio é o de defrontar o eterno rival, então tudo o que referi anteriormente é amplificado e as repercussões, sejam elas positivas ou negativas, tomam uma dimensão anormal. O fundamental é entender que um jogo não dita, de forma nenhuma, uma época e pode, no máximo, dar algumas indicações sobre o resto da temporada. Essas indicações, se negativas, ainda têm tempo para ser corrigidas. Há uma urgência natural e compreensível para acelerar esse processo, principalmente da parte dos sócios que só querem ver o Vitória onde ele deve estar, mas mais do que a urgência para encontrar soluções é preciso que estas garantam sucesso a longo prazo, que sejam sustentáveis e que, obviamente, sejam uma mais-valia e um complemento necessário à equipa. Nada pode ser deixado ao acaso.

Apesar da intensidade inegável durante os noventa minutos e que é obrigatória num jogo destes, a verdade é que não foi um grande espectáculo de futebol nem foi um jogo particularmente memorável. É natural, afinal raras são as equipas que começam o campeonato na melhor forma, completas e sem aspectos a corrigir. Acredito piamente que o jogo da segunda volta será melhor em termos futebolísticos, dado que as equipas já estão mais entrosadas e com mais ritmo - e naturalmente, espero e acredito num resultado diferente! O resultado, e acho que é unânime, é enganador. Não é injusto, é enganador. A regra mais simples e que não dá margem para interpretação no futebol é a regra fundamental: quem marca mais golos, ganha. Infelizmente o Vitória não soube ser uma equipa eficaz. O resultado capaz de espelhar aquilo que se passou dentro das quatro linhas seria o empate. Era um resultado natural e que não deixava ninguém surpreso. Foi um jogo dividido. Na primeira parte o Vitória mostrou-se mais fragilizado, cabisbaixo e deixou-se dominar pelo adversário mas o cenário inverteu-se ao intervalo. A turma vitoriana entrou em campo com mais confiança, força e vontade de se impor. Conseguiu e dominou o Sporting de Braga, que recuou e continuou com o anti-jogo que começou ainda na primeira parte. No computo geral, foi o Vitória quem terminou o jogo com mais posse de bola mas sem nunca conseguir aproveitar na plenitude esse domínio. A oportunidade mais flagrante surgiu já depois do minuto oitenta, com Soares a bater a bola da linha das grandes penalidades. Costumo dizer que os penaltis bem marcados são aqueles em que a bola passa a linha de fundo. Não foi o caso, a intervenção de Marafona afastou a bola da baliza, mas infelizmente os nossos problemas vão para além de um penalti falhado.

Acredito que os problemas mais fulgentes não constituem uma novidade nem são uma surpresa para quem acompanhou a pré-época. Já falei deles aqui há precisamente duas semanas. O grande problema continua a ser o mesmo: a falta de um meio campo activo e criativo. Durante os noventa minutos foram vários os momentos em que se via apenas relva onde devia estar o nosso meio-campo, um espaço ridículo. O nosso meio-campo neste momento é passivo e posso tornar-me repetitiva mas a verdade é que não há ninguém capaz de pegar na bola e fazer magia ou, no mínimo, para cumprir as suas funções com competência. Outra coisa que me preocupou muito foi ver uma quantidade ridícula de passes falhados quando não há margem para falhar passes dessa forma. Quanto a Ricardo Valente, um dos que menos agradou aos adeptos em geral e de quem eu disse "esperar muito, mas muito mais", parece estar em sub-rendimento. Acredito que tem capacidade para fazer mais do que aquilo que apresentou e continuo a esperar bem mais do que aquilo que vi no passado domingo. Quanto aos melhores, e apesar de considerar que não houve nenhum destaque incrível ou surpreendente, acho que João Pedro voltou a dar boas indicações e Douglas esteve bem, sem grande trabalho, como já nos tinha habituado (também já disse que este é o sector que, a manter os actuais activos, não me dá nenhuma preocupação).

O que falta ao Vitória são alicerces bem assentes e bem definidos para a construção de um projecto desportivo forte. Há políticas que não têm lugar num clube desta dimensão, como por exemplo os empréstimos. Isto, claro, se as ambições estiverem de acordo com a história e mística que caracterizaram e caracterizam o nosso símbolo. Não há mal em ter um ou outro emprestado (preferencialmente de clubes estrangeiros), no entanto não é sustentável ter meia equipa de emprestados e ainda por cima de clubes portugueses. Não me agrada por uma miríade de razões. Algumas delas não preciso sequer de explicar porque já são mais do que evidentes. Nota-se que tentar ter uma equipa nova todas as épocas não dá resultado, nota-se que ter emprestados é prejudicial mesmo a curto prazo porque não os temos disponíveis para jogar frente a certas equipas (e geralmente são equipas difíceis), nota-se que é mau em termos de receitas - o jogador não é nosso, não o podemos vender. A única vantagem que consigo encontrar é a de que somos nós quem colhe os frutos do rendimento imediato do jogador. Mas será sensato pensar apenas no presente? Esperar que resulte por agora e logo se pensa no futuro? Não é sensato, não é sustentável, não é a chave do sucesso. Se não acreditam no que escrevo, as últimas épocas não enganam. E eu gostava que fosse diferente. Houve e há outros problemas. No entanto não pensar no futuro, no amanhã, na próxima época é um dos maiores problemas. Onde queremos estar daqui a dez anos? Eu sei onde quero ver o Vitória. Quero vê-lo no topo da liga portuguesa e com presenças regulares na Liga Europa e quiçá na Champions League. Já são épocas a mais encalhados num sítio qualquer que não conhecemos, com o qual nos identificamos e onde navegamos conforme a maré e sem rumo. Precisamos de construir, pensar no amanhã, nos próximos 10 anos e nos próximos 20. Precisamos de alicerces. Acima de tudo precisamos do nosso Vitória, o nosso grandioso Vitória de uma vez por todas!

Fala-se muito de sorte e azar. Eu não acredito nisso. Não podemos esperar pela sorte para ganhar um jogo e ter sucesso na liga portuguesa e na Europa (bem, e no resto do mundo... Porque não?). Sorte e sucesso não combinam. Não acredito na sorte, não acredito que alguém tenha sucesso por causa da sorte, não acredito que a vitória depende da sorte, não acredito em esperar pela sorte. Sorte pode ser a bola sair pela linha lateral em vez de sair pela linha final e não dar canto. Sorte não ganha jogos. A sorte não é um alicerce. A sorte não pode ser parte do plano. Às vezes questiono-me se não é isso que muitos esperam, principalmente quando não vejo um plano bem delineado. Ainda temos oportunidade de ir ao mercado e conseguir fazer os ajustes necessários. Precisamos, mais do que nunca, de uma liderança forte e segura que tenha ambição de melhorar a vertente desportiva do Vitória. Posso estar a ser dramática, mas acredito que seja uma época decisiva em muitos aspectos. Precisamos de recuperar o caminho perdido. Precisamos de evoluir e crescer em muitos aspectos. 

Pode parecer um cliché mas a verdade é que não importa como começa, mas sim como acaba. O futuro é nosso e somos nós que o construímos. O nosso pode ser incrível. A época é nova, o amor é o de sempre. As bancadas não mentem. Uma vez mais os vitorianos marcaram presença e deram vida ao estádio. Incansavelmente, como todos os dias. Sem deixar margens para dúvida sobre quem são realmente os grandes. Espero que esta época possamos ter uma equipa capaz de acompanhar a grandiosidade e o espectáculo nas bancadas e que este espectáculo não seja um acaso. Que seja sempre assim, o estádio que eu conheci cheio de família e de familiaridade, as caras de sempre, o amor que não acaba, as vozes em uníssono, o símbolo ao peito e os cachecóis com vontade de tocar no céu. Ser do Vitória é uma declaração de amor. Não só ao nosso clube, mas a Guimarães e ao futebol em geral. Nas bancadas ganhamos. Ganhamos sempre. Precisamos de ter em campo uma equipa que nos acompanhe. Quando for essa a nossa realidade, vamos ser imbatíveis.

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