quinta-feira, 3 de setembro de 2015

O (nosso) Vitória não é deles

Já não falo do Vitória aqui no blogue à muito tempo. Não porque gosto menos do Vitória ou sou menos vitoriana. Só por falta de oportunidade e porque falar do Vitória nem sempre é fácil, pela simples razão de que o facto de ser um assunto tão pessoal para mim ser fácil perder o objectivismo daquilo que pretendo dizer e falar mais com o coração do que com a razão. Se calhar sou demasiado apaixonada. Não é um defeito, longe disso. Se todos os adeptos gostassem tanto do seu clube como eu gosto do meu Vitória podem ter a certeza de que o futebol era uma coisa muito melhor e mais bonita.
Por já não escrever aqui à séculos já perdi o timing para falar de algumas coisas importantes. Podia ter expressado a minha opinião sobre a contratação de Armando Evangelista, podia ter falado sobre a segunda metade da época passada. Não falei sobre nada disso. Mas continuam a haver assuntos importantes a abordar.
Quando Rui Vitória saiu para o Benfica fiquei triste, gostava do projecto que o Vitória estava a levar a cabo, a aposta em jogadores jovens de nacionalidade portuguesa. Sempre gostei da forma como liderava a equipa, a forma como aproveitava o melhor dos jogadores e a classe que sempre teve. Como é óbvio gostei muito da conquista da Taça de Portugal. Desnecessário será dizer que o legado que deixava não era fácil, era um lugar muito difícil de preencher. Não só para mim, estou em crer. 
Quando anunciaram a contratação de Armando Evangelista fiquei dividida, não sabia muito bem se era uma boa ou uma má notícia. Dei-lhe o benefício da dúvida, achei que apesar da falta de experiência podia ser uma boa aposta para dar continuidade ao projecto que Rui Vitória tinha iniciado. Se alguém conhecia bem a equipa B e sabia quem estava mais capacitado para ascender à equipa principal seria ele, que estava no comando da equipa B na época anterior. Preferi esperar para ver antes de tecer qualquer opinião.
Esperei e vi. Da pré-época só vi o jogo contra o Fenerbahçe, em Istambul. Não foi um resultado minimamente positivo e o Vitória não apresentou um futebol fascinante. Continuei a dar o benefício da dúvida, era o início e a equipa ainda se estava a entrosar e a conhecer. Tinham saído jogadores importantes, então compreendi. Sempre na expectativa de que o Vitória só iria melhorar a partir daí e que os resultados e o bom futebol iam aparecer. 
Antes de avançar, convém dizer que na pré-época o Vitória defrontou adversários tecnicamente mais fracos. Adversários mais fracos do que aqueles que o Vitória ia enfrentar. O que estou a tentar dizer é que acho que a pré-época devia ter sido melhor preparada e (com todo o respeito pelos adversários que o Vitória defrontou) devia ter sido preenchida com equipas mais desafiadoras e com mais capacidades, de forma a ver verdadeiramente como estava o Vitória e o que faltava ao plantel. Apesar disto os resultados não foram espectaculares e o Vitória chegou inclusive a perder 3-0 com o Chaves.
Depois veio o sorteio para a pré-eliminatória da Liga Europa, calhou-nos o Altach da Áustria. Era uma equipa que eu desconhecia, nunca tinha ouvido falar deles antes. Depois de fazer o meu trabalho de casa fiquei satisfeita. Fiquei com a ideia de que era uma equipa acessível ao Vitória e acreditei piamente que o Vitória ia ultrapassar este obstáculo com relativa facilidade e com todo o respeito pelo adversário. O Altach é um clube que, apesar de ter ficado em 3º lugar da tabela classificativa, andava pela segunda divisão e fazia a sua primeira participação europeia. Ditou o sorteio que a primeira mão fosse jogada na Áustria. Muito bem, prefiro assim. O jogo não ia ser na casa do Altach, ia ser num estádio emprestado a mais de 100km do seu estádio. Melhor ainda, assim não jogam no seu terreno, não têm a vantagem do factor casa e estão quase tão desconfortáveis como nós. Não foi fácil. Apesar de o Altach não praticar um futebol espectacular nem nada parecido e de se notar que não tinha um plantel cheio de qualidade individual, o Vitória perdeu. Continuei a acreditar. Que atire a primeira pedra quem não comete deslizes. Depositei a minha fé na segunda mão. Afinal, íamos jogar na nossa casa com uma boa casa, com os nossos adeptos em peso. Mais uma vez, estava enganada. Completamente enganada. Fomos goleados em casa por uma equipa que é claramente inferior à maioria das equipas do nosso campeonato. No entanto, uma equipa que luta e se esforça e que, juntos, conseguiram o apuramento. Merecido! No final restou aplaudir-me os adversários porque o respeito e o fair-play é uma coisa bastante bonita, apesar de alguém "ter a certeza de que íamos passar".
O inicio do campeonato não foi melhor. Primeiro fomos ao Dragão. Estou consciente de que não é um estádio onde é fácil jogar, contra uma equipa que é sempre candidata ao título e que está recheada de bons jogadores. No entanto não é inacessível ou impossível lá ganhar, não jogamos contra um colossal Porto. Isso foi notório quando o Vitória conseguiu superiorizar-se ligeiramente no início da segunda parte. No entanto, não conseguiu aproveitar as oportunidades que ia tendo e cometeu alguns erros. Coisa que o Porto não fez, conseguiu aproveitar bem as suas oportunidades e acabou por conseguir um resultado expressivo.
Depois tivemos o Belenenses. O Belenenses a quem também tinha calhado o Altach nas competições europeias, e o Belenenses que conseguiu uma vitória na Áustria. O resultado foi um empate e o Vitória perdeu dois pontos. Era um jogo importante para a equipa e para os adeptos. Depois da eliminação da Europa e da derrota no dragão, precisávamos de uma vitória para serenar o ambiente e para dar confiança à equipa. Infelizmente não foi assim, e o resultado correspondeu àquilo que se viu em campo. Foi para estar de acordo com o tempo, um Agosto com sabor a Janeiro.
A terceira jornada ditou-nos uma viagem à Madeira, para disputar o recém-chegado União da Madeira. O União ainda só tinha jogado com os seus "vizinhos": somava uma vitória em casa contra o Marítimo e uma derrota com o Nacional. No total tinham 3 pontos e o Vitória apenas 1. Nada que me preocupasse muito, afinal o líder do campeonato era o... Arouca. Achei que agora é que era e que agora é que o campeonato ia começar para nós. Acabei por ficar desiludida. Futebol pobre, sem ideias, sem nada novo. O resultado foi mais um empate. Desta vez olhei para as coisas de outra perspectiva: se calhar não foram 2 pontos perdidos, foi 1 ponto ganho.
Agora vamos ao cerne da questão, aliás, ao cerne deste post. Se no início da época dei o benefício da dúvida a Armando Evangelista, agora acho que foi uma péssima aposta da direcção. Talvez fosse o caminho mais natural, subir alguém que já estava por dentro do projecto e talvez fosse também o caminho mais fácil e mais "barato". O problema é que o caminho mais fácil nem sempre é o melhor. Hoje digo que o AE não é treinador para o Vitória. Não agora! Talvez seja daqui a uns anos, quando ganhar estofo e experiência para ser treinador. Ao contrário do que muitos possam pensar, ser treinador não se limita a escolher o melhor onze e a melhor técnica para pôr dentro das quatro linhas. Não, longe disso. Ser treinador é ter mais para além disso. É saber motivar a equipa, porque afinal são um conjunto de seres humanos e saber espremer o melhor de cada um deles. É dar a cara quando as coisas correm mal. Armando Evangelista não o faz, não o sabe fazer. No jogo contra o Altach foi o primeiro a abandonar o relvado, não quis esperar pelos seus jogadores. O seu discurso é pobre e é cobarde. Antes da segunda mão do jogo contra o Altach afirmou que tinha a certeza de que íamos passar. Revelou arrogância e falta de respeito pelo adversário. Desde aí as suas declarações não variam muito: usa a carda dos adeptos. Repete de vinte formas diferentes que nós somos uma massa associativa muito especial e que somos únicos. Caro Armando, não precisas de dizer porque isso nós já sabemos. Muito obrigada! Para além da carta dos adeptos, também decidiu dizer que "os jogadores estão com problemas psicológicos". Só uma pergunta, serão mesmo os jogadores Sr. Armando?
Há uma célebre frase americana que já foi mote para um ou outro filme. Fake it until you make it. Não vou traduzir literalmente a frase, vou antes dizer que é uma atitude que se adopta quando se quer alcançar alguma coisa. Por exemplo, mesmo que tenhamos pouca confiança, se agirmos como se fossemos pessoas muito confiantes vamos acabar por ser. Obviamente que há limites e não se pode adoptá-la literalmente, de forma a prejudicar-nos ou a prejudicar outros. Mas a ideia está lá: fake it until you make it. Este início de parágrafo já parece outro post mas não é, tem um propósito. Vou só acabar o meu raciocínio. Para além desta frase americana muito célebre, podemos também falar da lei da atracção. A lei da atracção é uma energia que, para ser trabalhada, se desenvolve em quatro passos: temos de saber o que queremos, temos de pensar nisso com frequência, temos de sentir e comportar como se o nosso desejo já estivesse satisfeito e estar pronto para o receber. De forma geral, se evitarmos os pensamentos negativos o universo manifesta-se a nosso favor. Não concordo totalmente com isto, mas concordo em parte. Porquê esta conversa toda? Ontem, Júlio Mendes deu a entender que o objectivo do Vitória era a manutenção, nem que fosse um ponto acima da linha de água. É isto que é o Vitória? Um clube que tem como objectivo manter a manutenção? O Vitória nunca foi isso, o Vitória sempre foi um clube que lutou por mais. Não vai à muito tempo que ouvi o mesmo Júlio Mendes dizer que o seu objectivo era levar o Vitória à Champions League. E assim de repente o objectivo é só a manutenção? Não consigo entender. 
No início da época Júlio Mendes realmente afirmou que queria "uma época tranquila". Não sei o que vocês querem, mas eu vejo como épocas tranquilas as que fazem a Académica ou o Arouca. Com todo o respeito, mais uma vez, não é esse o tipo de épocas que o Vitória deve ter em mente. O Vitória sempre lutou pelos melhores lugares, pelo acesso à Liga Europa e até mesmo à Champions. Porque não? Por isso, não gosto quando alguém faz do Vitória aquilo que ele não é. O Vitória não é "frágil", não é um coitadinho a quem ninguém quer pegar. Treinar o Vitória é, e sempre foi, uma honra e uma responsabilidade. Por muitos problemas financeiros que tenha é um clube, e sempre foi, com prestígio e com nome. Por isso mesmo, eu tenho as minhas dúvidas quando dizem que ninguém queria vir para o Vitória.
Sou totalmente a favor da aposta num crescimento sustentável. E regredir não é crescimento. Por isso, lutar pela manutenção não é crescimento. Por ser a favor da aposta num crescimento sustentável, fui sempre apoiante desta direcção que sempre me pareceu ter bom senso e saber aquilo que faz. Não fui, no entanto, apoiante da SAD. Nunca quis que o Vitória aderisse à SAD. Não sou é desprovida de opinião e de pensamento próprio e portanto não concordo com tudo aquilo que a direcção faz e/ou diz. Não gosto deste discurso derrotista. Não gosto deste discurso que nos faz parecer frágeis e delicados. Não é isso que o Vitória é. O que acho é que a direcção deve admitir agora, antes que seja demasiado tarde, que fez uma má escolha. O Vitória precisa de mudar de treinador porque já todos vimos o campeonato sofrível que vamos ter pela frente se continuarmos com o Armando Evangelista ao comando da equipa principal. Do que já vi e já li, alguns adeptos sugerem Sérgio Conceição e o que eu tenho a dizer é que não, nem sequer deve ser uma opção considerável. É um homem de baixo carácter e que já atacou inúmeras vezes o Vitória. Nem sequer consigo identificar o ADN vitoriano em nada daquilo que ele fez até agora. Paulo Bento? Talvez, parece-me uma opção. Apesar de me parecer uma opção eu tenho sérias dúvidas de que alguma coisa vá ser alterada, principalmente depois das declarações de ontem em que Júlio Mendes se afirmou orgulhoso em ter dois treinadores vimaranenses e vitorianos. Parece-me, assim só como quem não quer a coisa, que é preciso mais do que isso para ser treinador do Vitória. No entanto, se virem que é o único requisito podem contactar-me... ao menos fazemos história com a primeira treinadora feminina aos comandos de um clube da Primeira Divisão. E agora estou como o Tirica... pior do que está não fica!
Para terminar, e porque já escrevi mais do que aquilo que planeava e que vocês vão ler, quero só responder a quem tem dúvidas de que o Vitória é nosso. Não consigo perceber o que o leva a ter dúvidas, mas sim, o Vitória é nosso. É nosso e há-de ser! Podem, por vezes, querer tirar o Vitória de nós. Só que não conseguem. O ADN vitoriano é nosso, o amor é nosso, a paixão é nossa. E isso ninguém nos tira. O Vitória não é tachos e tachinhos. Nunca foi. Não é agora que alguém vai fazer do Vitória isso. Se é vitoriano como tanto afirma, siga o meu conselho e peça a demissão. Já está na hora, não acha?
Esta situação preocupa-me e acredito que preocupe alguns vitorianos. Não podemos é baixar agora os braços e adoptar a atitude de que "enquanto tiverem este treinador não pago as quotas" ou "enquanto o Vitória estiver assim não vou ao estádio". Se calhar, mais do que nunca é preciso ir ao estádio e pagar as quotas. Mais do que nunca é preciso a união de todos os adeptos para que eles percebam que o Vitória não é deles, mas é nosso. Se precisamos de protestar? Sim, precisamos. De forma ordeira e nas nossas cadeiras. O Vitória é, sempre foi e sempre será, maior e melhor do que aquilo que querem fazer dele.

4 comentários :

  1. Raquel subscrevo totalmente o seu texto.
    Creio que interpretou na perfeição a forma de pensar da esmagadora maioria dos vitorianos.
    Que foram do benefício da dúvida à mais completa desilusão.
    Não discuto nomes para futuro treinador porque Evangelista sendo um problema está longe de ser "o problema".
    E nada nos garante quem quem o escolheu saiba escolher melhor o sucessor.
    Para além de haver outros problemas importantes, e preocupantes, que nada tem a ver com o treinador.
    Transferências, empréstimos, negócios que ninguém consegue entender.
    Uma coisa é certa: O Vitória é nosso. Dos vitorianos. E quem pensa o contrário ou se acha "dono disto tudo" vai ter uma enorme desilusão.
    Mais depressa do que se pensa

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  2. No início fiquei mesmo sem saber se era uma boa ou má aposta. Fiquei muito dividida, mas com o tempo as coisas acabaram por ficar bem claras.
    Eu sou da opinião de que as contas deviam ser todas transparentes. Lembro-me de ler em algum sítio que a SAD não é obrigada a revelar o valor das vendas dos jogadores, a não ser que exceda os 5 milhões de euros. Não sei até que ponto isso é verdade. Mas gostava mesmo de ver tudo transparente para os adeptos. Afinal, quem não deve também não teme. Relativamente aos empréstimos, sinto sempre que nos fazem de clube satélite. Estão aqui para ficar com quilómetros nas pernas, para ganharem experiência e estofo e pouco ou nada aproveitamos. E geralmente mandam-nos os mancos. É pena.
    Espero que o Vitória conheça melhores dias. Há mais problemas para além do treinador, concordo que sim. Mas tem de se começar por algum lado, e mudar de treinador parece-me um bom começo. Infelizmente, não me parece que as coisas se alterem com tanta facilidade.

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  3. Não estando cotado em Bolsa essa obrigação legal não existe.
    Podia existir,isso sim, uma obrigação moral e ética.
    Mas quanto a isso estamos conversados...

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    1. Era muito bom que a transparência fosse, não só no futebol como noutras áreas, obrigatória. Não o sendo, para regozijo de alguns, é de lamentar que não haja o bom senso de mostrar as coisas tal e qual elas são.

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