sábado, 5 de setembro de 2015

Só uma coisinha que me está a fazer espécie

Acabei de ver um vídeo de um cantor chamado Marcio Conforti em que este, muitíssimo zangado, dizia que Portugal devia preocupar-se com os seus próprios problemas antes de querer acolher migrantes. Aliás, ele diz muita coisa e eu reservo-me o direito de opinião. Convém ressalvar que nada tenho contra o cantor, tanto é que não o conhecia antes. Pura e simplesmente discordo da sua opinião neste assunto.
A sua opinião é a de que nós, Portugal, temos de "arrumar a casa" primeiro e só depois ajudar os outros. Toda a gente sabe que Portugal tem problemas. A Grécia tem problemas. A Espanha tem problemas. A Europa tem problemas. Isso significa que não podemos ajudar os outros até resolver todos os nossos problemas? Hmm, não me parece que isso faça muito sentido porque dessa forma ninguém pode ajudar ninguém e vivemos num mundo em que é cada um por si e a palavra solidariedade é só mais uma palavra para encher as páginas no dicionário.
Depois diz que "esta palhaçada está virando o Brasil" e que "o Brasil se acabou por causa desta palhaçada" porque só "jogaram lixos para lá". Ora bem, antes de mais é necessário frisar que a pessoa em questão é brasileira... e está a viver em Portugal. Então, o senhor pode vir mas os outros migrantes não? São menores do que o senhor por serem refugiados? São menores do que o senhor porque não têm mais nada do que aquilo que têm vestido? A mim parece-me hipocrisia. Se acha que o mal do Brasil é fruto do multi-culturalismo então não entendo o que está a fazer em Portugal. Certamente que de entre os muitos refugiados que vêm para Portugal, haverá pessoas de má índole mas há sempre esse tipo de pessoas e podem ser encontrados em qualquer lado, independentemente do sítio de onde vêm, da sua classe social ou da sua faixa etária. Por essa lógica, devíamos atirar ao mar toda a gente de má índole em Portugal. É assim que funcionam as coisas? Desconhecia tal método.
Depois há a sugestão: "cada um fica nos seus países e vamos doar". A migração não precisa de uma resposta urgente para ser solucionada, não. Temos tempo para resolver "a coisa" com donativos e com burocracias até porque os donativos feitos até agora já resolveram tudo, todos os problemas do mundo.
De facto não entendo esta reacção, principalmente quando vem de uma pessoa que vive num país que não é o seu. Acolher estes refugiados é de extrema necessidade. E o problema do Brasil não é as pessoas de outras culturas e outras nacionalidades, não, não é. O problema do Brasil é não saber gerir aquilo que tem. O problema do Brasil é gastar milhões de euros num estádio de futebol e não ter um sistema de saúde e infraestruturas capazes de dar resposta aos problemas dos brasileiros. Esse é o problema do Brasil! Como é óbvio os migrantes têm de ser integrados na sociedade e é necessário que haja um plano coerente e sustentável para o fazer e é até compreensível que tenham alguns benefícios no início, até porque eles chegam sem NADA!
Com isto não quero invalidar os problemas dos portugueses nem a crise das famílias portuguesas. Tenho plena noção que há pessoas que passam por sérias dificuldades e que há pessoas sem uma casa e sem comida na mesa no final do dia. Isso é triste, claro que sim. Aperta-me o coração, faz doer cada osso do meu esqueleto. No entanto não podemos descontar isso nos migrantes, porque eles não têm culpa. Talvez seja mais sensato descarregar nos nossos líderes, em quem ganha 10000€ por mês e não sabe se chegará para as despesas. Os problemas de Portugal são graves e são prioritários, mas esta crise migratória é urgente, é a humanidade. E nós nunca seremos lixo ou inferior por sermos solidários com o próximo. Não deixem a humanidade afogar-se, somos todos um!

P.S.: Só uma pergunta... onde estavam estes indignados antes? Ou só se lembraram que há sem-abrigo e pessoas com dificuldades em Portugal agora? Parece-me que talvez os hipócritas e exibicionistas sejam vocês, que não são nada mais nem menos do que pseudo-nacionalistas. Só se lembram do que se passa cá dentro quando os outros pedem pela nossa ajuda. Pensem maior do que isso, sejam mais do que isso. Talvez se um dia se virem obrigados a deixar a vossa pátria para fugir da morte e do terror, com uma ou duas crianças ao colo, que são os vossos filhos, pensem duas vezes em querer ver portas abertas para vos receber ou não. Mais uma vez digo... as palavras ficam para quem as profere.

1 comentário :

  1. Muito obrigada Raqui! Sabes que o sentimento é mútuo, e desejo-te a maior das sortes em tudo! Muitos parabéns para ti também, já soube que entraste na UM! :)
    Fico à espera da visita!
    Beijinho*

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