terça-feira, 25 de agosto de 2015

Vá, agora desenrasca-te Raquel


É, a foto é da Escola de Direito da Universidade de Yale. Para onde eu não vou estudar. A foto é só mesmo para captar a vossa atenção. Bem, é indicadora de outras coisas. Para começar é para vos deixar mais cultos e vos informar de que é, actualmente, a melhor escola de Direito do mundo. Eu sempre fui mais fã de Harvard, mas Yale servia. É também para dizer que daqui vos escreve uma futura estudante de Direito da Universidade do Minho, ou então de Marketing. Talvez seja na Universidade do Porto ou de Lisboa. Talvez seja uma futura estudante de Ciências da Comunicação. Foram essas as minhas opções, os resultados só os sei para o próximo mês. Tudo a seu tempo, certo? Certo.

Estou a encher chouriços desde que comecei o post. O costume. Pôr as coisas no papel, ou no teclado, é sempre complicado. Sobre este assunto tenho mil coisas para dizer e a minha cabeça está em tamanha desarrumação que tenho receio de que este post seja um emaranhado de pensamentos sem conexão. Vou tentar que isso não aconteça. No fim (se me acompanharem até lá), gostava sinceramente que partilhassem as vossas experiências académicas comigo e as vossas escolhas e, claro, as vossas opiniões. Afinal é para isso que aqui estamos, para partilhar experiências e opiniões e para as discutir. Isto dava para ser o início de post mais sério que este blogue já conheceu. 

Desde que entrei para a escola que nunca fui dada a estudar. Acho que não estudei a sério mais do que meia dúzia de vezes. O resto das vezes abria os livros e cadernos e fingia que estudava para não me culpar por não estudar (desculpa mãe). No entanto nunca fui má aluna, de todo.

Na escola primária sempre fui muito calada e quieta, como a minha mãe gosta de referir eu "não partia um prato". Sempre fiz parte do grupo que tinha as notas mais altas e nunca estive em risco de chumbar. Nessa altura queria ser cabeleireira e designer de moda (quero eu dizer, "estilista"), em simultâneo. Há-de lá perceber-se a cabeça das crianças... Continuando, o que mais me lembro é de que a minha professora reclamava das minhas composições que geralmente constavam de três ou quatro linhas e diziam pouco. Para além de fazer parte do grupo que tinha as notas mais altas, fazia parte do grupo que nunca fazia os trabalhos de casa ou fazia-os em cima do joelho a 5 minutos do toque de entrada (infelizmente, este vício acompanhou-me até ao fim do secundário). Eu simplesmente não queria saber da escola, ingenuamente eu pensava que não precisava de nada daquilo para atingir as minhas metas. Apesar de ser uma pequena rebelde contida (eu não fazia os trabalhos de casa mas eu sempre tive um óptimo comportamento), fui receber o prémio de melhor aluna ao Museu Martins Sarmento no 4º ano de escolaridade. É o meu maior feito até à data e vou vangloriar-me disto até ao fim dos meus dias, desculpem-me lá! Humildemente quero fazer uma comparação. Eu era o Messi, estão a perceber? Eu não precisava de me esforçar para ter os melhores resultados, era natural para mim. O prémio que recebi no Martins Sarmento foi a minha Bola de Ouro.

Depois transitei para o 5º ano. Mudei de escola. Uma escola maior, com muitos mais alunos, não tinha oportunidade de ir almoçar a casa, não levava amigos da outra escola apesar de conhecer a maioria dos alunos da minha turma, que eram aqueles que estavam na primária comigo. Fiquei tremendamente assustada e cheia de medo. Não queria ir. Já desde esse tempo que tenho uma espécie de fobia social que me faz ter medo do desconhecido, principalmente de pessoas desconhecidas. Lembro-me perfeitamente da minha inquietação no primeiro dia, só descansei quando a minha mãe me garantiu que me ia buscar ao meio-dia e me levava a almoçar com ela. Ainda muito receosa fui à minha vida sozinha. Continuei a ter boas notas a tudo sem o mínimo esforço. Não era aluna de ter um 5 a tudo, mas tinha bastantes 4 e alguns 3. Foi por volta do sexto ano que eu comecei a pender mais para letras, geografia e história do que para as ciências e matemática. Foi também nessa altura que descobri o meu gosto pela leitura e, mais tarde, por escrever. Surgiu naturalmente. Tornei-me ávida por coisas novas, informações novas. Tentava ler desde revistas a livros que me iam aparecendo. Não faço a mínima ideia de qual foi o primeiro livro que li mas no sétimo ano fiz três trabalhos para Português sobre três livros do Nicholas Sparks. Na altura era o meu autor favorito e achava que os livros dele eram espectaculares. Assim como os da Margarida Rebelo Pinto. Quis ser como eles, escrever como eles. Essa fase felizmente passou quando pus as minhas mãos no primeiro clássico, mas é outra história para outra altura. Quis ser escritora e jornalista. Como já referi, comecei a notar a minha tendência para as áreas de humanidades. Inconscientemente fui desligando de Físico-Química e Matemática. Hoje percebo o tão mau que isso é porque sei que não possuo muitas bases de matemática e percebo o quão limitador e desmotivante isso pode ser.

Decidi mudar de escola no final do 7º ano. Não gostava do ambiente da escola onde estava, não tinha amizades nenhumas e sentia-me cansada daquilo e de ver sempre as mesmas coisas e as mesmas pessoas. Foi uma atitude muito radical para mim, mas enfrentei-a de modo diferente da transição para o 5º ano. Não chorei nem pedi à minha mãe para me ir buscar para almoçar. Fui com um frio na barriga mas convicta de que me ia dar melhor. Mudei-me para uma escola secundária mas que também tinha turmas a partir do 7º ano. A única pessoa que conhecia frequentava o 12º ano, por isso foi ela que me ajudou no que precisei. Quando tínhamos aulas à mesma hora eu estava muitas vezes com ela porque não conhecia ninguém da minha turma e sempre foi muito complicado para mim interagir com as outras pessoas. Acabei por me entrosar com alguma facilidade. Pelo que me dizem, muito em parte porque gostava de futebol e sou do Vitória. Em três meses criei laços com algumas pessoas como não tinha criado nos 7 anos anteriores que tinha passado sempre com os mesmos colegas. Relativamente às notas, eram boas mas não brilhantes e continuava a destacar-me nas áreas de línguas e humanidades. Por isso, a escolha foi muito natural quando terminei o 9º ano. Só podia (e só queria) ir para Línguas e Humanidades.

Metade da turma de 9º ano tinha transitado comigo para o 10º ano e tinha escolhido o mesmo curso. A outra metade era de pessoas que eu não conhecia. Apesar de não terem saído muitas pessoas do meu quotidiano, cortei os laços que tinha e passei a dar-me com outras pessoas ainda sem achar que aquilo que nos unia era amizade. Porque não era, eram colegas com quem eu forçosamente partilhava o meu dia-a-dia. As minhas notas melhoraram, continuei a ter das melhores notas da turma. Continuei sem estudar. Lembro-me de que quando vi as disciplinas que tinha fiquei muito assustada com Matemática Aplicada às Ciências Sociais. Assustou-me porque tinha escrito "matemática". E eu só pensei: isto vai-me estragar a vida. Surpreendendo-me a mim mesma, no 10º ano tive boas notas a MACS, sem serem brilhantes. Situavam-se sempre entre os 12 e os 14, pelo que me lembro. Nessa altura detestava trabalhos de grupo, porque o meu grupo nunca prestava. A minha média de 10º ano foi a mais fraca dos três anos, mas ainda assim foi das melhores. No 11º ano as coisas não correram muito bem, eu deixei de me interessar por MACS e tive algumas notas vergonhosas. As restantes disciplinas correram bem, tanto é que deu para compensar essa vergonha que e subir ligeiramente a minha média. Foi também no 11º ano que tive a incrível experiência de viajar até Istambul através do programa Comenius, por isso houve uma altura em que o cansaço já era enorme mas em que me consegui motivar precisamente porque fui à Turquia e conheci gente nova, uma cultura nova, uma escola nova e me enriqueci imenso a todos os níveis. Apesar de ser um ano em que tinha exames, continuei sem estudar. Para os exames estudei na noite anterior. A nota de Geografia foi boa, a de MACS foi... aceitável. Comecei a consolidar alguns laços que tinha criado, conheci melhor pessoas que não esperava e gostei de as conhecer e percebi que afinal até partilhava o meu dia-a-dia com pessoas interessantes e que valiam a pena conhecer. O 12º ano foi o melhor ano de todos a todos os níveis. Os laços e as frágeis amizades que levava do 11º ano transformaram-se em amizades muito sólidas e que eu sei que vou guardar sempre comigo, por muito cliché que isto seja. Conheci e passei a dar-me com pessoas que todos os dias me estimulavam, me motivavam, me inspiravam. Comecei a aperceber-me mais ou menos daquilo que eu queria. Passei a gostar de ir às aulas quase todos os dias. E comecei a pensar "caramba, isto já está tudo a acabar, passou tudo tão rápido, vou deixar de ver estas caras e deixar de ter estas presenças tão regulares e de que tanto aprendi a gostar". As notas foram melhores, continuava sem estudar muito mas já começava a criar esse hábito. Tinha muito medo dos exames porque pela primeira vez agrupavam matéria dos três anos do secundário. Sentia-me cheia de dificuldades a português. Por decisão decidi ir a poucas aulas de apoio e tentar estudar em casa o máximo que conseguisse. Não estudei nem metade do que queria e planeei. Acho que o que absorvi mais foi o que estudei no dia anterior aos exames. Fiquei muito surpreendida quando fui ver as notas porque não era o que esperava: tinha tido 16 nos dois e esperava um 10 (a minha auto-confiança sempre foi brutal). Comecei a gostar de trabalhos de grupo porque tinha um grupo espectacular, que alinhava em ideias pouco usuais e que se fosse preciso se juntava ao domingo ou ao sábado de manhã, que enquanto eu tratava da última parte do trabalho ficava no Skype comigo até eu acabar (nem que isso fosse às 5 da manhã e as aulas começassem às 8:20). Destes trabalhos de grupo, um deles tem a capa de um álbum dos Muse (era sobre o cérebro) e outro foi feito a partir vídeos em jeito de entrevista. E isto foi o resultado de um trabalho em grupo e não do meu trabalho. E é estas pessoas e estas memórias que construí durante este último ano que estou mais grata e é, sem dúvida, o melhor de todo o meu percurso escolar.

Deixando os sentimentalismos de parte, o 12º ano também foi um ano de tremendo stress. A carga de trabalhos aumentou e a sensação de que uma decisão teria de ser tomada em breve contribuiu para isso. Fiquei muito indecisa até ao momento de submeter a candidatura. Ao longo destes três anos as minhas três opções não se alteraram, só a sua ordem. Ou seja, sempre quis Ciências da Comunicação, Direito ou Psicologia. Desde que descobri que gostava de escrever que Ciências da Comunicação se afigurou como a escolha mais provável. E no 10º ano, era essa a minha primeira opção, seguindo-se Psicologia e Direito. No 11º ano não fazia a mínima ideia da ordem que estas três áreas ocupavam. Quando comecei o 12º ano a minha tendência para ir para Direito aumentou. Foi nessa altura que passei a procurar informações sobre os cursos e as instituições de ensino. Algures no meu quarto há umas quantas folhas de notas, que são o resultado dessa pesquisa. Apercebi-me que Ciências da Comunicação não era o curso que idealizava nem o curso mais indicado para quem pretende ser jornalista. Então foi ficando de lado. A ideia do Direito começou a consolidar-se. Passou a ser a minha escolha principal por tudo o que conheço do curso e pelas saídas profissionais que apresenta. Se Portugal está cheio de licenciados em Direito? Sim, entupido mas o mercado é demasiado imprevisível para fazer uma escolha baseada nisso mesmo. Acho que a escolha do curso deve assentar em dois pilares, sendo que um deles é mais fundamental que outro: o gosto pela área que se escolhe e a saída profissional sendo que eu considero que o gosto pelo curso é mais importante. No início do post disse que podia ser uma futura estudante de Marketing. Foi a minha terceira opção. Como surgiu? Não sei bem, surgiu depois de algumas conversas e de algumas leituras. O marketing é uma área em ascensão e muito interessante, muito ligada à criatividade sem ser apenas baseada nisso. Corrijam-me se estou em erro por favor. Depois de perceber quais os cursos que iam fazer parte da minha candidatura, tive de escolher a instituição. Mais uma vez, auxiliei-me de algumas opiniões alheias. Eu queria ir para longe, mas queria ficar em casa. Como li em algum lado, eu queria ir para um sítio suficientemente longe para poder dormir lá mas suficientemente perto para ver o Vitória no estádio. Para além da distância também tentei pesquisar a taxa de empregabilidade em cada universidade nos cursos que me interessavam. No entanto acabei por cair em mim e perceber que o profissional e a pessoa que eu sou será muito mais importante do que o sítio onde eu estudei. As minhas opções foram: Direito (regime pós-laboral e diurno) e Marketing na Universidade do Minho, Direito na Universidade do Porto e na Universidade Nova de Lisboa e, na última opção, decidi-me a pôr Ciências da Comunicação na UM. Assim que submeti a candidatura não senti alívio, mas sim um peso nas costas. Tenho medo de qualquer opção, mas sinto-me decidida a fazer o melhor de qualquer uma delas!

Até agora disse mais coisas do que o que tinha planeado no início. Estou a escrever quase à 2 horas. Se chegaram aqui eu gabo-vos a insistência em ler o que escrevo. Vamos ao último esforço. O meu intuito inicial era falar da falta de acompanhamento e informação que os alunos têm. Eu sei, no 12º ano já não somos meninos de colo e já podemos procurar a informação por nós próprios. Isso é totalmente verdade. No entanto não há assim tanta informação quanto isso. Para começar, como alunos não temos ideia do que cada curso realmente é e se realmente é aquilo que queremos fazer para o resto da vida. Ninguém sabe quais são os procedimentos a tomar antes de ir para a universidade, os papeis necessários, como fazer a candidatura, o que fazer depois da candidatura. Em tom de brincadeira já disse que isto é uma forma de nos preparar para a universidade porque, segundo os universitários, depois de começar é cada um por si. Eu senti-me desnorteada quando tive de tomar uma decisão tão importante como esta. Afinal vou para o desconhecido, seja qual curso for. Não sei o que é, não sei o que poderá ser depois. Tudo o que sei foi do que encontrei online ou o que ouvi de quem frequenta o curso. Não sei nada mais.

O que sei é que a formação e a educação são fundamentais. Estudar não fica barato, mas é, em qualquer altura, uma mais valia. E eu estou disposta a apostar na minha formação. Neste momento a minha ideia é licenciar-me numa área e tirar o mestrado noutra área, uma área complementar e que me abra mais portas a nível profissional. Tenho a ambição também de aprender tantas línguas quantas me for possível, porque nos dias de hoje falar muitas línguas é de tremenda importância.

Acho que por hoje já falei de mais. Neste momento sinto que estou prestes a entrar numa fase nova da minha vida em que tudo será mais difícil mas que compensará todo o trabalho investido. Mais do que um "canudo", importo-me com a minha formação como pessoa. Acho que é importante ser persistente, ser empreendedor e remar sempre contra a maré. Se as perspectivas são más, é preciso saber dar a volta com muita criatividade e paciência. O mais importante de tudo é não se acomodar, é insistir e persistir porque um dia as coisas acabam por funcionar. Pelo menos é esta a minha visão de pré-universitária. A ver vamos! 

2 comentários :

  1. O essencial está no ultimo parágrafo.
    Olhar em frente.
    O resto, com mais ou menos alegria, maiores ou menores "traumas" faz parte de um processo de aprendizagem pelo qual todos passamos de uma forma ou de outra.
    Guarde o bom, tire ilações do mau e siga em frente.
    E se quer uma sugestão de alguém que no seu tempo não fez o que agora aconselha dê sempre prioridade ao que gosta de fazer e não à saída profissional. Porque tirando um curso de que goste, de uma área em que se sinta realizada, as saídas profissionais acabarão por aparecer desde que lute por isso. Enquanto se tirar um curso apenas e só porque em teoria tem mais "saída" vai comprar um problema para a vida.
    Duas notas finais:
    1) Quando chegar à Universidade, seja ele qual for, depressa perceberá que o que agora lhe parece complicado é afinal muito simples. Vai conhecer novas pessoas,muitas das quais com as mesmas "angustias", e verá que entre todos depressa resolverão os problemas de adaptação ao novo meio.
    2) Faz muito bem em querer estudar línguas. Hoje ser poliglota faz cada vez mais a diferença. E há uma, extremamente difícil de aprender mas que dá em termos profissionais opções fabulosas. O mandarim

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    1. Também me parece que é isso o mais importante, guardar o melhor e aprender tudo o que me seja possível do lado menos positivo que todas as experiências têm.
      Acho que neste momento o número de desempregados assusta qualquer um que está prestes a ir para a universidade porque é um gasto muito elevado. O problema é que muitos dos que estão no desemprego acabam por se conformar com toda a situação e não lutam, nem tentam encontrar uma forma de dar a volta à situação. O mercado está sobrecarregado com tudo, por isso é muito importante ser criativo e empreendedor.
      Espero que sim, e que a adaptação seja fácil e simples. E espero mesmo identificar-me com o curso como neste momento me identifico e gosto!
      O mandarim é sem dúvida uma língua cada vez mais importante e que eu sempre quis aprender. Assim como o alemão. São duas línguas que me parecem muito difíceis mas que estão na minha lista de prioridades. Espero ganhar coragem para um dia destes me decidir, finalmente, a aprendê-las!

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