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Foto: Vitória SC |
Já disse, e repito, que a pré-época é um período de trabalho, de incertezas e de "rodar" a equipa, se me permitem a expressão. Todos os jogos são deixados para trás quando começa o campeonato. No domingo o Vitória teve a oportunidade de se mostrar pela primeira vez aos seus associados, em casa, e fiquei com a sensação de que foi mais uma experiência de Pedro Martins do que propriamente a resolução final para o início do campeonato. O resultado da experiência foi positiva, pese embora o resultado no marcador ser desagradável. Vou explicar porquê.
Em suma e se me pedirem uma resposta rápida, chega-me uma palavra: ciência. Sou uma apologista da ciência e da forma como torna as pessoas cépticas e as estimula a questionar tudo. Considero essa mentalidade fundamental não só na procura de respostas às grandes perguntas da humanidade como acho que é muito útil quando aplicada no nosso quotidiano e, mesmo que não o saibamos de antemão, a maioria de nós utiliza o método científico para resolver problemas tão simples como saber onde estão as chaves de casa. O método científico tem cinco fases: observar, fazer uma pergunta, formular uma hipótese, conduzir uma experiência e apresentar uma conclusão. A pré-época deve ser a aplicação destes cinco passos e acredito que é isso que Pedro Martins ainda está a fazer. O resultado da aplicação dos passos enumerados anteriormente é sempre positiva, mesmo que a conclusão não seja a desejada, porque nos permite perceber se a conclusão deve ser rejeitada ou aceite. Se for rejeitada, voltamos ao primeiro passo e repetimos todo o processo até alcançarmos a conclusão ideal e que possa ser aceite.
Dito isto, a conclusão da experiência frente ao FC Porto tem de ser rejeitada. Em primeiro lugar, pelo resultado. No entanto, e apesar de ser da opinião de que o Vitória deve jogar para ganhar mesmo que o jogo seja a feijões, o resultado é o que menos me preocupa enquanto ele valer pouco ou nada - e, apesar de achar que o Troféu Cidade de Guimarães devia ficar na cidade que lhe dá o nome, há troféus bem mais desejados e importantes para ganhar na próxima época. O mais importante é o desempenho da equipa e o que vi foi uma equipa com algumas limitações. Nem tudo foi mau e há notas positivas. Testemunhamos alguns minutos de relativa qualidade, infelizmente foram apenas momentos fugazes e pontuais que não chegaram para me convencer. Para competir no campeonato, ou em qualquer outra competição, com o objectivo de alcançar resultados dignos de um símbolo tão gigante como o nosso frente a clubes que se têm munido de armas de qualidade e que não têm medo de entrar em casa de ninguém com garra para ganhar é fundamental que a qualidade seja consistente - e isso tem sido um problema nas equipas vitorianas com épocas em que, por norma, na primeira volta se somam pontos consideráveis mas a que se soma uma segunda volta penosa.
A posição que, a manter-se com os activos que tem, não representa nenhuma preocupação é a de Guarda-Redes. Douglas deu provas de que está preparado para discutir a titularidade com o miúdo da casa Miguel Silva e carimbou uma prestação muito positiva ao negar uma mão cheia de oportunidades claras aos jogadores portistas. Acredito que será difícil para Pedro Martins tomar um partido, uma vez que ambos têm estado bem nos jogos de pré-época e arrisco-me a dizer que será sempre injusto ter que sentar um deles no banco de suplentes porque são dois jogadores de grande categoria. Depois de dar o destaque a quem mais o mereceu, tenho de dizer que não acredito que seja este o onze que vai pisar o relvado em menos de duas semanas frente ao SC Braga. O Moreno é um jogador fundamental para o Vitória, não questiono isso, e é um dos nossos eternos capitães - por tudo o que representa, por ser um estandarte do nosso símbolo, por ser um filho tão querido desta casa, pela mística e pela boa vontade com que se disponibiliza a transmitir a nossa cultura aos que não a conhecem e pelo ser humano humilde e incrível que é - mas não me parece que seja opção viável para a defesa quando a sua função é impor-se perante jogadores rápidos e ágeis. Não me parece exequível jogar com Francis adaptado uma vez que não se mostrou capaz de cumprir com sucesso as suas tarefas mas aguardo por um melhor desempenho na sua posição até porque foi protagonista de uma boa oportunidade de golo, no entanto julgo que esse problema poderá ser solucionado com Bruno Gaspar recuperado e em forma.
Um dos problemas desta equipa, pelo menos da que ontem se mostrou perante os vitorianos, é que nos faz sentir a falta de alguns jogadores da temporada passada (isto apesar de ter sido uma época desastrosa a não repetir!). Ontem ainda se ouvia muito um nome em particular: Otávio. Não porque estava a fazer um bom jogo pela equipa adversária mas sim pela falta que faz um jogador com as suas características ao nosso plantel. O que o Vitória precisa é, na verdade, um Otávio do derby minhoto da segunda volta. Com muita qualidade, muita técnica e criativo. Alguém que possa tirar golos da cartola, para a equipa, quando é necessário. Precisamos de um jogador que pense e jogue
outside the box porque, do que vi, não encontrei ninguém que tenha essa capacidade e que consiga ligar a defesa ao ataque. Soares deu boas indicações e não me desagradou. Ainda é muito cedo para fazer um prognóstico mas acredito que será uma mais-valia para o plantel. De Tozé e Ricardo Valente espero muito, mas muito mais do que aquilo que mostraram ontem. Quanto aos três
miúdos titulares, Areias, João Pedro e Raphinha, provenientes da equipa B com bons números e boas indicações, acredito que têm margem e bases para progredir e contribuir muito para a equipa. Quanto aos restantes jogadores vitorianos que envergaram a camisola do Rei ontem, penso que não há nenhuma observação - positiva ou negativa - individual de grande destaque.
O método científico que acredito que Pedro Martins está a utilizar trará resultados positivos porque já deu para deduzir muita coisa destes 90 minutos, deu para perceber que aquela equipa não resulta e que ainda há faltas a colmatar. No entanto o relógio está a contar e o tempo não pára para esperar por nós. Apesar de ter destacado essencialmente os pontos positivos deste método, ele também tem limitações. É um método que funciona por eliminação. Isto significa que só podemos chegar à conclusão certa se considerarmos a hipótese certa. Ou seja, Pedro Martins tem de ter à disposição os elementos certos para conseguir construir um plantel conquistador. Outra das limitações é que facilmente se pode cair no erro de assumir que o ambiente é estático. No futebol o ambiente nunca é estático. Cada adversário é diferente, tem peças individuais com características distintas e a organização colectiva nunca é igual. O treinador tem de estar preparado para fazer as alterações de acordo com o adversário e a equipa tem de estar preparada para se adaptar, quando necessário. Afinal, o animal que sobrevive na natureza nem sempre é o mais forte mas sim aquele com mais capacidades de se adaptar ao meio onde se insere.
No geral são necessárias algumas contratações de qualidade, algumas mudanças, uma equipa mais consistente e mais capaz e, acima de tudo, precisa de ser muito trabalhada pois há jogadores em sub-rendimento. Começo a temer que estejamos, uma vez mais, à espera das dispensas dos outros. Espero estar enganada. Não consigo apoiar ou concordar com tal política. Vejo poucos benefícios a curto prazo e nenhuns a médio/longo prazo. Pedro Martins admitiu, na conferência de imprensa após o jogo, que precisa de reforços. A menos de duas semanas do início do campeonato esses reforços que nos fazem falta já deviam estar a trabalhar com a equipa para se entrosarem e para assimilarem as ideias do treinador e a cultura do clube. Se chegarem tarde, corremos o risco de no início da nossa época (e nós temos um início de época intenso) alguns jogadores ainda estarem em pré-época e isso pode prejudicar o rendimento colectivo da equipa. Os resultados não se adivinham positivos e derrotas no início do campeonato podem causar danos: perdemos pontos, prejudica as receitas, desmoraliza a equipa e põe mais pressão nos ombros de Pedro Martins e, consequentemente, em todos os jogadores. Quero acreditar que nada disto vai acontecer, que é apenas um cenário negativo, e que vamos estar preparados no início do campeonato para fazer frente aos nossos adversários.
O apito inicial está a poucos dias de distância e o tempo para experiências começa a esgotar-se. Precisamos, urgentemente, de uma conclusão digna de ser aceite. Acabaram-se as desculpas! Agora tem de ser a sério. Não bastam as hashtags #esteeomomento. É preciso que se façam todos os esforços para que seja, de facto, o momento. Não nos podemos dar ao "luxo" de outra época péssima ou de objectivos falhados. Os prejuízos e os danos podem ser irreparáveis. Entrei com saudades do meu Vitória e saí, de certa forma, com saudades do meu Vitória. O que quero é que não me façam sentir saudades por mais uma época. Preciso do meu Vitória conquistador de volta! Começamos todos a época com zero pontos, antes da época começar não há candidatos ao título, não há favoritos. A bola vai ser redonda e, se não houver jogos de bastidores, o campo não está inclinado e estão onze de cada lado. A pré-época deixa de ter interesse e a derrota de domingo pode transformar-se na vitória da quarta jornada. Não por milagre ou magia, mas com trabalho. Audaces fortuna juvat. A sorte protege os audazes. Os que não esperam, os que firmemente e resolutamente arriscam e procuram a vitória. Sem desculpas!
P.S.: Este
post scriptum tem sido adiado há muito mas já não pode voltar a ser. As condições em que os sócios vitorianos são recebidos na própria casa deixa muito a desejar na maioria das vezes. Há muita gente que faz quilómetros para ver os jogos no estádio e há cada vez mais gente a fazer uma ginástica financeira incrível para continuar a estar presente, a apoiar a equipa em casa, para manter as quotas em dia e a cadeira
reservada para toda a família e adquirir bilhetes quando é preciso. Nunca ouvi ninguém queixar-se, bem pelo contrário. Os vitorianos orgulham-se de mostrar o cartão de sócio e dizer que mantêm tudo pago para entrar no estádio - assim como eu, faço-o com o maior orgulho e com muito gosto. Durante toda a época somos obrigados a ocupar cadeiras, que pagamos (!), sempre sujas e que claramente não são limpas com frequência; não é uma cadeira suja pontualmente, o que é pontual são as cadeiras limpas. Num jogo da época passada e num dia de imenso calor as garrafas de água acabaram pouco depois do início do jogo (e não voltaram a ser repostas, o que é vergonhoso) e todas as outras bebidas foram gradualmente desaparecendo até não restar absolutamente nenhuma bebida para refrescar os adeptos na nascente - inferior e superior. O estádio está em péssimas condições de manutenção com zonas danificadas e a pintura degradada - embora isso seja mais facilmente ultrapassado pelos sócios pagantes uma vez que é mais uma questão visual que não afecta a experiência de forma alarmante (embora seja importante preservar o nosso património, e o nosso estádio é tão bonito!). No entanto, no passado domingo as condições estavam ainda piores e começa a ser revoltante esta falta de zelo e desinteresse pela manutenção e condições do estádio, a que muitos sócios estão sujeitos. A minha cadeira é na nascente inferior e por isso só posso falar pelas condições daquela bancada em particular. O túnel de acesso à bancada tinha cacos no chão que facilmente podiam ser utilizados, por um adepto de má índole (há-os em todo o lado), para provocar danos graves na vida de outras pessoas. As casas de banho estavam imundas - uma delas tinha inscrições ofensivas contra os vitorianos assinadas por uma claque rival e os lavatórios estavam repletos de terra e lixo que impossibilitavam qualquer adepta de lavar as mãos. Já li comentários que davam conta de casas de banho encerradas e que até na televisão se percebia que os jogadores tinham de tirar os coletes para limpar os bancos de suplentes, que estavam cheios de pó. É inadmissível que um clube da dimensão do Vitória, com a massa associativa incansável que tem, tenha o estádio em semelhantes condições. Fico triste por ter de fazer um comentário destes sobre o meu clube e sobre o estado daquela que considero ser a minha segunda casa, no entanto julgo que é necessário. Os sócios merecem ser tratados com mais cuidado, respeito e carinho. Afinal somos parte integrante e indelével do Vitória e somos o importante 12º jogador. O Vitória é, para mim,
O grande de Portugal e sempre foi, ao longo da sua história, um dos grandes emblemas portugueses. Se queremos continuar a sê-lo, é necessário que tenhamos uma estrutura que aja de acordo. As condições actuais do estádio são inadmissíveis! Espero que tenham pelo menos o bom senso e humildade de emendar a situação.