quarta-feira, 31 de agosto de 2016

1984

Foto: Vitória Sport Clube
Depois de uma vitória confortável e um bom espectáculo (o quanto soube bem festejar tantos golos no nosso castelo!) na passada sexta-feira e com um fim-de-semana de descanso pela frente para a equipa A (não esquecer que a equipa B defronta o Leixões em casa no Domingo, dia 4 de Setembro, pelas 17h00), a minha crónica de hoje resume-se a um tema que não diz respeito apenas ao Vitória. É um ciclo vicioso ao qual já estamos acostumados e que é fruto, em grande parte, de dois factores: a incompetência de quem devia ser profissional e a falta de cultura desportiva de muitos portugueses que se dizem apaixonados por futebol quando na verdade são adeptos de equipas que mal conhecem mas que ganham campeonatos (infelizmente ainda há quem escolha clubes por isso). É um tema complexo, pelo menos para mim. Fazer generalizações é sempre perigoso e demasiado redutor. Espero não cair nesse erro.

Não acho que jornalismo seja sinónimo de "terrorismo", bem pelo contrário. Eu vejo o jornalismo como uma poderosa ferramenta capaz de mudar a sociedade. O problema não é o jornalismo. O problema é a falta de seriedade, a procura desalmada de lucros, os amigos e os jogos de bastidores, o sensacionalismo, a imparcialidade e a falta de respeito. Isto não afecta só o sector desportivo, afinal há canais de televisão que não são desportivos e que filmam o funeral de uma criança com um drone. Mas isso são outros assuntos que hoje não interessam para nada! Foi através do jornalismo (de investigação) que o escândalo Watergate foi conhecido e que a equipa Spotlight, do The Boston Globe, denunciou uma rede de padres que abusavam de crianças. São apenas dois casos, de tantos, mas que merecem referência pela sua repercussão na sociedade. Foram um hino ao jornalismo. 

Os jornais desportivos nacionais portugueses, por sua vez, devem envergonhar qualquer jornalista sério. Como é óbvio eu não estou à espera do mesmo tipo de jornalismo, isso não faria qualquer sentido e era estúpido da minha parte. O que eu gostava era que partilhassem das mesmas referências éticas e dos mesmos valores. Não partilham! O cancro do futebol português vai muito para além do mau jornalismo e da pobre comunicação social portuguesa, no entanto estes têm a sua quota parte de culpa. Têm as mãos sujas sempre que dedicam 75% do espaço apenas a três clubes e os restantes 25% aos outros quinze. Têm as mãos sujas sempre que não fazem sequer uma pesquisa sobre aquilo em que estão a trabalhar. Têm as mãos sujas sempre que preferem fazer a capa com uma equipa que consideram "grande" quando perde o jogo ao invés de dar o mérito e o protagonismo à equipa que vêem como "pequena" que ganhou. Preferem fazer uma capa com rumores sobre uma possível transferência do que fazer a capa com uma notícia, na verdadeira acepção da palavra, que não seja dos três clubes do costume. 

Os jornais desportivos são da mesma igualha (será que o jornal que utilizou esta mesma palavra sobre o Vitória sabia do seu sentido depreciativo no dicionário? Bem, eu sei e faço questão de o referir!) e por isso mesmo deixei, há muito, de os comprar. No futebol português impera um clima semelhante ao da distopia 1984, escrita por Orwell e que é dos meus livros favoritos. Este livro introduz um conceito muito interessante: a novilíngua. Este idioma fictício é uma arma de controlo do governo tirano sobre a população para impedir que surjam ideias indesejáveis e que possam constituir uma ameaça ao bom funcionamento da sociedade. Ao contrário do que é habitual, não são acrescentadas palavras novas ao léxico. A evolução faz-se através da remoção das palavras. Um exemplo: a palavra mau deixa de existir. Se esta palavra deixa de existir, as pessoas não podem pensar (ou dizer) que o governo é mau. Ao invés disso, há a palavra imbom mas que não tem, de forma alguma, o mesmo significado da palavra mau. É claro que o futebol português não é tão extremo e 1984 é uma obra de ficção mas não consigo deixar de ver a ligação. Se derem todo o protagonismo a três clubes e dedicarem três linhas e meia aos restantes quinze então essa proporção vai acabar por se reflectir na população porque a comunicação social influencia, e muito, a sociedade. Não há democracia se um partido tiver mais tempo de antena do que outro porque isso não dá às pessoas a oportunidade de conhecer as ideias de outros partidos na totalidade. Portanto achar que há liberdade de escolha quando a maioria dos clubes são ignorados e tratados como inferiores é ser ingénuo, para não dizer outra coisa. Não digo que não há gente competente nas respectivas redacções, no entanto os princípios pelos que se regem estão ao contrário e às avessas. Para mim é sempre inaceitável.

Não é um problema que afecta só o Vitória, como já disse. No entanto interessa-me particularmente a forma como o Vitória é tratado, pelas razões mais do que óbvias. Entristece-me dizê-lo mas não há respeito pelo Vitória na comunicação social portuguesa, em geral. Não há respeito pelo Vitória quando dizem que temos pouquíssimas presenças na Liga Europa e todas elas sem grande destaque, nem há respeito quando os nossos resumos não passam nos telejornais quando passam resumos de jogos da liga do Butão, se for preciso. Depois tentam lavar as mãos com pedidos de desculpa facilmente evitáveis. É ridículo! Igualmente ridículo é a passividade dos representantes do Vitória, que têm uma postura que a mim me parece demasiado passiva. Há sempre um silêncio ensurdecedor sobre todas estas questões, quase como que a confirmar o que dizem, como que a confirmar que somos pequenos. Mas não somos e não há melhor representante do Vitória do que o seu 12º jogador, ou seja, nós! Podemos tomar uma posição segura e forte relativamente a esta situação. Eu não dou o meu dinheiro ou o meu tempo a quem não me respeita. Quem desrespeita o Vitória, desrespeita-me a mim.

terça-feira, 23 de agosto de 2016

(In)Eficácia

Foto: Vitória SC
Defrontar o Marítimo nunca é tarefa fácil, seja no D. Afonso Henriques ou na Madeira. O longo histórico de confrontos de setenta jogos oficiais é equilibrado, com o Vitória a liderar com uma vantagem tímida de apenas mais quatro vitórias. Vantagem essa que tem diminuído nos últimos anos. O último empate, a um golo, foi na primeira volta da época 2012/2013, na cidade onde nasceu Portugal. Desde esse jogo e até ao passado sábado tínhamos disputado, entre o continente e a ilha, um total de sete jogos - todos eles para o campeonato - e os números não nos eram nada favoráveis: o Marítimo somava 5 vitórias e 14 golos. Para além disso, e no topo destes números claramente negativos, o Vitória já não saía com os três pontos dos Barreiros há seis anos; a última vez foi na já longínqua época de 2009/2010 com o único golo da partida a ser apontado por Sereno e com um plantel que contava com Nilson, Desmarets, Nuno Assis, Flávio Meireles, entre outros jogadores que muitos vitorianos ainda recordam com saudade e carinho (outros nem tanto, mas desses não reza a história).

Conseguir a primeira vitória da época nos Barreiros era de extrema importância. Não só pela três pontos em si, que são sempre fundamentais e devem sempre ser procurados, mas também porque deixamos escapar os primeiros três pontos em casa na primeira jornada para os rivais e uma vitória podia aliviar alguma pressão que pudesse existir, bem como fomentar confiança na equipa e também na massa associativa, pela dificuldade que o Vitória tem em sair vitorioso daquele estádio e, enfim, porque ninguém esqueceu ainda os resultados pesados das últimas duas temporadas. Apesar de eu não ter ficado, de todo, desagradada com a primeira exibição oficial da temporada não fiquei nada convencida e sabia que a jogar (e a falhar) daquela forma não podíamos ambicionar por resultados extraordinários. A alteração no onze inicial foi apenas uma e foi natural: Ricardo Valente, apesar de se esforçar não conseguiu ter um desempenho positivo no primeiro jogo e não foi opção para o segundo; Rafinha, que substituiu com competência Valente frente ao Sporting de Braga, foi o escolhido para completar o onze inicial. Não foi preciso esperar nem meia hora para perceber que aqueles três pontos eram nossos. Rafinha, com assistência de Marega, inaugurou o marcador ao minuto dezanove e perto da meia hora de jogo foi a vez de Marega, assistido por Tiquinho Soares, fazer o gosto ao pé. Eu, que não gosto de anunciar a vitória antes do apito final, não duvidei de que o Vitória ia segurar o resultado: os maritimistas estavam sem grandes ideias e algo à toa mas, mais do que isso, o Vitória estava firme, soube impor-se desde o início e estava determinado a dominar e a fazer finca-pé se fosse necessário. Por isso não só acreditei que o resultado se manteria, como acreditei que essa vantagem ia ser dilatada e bem mais expressiva. Não foi, o marcador estacou ao minuto trinta mas as oportunidades sucederam-se ao longo do resto da partida com Gottardi a evitar males maiores para os madeirenses. O desempenho dos nossos branquinhos foi uma mescla de eficácia com ineficácia. De facto houve eficácia e ganhamos com um resultado confortável, no entanto se não fosse pela ineficácia podíamos ter ganho o jogo por uma vantagem absurda e vingar assim os últimos resultados.

Tal como um jogo menos conseguido e um mau resultado não dita uma época, um bom jogo e um resultado seguro também não o faz. Uma boa época é feita de um trabalho contínuo. No entanto não podia deixar de referir as boas indicações que a equipa deixou no sábado passado. Ao contrário do que vimos na primeira jornada, pareceu-me ser um Vitória mais confiável e mais capaz de caminhar no sentido dos objectivos pelos quais todos nós almejamos há já algumas épocas. Com alguns ajustes (afinal o mercado ainda está a aberto) acredito que este possa ser o momento de um Vitória mais competitivo e um Vitória que quer voltar às raízes, de identidade e personalidade difícil e bem vincada, decidido a conquistar aquilo pelo que deve lutar sempre. Não acredito que seja ainda o momento que realmente queremos, o momento de um Vitória monstruoso, o momento de abanar a liga com estrondo, de desafiar as probabilidades. Espero que seja finalmente o primeiro passo dado nesse sentido. Espero que finalmente as desculpas sejam arrumadas e a aposta na vertente desportiva seja planeada e feita de forma sustentável. Há quem diga que de vez em quando tem de se dar um passo para trás para depois se dar dois passos para a frente. Infelizmente o Vitória já deu mais do que um passo para trás e quanto a isso já nada há a fazer. O que há a fazer é alterar o panorama e para o fazer é preciso definir estrategicamente os objectivos e mais importante do que isso é preciso dar passos seguros e conscientes nesse sentido. O caminho ainda é muito longo e não vai ficar mais fácil.

O próximo adversário é o Paços de Ferreira e em trinta e oito jogos de história, há onze vitórias para cada lado mas em nossa casa o cenário é mais preocupante: já não os vencemos desde a época 2011/2012 (não sei se já repararam no padrão: tínhamos uma margem confortável de vitórias sobre um número considerável de equipas da primeira liga, mas essa tendência tem sido contrariada nos últimos anos em que o Vitória tem estado desportivamente mais acomodado e menos efusivo - salvo uma ou outra excepção, como a incrível vitória na Taça de Portugal mas em termos de campeonato não temos crescido) e somam seis vitórias no nosso castelo, enquanto que nós conseguimos manter os três pontos em casa apenas por quatro vezes. Mas os números não jogam e a história fica fora das quatro linhas. Se conseguimos contrariar as estatísticas na Madeira não podemos duvidar de que o podemos fazer na nossa casa. Dentro de campo são onze contra onze mas nós temos ao peito o primeiro Rei de Portugal e subentendida em cada camisola tem de estar a obrigação de o honrar, de honrar aquele símbolo, a nossa história e cada um de nós sentados na bancada e todos os que estão espalhados pelo mundo inteiro mas que nunca se esquecem de onde vão e de um amor tão grande. Tem de ser assim na próxima sexta e tem de ser assim sempre. É esse o meu Vitória e é esse Vitória que tem tudo, absolutamente tudo, para crescer.

terça-feira, 16 de agosto de 2016

Alicerces

Foto: Vitória SC
A melhor forma de começar o campeonato é sempre a de somar os primeiros três pontos, Não só pela razão mais óbvia, que é a de subir para o topo da tabela classificativa, mas também porque motiva e mobiliza os adeptos - e isso tem um resultado positivo imediato nas receitas -, dá confiança e tira pressão aos jogadores e à equipa técnica. Quando o primeiro desafio é o de defrontar o eterno rival, então tudo o que referi anteriormente é amplificado e as repercussões, sejam elas positivas ou negativas, tomam uma dimensão anormal. O fundamental é entender que um jogo não dita, de forma nenhuma, uma época e pode, no máximo, dar algumas indicações sobre o resto da temporada. Essas indicações, se negativas, ainda têm tempo para ser corrigidas. Há uma urgência natural e compreensível para acelerar esse processo, principalmente da parte dos sócios que só querem ver o Vitória onde ele deve estar, mas mais do que a urgência para encontrar soluções é preciso que estas garantam sucesso a longo prazo, que sejam sustentáveis e que, obviamente, sejam uma mais-valia e um complemento necessário à equipa. Nada pode ser deixado ao acaso.

Apesar da intensidade inegável durante os noventa minutos e que é obrigatória num jogo destes, a verdade é que não foi um grande espectáculo de futebol nem foi um jogo particularmente memorável. É natural, afinal raras são as equipas que começam o campeonato na melhor forma, completas e sem aspectos a corrigir. Acredito piamente que o jogo da segunda volta será melhor em termos futebolísticos, dado que as equipas já estão mais entrosadas e com mais ritmo - e naturalmente, espero e acredito num resultado diferente! O resultado, e acho que é unânime, é enganador. Não é injusto, é enganador. A regra mais simples e que não dá margem para interpretação no futebol é a regra fundamental: quem marca mais golos, ganha. Infelizmente o Vitória não soube ser uma equipa eficaz. O resultado capaz de espelhar aquilo que se passou dentro das quatro linhas seria o empate. Era um resultado natural e que não deixava ninguém surpreso. Foi um jogo dividido. Na primeira parte o Vitória mostrou-se mais fragilizado, cabisbaixo e deixou-se dominar pelo adversário mas o cenário inverteu-se ao intervalo. A turma vitoriana entrou em campo com mais confiança, força e vontade de se impor. Conseguiu e dominou o Sporting de Braga, que recuou e continuou com o anti-jogo que começou ainda na primeira parte. No computo geral, foi o Vitória quem terminou o jogo com mais posse de bola mas sem nunca conseguir aproveitar na plenitude esse domínio. A oportunidade mais flagrante surgiu já depois do minuto oitenta, com Soares a bater a bola da linha das grandes penalidades. Costumo dizer que os penaltis bem marcados são aqueles em que a bola passa a linha de fundo. Não foi o caso, a intervenção de Marafona afastou a bola da baliza, mas infelizmente os nossos problemas vão para além de um penalti falhado.

Acredito que os problemas mais fulgentes não constituem uma novidade nem são uma surpresa para quem acompanhou a pré-época. Já falei deles aqui há precisamente duas semanas. O grande problema continua a ser o mesmo: a falta de um meio campo activo e criativo. Durante os noventa minutos foram vários os momentos em que se via apenas relva onde devia estar o nosso meio-campo, um espaço ridículo. O nosso meio-campo neste momento é passivo e posso tornar-me repetitiva mas a verdade é que não há ninguém capaz de pegar na bola e fazer magia ou, no mínimo, para cumprir as suas funções com competência. Outra coisa que me preocupou muito foi ver uma quantidade ridícula de passes falhados quando não há margem para falhar passes dessa forma. Quanto a Ricardo Valente, um dos que menos agradou aos adeptos em geral e de quem eu disse "esperar muito, mas muito mais", parece estar em sub-rendimento. Acredito que tem capacidade para fazer mais do que aquilo que apresentou e continuo a esperar bem mais do que aquilo que vi no passado domingo. Quanto aos melhores, e apesar de considerar que não houve nenhum destaque incrível ou surpreendente, acho que João Pedro voltou a dar boas indicações e Douglas esteve bem, sem grande trabalho, como já nos tinha habituado (também já disse que este é o sector que, a manter os actuais activos, não me dá nenhuma preocupação).

O que falta ao Vitória são alicerces bem assentes e bem definidos para a construção de um projecto desportivo forte. Há políticas que não têm lugar num clube desta dimensão, como por exemplo os empréstimos. Isto, claro, se as ambições estiverem de acordo com a história e mística que caracterizaram e caracterizam o nosso símbolo. Não há mal em ter um ou outro emprestado (preferencialmente de clubes estrangeiros), no entanto não é sustentável ter meia equipa de emprestados e ainda por cima de clubes portugueses. Não me agrada por uma miríade de razões. Algumas delas não preciso sequer de explicar porque já são mais do que evidentes. Nota-se que tentar ter uma equipa nova todas as épocas não dá resultado, nota-se que ter emprestados é prejudicial mesmo a curto prazo porque não os temos disponíveis para jogar frente a certas equipas (e geralmente são equipas difíceis), nota-se que é mau em termos de receitas - o jogador não é nosso, não o podemos vender. A única vantagem que consigo encontrar é a de que somos nós quem colhe os frutos do rendimento imediato do jogador. Mas será sensato pensar apenas no presente? Esperar que resulte por agora e logo se pensa no futuro? Não é sensato, não é sustentável, não é a chave do sucesso. Se não acreditam no que escrevo, as últimas épocas não enganam. E eu gostava que fosse diferente. Houve e há outros problemas. No entanto não pensar no futuro, no amanhã, na próxima época é um dos maiores problemas. Onde queremos estar daqui a dez anos? Eu sei onde quero ver o Vitória. Quero vê-lo no topo da liga portuguesa e com presenças regulares na Liga Europa e quiçá na Champions League. Já são épocas a mais encalhados num sítio qualquer que não conhecemos, com o qual nos identificamos e onde navegamos conforme a maré e sem rumo. Precisamos de construir, pensar no amanhã, nos próximos 10 anos e nos próximos 20. Precisamos de alicerces. Acima de tudo precisamos do nosso Vitória, o nosso grandioso Vitória de uma vez por todas!

Fala-se muito de sorte e azar. Eu não acredito nisso. Não podemos esperar pela sorte para ganhar um jogo e ter sucesso na liga portuguesa e na Europa (bem, e no resto do mundo... Porque não?). Sorte e sucesso não combinam. Não acredito na sorte, não acredito que alguém tenha sucesso por causa da sorte, não acredito que a vitória depende da sorte, não acredito em esperar pela sorte. Sorte pode ser a bola sair pela linha lateral em vez de sair pela linha final e não dar canto. Sorte não ganha jogos. A sorte não é um alicerce. A sorte não pode ser parte do plano. Às vezes questiono-me se não é isso que muitos esperam, principalmente quando não vejo um plano bem delineado. Ainda temos oportunidade de ir ao mercado e conseguir fazer os ajustes necessários. Precisamos, mais do que nunca, de uma liderança forte e segura que tenha ambição de melhorar a vertente desportiva do Vitória. Posso estar a ser dramática, mas acredito que seja uma época decisiva em muitos aspectos. Precisamos de recuperar o caminho perdido. Precisamos de evoluir e crescer em muitos aspectos. 

Pode parecer um cliché mas a verdade é que não importa como começa, mas sim como acaba. O futuro é nosso e somos nós que o construímos. O nosso pode ser incrível. A época é nova, o amor é o de sempre. As bancadas não mentem. Uma vez mais os vitorianos marcaram presença e deram vida ao estádio. Incansavelmente, como todos os dias. Sem deixar margens para dúvida sobre quem são realmente os grandes. Espero que esta época possamos ter uma equipa capaz de acompanhar a grandiosidade e o espectáculo nas bancadas e que este espectáculo não seja um acaso. Que seja sempre assim, o estádio que eu conheci cheio de família e de familiaridade, as caras de sempre, o amor que não acaba, as vozes em uníssono, o símbolo ao peito e os cachecóis com vontade de tocar no céu. Ser do Vitória é uma declaração de amor. Não só ao nosso clube, mas a Guimarães e ao futebol em geral. Nas bancadas ganhamos. Ganhamos sempre. Precisamos de ter em campo uma equipa que nos acompanhe. Quando for essa a nossa realidade, vamos ser imbatíveis.

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Espírito de poliglota


Um dos meus grandes objectivos é aprender tantas línguas quanto me for possível. Há algumas pelas quais tenho um carinho particular e porque me parecem ser de uma beleza particular, como é o caso do italiano, e há outras que quero aprender pelo desafio e pelo prazer de superação, como o alemão (uma língua que quero mesmo mesmo aprender) ou russo. O motivo principal é o meu gosto pela cultura e acho imprescindível conhecer a cultura de um país ou de um povo sem um conhecimento mínimo da língua que falam. É claro que me motivam também outras razões. Num mundo globalizado, como o nosso, falar várias línguas é uma mais valia sem preço e um grande acrescento a qualquer curriculum.
Sou bilingue, mas tenho um espírito de poliglota que estou a tentar dar uso. Sou fluente na língua portuguesa e inglesa e estou a tentar acrescentar a essa ainda pequenina e tímida lista uma língua para a qual já tenho algumas bases (uns anos de prática no ensino básico) mas que sempre me pareceu difícil: a língua francesa. Considerada por muitos a mais bonita do mundo, acho-a essencialmente terrivelmente difícil. Apesar de algumas parecenças com a língua portuguesa e da forte ligação de ambas as culturas, sempre me pareceu difícil ganhar a pronúncia carregada que é tão característica. Falar francês cansa-me! Ao fim de duas ou três frases quase me apetece arrancar cabelos. Considero que consigo com alguma competência entender alguém a falar francês, no entanto quando começo a falar (será melhor dizer tentar) parece que estou a falar uma língua nova e desconhecida com base nas línguas do Médio Oriente. É catastrófico. No entanto continuo a tentar e agora que estou de férias tento com maior afinco e maior dedicação, dado que tenho mais tempo disponível. Sou uma auto-didacta, portanto estou a tentar aprender por mim. Com recurso a jornais/sites franceses, algumas aplicações (a minha favorita so far é a Frantastique, que envia aulas dinâmicas para o e-mail e para o telemóvel que incluí vídeos com áudio, várias questões sobre o vídeo, vocabulário, tem sempre um separador cultural e o feedback é instantâneo) e com ajuda do YouTube. Acho, no entanto, que a melhor forma de aprender uma língua é praticando. É infalível. Num cenário em que tens de falar uma língua específica, muitas vezes sob pressão, é quase garantido que aprendes a desenvolver essa língua muito melhor e muito mais rápido. É isso que me falta para praticar e melhor ainda mais a língua inglesa (apesar de ser fluente, não é a minha primeira língua e há sempre mais a aprender) e para me desenvolver no francês.
Há, pelo menos, duas palavras para descrever alguém que fala muitas línguas: poliglota e multilingue. Há uns tempos pensei que era a mesma coisa e qualquer uma era bem aplicada num só contexto. No entanto li um artigo que explicou que não é bem assim e, apesar de ainda só ser fluente em duas línguas, tenho um espírito poliglota. Passo a explicar. Poliglota é aquele que aprende várias línguas pelo prazer de o fazer e pelo gosto pelas línguas que fala, enquanto que o multilingue as aprende por imposição ou "obrigação". Admiro pessoas que sabem falar várias línguas, adoro aprender palavras e expressões novas de línguas diferentes por mais insignificantes que sejam, adoro ter um artigo à minha frente de uma língua desconhecida e a sensação de decifrar uma palavra ou uma frase. E na verdade tenho um grande sonho (que está na minha lista mental de todas as coisas que quero fazer antes de morrer) que é ler os meus livros preferidos na língua original para que nada fique perdido na tradução. Já li alguns, mas faltam-me muitos. Por exemplo, já li The Great Gatsby, de Fitzgerald mas ainda não consegui ler Anna Karénina de Leo Tólstoi. 
É um sonho complicado de alcançar. Primeiro porque eu tenho uma data de livros favoritos (e nunca me peçam para eleger só um, é uma pergunta injusta e desumana - e o mesmo se aplica ao cinema) que é uma construção contínua e será sempre uma lista inacabada e segundo porque línguas como o russo são de extrema dificuldade (Anna Karénina, para seguir no mesmo exemplo, é um livro extenso e de alguma dificuldade mesmo em português, quanto mais em russo que não é a minha primeira língua e, por muito que o desenvolva se um dia tomar essa decisão, nunca o será). Apesar de tudo, parece-me um bom objectivo e, mesmo que não o consiga realizar, tenho a certeza que contribuirá em muito para o meu crescimento enquanto cidadã de um mundo multi-cultural e em constante mudança. Considero que aprender novas línguas é, cada vez mais, de grande utilidade.

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Heróis!

Foto: A Comarca de Arganil
Anteontem, antes de me deitar, espreitei pela janela da cozinha da minha casa. Queria ver se o incêndio, que havia começado algures na madrugada ou manhã desse dia, tinha acalmado. Os incêndios mexem comigo, deixam-me ansiosa e nervosa desde que me lembro. Não tinha acalmado. Bem pelo contrário. As chamas pareciam estar ainda com mais força e pareciam ter vida e vontade própria. Fui deitar-me com o coração nas mãos e um sentimento de impotência brutal. Estava triste pelo ambiente e pelos danos causados ao nosso planeta mas mais do que isso estava preocupada com todos os bombeiros que estavam lá (estão sempre!) a lutar contra um adversário imprevisível e sem misericórdia. Adormeci com esse sentimento. Na manhã seguinte levantei-me de imediato e fui espreitar pela mesma janela para o sítio onde, umas horas antes, as chamas pareciam implacáveis. Desta vez já não havia chamas nem nenhum indício delas para além de um sítio, anteriormente verde, que agora estava pintado em tons de preto, cinzento e castanho. Naquele momento só senti gratidão. Gratidão e um apreço enorme pelos Bombeiros Voluntários, por todos em todo o mundo. Percebi que muitos deles tinham estado ali praticamente vinte e quatro horas, com as chamas incrivelmente perto a ameaçar-lhes a vida a cada investida e com o fumo a poluir-lhes os pulmões. Tinham estado ali todo o dia e toda a noite. Sem fechar os olhos porque não podem correr tal risco, sem descansar porque cada minuto é precioso. São heróis. Não daqueles de banda desenhada com super poderes e uma capa. Estes são reais, de carne e osso! Vestem um casaco vermelho e os super poderes que têm são a coragem, a vontade e, acredito eu, um amor ímpar à humanidade. Dão tudo de si. O corpo, a saúde, o tempo. Por vezes até a vida. Em nome dos outros. Nunca sabem se voltam, mas vão sempre. Sempre! Ser Bombeiro Voluntário é das coisas mais nobres que um ser humano pode fazer. Esta é uma das formas que tenho de agradecer a todos os que, em todo o país e no resto do mundo, lutam para um mundo melhor. Nunca nenhuma doação, contribuição ou condecoração será suficiente para honrar o serviço indispensável e de extrema importância que prestam ao mundo. 
Se há algum Bombeiro a ler as minhas insignificantes palavras, o meu eterno agradecimento! Obrigada, heróis! Obrigada, obrigada, obrigada!

terça-feira, 9 de agosto de 2016

A mais interessante rivalidade

Foto: Ultras de Portugal
O campeonato inicia-se com um dos jogos mais esperados da época a ter lugar na cidade onde nasceu Portugal: o Derby do Minho. É, para mim, a mais interessante e intensa rivalidade em Portugal. Admito que sou suspeita para falar do assunto e para fazer tal afirmação, uma vez que a vivo há muitos anos de forma emocionante nas bancadas, a apoiar e a torcer para ver as minhas cores prevalecerem sobre o adversário. É um jogo com contornos particulares. As emoções fervilham, a tensão é praticamente palpável e as provocações começam dias antes e só param muitos dias depois.

O futebol é uma das muitas expressões desta rivalidade milenar que remonta à fundação de Portugal e à disputa de poder dos condes do Condado Portucalense e dos arcebispos de Braga. Desde essa altura, sensivelmente, começou uma rivalidade sem precedentes que se manifesta nas mais diversas áreas da sociedade: na programação cultural, na política, na economia e até na educação. Os episódios de enorme tensão entre as cidades são muitos e há inclusive relato de muitos episódios violentos. Entre Guimarães e Braga não há consenso nem aquiescência, e em termos desportivos não podia ser diferente. É uma competição contínua que não tira férias e a troca de argumentos não pára.

Será o 132º encontro entre as duas equipas e, no total de todas as competições, os números não apresentam grande diferença. No entanto, a superioridade do Vitória é categórica e indiscutível quando se olha para o histórico de confrontos disputados em Guimarães: em 66 jogos, foi o Vitória que saiu vencedor em mais de 50% dos jogos, com um total de 40 vitórias; foram 15 os jogos em que o marcador não registou diferenças; e o Braga foi feliz apenas 11 vezes. São números que não deixam espaço para discussão sobre o quão difícil é para os adversários, e em particular para os rivais, jogar no inferno branco, com o apoio incondicional e incomparável dos adeptos vitorianos e a força que os mesmos têm no desempenho da equipa.

Nos últimos anos assistimos a um afrouxar do desempenho do Vitória no campeonato e a um crescimento desportivo do Braga. De momento temos um rival com uma estrutura mais organizada e planeada que proporciona plantéis com qualidade para lutar por lugares de relevo no topo da tabela e que tem tentado consolidar uma posição saliente nas competições europeias. Ao contrário de muitas conquistas e vitórias do nosso Vitória, o crescimento dos nossos rivais não assenta maioritariamente no esforço colectivo dos adeptos e habitantes daquela cidade, mas sim na gestão de apenas um homem, António Salvador. Quanto à História, ela é-nos favorável. O Vitória conta com mais presenças na primeira liga e luta pelo topo da tabela há bem mais do que uma década.

Actualmente e em termos desportivos o Braga está mais forte. No entanto não tem (e nunca teve) a base social que o Vitória tem, uma massa associativa sem igual no país e que marca presença de forma incondicional nos jogos do Vitória, que acompanha a equipa para qualquer e todos os estádios entusiasticamente e fielmente numa demonstração de lealdade única e apaixonante. Quanto a infraestruturas é óbvia a supremacia do Vitória. Note-se que no próximo Domingo, o Braga vai defrontar o Vitória no estádio que pertence ao Vitória, é do clube, enquanto que quando o Vitória vai defrontar o Braga fá-lo num estádio camarário.

Guimarães nunca se vergou, dobrou ou curvou perante ninguém. Ainda hoje não o faz e o nome que tem é reconhecido de forma independente e soma, ano após ano, distinções cheias de honra e dignidade. É uma cidade de História e cheia de histórias a cada esquina. Um dos seus símbolos mais importantes e representativos da sua identidade é, sem dúvida, o do nosso Vitória. Guimarães e o Vitória fundem-se. São indissociáveis. Ao peito ostentamos orgulhosamente D. Afonso Henriques que começou a sua conquista a partir daqui. D. Afonso Henriques não se vergou, dobrou ou curvou perante ninguém. Fez os outros ajoelharem-se perante si e a sua grandeza. Guimarães foi construída à sua imagem, assim como o Vitória o foi e assim deverá ser mantido sempre. A nossa identidade de povo lutador e resiliente tem de ser preservada porque é isso que nós somos. É isso que nos torna únicos e inigualáveis. Domingo a "guerra" recomeça e são muitas as batalhas que temos pela frente, com os mais diversos adversários com os mais diversos estatutos, poder monetário e desempenhos. Dentro de campo o estatuto, a história, a época anterior e os discursos não jogam. É o talento, o querer e a vontade de conquistar. A primeira batalha será sob o olhar atento das mais belas muralhas, em casa! Que sejamos capazes de honrar a história desta cidade e deste clube, que possamos restabelecer a ordem natural das coisas: o Vitória a conquistar.

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Senhor David

Foto: Sónia Fernandes
Há muito tempo que queria ver o David Fonseca ao vivo. Andava sempre atenta às datas que ia lançando para saber quando andava por perto. Adoro os Silence 4 desde que me lembro e a carreira a solo do David sempre me fascinou. É um artista único. Era essa a ideia que tinha antes de ir ao concerto que deu na Plataforma das Artes e da Criatividade em Guimarães, nas Festas da Cidade, no último sábado. Não desiludiu, bem pelo contrário. Pisou o palco com energia para dar, vender e leiloar. Foram quase duas horas de puro entretenimento, com um David muito comunicativo e cheio de classe em cima do palco. É um homem inesquecível. O ar de galã, a voz irresistível, a energia contagiante, a qualidade inegável e a originalidade que o distingue. O David Fonseca é, inequivocamente, diferente de todos os outros. O que faz, fá-lo com mestria mas acima de tudo fá-lo à sua maneira. Não copia, não imita, não quer ser os outros.  Deixa isso patente em cada música e a cada minuto que passa. Para além das músicas do novo álbum, fez as delícias dos presentes com um tema da era dos Silence 4, um segmento de homenagem a António Variações, as óbvias como Kiss Me e até teve tempo de declamar um poema. Foi um prazer ver este senhor no palco.
Quando fui à Turquia, num programa de intercâmbio escolar, levei alguns objectos portugueses e que achei que representavam bem Portugal para oferecer a quem tão bem e amavelmente me recebeu. Para além de alguns doces típicos portugueses e do, óbvio(!), cachecol do Vitória, levei dois CDs: um era da Mariza e o outro do David Fonseca. Não me arrependo nada e depois de o ver ao vivo no sábado percebi ainda melhor o porquê da minha escolha. O David é um dos melhores artistas portugueses na sua área, é inegável, e deu um excelente espectáculo aos vimaranenses.
Foi uma honra, senhor David!

terça-feira, 2 de agosto de 2016

Ciência

Foto: Vitória SC
Já disse, e repito, que a pré-época é um período de trabalho, de incertezas e de "rodar" a equipa, se me permitem a expressão. Todos os jogos são deixados para trás quando começa o campeonato. No domingo o Vitória teve a oportunidade de se mostrar pela primeira vez aos seus associados, em casa, e fiquei com a sensação de que foi mais uma experiência de Pedro Martins do que propriamente a resolução final para o início do campeonato. O resultado da experiência foi positiva, pese embora o resultado no marcador ser desagradável. Vou explicar porquê.

Em suma e se me pedirem uma resposta rápida, chega-me uma palavra: ciência. Sou uma apologista da ciência e da forma como torna as pessoas cépticas e as estimula a questionar tudo. Considero essa mentalidade fundamental não só na procura de respostas às grandes perguntas da humanidade como acho que é muito útil quando aplicada no nosso quotidiano e, mesmo que não o saibamos de antemão, a maioria de nós utiliza o método científico para resolver problemas tão simples como saber onde estão as chaves de casa. O método científico tem cinco fases: observar, fazer uma pergunta, formular uma hipótese, conduzir uma experiência e apresentar uma conclusão. A pré-época deve ser a aplicação destes cinco passos e acredito que é isso que Pedro Martins ainda está a fazer. O resultado da aplicação dos passos enumerados anteriormente é sempre positiva, mesmo que a conclusão não seja a desejada, porque nos permite perceber se a conclusão deve ser rejeitada ou aceite. Se for rejeitada, voltamos ao primeiro passo e repetimos todo o processo até alcançarmos a conclusão ideal e que possa ser aceite.

Dito isto, a conclusão da experiência frente ao FC Porto tem de ser rejeitada. Em primeiro lugar, pelo resultado. No entanto, e apesar de ser da opinião de que o Vitória deve jogar para ganhar mesmo que o jogo seja a feijões, o resultado é o que menos me preocupa enquanto ele valer pouco ou nada - e, apesar de achar que o Troféu Cidade de Guimarães devia ficar na cidade que lhe dá o nome, há troféus bem mais desejados e importantes para ganhar na próxima época. O mais importante é o desempenho da equipa e o que vi foi uma equipa com algumas limitações. Nem tudo foi mau e há notas positivas. Testemunhamos alguns minutos de relativa qualidade, infelizmente foram apenas momentos fugazes e pontuais que não chegaram para me convencer. Para competir no campeonato, ou em qualquer outra competição, com o objectivo de alcançar resultados dignos de um símbolo tão gigante como o nosso frente a clubes que se têm munido de armas de qualidade e que não têm medo de entrar em casa de ninguém com garra para ganhar é fundamental que a qualidade seja consistente - e isso tem sido um problema nas equipas vitorianas com épocas em que, por norma, na primeira volta se somam pontos consideráveis mas a que se soma uma segunda volta penosa.

A posição que, a manter-se com os activos que tem, não representa nenhuma preocupação é a de Guarda-Redes. Douglas deu provas de que está preparado para discutir a titularidade com o miúdo da casa Miguel Silva e carimbou uma prestação muito positiva ao negar uma mão cheia de oportunidades claras aos jogadores portistas. Acredito que será difícil para Pedro Martins tomar um partido, uma vez que ambos têm estado bem nos jogos de pré-época e arrisco-me a dizer que será sempre injusto ter que sentar um deles no banco de suplentes porque são dois jogadores de grande categoria. Depois de dar o destaque a quem mais o mereceu, tenho de dizer que não acredito que seja este o onze que vai pisar o relvado em menos de duas semanas frente ao SC Braga. O Moreno é um jogador fundamental para o Vitória, não questiono isso, e é um dos nossos eternos capitães - por tudo o que representa, por ser um estandarte do nosso símbolo, por ser um filho tão querido desta casa, pela mística e pela boa vontade com que se disponibiliza a transmitir a nossa cultura aos que não a conhecem e pelo ser humano humilde e incrível que é - mas não me parece que seja opção viável para a defesa quando a sua função é impor-se perante jogadores rápidos e ágeis. Não me parece exequível jogar com Francis adaptado uma vez que não se mostrou capaz de cumprir com sucesso as suas tarefas mas aguardo por um melhor desempenho na sua posição até porque foi protagonista de uma boa oportunidade de golo, no entanto julgo que esse problema poderá ser solucionado com Bruno Gaspar recuperado e em forma.

Um dos problemas desta equipa, pelo menos da que ontem se mostrou perante os vitorianos, é que nos faz sentir a falta de alguns jogadores da temporada passada (isto apesar de ter sido uma época desastrosa a não repetir!). Ontem ainda se ouvia muito um nome em particular: Otávio. Não porque estava a fazer um bom jogo pela equipa adversária mas sim pela falta que faz um jogador com as suas características ao nosso plantel. O que o Vitória precisa é, na verdade, um Otávio do derby minhoto da segunda volta. Com muita qualidade, muita técnica e criativo. Alguém que possa tirar golos da cartola, para a equipa, quando é necessário. Precisamos de um jogador que pense e jogue outside the box porque, do que vi, não encontrei ninguém que tenha essa capacidade e que consiga ligar a defesa ao ataque. Soares deu boas indicações e não me desagradou. Ainda é muito cedo para fazer um prognóstico mas acredito que será uma mais-valia para o plantel. De Tozé e Ricardo Valente espero muito, mas muito mais do que aquilo que mostraram ontem. Quanto aos três miúdos titulares, Areias, João Pedro e Raphinha, provenientes da equipa B com bons números e boas indicações, acredito que têm margem e bases para progredir e contribuir muito para a equipa. Quanto aos restantes jogadores vitorianos que envergaram a camisola do Rei ontem, penso que não há nenhuma observação - positiva ou negativa - individual de grande destaque.

O método científico que acredito que Pedro Martins está a utilizar trará resultados positivos porque já deu para deduzir muita coisa destes 90 minutos, deu para perceber que aquela equipa não resulta e que ainda há faltas a colmatar. No entanto o relógio está a contar e o tempo não pára para esperar por nós. Apesar de ter destacado essencialmente os pontos positivos deste método, ele também tem limitações. É um método que funciona por eliminação. Isto significa que só podemos chegar à conclusão certa se considerarmos a hipótese certa. Ou seja, Pedro Martins tem de ter à disposição os elementos certos para conseguir construir um plantel conquistador. Outra das limitações é que facilmente se pode cair no erro de assumir que o ambiente é estático. No futebol o ambiente nunca é estático. Cada adversário é diferente, tem peças individuais com características distintas e a organização colectiva nunca é igual. O treinador tem de estar preparado para fazer as alterações de acordo com o adversário e a equipa tem de estar preparada para se adaptar, quando necessário. Afinal, o animal que sobrevive na natureza nem sempre é o mais forte mas sim aquele com mais capacidades de se adaptar ao meio onde se insere.

No geral são necessárias algumas contratações de qualidade, algumas mudanças, uma equipa mais consistente e mais capaz e, acima de tudo, precisa de ser muito trabalhada pois há jogadores em sub-rendimento. Começo a temer que estejamos, uma vez mais, à espera das dispensas dos outros. Espero estar enganada. Não consigo apoiar ou concordar com tal política. Vejo poucos benefícios a curto prazo e nenhuns a médio/longo prazo. Pedro Martins admitiu, na conferência de imprensa após o jogo, que precisa de reforços. A menos de duas semanas do início do campeonato esses reforços que nos fazem falta já deviam estar a trabalhar com a equipa para se entrosarem e para assimilarem as ideias do treinador e a cultura do clube. Se chegarem tarde, corremos o risco de no início da nossa época (e nós temos um início de época intenso) alguns jogadores ainda estarem em pré-época e isso pode prejudicar o rendimento colectivo da equipa. Os resultados não se adivinham positivos e derrotas no início do campeonato podem causar danos: perdemos pontos, prejudica as receitas, desmoraliza a equipa e põe mais pressão nos ombros de Pedro Martins e, consequentemente, em todos os jogadores. Quero acreditar que nada disto vai acontecer, que é apenas um cenário negativo, e que vamos estar preparados no início do campeonato para fazer frente aos nossos adversários.

O apito inicial está a poucos dias de distância e o tempo para experiências começa a esgotar-se. Precisamos, urgentemente, de uma conclusão digna de ser aceite. Acabaram-se as desculpas! Agora tem de ser a sério. Não bastam as hashtags #esteeomomento. É preciso que se façam todos os esforços para que seja, de facto, o momento. Não nos podemos dar ao "luxo" de outra época péssima ou de objectivos falhados. Os prejuízos e os danos podem ser irreparáveis. Entrei com saudades do meu Vitória e saí, de certa forma, com saudades do meu Vitória. O que quero é que não me façam sentir saudades por mais uma época. Preciso do meu Vitória conquistador de volta! Começamos todos a época com zero pontos, antes da época começar não há candidatos ao título, não há favoritos. A bola vai ser redonda e, se não houver jogos de bastidores, o campo não está inclinado e estão onze de cada lado. A pré-época deixa de ter interesse e a derrota de domingo pode transformar-se na vitória da quarta jornada. Não por milagre ou magia, mas com trabalho. Audaces fortuna juvat. A sorte protege os audazes. Os que não esperam, os que firmemente e resolutamente arriscam e procuram a vitória. Sem desculpas!

P.S.: Este post scriptum tem sido adiado há muito mas já não pode voltar a ser. As condições em que os sócios vitorianos são recebidos na própria casa deixa muito a desejar na maioria das vezes. Há muita gente que faz quilómetros para ver os jogos no estádio e há cada vez mais gente a fazer uma ginástica financeira incrível para continuar a estar presente, a apoiar a equipa em casa, para manter as quotas em dia e a cadeira reservada para toda a família e adquirir bilhetes quando é preciso. Nunca ouvi ninguém queixar-se, bem pelo contrário. Os vitorianos orgulham-se de mostrar o cartão de sócio e dizer que mantêm tudo pago para entrar no estádio - assim como eu, faço-o com o maior orgulho e com muito gosto. Durante toda a época somos obrigados a ocupar cadeiras, que pagamos (!), sempre sujas e que claramente não são limpas com frequência; não é uma cadeira suja pontualmente, o que é pontual são as cadeiras limpas. Num jogo da época passada e num dia de imenso calor as garrafas de água acabaram pouco depois do início do jogo (e não voltaram a ser repostas, o que é vergonhoso) e todas as outras bebidas foram gradualmente desaparecendo até não restar absolutamente nenhuma bebida para refrescar os adeptos na nascente - inferior e superior. O estádio está em péssimas condições de manutenção com zonas danificadas e a pintura degradada - embora isso seja mais facilmente ultrapassado pelos sócios pagantes uma vez que é mais uma questão visual que não afecta a experiência de forma alarmante (embora seja importante preservar o nosso património, e o nosso estádio é tão bonito!). No entanto, no passado domingo as condições estavam ainda piores e começa a ser revoltante esta falta de zelo e desinteresse pela manutenção e condições do estádio, a que muitos sócios estão sujeitos. A minha cadeira é na nascente inferior e por isso só posso falar pelas condições daquela bancada em particular. O túnel de acesso à bancada tinha cacos no chão que facilmente podiam ser utilizados, por um adepto de má índole (há-os em todo o lado), para provocar danos graves na vida de outras pessoas. As casas de banho estavam imundas - uma delas tinha inscrições ofensivas contra os vitorianos assinadas por uma claque rival e os lavatórios estavam repletos de terra e lixo que impossibilitavam qualquer adepta de lavar as mãos. Já li comentários que davam conta de casas de banho encerradas e que até na televisão se percebia que os jogadores tinham de tirar os coletes para limpar os bancos de suplentes, que estavam cheios de pó. É inadmissível que um clube da dimensão do Vitória, com a massa associativa incansável que tem, tenha o estádio em semelhantes condições. Fico triste por ter de fazer um comentário destes sobre o meu clube e sobre o estado daquela que considero ser a minha segunda casa, no entanto julgo que é necessário. Os sócios merecem ser tratados com mais cuidado, respeito e carinho. Afinal somos parte integrante e indelével do Vitória e somos o importante 12º jogador. O Vitória é, para mim, O grande de Portugal e sempre foi, ao longo da sua história, um dos grandes emblemas portugueses. Se queremos continuar a sê-lo, é necessário que tenhamos uma estrutura que aja de acordo. As condições actuais do estádio são inadmissíveis! Espero que tenham pelo menos o bom senso e humildade de emendar a situação.

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

O ódio está na moda

Destilar ódio, principalmente nas redes sociais e escondidos atrás de um ecrã, está na moda. É trendy. Desconfio que, pelo menos, 85% das publicações nas redes sociais têm um rol de comentários com críticas gratuitas, mal estruturadas e pouco ou nada fundamentadas, cheias de ódio e nascidas da ignorância e mesquinhice das pessoas. A minha táctica é dar à sola (ou ao dedo) e sair da secção de comentários o mais rápido possível. Ignorar é sempre a melhor opção nestes casos porque é literalmente impossível ter uma conversa séria com quem destila ódio só pelo prazer de o fazer, e acredito que assim é na maioria dos casos. Apesar de serem muitos os casos em que isto acontece, são duas as situações que me levaram a escrever este post. 
Uma delas tem-se prolongado pelas últimas semanas. Uma singela aplicação para o telemóvel, chamada Pokémon Go, serviu para dividir, e muito, as opiniões. Entre as pessoas civilizadas há, naturalmente, as que não gostam, as que gostam e as que ignoram - sendo que apresentam argumentos válidos para justificar a posição que tomam ou pura e simplesmente não comentam. Entre as pessoas que não sabem viver de forma civilizada e em sociedade, e há-as em números alarmantes, há o ódio. Ódio contra as pessoas de 40 ou 50 anos que jogam, contra os "jovens fúteis de hoje em dia que só se importam com os telemóveis" e em geral contra todos os utilizadores da aplicação. São automaticamente rotulados de estúpidos, desinteressantes e coisas piores.
A outra situação é mais recente e o ódio atingiu os fãs de Harry Potter que fizeram serão à porta da belíssima Livraria Lello para assistirem a um espectáculo relacionado com a saga e adquirirem o último livro sobre o feiticeiro. Pelo que apurei (e admito que foi muito pouco) algumas pessoas esperaram cerca de 35 horas na fila para conseguir uma boa visão do espectáculo e comprar o livro antes de todos os outros. As caixas de comentários das notícias eram um antro de ódio e julgamentos com base em... nada. Havia quem dissesse que "se fossem as mesmas horas de espera nas urgências todos reclamavam" ou recomendações sempre muito pertinentes como utilizar o tempo em actividades mais úteis, como por exemplo "trabalho voluntário". Há muitos mais, mas eu tenho tendência para captar o ridículo e estes dois comentários foram certamente dos mais sem noção que li. O primeiro comentário demonstra uma inegável ignorância. Em primeiro lugar porque quem vai para as urgências o faz porque há (surpresa, surpresa!) uma urgência, uma situação que precisa de atendimento rápido e eficiente porque há sempre muito em jogo, nomeadamente a vida de quem recorre a esses serviços. Em segundo lugar porque quem espera 35 horas (ou coisa que o valha) para ser atendido nas urgências está no seu pleno direito de reclamar de um serviço público deficiente. A Constituição obriga (!!!!) o Estado a assegurar diferentes serviços públicos que abrangem a prestação de cuidados de saúde. Portanto, se isso está em causa, o cidadão que cumpre com as suas obrigações pode e deve reclamar se tais serviços públicos não se mostram capazes de satisfazer as suas necessidades. O evento sobre o Harry Potter foi um evento cultural, uma actividade de lazer e os espectadores escolheram estar lá, esperaram de livre vontade e não porque estavam a morrer ou porque partiram uma perna. O segundo comentário fica-se pela hipocrisia até porque é bem mais útil fazer trabalho voluntário do que fazer comentários sobre aquilo que se desconhece ou não se entende.
Podem estar a achar que este meu post nasce de fanatismo por uma destas coisas, no entanto não é o caso. Apesar de ter feito download da app há uma ou duas semanas, apanhei apenas um pokémon que se encontrava no meu quarto. Não me cativou e acabei por não abrir mais a aplicação. No entanto entendo que, se jogado com moderação e com cuidado, pode ser engraçado porque "obriga" os jovens a sair de casa e tem uma forte componente cultural pois sinaliza alguns pontos e monumentos importantes nas cidades. Quanto ao Harry Potter, tenho de confessar que nunca tive um interesse real em conhecer a saga portanto não sinto qualquer ligação ao "fenómeno" que são os livros de J.K. Rowling, apenas alguma curiosidade mas que ainda não foi suficiente para me fazer comprá-los. Mas compreendo e apoio a maioria dos eventos que levam as pessoas a ler e todos os eventos com a magia de Hogwarts são um sucesso garantido e cativam muitos jovens para "o mundo encantado" da leitura e dos livros e nisso só vejo resultados positivos.
Se calhar está na hora de algumas pessoas compreenderem que cabe a cada um decidir o que fazer dos seus tempos livres e, em geral, o que fazer das suas vidas. Desde que, no âmbito das actividades que referi ou outras parecidas, sejam pessoas conscientes, com bom-senso, com respeito pelo outro, pela liberdade do outro e pelo ambiente então porque não? Destilar ódio é assim tão divertido? Não me parece. O mundo precisa de mais compreensão e mais amor, muito mais amor!