O assunto do post de hoje, pelo contrário, não me deixa minimamente orgulhosa ou satisfeita. Podia recorrer aos feitos de vários atletas do Vitória porque todos são dignos de serem chamados conquistadores. Todavia hoje vou falar do Rui Bragança por dois motivos: primeiramente porque é um dos atletas com mais sucesso a representar o Vitória e em segundo lugar porque foi o autor de declarações, depois de concluir a sua participação nos Jogos Olímpicos, que revelaram uma realidade pouco condizente com a nossa história. Vamos por partes.
O Rui Bragança já tem, ainda jovem, um palmarés invejável e já fez muito pelo desporto português. Ainda não contou 25 primaveras mas já é um nome incontornável no taekwondo a nível mundial e é, indubitavelmente, um dos melhores atletas portugueses de sempre na modalidade. Encontra-se no 4º lugar do Ranking Mundial e Olímpico, enquanto que na sua categoria (-58 kg) está num incrível 2º lugar mundial. Em 2014 alcançou o primeiro posto no Ranking Mundial da sua categoria. Isto significa que não aterrou, como que por milagre, no meio dos melhores do mundo. Isto significa que o Rui é dos melhores do mundo há alguns anos. Ainda assim todos os rankings são, de certa forma, passageiros e, quando olhamos hoje para o ranking sem qualquer informação adicional, não sabemos que o nosso atleta já foi o líder mundial. No entanto as medalhas não são passageiras, ficam para a história e o Rui já não é nenhum novato em conquistar o ouro. As primeiras medalhas de ouro, ganhas em competições nacionais, remontam a 2008, enquanto júnior. Desde aí são demasiadas as medalhas para as destacar individualmente (mas podem consultar o extenso palmarés em pormenor aqui). Só no ano civil transacto subiu ao pódio, enquanto atleta português, vimaranense e vitoriano, por seis vezes para pôr ao peito a medalha de ouro, sendo que uma dessas medalhas douradas foi conseguida nos Jogos Europeus, em Baku. Em Maio sagrou-se Bicampeão Europeu.
O taekwondo é uma modalidade implementada apenas há cerca de dois anos no Vitória. Em Janeiro de 2015 Hugo Serrão, o treinador de Rui Bragança e Nuno Costa (outro atleta vitoriano do Taekwondo que nos enche de orgulho), assumiu que um dos objectivos era apurar o Rui para os Jogos Olímpicos. No final do ano ficamos a saber que esse objectivo tinha sido alcançado: o Rui Bragança iria representar Portugal no Rio de Janeiro, na prova multi-desportiva mais importante do mundo. Infelizmente a participação não correu de feição e o Rui não conseguiu lutar pelas medalhas, ficando-se pelos quartos-de-final. Não deixou de ser, por isso, uma participação que honrou não só os vitorianos e vimaranenses mas também todo o país e que nos deve deixar muito orgulhosos (não vale a pena dar atenção aos jornais desportivos, a quem não interessa pôr o Rui Bragança na capa das tantas vezes que já venceu mas que reservam um lugar para o criticar; já disse e repito: o Rui, e tantos outros, tem qualidade a mais para figurar em semelhante monte de papéis). Para além de ser um atleta de excelência, o Rui também é estudante de Medicina na Universidade do Minho. Conseguir conciliar os estudos e o desporto (assim como a sua vida pessoal) a um nível tão exigente é admirável. Eu não conheço o Rui mas calculo que seja preciso muito trabalho (dois treinos diários, antes e depois das aulas na universidade), muita dedicação e muito empenho para obter estes resultados fabulosos. É uma pena que os meios de comunicação não sejam os primeiros a dar destaque a estes jovens atletas que têm tudo para inspirar outros jovens.
Fiquei desiludida ao saber que o apoio dado ao Rui Bragança é mínimo. Sei que o apoio do Estado português é praticamente inexistente para a grande maioria dos atletas portugueses que tanto fazem pelo país e isso, apesar de me entristecer, não me surpreende. O que eu não sabia é que o Vitória age da mesma forma. É uma situação insustentável. Um atleta que nos representa deve ser apoiado, a vários níveis - incluindo a nível monetário. Não acredito que o Rui queira um ordenado chorudo. O que me parece é que o Rui quer, tal como o próprio disse, "deixar de pedir dinheiro aos pais". Disse-o com todo o direito. Ele não representa os pais, ele representa um país e uma instituição que deviam ter algum decoro e consideração e prestar-lhe todas as ajudas necessárias e possíveis.
Eu sei que a situação financeira do Vitória não é a ideal e que até o investimento no futebol é demasiado tímido mas se optámos por ter atletas deste calibre a representar o Vitória (e é com grande orgulho que eu vejo que somos um clube de campeões) temos de cumprir com as obrigações subentendidas de os apoiar sempre que precisam e procurar junto das instâncias adequadas mais apoio. A situação de que o Rui falou (e bem) é inadmissível e não pode ter lugar numa instituição que é e quer continuar a ser desportivamente incontornável e de relevo. Enquanto sócios temos a obrigação de não deixar cair esta situação em esquecimento e recorrer à palavra, por exemplo nas Assembleias Gerais, para tentar mudar a situação e providenciar condições mais confortável ao Rui e a todos os atletas que tal como o Rui nos representam e precisam. É um esforço que tem de ser feito obrigatoriamente. Os nossos campeões merecem ter os meios e apoios necessários para continuar a representar-nos ao mais alto nível! Os vitorianos, eu incluída, sempre se orgulharam de ser o país mais ecléctico do Minho e um dos mais eclécticos do país. É realmente muito especial ver todos os títulos ganhos pelas modalidades e ver o amor com que tantos atletas representam o Vitória. Não podemos perder isso, faz parte do nosso ADN e da nossa identidade!
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