terça-feira, 12 de julho de 2016

O Vitória é feito de muitas coisas

Foto: Vitória SC
Numa cadeira para a universidade estudei com alguma minúcia uma experiência realizada no final dos anos vinte numa empresa de electricidade nos Estados Unidos da América que pretendia relacionar a produtividade dos trabalhadores com a iluminação dos seus locais de trabalho. Depois de anos de investigação, as descobertas foram surpreendentes. Como qualquer experiência já recebeu muitas críticas mas, para mim, parece-me que a sua conclusão nos pode ensinar muita coisa sobre o sucesso de um grupo, de uma equipa. As conclusões, de forma muito resumida, mostram que a produtividade dependia de muito mais do que das condições dadas aos trabalhadores ou da sua remuneração económica. A produtividade aumentou porque os trabalhadores, na presença dos observadores "externos", se sentiam mais valorizados, mais importantes e se sentiam integrados numa causa, tinham um propósito, já não eram "peças da máquina". Chegou-se à conclusão de que os trabalhadores não agem de forma isolada, mas sim como membros do grupo, do todo, do colectivo e portanto eram mais produtivos se fossem tratados como tal. A relação com o Vitória? Já lá vamos!

Portugal é, manifestamente, um país onde o futebol é rei. Apesar da cultura futebolística ser um tanto ou quanto pobre na maioria das cidades portuguesas (Guimarães é, felizmente, uma excepção), é um país onde praticamente só se discute futebol, em que as capas de jornais desportivos só apresentam futebolistas, em que (alguns) futebolistas são reconhecidos e muito bem remunerados e em que se movem multidões por causa do futebol. Não há mal nenhum nisto e não é, de forma nenhuma, uma crítica até porque também eu sou uma apaixonada por futebol.

O Vitória tem a sua expressão máxima no futebol desde a sua fundação. No entanto o Vitória faz-se de muito mais do que de uma modalidade. O Vitória é o clube mais ecléctico do Minho e um dos mais eclécticos do país e é fundamental que assim se mantenha. Já falei sobre a importância que julgo que as modalidades têm para o Vitória e para o engrandecimento do clube. Temos um clube de campeões, que acumulam títulos atrás de títulos nas mais diversas modalidades e que se excedem a cada dia, a cada competição.

Acompanho, ainda que não tanto como gostaria, algumas modalidades. Na maioria das vezes em pavilhões despidos, sem o calor humano dos vitorianos, sem aquele apoio tão característico que se vive no D. Afonso Henriques, sem os cânticos que empurram uma equipa para a vitória, sem as bandeiras e sem a força da união que todos nós conhecemos e que passámos para as quatro linhas de qualquer campo de futebol pelo país fora. No entanto também já vi o que o apoio dos vitorianos pode fazer num pavilhão, o ânimo que podem dar à equipa e a diferença que podem fazer - e também nisto marcamos a diferença porque nunca vi em nenhum outro jogo de basquetebol o que já vi nas bancadas do nosso pavilhão, nem nos pavilhões daqueles que têm milhões.

Este apoio devia começar desde cima e devia estender-se aos adeptos, naturalmente. Infelizmente poucas foram as vezes em que vi alguém da direcção ou alguém mais proeminente da estrutura vitoriana a assistir aos jogos das modalidades, em especial do basquetebol - a modalidade que mais acompanho depois do futebol. A única vez que vi, até agora, alguém representar oficialmente a administração vitoriana foi na final da Taça de Portugal, em Fafe. Gostava de ver um maior apoio aos nossos atletas que tanto fazem e dão pelo Vitória!

A relação entre o Vitória e a experiência de Hawthorne, com que iniciei este post, penso ser esta. Não posso, claro está, falar pelos nossos atletas, mas acredito que são capazes de fazer ainda mais, de alcançar ainda mais se tivessem mais apoio - nosso, dos adeptos, mas também da direcção. Ao longo dos anos os nossos atletas têm feito muito com pouco, têm desbravado novos caminhos, têm chegado onde ninguém tinha chegado, têm alcançado sucesso, têm levado o nome do Vitória (e de Portugal) a todo o mundo, têm sido chamados para representar o país e vamos ter, inclusive, atletas nos Jogos Olímpicos. Se eles fazem tanto com pouco, imaginem tudo o que podiam fazer se tivessem mais apoio, mais meios à disposição. Há uma garra, um sangue de conquistador que corre nas veias dos nossos atletas que não está ao alcance de ninguém. Pode parecer uma declaração chauvinista, mas não é.

Mais do que uma crítica, entendam tudo o que escrevi hoje como um repto para que se possa fazer muito mais e melhor pelos nossos atletas, todos eles e de todas as modalidades. Um repto a todos os adeptos, como eu (e eu reconheço que a crítica que faço também é a mim porque apesar de me esforçar por acompanhar algumas modalidades, nem sempre o faço), um repto aos dirigentes vitorianos e também um repto aos portugueses em geral. Um repto para que possamos sair à rua para receber os campeões das modalidades, que possamos encher o Toural quando o Rui Bragança ganhar o ouro no Rio de Janeiro (assim espero!), que possamos dar-lhes o reconhecimento e o apoio que merecem por tudo o que já fizeram mas também para lhes proporcionar condições para continuar a lutar e para nunca desistir. Um repto também para que sejam proporcionadas condições para que os adeptos possam assistir aos jogos e apoiar - muitas vezes os jogos das modalidades são à hora dos jogos de futebol e por muito que nós, os vitorianos, sejamos excepcionais ainda não temos o dom da ubiquidade.

O Vitória é feito de muitas coisas. De preto e branco. De amor, paixão e dedicação. Da tradição e da modernidade. Da vontade de fazer mais, de fazer melhor. O Vitória é feito de amor eterno de quem o segue, dos melhores adeptos do mundo, de princípios e valores imprescindíveis, de muitas lutas. O Vitória também se faz do suor, da dedicação e das lágrimas de TODOS os seus atletas nas mais diversas modalidades. Ostracizá-los seria ostracizar e negligenciar uma parte do Vitória. A nossa grandeza assenta na diferença, na inclusão, em todos aqueles que representam este símbolo com orgulho, na diferença. Portanto que possamos, mais uma vez, ser pioneiros e dar o exemplo porque se há coisa que nós sabemos fazer é ser especiais e mudar as coisas. Vamos encher pavilhões, vamos apoiar incondicionalmente, vamos encher a cidade quando um dos nossos se sagrar campeão. O Vitória faz-se de campeões, isso ninguém nos pode tirar e é, sem dúvida, um motivo de orgulho e que devíamos celebrar em todas as oportunidades! O Vitória é feito de muitas coisas e é, sem dúvida, ainda maior por causa dos seus atletas!

2 comentários :

  1. Bom dia Raquel,

    Como já é habitual, gosto bastante de ler os teus textos, principalmente os relacionados com o nosso Vitória. E agora que já mudei novamente o chip (CAMPEÕES EUROPEUS finalmente) gostaria de fazer um comentário a este texto.

    Se me perguntas se gosto de ver o ecletismo do Vitória, a resposta rápida é sim. Se me perguntas se acompanho alguma modalidade para além do futebol, a resposta é não. Pode parecer incongruente, mas é a realidade. Não apenas minha mas da maior parte dos sócios e adeptos, como sabes perfeitamente. Da minha parte, não será apenas por falta de tempo, mas mais até por ser um adepto do futebol e nunca ter tido, desde que me lembro, paixão por outro desporto (então basquetebol e voleibol, que são as modalidades mais importantes a seguir ao futebol, não aprecio particularmente).

    Reafirmo que gosto do ecletismo do Vitória, até por uma questão de dar oportunidade a muitas crianças de poderem praticar todas essas modalidades que não só o futebol, e dá sem dúvida uma dimensão maior ao clube. Mas sendo realista, e atendendo a tudo o que se tem passado com todas essas modalidades, também sou da opinião de que ou se proporcionam todas as condições mínimas para que o clube saia dignificado, no mínimo, ou então mais vale não ter. Em vez de sermos ecléticos mas sem as condições básicas necessárias, seria melhor apostar em uma ou outra modalidade apenas, mas com objetivos bem definidos e preparados.

    Sabes que a grande força do Vitória reside no futebol. É indesmentível. E enquanto o futebol não conseguir atingir níveis que já atingiu no passado, mas estabilizando de forma consistente, o resto ficará sempre para segundo plano. O Vitória, sendo sem dúvida um Clube com uma grande força dos adeptos, não tem a dimensão do Porto, Benfica ou Sporting. É a realidade.

    Aprecio imenso esse teu fervor clubístico, e foi das coisas que mais me cativou quando comecei a ler os teus textos, e não quero de forma alguma "destruir" os teus sonhos e ambições quanto ao Vitória que pretendes para o futuro, aliás, gostaria que continuasses a espalhar os teus ideais, pois o Vitória precisa disso. É simplesmente um desabafo e a minha maneira de ver esta situação. Espero que compreendas.

    Saudações Vitorianas
    Rui

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  2. Olá Rui,
    Compreendo perfeitamente o seu comentário, mas de facto neste aspecto eu sou incurável. Sou apaixonada pelo Vitória, e sei que o Rui também, e por isso julgo que promover a discussão sobre temas importantes, como as modalidades, é uma espécie de "dever" enquanto sócia sempre na esperança de que, de alguma forma, possa engrandecer o Vitória e pontos de vistas diferentes são fundamentais!
    De facto, é isso mesmo que acontece com a maioria dos adeptos. Tal como refiro no texto que escrevi também não acompanho tanto assim as modalidades. Desde que me lembro que sou apaixonada por futebol, é a modalidade a que dedico mais tempo e à qual dou mais atenção (e isso vê-se até nas crónicas sobre o Vitória aqui no blogue, em que a maioria é centrada no futebol). No entanto gosto muito de basquetebol e portanto sempre que posso marco presença no pavilhão. Naturalmente que quem não aprecia as outras modalidades para além do futebol não terá interesse em assistir aos jogos ou acompanhar atentamente as temporadas.
    Infelizmente as condições (e apoio) proporcionadas aos atletas não são as melhores mas mesmo assim temos assistido a um grande crescimento de algumas modalidades como por exemplo o Taekwondo com atletas excelentes como o Rui Bragança (que vai estar presente nos Jogos Olímpicos!) e o Nuno Costa; o basquetebol também tem feito boas temporadas, nomeadamente na Taça de Portugal e faz frente ao clube que investe milhões na modalidade. Para além disso, e como referiu e bem, dá oportunidade a muitas crianças de praticar desportos menos habituais e com menos "oferta" do que o futebol e de se desenvolverem como atletas e como pessoas, mas não só. O Judo tem um projecto chamado Judo Para Todos que promove a prática de Judo Adaptado e parece-me ser um projecto muito importante a vários níveis - desmistifica a doença, promove a integração e a igualdade.
    Sem dúvida que a força do Vitória é o futebol, é inquestionável. É o que mobiliza mais gente, é a modalidade que recebe a maior fatia do orçamento e mais atenção. Compreendo tudo isto e não me oponho de forma nenhuma, muito pelo contrário. É a modalidade com mais expressão na Europa, e acho absolutamente necessário fazer do Vitória uma potência futebolística inquestionável a nível europeu e até mundial - não o digo de ânimo leve nem com a ideia de que poderia acontecer de dia para a noite, mas acredito que deva ser esse o objectivo a longo prazo do Vitória.
    É preciso muito esforço, da parte da administração e de todos os que estão envolvidos em cada modalidade, para continuar a fazer do Vitória um clube ecléctico. Até agora o clube tem sido muito dignificado por todos os que o representam, têm ganho vários troféus e têm vencido imensas competições nacionais e internacionais. Quando não o fizerem, e como o Rui diz, será um caso que merece reflexão por parte de todos. Para já considero que as modalidades têm sido uma mais-valia e espero que continuem a ser!
    Saudações vitorianas =)

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