terça-feira, 26 de julho de 2016

Amor e orgulho que transborda

Foto: O Lado V 
A imagem que dá o mote ao que hoje escrevo é, para mim, muito especial. Extremamente bem conseguida e oportuna, sempre a vi como uma representação fiel de toda a mística que há em Guimarães em torno do Vitória e que não é totalmente compreendida por quem está de fora. Não pretendo que quem está de fora compreenda no fim do texto o que, enquanto vimaranense e vitoriana, escrevo. Era um objectivo imbecil ao qual me propor. Quem não sente, não entende. É simples! No entanto há coisas sobre as quais nunca me canso de escrever, de falar e de partilhar porque considero serem realmente dignas de tal. É o caso do Vitória.

A união dos vimaranenses em geral em torno de um símbolo é admirável. Em Guimarães respira-se Vitória. Cresci, com muito orgulho, a ir a um estádio repleto, a participar em cordões humanos que atravessavam a cidade do hotel até ao estádio para apoiar da forma única como só os vitorianos sabem fazer, a ver o Toural cheio para festejar cada conquista - grande ou pequena - mas tinha a certeza que podíamos encher o Toural só porque transbordávamos de amor e orgulho. Cresci a ser parte do Vitória, a aprender os valores inerentes a tal, a apoiar aquilo que é nosso. Somos bairristas e isso faz-nos preservar a identidade que nos é passada pela família, o que é nosso e o Vitória é nosso, representa-nos, é um símbolo importante desta cidade. Como bons vimaranenses, quem é que poderíamos apoiar senão os branquinhos?

A ligação entre o clube e a cidade é indelével e ultrapassa largamente os aspectos palpáveis e óbvios. Guimarães não é, nem nunca foi, apenas a sede do Vitória. A história do clube funde-se com a história da cidade que se funde com a história de Portugal, são intrínsecas. Carregamos, cheios de orgulho, D. Afonso Henriques ao peito. O primeiro Rei da história portuguesa, o Rei destemido que lutou pela independência, o Rei conquistador que alargou os seus horizontes e os horizontes do seu povo. Aqui Nasceu Portugal. Aqui começou a conquista de um país, de uma nação e aqui estamos nós, descendentes do Rei, a querer fazer o mesmo. Conquistar o futebol português (e não só), a partir daqui.

No entanto, e apesar da relação tão especial entre o clube e a cidade, o Vitória não é só de Guimarães. Seria redutor fazer essa afirmação. O Vitória é de todos os sítios onde haja pelo menos um vitoriano. O Vitória é de todos os lugares onde um vitoriano se sente um super-herói quando enverga aquela que considera a camisola mais bonita de todas. O Vitória é de todos os lugares onde um vitoriano saca do cachecol e o levanta bem alto para mostrar o quanto orgulho tem nas cores que defende. O Vitória é de todos os lugares onde um vitoriano desata a contar as mil histórias de que se lembra ao jantar com os amigos que até apoiam clubes rivais, desta ou daquela deslocação, deste ou daquele jogo, e faz toda a gente rir-se à mesa e no minuto a seguir os consegue porque ele próprio já estava com os olhos a brilhar. O Vitória é de todos os lugares onde um vitoriano põe a bandeira às costas e nem quer saber do calor que está, porque o orgulho é muito maior. O Vitória é de todos os lugares onde um vitoriano mostra o símbolo e tira uma fotografia para partilhar porque faz parte da nossa vida. O Vitória é de todos os lugares onde um vitoriano fala do Vitória, se orgulha do Vitória, sente saudades de casa e da família - ou seja, do estádio e de todos os que partilham consigo aquelas bancadas que tantas histórias podem contar. O Vitória será sempre dos vitorianos, estejam onde estiverem.

É por isso que somos tão especiais. Onde o Vitória vai, nós vamos com ele. Onde nós vamos, ele vai connosco. É uma ligação incondicional, construída com muita paixão e dedicação. Somos a força do Vitória e temos a obrigação de passar isso aos nossos, de partilhar o Vitória para não deixar este ADN nem esta mística esmorecer. É demasiado única para tal. Somos o Vitória e o Vitória é nosso. Até morrer e nada nos pode tirar isso!

terça-feira, 19 de julho de 2016

O início aproxima-se

Foto: Vitória SC
Os indicadores dos primeiros testes da pré-temporada são positivos. Em quatro jogos disputados (três da equipa A e um da equipa B) somámos quatro vitórias: três no tempo regulamentar e uma decidida da marca de grandes penalidades; contamos com 22 golos marcados e apenas 3 sofridos e um troféu conquistado - do Torneio do Centenário do Varzim. É ainda prematuro tentar tirar qualquer conclusão destes números, principalmente porque são testes que contam mais pelo desempenho da equipa do que pelo resultado, no entanto não os podemos desvalorizar por completo afinal estamos a menos de um mês do início do campeonato - e a partir do primeiro minuto, todos os pontos contam e são importantes!

Estes quatro testes tiveram como adversários Fareja, Oliveirense, Chaves e Rio Ave sendo que apenas os dois últimos militam no mesmo escalão da equipa A do Vitória e foram, com o devido respeito a todas as equipas, os testes mais sérios. Frente ao Chaves foi necessário a equipa A batalhar muito para chegar ao resultado final. O tempo regulamentar acabou com um empate sem golos e foram precisos 34 (!) penaltis para o Vitória garantir a passagem à final. Com muitos penaltis falhados de ambas as partes e alguns defendidos pelos guardiões das redes, acabou com o numerador a contar 10 para nós e 9 para eles. Quanto ao desempenho da equipa tenho de me abster de tecer grandes comentários porque vi o jogo apenas parcialmente através da excelente transmissão em directo levada a cabo pelo Grupo Santiago, no entanto deixo dois pontos positivos: o regresso de Alex que se mostrou capaz e o papel fundamental de Miguel Silva na decisão por grandes penalidades, em que defendeu os três primeiros e o último e decisivo penalti numa demonstração de qualidade (não, os penaltis não são sorte ou uma espécie de russian roulette do futebol) que dá garantias de que continuará a ser uma figura de relevo das balizas portuguesas e uma excelente competição para Douglas. O ponto mais negativo foi, claramente, a lesão de Vigário. Alguns jornais desportivos davam conta de que, se o Vitória alcançasse a final, iria ser a equipa B a entrar em campo. Assim foi. Esta decisão demonstra que existe a harmonia e o entendimento necessários (que não se viu o ano passado) para a formação "principal" abdicar de disputar uma final mas, pessoalmente, não entendi o a lógica - jogar frente ao Rio Ave era uma boa oportunidade para pôr a equipa A à prova, afinal à 9ª jornada desloca-se a Vila do Conde. A equipa B, com alma e coração, não desperdiçou a oportunidade. Apesar de o começo não ter sido fácil e a perder por duas bolas a zero aos 20 minutos, foram competentes e mostraram-se à altura de serem chamados conquistadores ao virar o marcador para 3-2 e levantar o primeiro troféu da época!

A pré-época serve essencialmente para que a equipa se possa conhecer, entrosar, assimilar as ideias do treinador e se preparar para uma época intensa e onde falhar pode custar os objectivos da época. A equipa ainda não está fechada e com certeza vão haver ainda algumas movimentações (que, estupidamente, não acabam com o início do campeonato mas sim com o mês de Agosto) que, em princípio, vão acrescentar valor e qualidade à equipa. A média de idades, apenas mais um dado (ainda sensível a mudanças e portanto não é definitivo) mas que tem sido relevante na construção e desempenho das equipas vitorianas dos últimos anos, situa-se à data de redacção desta crónica nos 25 anos, de acordo com o site ZeroZero (onde Marega e Licá já são dados como certos sendo que ainda não é uma informação confirmada oficialmente por nenhuma das partes). Nos últimos anos a média de idades situava-se entre os 23 anos com a média mais baixa, de 22 anos, na época 2012/2013 (que terminou com a conquista da Taça e a mais alta em 2011/2012, com uma equipa com uma média de idades de 26 anos. É mais uma curiosidade do que um dado a considerar para qualquer propósito, no entanto julgo que é uma equipa jovem (a média não é tão baixa como nos anos anteriores mas temos de ter em conta alguns desfasamentos nas idades, como por exemplo entre Douglas e Miguel; o primeiro tem 33 anos e o segundo 21) mas que conta com um bom número de jogadores com experiência no futebol português. Esta combinação parece-me capaz de ser muito benéfica se devidamente aproveitada: o cruzamento de jogadores com mais conhecimento, segurança e em princípio mais certeiros com jogadores mais ousados, irreverentes, menos contidos, com vontade de se mostrar, menos convencionais e mais atrevidos. A pré-época ainda reserva mais uns testes interessantes e que podem ser proveitosos para o desenvolvimento e preparação da equipa pois são todos adversários que vamos encontrar, uns mais tarde e outros mais cedo, durante o campeonato. O próximo é já amanhã, mais uma vez frente ao Chaves; segue-se a participação no Torneio Capital do Móvel no próximo fim-de-semana que nos opõe, na sexta-feira, ao anfitrião Paços de Ferreira e no sábado frente ao Boavista. Para fechar o mês de Julho, no dia 31, o Vitória apresenta-se aos seus sócios na recepção ao Porto.

O início aproxima-se e, apesar de eu ser da opinião de que não há jogos fáceis, o nosso calendário tem um início intenso. Não é assustador, como já ouvi dizer, até porque de cada lado começam onze jogadores e a bola é redonda. No entanto começa a toda a velocidade e com muitas emoções com o mais intenso e interessante derby português a abrir as hostes no reduto vitoriano. Um jogo com características peculiares e com uma intensidade e pressão para a qual os jogadores que nunca o viveram "por dentro" têm de estar preparados. Segue-se o Marítimo na Madeira, onde o Vitória não apresenta um histórico favorável, e recebemos o Paços de Ferreira no castelo. Depois o Vitória desloca-se ao Dragão, onde não costuma ser fácil vencer o Porto e recebemos o Belenenses. A 6ª jornada está reservada para o derby vimaranense, que na primeira volta se disputará na casa do nosso vizinho Moreirense. Voltamos ao castelo para receber o Sporting e temos dois jogos fora consecutivos para encerrar o mês de Outubro: primeiro no Estoril e depois frente ao Rio Ave. Portanto dizer que vai ser fácil é meio caminho andado para ser tremendamente difícil. Deixa de haver desculpas depois do relógio começar a correr na nossa casa. A partir é a sério, todos os pontos são imprescindíveis e é importante lutar por cada um com garras e dentes, sem nunca desistir e sem nunca voltar as costas à luta. É fundamental que à data do primeiro jogo as tropas estejam preparadas para entrar em combate e para conquistar Portugal. A nós, o imprescindível e sempre presente 12º jogador, cabe-nos preparar as vozes, as camisolas, os cachecóis, as bandeiras e, principalmente, os corações para mais um ano de apoio, algum sofrimento, muita felicidade e um espectáculo incomparável nas bancadas.

Aos vossos lugares, conquistadores!

segunda-feira, 18 de julho de 2016

Madiba, o mundo precisa tanto de ti


Ninguém nasce a odiar outra pessoa devido à cor da sua pele, ao passado ou religião. As pessoas aprendem a odiar, e, se o podem fazer, também podem ser ensinadas a amar, porque o amor é mais natural no coração humano do que o seu oposto.

terça-feira, 12 de julho de 2016

Parabéns Malala

A Malala é, desde que conheci a sua história, das pessoas que mais admiro. É uma mulher destemida, decidida e muito capaz. Luta, sem medo, pelo que acredita, pela igualdade. Arriscou mais do que uma vez a sua vida por uma causa nobre, para melhorar o mundo. Todos os anos, no seu aniversário, viaja para sítios onde barreiras estão erguidas para manter meninas e mulheres longe da educação. Hoje, está no Quénia, num dos maiores campos de refugiados do mundo. Está lá porque acredita. A Malala, aos 19 anos, é a prova de que uma pessoa pode mudar o mundo. É talvez a maior inspiração da minha vida, uma heroína de verdade - carne e osso. Palavras não chegam e nunca serão suficientes para falar sobre tamanha grandeza, tamanha mulher. Se todos tivermos um bocadinho de Malala dentro de nós, então somos capazes de fazer do mundo um mundo melhor para todos.
Obrigada Malala! Obrigada por mudares o mundo, por me inspirares e por me ensinares que com muita luta é possível alcançar todos os nossos objectivos! Obrigada por nunca desistires deste mundo feio e que já te deve tanto! Obrigada, obrigada, obrigada!
Parabéns por dezanove anos de grandeza.

O Vitória é feito de muitas coisas

Foto: Vitória SC
Numa cadeira para a universidade estudei com alguma minúcia uma experiência realizada no final dos anos vinte numa empresa de electricidade nos Estados Unidos da América que pretendia relacionar a produtividade dos trabalhadores com a iluminação dos seus locais de trabalho. Depois de anos de investigação, as descobertas foram surpreendentes. Como qualquer experiência já recebeu muitas críticas mas, para mim, parece-me que a sua conclusão nos pode ensinar muita coisa sobre o sucesso de um grupo, de uma equipa. As conclusões, de forma muito resumida, mostram que a produtividade dependia de muito mais do que das condições dadas aos trabalhadores ou da sua remuneração económica. A produtividade aumentou porque os trabalhadores, na presença dos observadores "externos", se sentiam mais valorizados, mais importantes e se sentiam integrados numa causa, tinham um propósito, já não eram "peças da máquina". Chegou-se à conclusão de que os trabalhadores não agem de forma isolada, mas sim como membros do grupo, do todo, do colectivo e portanto eram mais produtivos se fossem tratados como tal. A relação com o Vitória? Já lá vamos!

Portugal é, manifestamente, um país onde o futebol é rei. Apesar da cultura futebolística ser um tanto ou quanto pobre na maioria das cidades portuguesas (Guimarães é, felizmente, uma excepção), é um país onde praticamente só se discute futebol, em que as capas de jornais desportivos só apresentam futebolistas, em que (alguns) futebolistas são reconhecidos e muito bem remunerados e em que se movem multidões por causa do futebol. Não há mal nenhum nisto e não é, de forma nenhuma, uma crítica até porque também eu sou uma apaixonada por futebol.

O Vitória tem a sua expressão máxima no futebol desde a sua fundação. No entanto o Vitória faz-se de muito mais do que de uma modalidade. O Vitória é o clube mais ecléctico do Minho e um dos mais eclécticos do país e é fundamental que assim se mantenha. Já falei sobre a importância que julgo que as modalidades têm para o Vitória e para o engrandecimento do clube. Temos um clube de campeões, que acumulam títulos atrás de títulos nas mais diversas modalidades e que se excedem a cada dia, a cada competição.

Acompanho, ainda que não tanto como gostaria, algumas modalidades. Na maioria das vezes em pavilhões despidos, sem o calor humano dos vitorianos, sem aquele apoio tão característico que se vive no D. Afonso Henriques, sem os cânticos que empurram uma equipa para a vitória, sem as bandeiras e sem a força da união que todos nós conhecemos e que passámos para as quatro linhas de qualquer campo de futebol pelo país fora. No entanto também já vi o que o apoio dos vitorianos pode fazer num pavilhão, o ânimo que podem dar à equipa e a diferença que podem fazer - e também nisto marcamos a diferença porque nunca vi em nenhum outro jogo de basquetebol o que já vi nas bancadas do nosso pavilhão, nem nos pavilhões daqueles que têm milhões.

Este apoio devia começar desde cima e devia estender-se aos adeptos, naturalmente. Infelizmente poucas foram as vezes em que vi alguém da direcção ou alguém mais proeminente da estrutura vitoriana a assistir aos jogos das modalidades, em especial do basquetebol - a modalidade que mais acompanho depois do futebol. A única vez que vi, até agora, alguém representar oficialmente a administração vitoriana foi na final da Taça de Portugal, em Fafe. Gostava de ver um maior apoio aos nossos atletas que tanto fazem e dão pelo Vitória!

A relação entre o Vitória e a experiência de Hawthorne, com que iniciei este post, penso ser esta. Não posso, claro está, falar pelos nossos atletas, mas acredito que são capazes de fazer ainda mais, de alcançar ainda mais se tivessem mais apoio - nosso, dos adeptos, mas também da direcção. Ao longo dos anos os nossos atletas têm feito muito com pouco, têm desbravado novos caminhos, têm chegado onde ninguém tinha chegado, têm alcançado sucesso, têm levado o nome do Vitória (e de Portugal) a todo o mundo, têm sido chamados para representar o país e vamos ter, inclusive, atletas nos Jogos Olímpicos. Se eles fazem tanto com pouco, imaginem tudo o que podiam fazer se tivessem mais apoio, mais meios à disposição. Há uma garra, um sangue de conquistador que corre nas veias dos nossos atletas que não está ao alcance de ninguém. Pode parecer uma declaração chauvinista, mas não é.

Mais do que uma crítica, entendam tudo o que escrevi hoje como um repto para que se possa fazer muito mais e melhor pelos nossos atletas, todos eles e de todas as modalidades. Um repto a todos os adeptos, como eu (e eu reconheço que a crítica que faço também é a mim porque apesar de me esforçar por acompanhar algumas modalidades, nem sempre o faço), um repto aos dirigentes vitorianos e também um repto aos portugueses em geral. Um repto para que possamos sair à rua para receber os campeões das modalidades, que possamos encher o Toural quando o Rui Bragança ganhar o ouro no Rio de Janeiro (assim espero!), que possamos dar-lhes o reconhecimento e o apoio que merecem por tudo o que já fizeram mas também para lhes proporcionar condições para continuar a lutar e para nunca desistir. Um repto também para que sejam proporcionadas condições para que os adeptos possam assistir aos jogos e apoiar - muitas vezes os jogos das modalidades são à hora dos jogos de futebol e por muito que nós, os vitorianos, sejamos excepcionais ainda não temos o dom da ubiquidade.

O Vitória é feito de muitas coisas. De preto e branco. De amor, paixão e dedicação. Da tradição e da modernidade. Da vontade de fazer mais, de fazer melhor. O Vitória é feito de amor eterno de quem o segue, dos melhores adeptos do mundo, de princípios e valores imprescindíveis, de muitas lutas. O Vitória também se faz do suor, da dedicação e das lágrimas de TODOS os seus atletas nas mais diversas modalidades. Ostracizá-los seria ostracizar e negligenciar uma parte do Vitória. A nossa grandeza assenta na diferença, na inclusão, em todos aqueles que representam este símbolo com orgulho, na diferença. Portanto que possamos, mais uma vez, ser pioneiros e dar o exemplo porque se há coisa que nós sabemos fazer é ser especiais e mudar as coisas. Vamos encher pavilhões, vamos apoiar incondicionalmente, vamos encher a cidade quando um dos nossos se sagrar campeão. O Vitória faz-se de campeões, isso ninguém nos pode tirar e é, sem dúvida, um motivo de orgulho e que devíamos celebrar em todas as oportunidades! O Vitória é feito de muitas coisas e é, sem dúvida, ainda maior por causa dos seus atletas!

quinta-feira, 7 de julho de 2016

Paris est toujours une bonne idée

A um jogo do título. A um jogo de fazer história. Já merecemos escrever esta página. Pelo esforço, pela dedicação e pelo amor. Não somos onze milhões, somos muitos mais. Com vocês! Vamos juntos.
Obrigada rapazes.

quarta-feira, 6 de julho de 2016

Portugal

O percurso de Portugal no Europeu está a tomar contornos peculiares. Estamos a poucas horas de defrontar o País de Gales nas meias-finais sem ganhar nenhum jogo no tempo regulamentar. Fase de grupos: três empates. No final do primeiro jogo, frente à supostamente fraca Islândia (que de fraca não teve nada), as críticas já davam o ar de sua graça, sempre pertinentes: "se não ganhamos o próximo jogo podemos fazer as malas e apanhar o avião". Não ganhamos e somámos apenas mais um ponto frente à Áustria: "se não ganhamos a estes dois nem vale a pena passar a fase de grupos para não sermos humilhados". Voltamos a empatar no terceiro jogo frente à Hungria, passámos a fase de grupos em terceiro lugar com três pontos: "agora é que eles vão ver o que é bom para a tosse".

Aterramos nos oitavos. Pela frente tínhamos a Croácia. Era agora que íamos ver o que é bom para a tosse, no que resulta só ter jogadores peneirentos e com a mania, que aquecem de brinco e que postam selfies nas redes sociais. Era a Croácia que nos ia mandar à vidinha que já se fazia tarde. Só que não foi. Juntamos mais um empate à colecção e seguimos para o prolongamento depois de um jogo quase sempre adormecido e marcado pelo rigor táctico. O prolongamento quase anunciava o mesmo desfecho e já estávamos todos com a cabeça (e o coração, principalmente o coração) nos penaltis até que aparece Quaresma em todo o seu esplendor. Cento e dezassete minutos de jogo e a bola estava dentro da baliza, com mestria. Finalmente! Fim do prolongamento: 1-0, para nós. Mais uma etapa superada.

Chegamos aos quartos com a menos assustadora Polónia pela frente. Menos assustadora não significa mais fácil, principalmente numa altura em que cada minuto conta e não há equipas fracas. Começa o jogo e em dois minutos, sem nos deixar sequer acomodar como deve de ser no sofá, Lewandovski decidiu fazer o gosto ao pé. 1-0, para eles. "Pronto, já fomos. Eu não disse? A sorte não dura para sempre." diziam os que só vêm o copo meio vazio. O cenário não era favorável, de forma nenhuma. Estávamos a perder, os polacos a correr mais e com mais energia e os heróis do mar estavam apáticos, muitos já não pareciam acreditar (e será que é justo exigir-lhes que acreditem quando meia nação não o faz?). Eis que, pouco depois da meia hora de jogo, a maré muda. O miúdo Renato mostrou que sabe ser um crescido com a bola nos pés e com muita qualidade mandou a bola para o fundo das redes. Depois foi só mostrar aos polacos quem eram os especialistas em empates. 1-1, fim do jogo. Outra vez no prolongamento. Duas equipas com medo de sofrer resultou em duas equipas sem marcar. Assim foi. 1-1, fim do prolongamento que se é para empatar, é para empatar a sério. Seguiam-se os penaltis e desta não tínhamos o Ricardo para tirar as luvas e mandá-la para o fundo da baliza. Começou! Cristiano Ronaldo beija a bola e coloca-a na marca das grandes penalidades. É contigo, capitão! Sem hesitar marcou o primeiro. 1-0, comanda o melhor do mundo. Lewandovski empata. 1-1. Era a vez do miúdo Renato brilhar outra vez. 2-1. Milik a não desperdiçar coloca o resultado de novo empatado. 2-2. Sofre coração português, sofre. Era a vez de Moutinho. 3-2. Glik volta a deixar tudo igual. 3-3. Nani põe Portugal em vantagem. 4-3. Blaszczykowski posiciona-se na marca de grandes penalidades e coloca a bola numa trajectória certeira não estivessem lá as mãos de Patrício. Não passou! 4-3. Estava tudo nas nossas mãos, que é como quem diz que estava tudo nos pés de Quaresma. Era só mais um bocado de magia daqueles pés e estávamos nas meias. Tudo ou nada e tinha de ser tudo, que precisamos do coração para o resto dos jogos. Sem medos. Estava lá dentro. 5-3!! Estávamos nas meias, estávamos mais perto de Paris.

Do percurso de Portugal já muitos falavam praticamente desde o início, nas redes sociais e não só. Chamavam-nos Luckgal porque só podia ter sido a sorte a conduzir-nos até às meias-finais. A imprensa francesa mostrou desde o início muito interesse na equipa das quinas. Alguns jornaleiros (o problema de uma imprensa fraquinha não afecta só Portugal) franceses decidiram levar este discurso ao extremo. Diziam eles que o nosso futebol é "nojento" e mais tarde chegaram a afirmar que "não merecem estar nas meias-finais". Acho piada e tenho pena, principalmente por serem os franceses a dizê-lo. A história já lhes devia ter ensinado que não se atiram pedras quando se tem telhados de vidro. O telhado de vidro deles, e espero que não se tenham esquecido porque é realmente muito frágil, é um golo que lhes concedeu o apuramento para o Mundial de 2010. A escandalosa bola na mão de Thierry Henry que resulta em golo frente à República da Irlanda. Queridos jornaleiros franceses, tenho só uma pergunta para vocês, se me estão a ler: será que é mais nojento passar com a) um golo irregular ou com b) a decisão a ser tomada no prolongamento ou penaltis? Acho que a resposta é unânime, é claramente nojento passar com um lance irregular e não é nada nojento passar com mérito, como é o nosso caso.

Portugal ainda não esteve no seu melhor, não foi superior à maioria das equipas que defrontou nem mostrou um futebol de elevado nível mas Portugal merece respeito. Merece respeito porque chegou às meias finais por mérito próprio e não devido a irregularidades ou jogos de bastidores. Merece respeito porque os nossos jogadores já têm mais minutos nas pernas do que os outros todos. Merece respeito porque protagonizou um dos jogos mais emocionantes e vivos do Europeu, frente à Hungria. Merece respeito porque, apesar de tudo, têm um percurso com percalços mas conquistado, etapa a etapa, com muito coração e muita entrega. Há muita margem de manobra para melhorar e temos tudo para melhorar já contra o País de Gales.

No final do dia é tudo uma questão de perspectiva, se pensarem bem no assunto. Uns preferem ver o copo meio vazio e dizer que "Portugal está nas meias-finais sem ganhar nenhum jogo". Afirmam que só pode ser sorte, a qualquer momento estamos de malas feitas e prontos a voltar para Portugal. Outros, como eu, preferem ver o copo meio cheio e dizer que "Portugal está nas meias-finais sem perder nenhum jogo". Digo com certeza que só pode ser mérito e que este pode ser finalmente o ano e o momento de Portugal fazer história. Estamos todos certos. Portugal ainda não ganhou nenhum jogo mas a verdade é que também não perdeu nenhum. Há duas perspectivas pelas quais podemos olhar para o nosso percurso e eu escolho a segunda porque acredito, acredito sempre. Pode ser uma escolha ingénua de quem acredita que tudo é possível até ao último instante mas sei que podemos fazer mais e chegar mais longe. Há muitos aspectos a melhorar e o futebol praticado podia ser muito mais espectacular e cativante mas estou plenamente convicta de que se estamos onde estamos o mérito é nosso e nada há de nojento nisso. Há mérito e luta, somente! Tenho orgulho do nosso percurso, da nossa selecção e do nosso país. Acredito e reitero que vou acreditar até ao fim! Juntos podemos fazer história. Onze milhões, unidos. Por Portugal!

terça-feira, 5 de julho de 2016

Espectadores do circo

Enquanto o leão não aprender a escrever,
o caçador vai ser sempre glorificado.
- Provérbio Africano


O que mais gosto no provérbio com que dou início a este post é que não é, de todo, sobre leões e caçadores. É sobre opressores e oprimidos. A sua origem remonta aos tempos de colonização em África. Se as antigas colónias não escrevessem sobre a colonização e as suas implicações, inclusive nas suas vidas diárias até ao dia de hoje, apenas conhecíamos a história dos colonizadores - e esses, provavelmente, diriam que estavam no seu direito de fazer o que fizeram e que o fizeram por bem. Se os escravos não tivessem escrito sobre as crueldade e desumanidade da escravatura, hoje só conheceríamos o ponto de vista dos esclavagistas - e estes iam defender apenas a sua posição, iam arranjar argumentos disparatados sobre como a cor inferioriza uns e superioriza outros, iam tentar justificar a desumanização dos seus actos. Imaginem que toda a literatura sobre o Holocausto era apenas escrita pelos nazis. Só teríamos uma única perspectiva de um dos períodos mais monstruosos da História. Sem a visão dos oprimidos, nunca poderíamos compreender totalmente um conflito e a tendência de perpetuar os mesmos ciclos de opressão era muito mais elevada.

Aparentemente este provérbio, assim como o parágrafo anterior, não tem relação nenhuma com o Vitória. Podem achar que nada do que escrevi até agora faz sentido, mas se fizermos o exercício de o aplicarmos a um contexto muito menos violento, muito mais diplomático, menos literal e com menos importância na história mundial e na sociologia acaba por fazer sentido. Opressores e oprimidos. Acho que já perceberam onde quero chegar. O futebol português é feito, de certa forma, de opressores e oprimidos. Claro que a uma escala muito, muito menor relativamente aos eventos da História a que faço referência inicialmente. Não tem, sequer, comparação e não estou a tentar comparar o futebol português ao Holocausto! A ideia fundamental é que, como em todas as histórias de opressores e oprimidos, há um sistema baseado na diferença, no poder e no dinheiro. O futebol português é, cada vez mais, assim. Olha-se para a tabela classificativa como se fossem 3 + os outros. Infelizmente esta visão redutora da liga é partilhada pelos órgãos oficiais que regulam o futebol em Portugal, pela comunicação social e até mesmo pelos presidentes dos "outros" que continuam a prestar subserviência perante os do costume.

O futebol português está sujo, corrompido, nojento e completamente manipulado para facilitar a vida a três, e nem preciso de fazer referência a nomes, e para prejudicar a vida dos restantes.  A arbitragem sectária, a disciplina que consagra uns como filhos e outros como enteados, os sorteios estranhos, as regras sem cabimento que não conhecem igualdade, as capas de jornais sempre dedicadas aos mesmos, o tempo de antena oferecido a uns e roubado a outros. Tudo isso, e tudo o resto a que não faço referência, é vergonhoso. É uma autêntica burla a todos nós, ingénuos espectadores deste circo, e uma descarada falta à verdade desportiva e aos princípios de igualdade e ética. Uma burla grave a todos nós que pagamos quotas, cadeira, bilhetes para jogos em casa e fora, gastámos dinheiro em viagens e muitos de nós poupam para o fazer, faltamos a compromissos porque "hoje não dá, joga o Vitória", gerimos o nosso tempo em função dos jogos, passámos frio e apanhámos chuva ou então passamos por um calor abrasador e um sol que não dá tréguas, conforme estiver o tempo - isso é só um pormenor quando comparado com a dimensão do nosso amor. Isto não é uma queixa, de forma absolutamente nenhuma e acho que agora posso escrever em plural, calculo que sentimos todos o mesmo. Se assim não é, peço desculpa antecipadamente. Fazemos o que fazemos com gosto e falamos disso com os olhos a brilhar de orgulho, a paixão e o amor a fervilhar e a moldar a voz. Sacámos do cartão de associado e contamos mil histórias em cinco minutos, e nem assim dizemos tudo o que queríamos dizer. Às vezes a voz mal se ouve, seja pela emoção ou porque estamos roucos por causa do último jogo em que gritamos até não dar mais - e dá sempre mais - ou porque ficámos doentes (ou uma mistura de tudo isso). Acontece e faz parte, ninguém se queixa. Até nos vangloriamos disso. Os outros que não ficam assim não têm as nossas histórias nem fazem história porque não saem do sofá e, todos sabemos, não entendem o amor verdadeiro a um símbolo porque passam a vida no sofá a escolher o clube por quem vão torcer na próxima época porque naturalmente isso depende do que dizem os jornais, as redes sociais, os outros e se o clube ganha ou não títulos.

Quem é o culpado desta burla? A culpa do crime tem de recair no criminoso, naturalmente. A culpa é de quem toma as decisões, quem manda e pode. Esses sabemos quem são e pouco ou nada podemos fazer, enquanto espectadores, para mudar isso. No entanto não são os únicos culpados. Quem é cúmplice também é criminoso, quem acena a cabeça em sinal de concordância também falta à verdade, quem não age contra também está contaminado, quem sabe e não abre a boca para se revoltar não está a agir em conformidade. Falar contra o e quem está mal pode trazer dissabores, críticas menos favoráveis e consequências amargas. No entanto a revolta tem o poder de mudar as coisas, de alterar o futuro e de fazer a diferença. A conformidade e o silêncio são, desde sempre, os maiores inimigos do progresso. A História ensina-nos isso. Se bem que o silêncio possa ser uma decisão sensata de vez em quando nunca é sensato fazê-lo quando isso nos prejudica, quando é um sinal de obediência, cabeça baixa sobre os narizes empinados. Quando o silêncio é perante aqueles que nos tiram os nossos direitos e perante quem já mostrou não ter princípios, então o silêncio nada mais é do que um sinal de cobardia e de falta de liderança. Nesses casos, o silêncio legitima o criminoso, dá-lhe o à-vontade necessário para continuar a agir da mesma forma, legitima o fosso de desigualdades, legitima o crime, a burla. De vez em quando, e sempre que necessário, é preciso dar um murro na mesa. Infelizmente há muito tempo que, no Vitória, ninguém dá um murro na mesa. Por isso o Vitória continua à procura das migalhas, à espera que elas caiam da mesa dos adultos onde ainda não se pode sentar porque os outros não deixam. Precisamos de reclamar o nosso lugar de uma vez por todas. O silêncio e o comodismo à falta de verdade desportiva já nos roubou muito, muitos pontos, o respeito de alguns meios de comunicação e acredito mesmo que já nos possa ter custado o campeonato.

Embora o Vitória seja o único clube com o qual me importo, reconheço que neste assunto nenhum dos "outros", inclusive nós, pode ser uma ilha desligada das outras ilhas. Devemos ser, antes, um arquipélago na luta pela verdade desportiva, pelo tratamento igual e pelos nossos direitos. No caso do Vitória, como já disse o único que realmente me importa, não vejo iniciativa para mudar o panorama, para progredir. Apenas silêncio, por vezes interrompido por um comunicado vago e pouco específico e que, no final, costuma servir para tapar o sol com a peneira. Um clube que tem como figura máxima um líder e um conquistador, D. Afonso Henriques, tem de ser o primeiro a iniciar uma revolução, uma mudança e a liderá-la com convicção e certeza, pronto a enfrentar o que encontrar no caminho. Com um povo que não se cala nas bancadas, jogo após jogo, época após época, em jogos ou em treinos, dentro do estádio ou fora, no berço ou noutro estádio, e quem nos representa tem de perceber que o silêncio não é aceitável nem deve ser sequer uma opção. A subserviência aos outros é uma admissão de que o tratamento diferente tem uma base legítima e sólida quando, na verdade, não tem, é uma admissão de que uns são menos e os "escolhidos" são mais apenas porque têm mais dinheiro e poder. E porque é que têm mais dinheiro e poder? Por causa deste ciclo vicioso, de tirar aos que pouco têm para dar aos que têm a mais. No fundo, quase uma reflexão do país em que vivemos.

O maior erro que esta direcção cometeu até agora foi, na minha opinião (e esta vale o que vale), o silêncio em diversas situações e que continua a coagir com este crime sem precedentes protagonizado pela imprensa, liga, federação. Os direitos devem ser para todos de igual forma. Quem representa um clube da dimensão do Vitória não pode calar-se na iminência da injustiça com medo de represálias. Se fosse essa a nossa história, hoje seríamos espanhóis. Não somos! A única opção de saída deste ciclo vicioso é o de contar a história, falar, dialogar, protestar, revolucionar, mudar o curso. Quando os sistemas não funcionam, é necessário alguém com coragem para tomar medidas disruptoras e para alterar o panorama, parar este ciclo vicioso que não faz sentido e cansa todos os que, como eu, gostam e contribuem para o crescimento do meu clube, o clube da cidade que me viu crescer e que constituí a base do meu crescimento, que apoia o clube da terra sem prestar atenção aos parolismos e estarolismos que poluem o futebol em Portugal. Cansa-me ver este ciclo continuar sem que os prejudicados se revoltem e reclamem os seus direitos. Precisamos de coragem. O Vitória e o futebol português em geral precisam de coragem. Coragem para mudar o que está estático à tantos anos e que tão mal tem feito aos estádios e aos clubes que não são os supostos "grandes". O leão sabe escrever mas infelizmente ainda não aprendeu a contar uma história diferente da dos caçadores.

Cinquenta livros por ano

Stuttgart City Library, Germany
Queria ser como o Bill Gates e ler cinquenta livros por ano. Seguir os exemplos de um homem assim só pode ter resultados positivos. É um dos meus objectivos a longo prazo. Não pelo número, porque não é o mais importante, mas sim porque mais livros significa mais conhecimento. É uma das coisas que gosto mais de fazer. Sentar-me num sítio confortável e ter o meu livro como companhia. Ou então tirar o livro da mala nos lugares menos confortáveis e transportar-me para outro sítio bem mais interessante. Os livros são escritos para fazer a nossa vida melhor. Desde o início do ano li 12. Estou a ler o décimo terceiro, é o The Godfather de Mario Puzo. Não vou chegar aos cinquenta este ano, mas um ano destes vou conseguir.