quinta-feira, 25 de junho de 2015

A minha estante | Macbeth

Nome original: Macbeth
Nome em Portugal: Macbeth
Autor: William Shakespeare
Editora: Relógio D'Água
Nrº de páginas: 144
Estou em crer que não sou a única que, depois de comprar um livro, fica cheia de vontade de o ler de um só trago mas quando o abre pensa "não, não vai ser hoje" e de facto não é nesse dia, nem no seguinte, mas algum dia é. Aconteceu-me com a primeira obra que me chegou às mãos de William Shakespeare. Não se assustem, eu conheço os títulos e os assuntos das obras mais famosas, mas nunca tinha lido nenhuma do princípio ao fim. Andava com muita vontade para ler Macbeth, mas sempre que pegava nele sentia que não lhe ia dar atenção que merecia. Decidi dedicar-lhe as minhas atenções ontem e acabei de o ler à cerca de uma hora. Não foi de um trago, mas foi de dois.
Tinha medo de não conseguir ler este livro por duas razões. A primeira é a mais óbvia - é a primeira obra de teatro que li, era uma experiência completamente nova para mim. A segunda razão é a idade do livro, que data de 1606 (não se conhece a data em que foi escrito, presume-se que entre 1599 e 1606, sendo que esta é a data comummente utilizada). Não que eu não esteja habituada a ler livros antigos: os meus favoritos datam de 1877 (Anna Karenina de Leo Tósltoi) e 1925 (The Great Gatsby, de F. Scott Fitzgerald) mas tinha medo que esta, sendo muito mais antiga, fosse desactualizada e com pouco interesse para o mundo actual. Não me demovi e descobri uma obra de fácil leitura e não só. Apesar dos mais de 400 anos, continua a ser extremamente actual.
A peça inicia-se com o que me poderia facilmente pousá-la num canto e nunca mais pegar nela: três bruxas que planeiam o próximo encontro que será com Macbeth e Banquo. Mas eu não podia fazer isso a Shakespeare. Mostrei respeito e dureza e continuei, na esperança daquilo fazer sentido na minha cabeça de jovem nascida nos anos 90. E foi, de facto, fazendo sentido. No encontro que estas bruxas têm com Macbeth e Banquo fazem algumas previsões que parecem inexplicáveis a Macbeth. Previram que Macbeth se iria tornar Barão de Cawdor e se tornaria, posteriormente, rei da Escócia (apesar do Rei Duncan se encontrar de perfeita saúde). As previsões não foram só para Macbeth. Estas bruxas saudaram ainda Banquo, a quem disseram que apesar de nunca vir a ser rei, a próxima distania aos seus descendentes estava reservada.
Tudo isto parecia disparate para Macbeth, principalmente tornar-se rei. Parecia disparate até que, pouco tempo depois das bruxas desaparecerem, surge um mensageiro para o informar que o Barão de Cawdor tinha sido enforcado e todos os seus valores e títulos pertenciam a Macbeth. A surpresa é tanta que manda uma carta a Lady Macbeth, sua esposa, para a informar do sucedido.
Lady Macbeth não perde tempo em ver-se como rainha e engendra um plano para fazer do seu marido rei, planeando matar o Rei Duncan quando este é convidado na sua casa. A partir desse momento, gera-se uma corrida desenfreada e sangrenta pelo poder, uma corrida ao poder em que não se olha a meios para atingir os fins e onde meias medidas não parecem ter importância. É por isso que digo que Macbeth, apesar de ter sido escrita no início do século XVII, podia ter sido escrita ontem.
Apesar da actualidade da peça, o que me fascinou mais foram as personagens e a forma como as conhecemos e como são desenvolvidas. Ninguém nos diz nada das personagens, no entanto nós podemos claramente perceber como são através das suas falas e atitudes. Lady Macbeth é a minha personagem favorita e que tem o meu respeito, apesar de controversa e profundamente manipuladora. É exímia e bem construída do início ao fim - assim como Macbeth. Conhecemos Lady Macbeth como uma personagem sem escrúpulos, implacável e capaz de absolutamente tudo pelo trono. Aparenta também não ter remorsos nem hesitar na hora de derramar sangue (ou fazer os outros derramá-lo). Mas Lady Macbeth entra numa espiral decadente que a conduz à loucura e é brilhante a forma como a sua vida termina - tem tanto de brilhante e belo como de trágico e triste - a limpar constantemente as suas mãos, para tentar limpar delas o sangue que derramou e fez derramar, cheia de remorsos e culpa e a ver como única saída o suicídio. Macbeth é, no início, hesitante e muito obediente à esposa e às suas vontades, e tem, frequentemente, ataques onde questiona as suas atitudes e em que duvida de si mesmo mas vai construindo confiança, deixa de ser hesitante quando mata, não sente remorsos nem culpa e julga-se superior e incapaz de ser derrotado por qualquer homem que nasça de uma mulher. É fascinante também a forma como estes dois carácteres se desenvolvem em linhas paralelas - Lady Macbeth é inicialmente aquilo que Macbeth se torna no final.
Só tive pena de não ter lido a versão original, em inglês. Na altura em que fiz a encomenda estive até ao último minuto a decidir se comprava em português ou inglês. Considero-me fluente em inglês mas a linguagem utilizada em Macbeth é, claramente, arcaica e eu tinha medo de não conseguir acompanhar e fazer com que muito fosse lost in translation. Espero um dia ler no seu original.
Fiquei agradavelmente surpreendida e sem dúvida que vou voltar a ler Shakespeare. O próximo será Hamlet, a obra relativamente à qual tenho maior curiosidade e que está na minha "lista de espera" à mais tempo.

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