quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Amor assim não se compra

"Tomorrow we will run faster, stretch out our arms farther... And then one fine morning -
So we beat on, boats against the current, borne back ceaselessly into the past."
Francis Scott Fitzgerald, The Great Gatsby

Em cinco dias, as equipas de futebol profissional do Vitória (A e B) disputaram três jogos com o Benfica. A equipa B foi ao Seixal disputar três pontos para o campeonato, enquanto que a equipa A ficou no Berço a lutar pela conquista de seis pontos. Os primeiros três pontos, a contar para o campeonato, eram fundamentais para consolidar a 5ª posição e para começar o assalto ao terceiro lugar e, quiçá, começar a lutar por uma posição ainda melhor. Os outros três pontos, disputados ontem, chegariam para alcançar a primeira posição do Grupo D e garantir, assim, a passagem à Final Four da Taça CTT. No entanto, o desfecho desta "jornada futebolística" não foi o pretendido. O Vitória não somou nenhum ponto e ficou pelo caminho numa competição que tinha boas hipóteses de vencer.

Não tive oportunidade de acompanhar, através da BenficaTV, o duelo das equipas B. Vi apenas algumas imagens (estas) e Bruno Vieira, benfiquista assumido, não ficou nada bem nas mesmas. A derrota da equipa A, no sábado, teve um sabor amargo. O Benfica protagonizou uma exibição amena e aproveitou as falhas da equipa vitoriana para se adiantar no marcador. Em termos de jogo jogado, o Vitória mostrou-se capaz e, apesar do resultado, a exibição foi agradável. Ontem, a equipa vitoriana entrou fulgurante. Infelizmente o entusiasmo esmoreceu e o Vitória não foi capaz de dar resposta a todos os desafios. Não tenho dúvidas de que Pedro Martins está perfeitamente apto para fazer a gestão devida do plantel, e não me cabe a mim questionar isso, no entanto não me parecem condizentes as alterações no onze com o objectivo de chegar à Final Four e de lutar pela Taça CTT. Disputar 8 jogos no período de um mês será, certamente, extenuante e, provavelmente, a Taça de Portugal será a prioridade, mas não gosto da atitude de entrar numa competição se não é para jogar as fichas todas.

Já disse, aqui no blogue, que não tenho o hábito de discutir as arbitragens. Isso não significa que eu acho que está sempre tudo bem, como não significa que vou imputar a culpa pelas derrotas frente ao Benfica aos respectivos árbitros. Significa que, por norma, os clubes podem dar a volta ao sistema e vencer o jogo - mesmo que o senhor do apito insista que não. Acredito nisso porque já vi o Vitória fazê-lo. Desta vez o Vitória perdeu os dois jogos (não posso comentar o da equipa B porque não vi) por culpa própria. No entanto isto não significa que o campo não esteve inclinado. É importante referir que o campo não se inclina só com a marcação de penaltis (ou com os penaltis que ficam por marcar) ou com os golos anulados, ou validados, erradamente. Muitas vezes são os pormenores que inclinam o campo. Se, por norma, eu não imputo a culpa das derrotas às arbitragens qual é, então, o objectivo de falar nas arbitragens? 

Nas últimas semanas a legitimidade das arbitragens tem sido posta em causa e essa discussão (que podia ser saudável e benéfica, mas que não passa de um circo) tem alcançado proporções tremendas. Agora as lágrimas são azuis e verdes e, por isso, os casos de arbitragem já são tema de abertura dos telejornais, já há reuniões com o Conselho de Arbitragem, já há problemas. Infelizmente os clubes que são tratados como pequenos - pela imprensa e pelos órgãos oficiais que regulam o futebol - já conhecem de cor os problemas de arbitragem que só agora parecem ter surgido. A esses (a nós) nunca ninguém deu voz, desses (de nós) nunca ninguém quis saber. Arruma-se o lixo para debaixo do tapete. Ninguém o quer arrumar, então continua lá. E o lixo continua a aumentar. Quando as queixas não são verdes, azuis ou vermelhas ninguém quer saber. Há problemas a nível da arbitragem - e não só - no futebol português. Esses problemas estão a minar as nossas competições. Se não houvesse problemas, se houvesse honestidade e se houvesse a vontade de ser justo, Bruno Vieira nunca seria nomeado para arbitrar um jogo do Benfica (como aconteceu no Benfica B - Vitória B). Há um claro conflito de interesses quando um arbitro assumidamente benfiquista é designado para arbitrar um jogo do Benfica. O próprio disse, em 2012, que se fosse designado para arbitrar o seu clube pediria dispensa "por uma questão de *moral* e de bom sentimento" (podem ver aqui). Infelizmente esta discussão (ou este circo, para ser mais específica) não vai resolver nada e é só uma peneira para tentar tapar o que realmente se passa. Servirá para tapar os olhos a alguns, a quem usa palas, a quem não quer ver. Para quem vê futebol há muitos anos, para quem apoia os enteados do sistema e/ou para quem é intelectualmente honesto todos estes episódios não passam de mais um período triste para o futebol português. Daqui não sairá nada de bom, nada que inicie o processo de cura do futebol português. Amanhã tudo estará igual. Os pequenos continuarão pequenos, os grandes continuarão no poder a qualquer custo, o lixo vai continuar debaixo do tapete e ninguém vai querer levantar o tapete para ver o que está lá.

Poderia acrescentar ainda mais um ou dois comentários sobre o que se passou nestes últimos jogos. No entanto, recuso-me a referir quem é mal formado, provocador e arruaceiro quando posso utilizar o meu espaço (e o vosso tempo) para escrever sobre outras coisas que realmente valem a pena. Ninguém pode, em Portugal, apontar o dedo aos adeptos do Vitória. Ninguém é santo, em lado nenhum. Embora muitos queiram insistir na ideia de ligar os adeptos vitorianos à violência, quem conhece a realidade e quem entra no Estádio D. Afonso Henriques (sem palas) - ou em qualquer outro estádio onde o Vitória jogue - sabe que estes adeptos são os mais apaixonados de Portugal. Só não vê quem não quer. A moldura humana que nós, vitorianos, construímos é de uma beleza inexplicável. Quem foi ao estádio assistir ao jogo teve a oportunidade de assistir ao "espectáculo dentro do espectáculo". Parece-me impossível descrever a beleza do momento em que, com os cachecóis levantados, os vitorianos cantaram em uníssono para receber os seus jogadores. É, cada vez mais, um orgulho e um privilégio dizer que sou do Vitória. "Só do Vitória", como nós gostamos de dizer. Amor assim não se compra, nem com dinheiro nem com troféus. Enquanto muitos se comprometem com as vitórias e com os troféus, nós temos um compromisso com o símbolo. O nosso compromisso incluí respeitar, amar e apoiar o símbolo em qualquer ocasião. É esse o compromisso que une milhares de vitorianos. É por causa desse compromisso que no final de um jogo em que perdemos por 2-0 continuamos de pé, sem abandonar as bancadas, para nos juntarmos à equipa num ritual conjunto. É por isso que continuamos no estádio, depois de mais uma derrota e depois de ser eliminados de uma competição, a entoar cânticos de apoio à equipa. No início desta crónica está uma citação do clássico americano "O Grande Gatsby", um dos meus livros predilectos. Apesar de todas as tragédias, a mensagem final é de esperança, de que o dia de amanhã será melhor. Amanhã vamos correr mais. Vamos abrir os braços e levantar os nossos cachecóis ainda mais alto até conquistarmos o sonho. "Assim vamos remando, barcos contra a corrente".

2 comentários :

  1. Duas curtas notas a um texto com que estou totalmente de acordo.
    Uma para dizer que discordo cada vez mais da politica de silêncio da SAD do Vitória quanto às arbitragens.
    Não acho que se deve falar todos os dias mas há alturas em que o silêncio é de uma cumplicidade inaceitável.
    A nomeação de Nuno Almeida e depois a sua arbitragem manhosa eram motivo mais que suficiente para a SAD ter reagido com dureza e indignação à autentica provocação que foi a nomeação de Carlos Xistra. Dir-me-ão que até fez uma arbitragem bastante razoável. É verdade que sim. Mas apenas porque não foi preciso "Xistrar".Porque se o apuramento do Lisboa estivesse em risco veríamos o verdadeiro Xistra.
    Depois é incrível que nem uma palavra digam sobre a aarbitragem do jogo das equipas B. No mínimo exigindo que aquele lampião nunca mais fosse escalado para um jogo do Vitória.
    A outra nota tem a ver com os adeptos.
    Que são excepcionais, criam momentos mágicos, fazem do DAH um estádio único.
    Mas são humanos e por maior que seja o seu amor ao Vitória também se cansam se não tiverem a devida correspondência.
    Equivale isto a dizer que é mais que tempo de a SAD perceber que tem de ter uma equipa A à altura dos adeptos. Na qualidade exibicional, nos triunfos e na ambição.

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    1. Estou de acordo com o Luís. O silêncio da SAD já não é de hoje e já não é de hoje que me desagrada. E desagrada-me o silêncio não só relativamente às arbitragens, mas também quanto à comunicação social que está habituada a fazer do nome do Vitória aquilo que lhes apraz. Não que eu defenda que a SAD deva intervir em todas as situações, estaríamos muito mal se o presidente fosse a público falar sempre que um jornal não fosse competente no seu trabalho - e isso acontece mais vezes do que deveria. No entanto acho que a SAD deve usar da palavra para defender os interesses e o bom nome do Vitória. Isso passa por ser altamente crítico em relação às arbitragens, e o caso da equipa B é um belo exemplo.
      Os adeptos têm dado provas de uma resiliência imensa nos últimos anos e em especial esta época. Não só nos jogos em casa, como também fora de portas e longe da cidade berço. É incrível a vontade que demonstram, o querer e a garra com que vão encher bancadas pelo país fora. E merecem, cada vez mais, uma resposta à altura no campo. Não podia estar mais de acordo com aquilo que diz. A paciência não dura sempre, é verdade, e é preciso continuar a alimentar esta ligação dos adeptos com a equipa. Só assim somos mais fortes do que os outros!

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