terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Indissociáveis


Foto: Vitória SC
A última semana fica pautada por duas vitórias basilares na presente época vitoriana. Na Covilhã, o Vitória conseguiu a primeira vitória do ano civil e garantiu a continuidade na Taça de Portugal, competição em que o objectivo tem de ser o de chegar ao Jamor e levantar a taça. A vitória no Municipal de Braga, no último Domingo à noite, foi importante não só pelos três pontos conseguidos, mas também porque foi a primeira vez que os branquinhos ganharam naquele estádio e acredito que isso dará uma injecção de confiança à equipa para enfrentar a segunda volta. Em termos de jogo jogado, é de destacar o último jogo, em especial a primeira parte. Se o desempenho da equipa não foi totalmente satisfatório na Covilhã, pese embora o resultado, a prestação da turma vitoriana em Braga convenceu e ficou a certeza de que o 5º lugar não pode ser o objectivo. Apesar da conquista do 4º ou 3º lugar já não depender exclusivamente de nós, estou certa de que podemos ambicionar em terminar a época no pódio. Não é uma ambição descabida. Estamos a um ponto do Sporting de Portugal, 4º classificado, e a dois pontos do Sporting de Braga, que ocupa a 3º posição. A verdade é que ter ambições não chega, é preciso que as acções sejam condizentes. A nossa preocupação tem de ser a de desenhar e construir o nosso caminho, unicamente. 

Tento ser ponderada em tudo aquilo que digo e escrevo, portanto ainda me parece ser muito cedo para falar de transferências com a objectividade desejada. No entanto, há algumas coisas que posso dizer desde já. Não sei quais os benefícios que esta janela de transferências, a meio da época, traz ao futebol. Da mesma forma que não entendo a lógica do mercado só fechar no final de Agosto, já depois do início das competições. É descabido e beneficia apenas a carteira dos empresários e os clubes com poder financeiro. Isto não é de hoje e será tema para outro dia, certamente. Quanto ao que é particular ao Vitória, o que realmente interessa, não fiquei agradada com as saídas conhecidas até ao momento, pese embora qualquer comentário da minha parte seja feito sempre com alguma cautela por não conhecer os contornos dos negócios. Gostaria de ver a SAD ser mais transparente com os sócios quanto às vendas e aquisições de jogadores. Não sendo esse o caso, comento aquilo que depreendo do que leio e do que vou sabendo. O que sei, com certeza, é que a saída de dois jogadores titulares deixa sempre danos. Mesmo que sejam contratados jogadores de qualidade, estes precisam de se entrosar com os companheiros, de conhecer a equipa e de se adaptar ao futebol português, se estiverem a militar em campeonatos estrangeiros. É para isso que, antes do início do campeonato, existe a pré-época. A pré-época dos jogadores que chegam em Janeiro é numa altura determinante no campeonato e, no nosso caso, da Taça de Portugal. João Pedro foi vendido aos LA Galaxy. Apesar de não ser conhecido o valor da transferência, estima-se que tenha saído por cerca de um milhão e meio de euros. Parece-me um valor irrisório, tendo em conta a importância do jogador para a equipa e a sua margem de progressão. É impossível dizer se iria valorizar, são muitas as variáveis a ter em conta e o futebol é imprevisível, mas uma vez que a sua venda não permite um encaixe financeiro considerável. não vejo quais os grandes benefícios imediatos, ou a longo prazo, para o Vitória. A transferência de Soares, para o Porto, é mais difícil de comentar. Não há declarações oficiais nem consenso quanto ao valor e parece ainda estar em cima da mesa a possibilidade de jogadores da equipa portuense serem transferidos, inclusive a título definitivo, para o Vitória. Resta-nos esperar e desejar aos dois jogadores todo o sucesso possível.

A última semana, para além de ficar marcada pelas duas vitórias importantes já referidas, ficou marcada, mais uma vez, pelo apoio incondicional e extraordinário dos melhores adeptos do mundo. Não tive possibilidade de me deslocar à Covilhã, mas acompanhei o jogo pela televisão. Não comecei a ver o Vitória há dois dias, bem pelo contrário. Já conto alguns anos a acompanhar o Vitória - fora e em casa - e espero contar muitos mais. No que depender de mim, enquanto tiver condições para o fazer, vou passar muitos dias nas bancadas do nosso estádio ou noutras bancadas por esse país - e quiçá, por esse mundo - fora. Isto tudo para dizer que, depois de tantos anos, ainda fico surpreendida com a capacidade desta massa associativa se desdobrar para acompanhar a sua equipa do coração. Quando vi a moldura humana composta pelos vitorianos, a quase 300 km de distância, ao final da tarde de um dia da semana e com graus negativos fiquei boquiaberta. Sabia que os vitorianos não iam deixar a equipa jogar sozinha. Nunca deixamos, mas ainda assim não contava que tanta gente o fizesse, tendo em conta as péssimas condições. Fiquei emocionada e extremamente orgulhosa por fazer parte desta família. 

No Domingo à noite, assim como muitos outros vitorianos, desloquei-me a Braga para acompanhar a equipa. É uma deslocação ímpar, pela rivalidade entre os dois clubes. Os vitorianos não desiludiram, claro. Compareceram em massa e, mais uma vez, proporcionaram a todos os braguistas um espectáculo dentro do espectáculo. Nada de novo. Quem compra bilhete para assistir a um jogo do Vitória já deve saber que compra um bilhete 2 em 1: para além do jogo de futebol em si, ainda há um espectáculo único nas bancadas. No entanto, os artistas (nós, claro) foram muito mal recebidos. Ainda antes de chegar às imediações do estádio, já havia graúdos com medo - e miúdos a chorar - dentro dos autocarros ao ver a polícia de intervenção correr em direcção aos autocarros de bastão na mão. Episódios desnecessários protagonizados por quem devia ter, mas aparentemente não tem, formação para lidar com multidões. Depois de chegar às imediações do estádio, toda a gente percebeu que não estavam prontos para receber a força conquistadora. Só assim se pode explicar a forma como os adeptos entraram no estádio. Iam passando grupos para a revista que depois se amontoaram na zona dos torniquetes de acesso que tinham, se não estou em erro, duas ou três pessoas a recolher os bilhetes. Entrei já perto da hora, mas provavelmente muitos só conseguiram entrar depois do apito inicial. Quando cheguei ao último piso ainda estava muita gente à espera de ser revistada e, nesse momento, chegaram mais cinco autocarros. 

Se o que acabei de descrever é o que me faz espécie no futebol (bem, a incompetência incomoda-me em todas as áreas), o que aconteceu nas (cerca de) duas horas seguintes foi o que me fez apaixonar por futebol e é o que me faz continuar a dar dinheiro e tempo para ir aos estádios acompanhar uma equipa de futebol. Um apoio digno de registo. Cada vez mais me apercebo que nós, vitorianos, somos o sinónimo de amor. Somos nós que impulsionamos o futebol nas bancadas, num país que tem a mentalidade tacanha de apoiar um clube só porque é esse clube que ganha. Realmente o Vitória tem poucos troféus, não faz épocas incríveis, não tem os melhores jogadores do mundo e não tem os cofres cheios. É a realidade e é inegável. No entanto tem o que muitos outros, principalmente em Portugal, não têm: adeptos resilientes, verdadeiramente apaixonados e sempre dispostos a apoiar o clube. É o verdadeiro décimo segundo jogador, capaz de empurrar a equipa para a vitória. Eu, que sou de letras e gosto tanto de palavras, não as encontro para descrever aquilo que vejo e sinto quando estou na bancada, junto de pessoas que eu não conheço, mas que têm o mesmo objectivo do que eu: fazer do Vitória um clube maior! O Vitória é maior por nossa causa e por causa do nosso inenarrável apoio. Não tenho dúvidas disso. Aliás, tenho cada vez mais essa certeza. O Vitória é indissociável dos seus adeptos e, juntos, somos indissociáveis da palavra amor. 
Foto: Pedro Cunha

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