O Vitória encerrou a primeira volta do campeonato no Estádio Marcolino de Castro, em Santa Maria da Feira, com um empate que soube a pouco. A exibição não foi excelência, mas chegaria para somar três pontos, ao invés de um, se a equipa soubesse ser mais assertiva na altura de alvejar a baliza. É notório que há limitações, que devem ser tratadas no mercado de Inverno, e algum cansaço, provocado por um mês de Janeiro com um calendário extenso e exigente. Desde o dia 30 de Dezembro do ano transacto, em que o Vitória foi a Vizela arrancar uma vitória para a Taça CTT, a equipa já disputou quatro jogos - dois deles para a referida Taça e os restantes dois para o campeonato. Destes jogos, os resultados repartem-se igualmente em empates (frente ao Paços de Ferreira, para a Taça, e frente ao Feirense, para o campeonato) e derrotas (as duas frente ao Benfica, para a Taça e para o campeonato). De forma simplificada, bastará dizer que 2017 ainda não convenceu. O Vitória somou apenas 1 ponto para o campeonato, de seis possíveis, e foi eliminado de uma competição que tinha todas as possibilidades de ganhar. Até ao final de Janeiro, disputam-se jogos muito importantes para o campeonato (Braga fora e Marítimo em casa) e para a Taça de Portugal, frente ao Covilhã. O início de Fevereiro trará, também, os seus desafios: começa com uma deslocação ao Estádio da Mata Real e com a recepção ao Porto.
Apesar do ano não ter começado da melhor forma, o balanço da primeira volta é positivo. Não é satisfatório e deixa a sensação de que se podia ter feito mais e melhor, mas é, no geral, positivo. O Vitória encontra-se na 5ª posição da tabela classificativa, na posição mínima que dá acesso à 3ª pré-eliminatória da Liga Europa. Parece-me que este lugar tem de ser sempre o mínimo exigido e não o objectivo da época. Logo abaixo, na 6ª posição e a 6 pontos, encontra-se o Marítimo. Acima, para onde temos de olhar, encontra-se imediatamente o Sporting, com mais três pontos; o Braga, em 3º lugar, com mais cinco pontos; e, na 2ª posição, está o Porto, com mais sete pontos. Parece-me importante declarar, de imediato, um facto óbvio, mas que por vezes pode passar despercebido. São seis pontos que separam o 6º classificado, o Marítimo, do Vitória e são cinco pontos que separam o Vitória do 3º classificado, o Braga. Outro facto óbvio, e de grande importância, é que na jornada inaugural da segunda volta o Vitória desloca-se ao sempre complicado reduto do Sporting de Braga, enquanto que na jornada seguinte recebe o Marítimo. Se as duas jornadas correrem bem, e o Vitória conseguir somar seis pontos, pode aproximar-se do 3º posto ou, até mesmo, instalar-se nesse lugar agradável - contando, para isso, com deslizes do Sporting de Braga e do Sporting de Lisboa. No outro extremo do espectro, o 5º lugar pode ficar em risco se as próximas duas jornadas correrem mal para o Vitória e correrem bem ao Marítimo, que inicia a segunda volta defrontando o Sporting. Naturalmente prefiro - e acredito - no primeiro cenário, apesar de ser a primeira a admitir que não vai ser nada fácil e que não podemos ser condescendentes, em nenhum período dos jogos (e, de preferência, em toda a segunda volta e isso incluí o mercado de transferências).
Os próximos dois jogos são peculiares e com características muito próprias. Começando pelo início: amanhã o Vitória desloca-se à fria Covilhã para tentar desbravar caminho até ao Jamor. Não há alternativa à vitória. A Taça de Portugal é o palco dos sonhos e é fundamental estar ciente de que o é para todos os clubes. Da mesma forma que o é para nós, também é para o Covilhã. A mentalidade com que se entra em campo, num jogo assim, tem de ser forte e inflexível. O adversário chegou ao mesmo patamar por mérito. Cair na armadilha de questionar esse mérito, é meio caminho andado para sair da prova. Não é, de forma nenhuma, o primeiro confronto entre os dois emblemas. Nem é o primeiro confronto para a Taça de Portugal. No computo geral até é o Covilhã que leva a vantagem. Em 37 jogos, o Covilhã venceu 17 e o Vitória 15, sendo que os restantes 5 terminaram em empate. Na Taça de Portugal, o caso muda de figura. Foram 6 os confrontos e o Vitória levou a sua avante por 4 vezes. O último jogo disputado, e o único disputado este milénio, foi em 2009 para a Taça da Liga, na altura designada por Carlsberg Cup. O jogo disputado no nosso estádio ficou 2-0, com golos de Moreno e Targino. O Vitória acabou por ficar em primeiro do grupo e passar à próxima fase. O jogo de amanhã não se adivinha fácil, mas ganhar é a palavra de ordem!
No próximo Domingo, o Vitória entra em campo na Pedreira. Um dérbi tem sempre contornos especiais. Os nervos estão à flor da pele, os pequenos detalhes ganham proporções megalómanas e a pressão triplica para quem está dentro de campo. Não é um jogo fácil, para ninguém. No entanto é sempre um jogo emocionante e que, por norma, é um espectáculo sem igual. Arrisco-me a dizer, não pela primeira vez, que este é o mais emocionante dérbi a nível nacional. Pela história que comporta e, principalmente, por ser um dérbi milenar que é apenas uma extensão da disputa entre as duas cidades minhotas. É difícil, para quem vê de fora, entender as dimensões deste jogo. Para quem o vive, na sua essência e há muitos anos, é um dos jogos da época. Não só porque pode ser decisivo, mas porque dá uma força anímica sem igual a um dos clubes. Isto, no início da segunda volta, pode ser muito importante. Não só em termos classificativos. No entanto, tal como o jogo de amanhã, não vai ser tarefa fácil para os nossos
branquinhos. Aliás, o Vitória ainda não conseguiu ganhar nenhum dos 12 jogos disputados no Municipal de Braga. Destes, 11 contaram para a Liga. O Vitória perdeu 8 vezes e empatou nos outros três jogos, sendo que os últimos dois jogos acabaram em empate. Em 2014, sem golos. Em 2016 foram 6 os golos apontados, três para cada emblema. Do onze titular que alinhou frente ao Braga a época passada restam apenas 4 jogadores: João Miguel, Josué, Pedro Henrique e Bruno Gaspar. Os três golos vitorianos foram apontados por jogadores que já não estão no clube, nomeadamente Licá, Dourado e Otávio. O Sporting de Braga tem, em sua casa, um campo muito difícil. Para o campeonato ainda não perderem nenhum jogo. Os dois jogos que perderam contaram para a Taça CTT, frente ao Rio Ave, e para a Taça de Portugal, precisamente pelo Covilhã, que os eliminaram da prova. Para todos os efeitos são três pontos como todos os outros, mas podem ser determinantes na principal prova portuguesa.
A minha última nota não pode deixar de ser para os do costume: para nós, adeptos. Se me pedirem para eleger o melhor desta primeira volta, a minha resposta seria a mais natural do mundo e sem nenhuma hesitação. O melhor desta primeira volta, como em todas as voltas de todas as épocas, são os adeptos. Temos de ser justos e intelectualmente honestos: um clube não se faz só de adeptos. O Vitória não é excepção. O Vitória é uma instituição constituída por várias partes, desde a administração aos adeptos - passando, naturalmente, pela equipa e equipa técnica, entre todos os outros departamentos que contribuem (e devem contribuir sempre) para fazer do Vitória um clube cada vez melhor e maior. No entanto, são os adeptos a força motriz deste clube, de um dos símbolos mais importantes e indispensáveis do futebol português. São os adeptos vitorianos, grupo em que me estou incluída, que são verdadeiramente admiráveis - mais do que qualquer jogador, marque ele os golos que marcar; mais do que qualquer treinador, independentemente dos troféus que ganhe ao serviço do clube. Não os desmereço, naturalmente. Não desmereço nenhum jogador, nenhum treinador e ninguém que faça o seu melhor ao serviço do Vitória. São os irredutíveis e incomparáveis adeptos vitorianos que têm, cada vez mais, a minha maior admiração. Aqueles que, como eu, gerem os seus horários para poder ir apoiar a equipa. Aqueles que, como eu, estão no autocarro a regressar de Santa Maria da Feira a planear a próxima deslocação, sem querer saber se estamos há quatro jogos sem ganhar. Aqueles que, como eu, ficam verdadeiramente tristes quando não podem acompanhar a equipa. Aqueles que, como eu, preferem estar na bancada de qualquer estádio português, ao frio e à chuva, do que estar confortavelmente sentados no sofá a ver o jogo pela televisão.
A minha admiração pelos adeptos vitorianos é, de dia para dia, maior. Àqueles que eu nem sequer conheço, mas que partilham este amor comigo: o meu obrigada! Por partilharem as bancadas comigo, por comporem molduras humanas extraordinárias comigo, por fazerem tudo em prol do Vitória como eu faço, por tornarem do Vitória o clube com os adeptos mais épicos e extraordinários do país. Quem acompanhou o Vitória na primeira volta da presente temporada, quem foi ao Dragão, a Moreira, a Vila do Conde, ao Bessa, a Tondela, a Arouca, a Vizela e ao Feirense - e a todas as outras deslocações que não estão enumeradas aqui -, tem muitas novas histórias para contar e para juntar a todas aquelas que já têm anos e que, carinhosamente, vamos contando em jantares e aos amigos quando eles já estão cansados de ver o nosso cartão do Vitória e cansados de ouvir as nossas histórias. Nós contamos sempre, uma e outra vez. E vamos contar no futuro, porque nós fazemos parte dessas histórias. Acrescentamos sempre, embebecidos, que "vocês, que estão de fora, não entendem". Dizemos isso porque sabemos que não entendem mesmo. Não conhecem aquela sensação incrível de sair do estádio com um sorriso estampado no rosto, depois de uma derrota, porque nas bancadas demos 15-0. Nem conhecem a sensação maravilhosa de perceber que, de certa forma, fomos nós que empurramos a equipa para a vitória. Muito menos sabem o que é chegar a casa, depois de uma viagem cansativa, de peito feito e com o coração a transbordar de orgulho. Nem conhecem - e desconfio que são poucos os que vão conhecer - a sensação de nos sentirmos uns super-heróis no final do jogo, com a camisola do Vitória, a camisola do clube da cidade que me viu crescer e que faz parte da minha identidade.
Quem apoia o clube da terra, contra todas as adversidades (e são muitas), é capaz de conseguir ter uma ideia daquilo que aqui falo. Há umas semanas li que "em Portugal, ser adepto de um clube do meio da tabela é cada vez mais um acto de masoquismo. Um acto de heroísmo." e, de facto, é. É difícil ir contra o que é normal, habitual, contra os jornais e as televisões, contra o que nos querem impor a ferro e fogo. É difícil, mas o lado bom compensa todo o lado mau que possa existir. É por isso que, quando chego a casa, vejo e revejo as fotos e os vídeos dos adeptos vitorianos e não consigo deixar de pensar que "estes tipos são mesmo admiráveis". E são. Somos admiráveis, somos arte. Muitos não entendem, nem é necessário. Nós sabemos dos esforços que fazemos e sabemos da paixão que nos move. Somos o combustível do Vitória. Onde houver um vitoriano apaixonado, estamos todos. Enquanto houver o Vitória, o futebol português é um bocadinho mais bonito.