quarta-feira, 28 de setembro de 2016

O carácter do Vitória (e um pedido de ajuda importante!)

Foto: Vitória SC
O primeiro jogo do Vitória depois de completar 94 anos de uma belíssima história tinha de ser um triunfo. Assim foi e, da casa do nosso vizinho Moreirense, trouxemos três importantes pontos e voltamos aos resultados positivos depois de dois jogos menos conseguidos. Apesar da vitória, a exibição da equipa não convenceu por completo e é visível que há jogadores, com provas dadas de qualidade, que não estão na melhor forma e que acabam por debilitar a equipa. Repito o que disse na semana passada: ainda não é preocupante. A caminho da sétima jornada estamos em 5º lugar e em igualdade pontual com o Rio Ave. Não é, naturalmente, a melhor classificação mas estamos a tempo de fazer bem melhor até ao final da época se soubermos ser consistentes na qualidade e nos resultados. 

Segue-se o Sporting, segundo classificado da Liga. O histórico elege-os como favoritos mas dentro do relvado nada disso importa. Os últimos dois jogos, dentro das nossas muralhas, não nos deixam ficar mal: no final de 2014 o Vitória dominou um leão mansinho e arrancou a vitória por 3-0, num dos melhores jogos da época; na temporada passada o marcador não sofreu alterações numa segunda-feira à noite com os vimaranenses em força máxima num apoio incrível aos nossos branquinhos. No futebol não há receitas nem fórmulas mágicas que garantam a vitória. Futebol não é ciência, mas arrisco dizer que há uma fórmula que pode ser infalível para alcançar a vitória no próximo sábado. É, certamente, a combinação do melhor destes últimos dois jogos. A qualidade irrepreensível da equipa, que tem de entrar em campo e esquecer-se do statuos quo, e o ambiente apaixonado e único que só os vitorianos sabem oferecer. O Inferno Branco em que cresci, o mesmo que deixa os adversários a tremer mesmo antes de pisar o nosso terreno.

Foi esse o ambiente que se viveu em Moreira de Cónegos no último domingo. Não era a nossa casa, mas nós fizemos com que parecesse. Com as nossas vozes edificamos as muralhas e com os nossos cachecóis e bandeiras orgulhosamente levantados fizemos daquele estádio o nosso. Éramos tantos, mas parecíamos ainda mais.O golo nasceu da insistência do Marega (o melhor marcador da Liga!) que tentou uma vez, depois outra e só depois viu o seu objectivo concretizado. Foi um golo que fez o estádio, que não era nosso mas pareceu ser, explodir de tanta alegria. Não há uma medida consensual de como medir a qualidade de uma massa adepta. A verdade é que pode haver tantas definições como há pessoas. Eu tenho a minha. Na minha opinião a qualidade dos adeptos mede-se pela sua resiliência e persistência em apoiar o clube. Por quantas vezes estão presentes depois de uma derrota, por quantas vezes estão presentes depois de quase bater no fundo, por quantas vezes estão presentes depois de todos os outros terem desistido. E nós já sabemos, talvez melhor do que o que gostaríamos, o que é estar presentes depois de derrotas, depois de quase bater no fundo, depois de tudo estar mal e sabemos muito bem o que é estar lá quando todos os outros desistiam com facilidade. Nós não sabemos desistir. E estamos sempre presentes. Somos nós o carácter do Vitória!

Hoje permitam-me terminar de forma pouco habitual mas tremendamente importante e e certamente mais importante do que tudo o que escrevi nos parágrafos acima. Hoje quero apelar à vossa solidariedade. O Rui Salgado tem 23 anos, é vimaranense, vitoriano e já jogou com o nosso símbolo ao peito mas, acima de tudo isso, é uma pessoa que tem uma vida pela frente. Foi-lhe diagnosticado um linfoma de Hodgkins. É uma batalha difícil mas nada é ao acaso: tenho a certeza de que o Rui é um conquistador e vai superar esta prova. Estou certa de que todos sabem que quando estamos no estádio as nossas vozes juntas conseguem ser muito mais altas do que a voz de apenas um de nós. Da mesma forma, se todos ajudarmos não é preciso muito. Se todos nos juntarmos à batalha, eu acredito que esta será muito menos dolorosa e será vencida. Não é preciso muito se ajudarmos todos. Portanto permitam-me, pela primeira vez, fazer um apelo. Vou deixar aqui a fotografia com o número da conta para onde podem contribuir. Podem ler mais aqui.

terça-feira, 20 de setembro de 2016

O bronze que parece ouro

Na semana passada disse que a derrota no Dragão não era preocupante. Realmente não é. Tal como o percurso do Vitória até agora, inclusive o empate em casa com o Belenenses no passado sábado, não me alarma. Ainda só foram discutidas cinco jornadas e estou em crer que a tabela classificativa ainda vai sofrer drásticas mudanças. No entanto temos de estar conscientes de que não é um arranque do campeonato seguro, ou que dê garantias, e que somos nós que ocupamos a 10º posição com 7 pontos e que, se queremos (e temos de querer, obrigatoriamente) subir para o topo da tabela, temos de fazer muito mais do que os outros, temos de correr mais do que os outros e temos de nos exceder em todas as batalhas. No fim da época todos os pontos contam e todos os pontos perdidos nos fazem falta. No fim da época dois pontos que hoje não nos preocupam podem ser a diferença entre o acesso directo à Champions League ou o acesso ao apuramento dessa mesma competição, podem ser a diferença entre o apuramento à Champions League ou o acesso à Liga Europa, podem ser a diferença entre o acesso à Liga Europa e uma época banal (ou uma época má). A linha que separa tudo isso pode ser tão ténue como dois pontos.

O Vitória foi capaz de fazer uns primeiros 45 minutos em que se mostrou claramente superior ao adversário mas, e ainda na primeira parte, não foi capaz de dar seguimento ao trabalho posto em prática para alcançar o golo e deixou ficar-se à sombra do resultado pela margem mínima. Acabou por acontecer o expectável e o golo surgiu, uma vez mais, de um canto. Da perda de dois pontos, em nossa casa, só nos podemos queixar de nós mesmos - da passividade defensiva e da ineficácia na finalização. Acredito plenamente que todos estes erros possam ser corrigidos e que Pedro Martins ainda está a tempo de o fazer para alcançar excelentes resultados - inclusive já no próximo jogo, frente ao Moreirense. Ainda sobre o último jogo, não posso deixar de dar os meus parabéns à equipa do Belenenses por, dos 14 jogadores utilizados, doze deles serem portugueses. Não passa de uma curiosidade (o Vitória utilizou cinco), mas é sempre positivo ver uma aposta no futebolista português.

A equipa B, por sua vez, foi a Olhão aplicar chapa 3 à equipa da casa numa vitória categórica que não dá margem para discussões. Os três golos vitorianos foram apontados por João Correia, Dénis Duarte e Tyler Boyd que saiu do banco para fazer o gostinho ao pé (pela quarta vez, o que faz dele o terceiro melhor marcador da II Liga). O Vitória B soma, à sétima jornada, 10 pontos e encontra-se em igualdade pontual com outras cinco equipas. O próximo jogo é disputado no nosso território já amanhã pelas 16 horas frente ao recentemente despromovido União da Madeira que está apenas com menos um ponto do que nós. A obrigatoriedade tem de ser vencer!

No entanto, e apesar de ser uma apaixonada incurável por futebol como todos aqueles que acompanham aquilo que aqui escrevo sabem, houve uma outra vitória que me deixou realmente feliz e de coração cheio. Uma vitória conquistada para lá do Atlântico em nome de Portugal mas em que o Vitória e Guimarães nunca foram esquecidos, bem pelo contrário. Falo, naturalmente, da medalha de bronze ganha por Manuel Mendes, de 45 anos, na Maratona Paralímpica (categoria T46 - classe de atletismo para amputados dos membros superiores) no Rio de Janeiro. Infelizmente não teve o destaque merecido na comunicação social, não figurou na capa de nenhum jornal nem foi tema de abertura de noticiários. Acredito que muitos portugueses, principalmente os mais distraídos ou menos interessados, ainda não saibam do seu feito. Deixa-me triste mas compreendo que o Manuel Mendes é de facto demasiado grandioso para meios de comunicação tão pobres de valores.

É uma vitória merecida de um atleta lutador e um verdadeiro conquistador. Um bronze que sabe a ouro. Atletas como o Manuel, que têm poucos apoios e pouca atenção nunca desistem e por isso mesmo o meu apreço e admiração são infinitos. É realmente uma vitória inspiradora e que me deixa muito satisfeita. No final da prova não se esqueceu da sua cidade nem do clube que representa e deixou-me ainda mais orgulhosa depois de dizer que "é uma alegria imensa levar uma medalha para Guimarães" e agradecer ao Vitória por todo o apoio. Nenhumas palavras minhas serão agradecimento o suficiente. São atletas com esta garra e força que fazem o Vitória e que são a imagem deste nosso tão nobre e bonito símbolo. É, de facto, uma honra imensa saber que o Manuel Mendes é nosso atleta e que tem tanto orgulho em sê-lo. Obrigada, campeão!

terça-feira, 13 de setembro de 2016

Vilões

Foto: Pedro Cunha
Jogar no Dragão é sempre um desafio de extrema dificuldade para o Vitória. Um desafio tão grande que a última vitória no reduto portista foi ainda no antigo Estádio das Antas e data de Abril de 1996. Com golos de Edinho, Ricardo Lopes e Zahovic, o Vitória conseguiu deixar o marcador em 2-3 num jogo em que o Porto até marcou primeiro. Já vão longínquos esses dias e essa equipa que tinha Neno na baliza e Nuno Espírito Santo, o actual treinador do Porto, como opção, tinha os inesquecíveis N'Dinga e Gilmar de quem ainda hoje ouço vitorianos falar com tanto carinho e saudade e um Fernando Meira com 18 anos de idade. O resultado do jogo disputado no passado Sábado foi uma repetição da jornada de abertura da época passada: 3-0. É, naturalmente, um resultado expressivo e que não costuma dar aso a discussões sobre o justo vencedor. A verdade é que o Porto ganhou com mérito, pese embora o auto-golo e outro golo em que a sorte (para nosso azar) teve um papel determinante. Posto isto, e repetindo a minha opinião relativamente ao encontro da época passada, os três pontos ficaram justamente entregues. No entanto, e em ambos os casos, foram resultados enganadores. Apesar de tudo, não foi um jogo nem um resultado preocupante. Ainda há muitos pontos por disputar e tenho confiança de que estamos mais do que a tempo de atingir todos os nossos objectivos e quiçá superá-los.

Nas bancadas foi, como é habitual, o espectáculo dentro do espectáculo protagonizado pelos adeptos vitorianos. Muitos foram os que, de carro ou autocarro, se deslocaram ao Dragão para apoiar a equipa. Durante noventa minutos as vozes não se calaram, os cachecóis não foram escondidos e o símbolo continuava orgulhosamente junto do coração. Mais minutos tivesse o jogo, mais alto as vozes se elevavam. Um estádio tão grande e ainda assim tão pequeno para o nosso amor e tão mínimo comparado à paixão arrebatadora que transborda todos os dias. As palavras nunca serão ilustres e distintas o suficiente para descrever com exactidão o que é fazer parte desta família, o que é ser tão especial numa altura em que os estádios estão cada vez mais desprovidos de pessoas e principalmente de amor, o que é ser uma voz a contribuir para o crescimento de um símbolo tão bonito e especial.

Quem está por "dentro" e quem olha para nós com atenção sabe que somos diferentes, únicos e especiais. Pode parecer um chauvinismo bacoco e até arrogante, mas não é nenhuma dessas coisas. É ser humilde e perceber que os vitorianos são a excepção à regra. Não é difícil encontrar adeptos adversários capazes de reconhecer isso mesmo, apesar de todas as diferenças reconhecem que se em Portugal fossem mais como nós então tínhamos uma Liga bem mais interessante e competitiva. Nós damos um contributo importante para o futebol português e só nega isso quem prefere não ver as coisas exactamente como elas são. No entanto, e por alguma razão, somos sempre apresentados como desordeiros, arruaceiros, como se fossemos piores que os outros todos juntos e até como uma massa adepta violenta. Não somos piores do que ninguém e quem fizer essa distinção então realmente não sabe do que fala. 

Representam-nos de forma tão bárbara porque sabem que somos uma ameaça à norma, ao ortodoxo. Somos disruptivos. Não somos convencionais. O nosso estádio tem mais adeptos do Vitória do que do Benfica, Porto ou Sporting quando eles são nossos adversários. O nosso estádio está sempre bem composto e há cânticos de apoio apaixonados. O nosso apoio pode fazer toda a diferença e pode perfeitamente decidir um jogo e empurrar a equipa para a vitória. Eles sabem disso e ficam assustados com a nossa presença possante, sonora, intensa e poderosa. Mais uma vez, não é arrogância mas sim a realidade. Eles tremem quando sabem que vamos pisar o chão que é deles. Sabem que, por sermos do Vitória, não temos medo do difícil. Não somos santos, os adeptos do Vitória não são só gente boa e de bem. Como em todo o lado, há gente com boas e más intenções. No entanto a imagem que tentam passar de que "em Guimarães só se vai à bola pela violência" é não só ignorante como é uma generalização perigosa.

Apesar da derrota, tudo o resto correu de feição. Correu tudo bem até... deixarmos o estádio. Quem, como eu, já está habituado a ir ver jogos fora em viagens organizadas em autocarros sabe como as coisas funcionam. Acho que, à excepção da deslocação ao Estádio da Luz e talvez pela distância, nunca entrei num autocarro, para me deslocar a qualquer estádio por este Portugal fora, que respeitasse a lotação máxima do veículo e em que toda a gente fosse sentada. Isto acontece nas deslocações do Vitória mas não só. Acontece com todos os adeptos e em todo o lado. Sei disto porque já vi, ninguém me contou. Naturalmente não é aconselhável, e eu entendo isso perfeitamente - na minha vida também não espero não ser repreendida de acordo com a lei se levar seis pessoas num carro que só pode transportar cinco -, mas os profissionais que costumam partir do local de saída em Guimarães e que fazem a escolta até ao destino nunca fizeram nenhum reparo nem nunca impediram a situação. No Sábado não foi excepção. Fizemos a viagem até ao Porto com mais gente do que era permitido nos autocarros e a viagem decorreu sem nenhum percalço. No final a situação foi diferente. Pela primeira vez, e tenho a certeza que foi uma situação inédita, impediram muitos vitorianos de entrar nos autocarros para fazer a viagem que tinham pago, quando tinham feito o percurso inverso da mesma forma umas horas antes. Só deixavam fazer a viagem nos autocarro quem tivesse lugar sentado. O cenário rapidamente se tornou caricato e podia ser hilariante, se não fosse grave: fora dos autocarros estavam mais adeptos do que dentro; fora dos autocarros estavam adeptos que pagaram o mesmo valor pela viagem do que eu mas que, por azar, chegaram dois minutos mais tarde do que eu e foram barrados. 

A polícia foi inflexível e podíamos estar a falar aqui de uma situação bem mais grave se não fossem aqueles que estavam dentro dos autocarros e tantos outros fora deles dizerem que estavam a filmar tudo e portanto as ameaças feitas por muitos daqueles homens com egos inchados pelas fardas e pelo distintivo não passaram mesmo das palavras. A tensão foi palpável até para quem tinha os vidros dos autocarros a separá-los de toda a situação: de um lado estava a polícia com ameaças e a impedir-nos a todos de chegar a casa e do outro lado, à entrada do metro, estavam portistas com provocações e gestos obscenos. Dentro do autocarro estiveram adeptos impedidos de sair, sem jantar (estávamos todos nessa situação), com as portas fechadas e um calor infernal por cerca de meia hora (pode não parecer muito mas numa situação destas e nestas condições parecem horas, principalmente para quem não tolera muito bem as temperaturas altas em espaços fechados, como é o meu caso). A função da polícia é a de proteger e acautelar qualquer situação de cariz violento ou com perigo que possa surgir. Não devem gerar tensão e problemas. No final a situação acabou por não se resolver e muitos adeptos (mesmo muitos) tiveram de fazer a viagem de regresso a Guimarães de comboio, mas primeiro tinham ainda de passar pelo metro onde muitos portistas estavam. Se foi uma questão de segurança (e eu duvido muito, até porque já fizemos viagens bem mais longas com mais gente no autocarro do que o permitido e deixem-me só dar o exemplo de Coimbra, que é bem mais longe do que o Porto) então a solução encontrada pela PSP não foi, de forma nenhuma, a mais adequada. Consegui fazer a viagem de autocarro (se soubesse como se iam desenrolar os acontecimentos nunca tinha entrado) e portanto não sei como correu a viagem dos restantes adeptos mas provavelmente não foi tranquila. Conseguem ver de quem foi a culpa? Eu consigo e estou convicta de que esta situação só aconteceu connosco e todos os outros adeptos vão continuar a poder fazer estas viagens da mesma forma que nós fizemos até agora.

Somos os vilões enquanto continuarem a acreditar em todas as construções da comunicação social sectária. Vamos continuar a ser os vilões porque nunca vamos andar cabisbaixos à procura de migalhas. Vamos continuar a ser vilões porque as nossas vozes vão continuar a ser ouvidas em todos os estádios portugueses. Vamos continuar a ser vilões porque vamos continuar a levantar, sempre mais alto, o nosso símbolo. Vamos continuar a ser vilões porque vamos continuar a ser uma ameaça e a fugir do convencional. Vamos continuar a ser vilões porque não nos vamos nunca vergar aos outros. Que seja assim! Não queremos saber e eles não vão entender. Comecei por falar do histórico de confronto na casa do Porto e comecei por dizer que já não lhes ganhámos há mais de vinte anos. Eu nunca vi o Vitória ganhar ao Porto fora do nosso castelo. Não sou a única, bem pelo contrário. Muitos dos que fizeram a mesma viagem do que eu e estiveram na mesma bancada, comigo, a apoiar com o coração os nossos branquinhos, nunca viram o Vitória ganhar ao Porto no Dragão. E, tal como eu, fazem esta viagem independentemente disso e crentes de que um dia vão ver, de que um dia vão estar lá para ver a vitória e vão ser parte integrante desse momento. Quando o resultado é negativo, sabem que vão lá estar na próxima vez. E na próxima. E na próxima. Como eu sei! Até que não seja possível, até que o coração deixe de bater. 

No final da primeira parte um menino e a mãe sentaram-se mesmo ao meu lado. Tirei os olhos do relvado e fiquei a observá-lo por uns minutos. Apesar de estar sentado, não parava quieto. Sabia cada palavra de todas as músicas, sabia o ritmo, batia palmas, batia com as mãos nas pernas ao ritmo de cada música e os olhos dele brilhavam de contentamento por estar ali. A mãe, junto dele, era igual. Fiquei deliciada com aquele momento e aquele encontro fortuito de gerações unidas por um amor comum. Já não queria saber do resultado e até podíamos ter perdido por seis, oito ou dez. No final não é só isso que interessa. O que interessa é que o futebol não é só futebol mas sim um elo unificador, que nos liga a quem não conhecemos e que une num sítio gente tão distinta e que talvez não se juntasse se não fosse desta forma. Seja na nossa cadeira do nosso estádio, seja numa cadeira qualquer de outro estádio. Não interessa. Ali somos só um, só uma voz e somos responsáveis por erguer o nosso emblema, com a figura do nosso conquistador, o mais alto possível. Isso nós fizemos magistralmente. Fazemos sempre!

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Excelência


O desporto com mais expressão no Vitória é, obviamente, o futebol, mas isso não tira qualquer valor ao grande número de atletas que representam o Vitória com toda a honra e mestria nas mais diversas modalidades. Embora haja alguma ignorância relativamente a outras modalidades disputadas fora do tapete verde (e isto é um mal que afecta todo o país que na generalidade não se interessa nem apoia as modalidades, mas que se queixa quando os atletas não ficam em primeiro lugar), a verdade é que o Vitória soma um número considerável de troféus importantes em modalidades como o basquetebol, voleibol, boxe, natação ou outras. Já abordei esse assunto aqui com grande satisfação e orgulho até porque acabei por descobrir, na altura, que o palmarés do Vitória em muitas modalidades era sobejamente mais extenso do que aquilo que eu imaginava e/ou sabia.

O assunto do post de hoje, pelo contrário, não me deixa minimamente orgulhosa ou satisfeita. Podia recorrer aos feitos de vários atletas do Vitória porque todos são dignos de serem chamados conquistadores. Todavia hoje vou falar do Rui Bragança por dois motivos: primeiramente porque é um dos atletas com mais sucesso a representar o Vitória e em segundo lugar porque foi o autor de declarações, depois de concluir a sua participação nos Jogos Olímpicos, que revelaram uma realidade pouco condizente com a nossa história. Vamos por partes.

O Rui Bragança já tem, ainda jovem, um palmarés invejável e já fez muito pelo desporto português. Ainda não contou 25 primaveras mas já é um nome incontornável no taekwondo a nível mundial e é, indubitavelmente, um dos melhores atletas portugueses de sempre na modalidade. Encontra-se no 4º lugar do Ranking Mundial e Olímpico, enquanto que na sua categoria (-58 kg) está num incrível 2º lugar mundial. Em 2014 alcançou o primeiro posto no Ranking Mundial da sua categoria. Isto significa que não aterrou, como que por milagre, no meio dos melhores do mundo. Isto significa que o Rui é dos melhores do mundo há alguns anos. Ainda assim todos os rankings são, de certa forma, passageiros e, quando olhamos hoje para o ranking sem qualquer informação adicional, não sabemos que o nosso atleta já foi o líder mundial. No entanto as medalhas não são passageiras, ficam para a história e o Rui já não é nenhum novato em conquistar o ouro. As primeiras medalhas de ouro, ganhas em competições nacionais, remontam a 2008, enquanto júnior. Desde aí são demasiadas as medalhas para as destacar individualmente (mas podem consultar o extenso palmarés em pormenor aqui). Só no ano civil transacto subiu ao pódio, enquanto atleta português, vimaranense e vitoriano, por seis vezes para pôr ao peito a medalha de ouro, sendo que uma dessas medalhas douradas foi conseguida nos Jogos Europeus, em Baku. Em Maio sagrou-se Bicampeão Europeu.

O taekwondo é uma modalidade implementada apenas há cerca de dois anos no Vitória. Em Janeiro de 2015 Hugo Serrão, o treinador de Rui Bragança e Nuno Costa (outro atleta vitoriano do Taekwondo que nos enche de orgulho), assumiu que um dos objectivos era apurar o Rui para os Jogos Olímpicos. No final do ano ficamos a saber que esse objectivo tinha sido alcançado: o Rui Bragança iria representar Portugal no Rio de Janeiro, na prova multi-desportiva mais importante do mundo. Infelizmente a participação não correu de feição e o Rui não conseguiu lutar pelas medalhas, ficando-se pelos quartos-de-final. Não deixou de ser, por isso, uma participação que honrou não só os vitorianos e vimaranenses mas também todo o país e que nos deve deixar muito orgulhosos (não vale a pena dar atenção aos jornais desportivos, a quem não interessa pôr o Rui Bragança na capa das tantas vezes que já venceu mas que reservam um lugar para o criticar; já disse e repito: o Rui, e tantos outros, tem qualidade a mais para figurar em semelhante monte de papéis). Para além de ser um atleta de excelência, o Rui também é estudante de Medicina na Universidade do Minho. Conseguir conciliar os estudos e o desporto (assim como a sua vida pessoal) a um nível tão exigente é admirável. Eu não conheço o Rui mas calculo que seja preciso muito trabalho (dois treinos diários, antes e depois das aulas na universidade), muita dedicação e muito empenho para obter estes resultados fabulosos. É uma pena que os meios de comunicação não sejam os primeiros a dar destaque a estes jovens atletas que têm tudo para inspirar outros jovens.

Fiquei desiludida ao saber que o apoio dado ao Rui Bragança é mínimo. Sei que o apoio do Estado português é praticamente inexistente para a grande maioria dos atletas portugueses que tanto fazem pelo país e isso, apesar de me entristecer, não me surpreende. O que eu não sabia é que o Vitória age da mesma forma. É uma situação insustentável. Um atleta que nos representa deve ser apoiado, a vários níveis - incluindo a nível monetário. Não acredito que o Rui queira um ordenado chorudo. O que me parece é que o Rui quer, tal como o próprio disse, "deixar de pedir dinheiro aos pais". Disse-o com todo o direito. Ele não representa os pais, ele representa um país e uma instituição que deviam ter algum decoro e consideração e prestar-lhe todas as ajudas necessárias e possíveis.

Eu sei que a situação financeira do Vitória não é a ideal e que até o investimento no futebol é demasiado tímido mas se optámos por ter atletas deste calibre a representar o Vitória (e é com grande orgulho que eu vejo que somos um clube de campeões) temos de cumprir com as obrigações subentendidas de os apoiar sempre que precisam e procurar junto das instâncias adequadas mais apoio. A situação de que o Rui falou (e bem) é inadmissível e não pode ter lugar numa instituição que é e quer continuar a ser desportivamente incontornável e de relevo. Enquanto sócios temos a obrigação de não deixar cair esta situação em esquecimento e recorrer à palavra, por exemplo nas Assembleias Gerais, para tentar mudar a situação e providenciar condições mais confortável ao Rui e a todos os atletas que tal como o Rui nos representam e precisam. É um esforço que tem de ser feito obrigatoriamente. Os nossos campeões merecem ter os meios e apoios necessários para continuar a representar-nos ao mais alto nível! Os vitorianos, eu incluída, sempre se orgulharam de ser o país mais ecléctico do Minho e um dos mais eclécticos do país. É realmente muito especial ver todos os títulos ganhos pelas modalidades e ver o amor com que tantos atletas representam o Vitória. Não podemos perder isso, faz parte do nosso ADN e da nossa identidade!