Depois de uma importante vitória - a nível da classificação, mas também a nível anímico - conquistada no Estádio Municipal de Braga ao rival de sempre, a turma vitoriana regressou a casa defrontar o Marítimo. Os verde-rubros entraram melhor no jogo e avisaram os branquinhos de que não iriam facilitar a vida ao anfitrião. A equipa da casa, depois de recuperar do choque, mostrou serviço e foi superior na maior parte do tempo. Duas oportunidades flagrantes que não foram aproveitadas por Bernard e pelo estreante Rafael Miranda fizeram com que este empate soubesse a muito pouco. Os dois pontos perdidos seriam importantes para subir, ainda que à condição, ao terceiro lugar da tabela classificativa e para cimentar o acesso à Liga Europa (quero acreditar que o quinto lugar já não escapa, mas ainda assim será bom aumentar o fosso para o sexto classificado enquanto se prepara o assalto ao quarto e, no melhor cenário, ao pódio). A época tem sido marcada por oportunidades não aproveitadas de dar um salto significativo na tabela.
O pior do jogo, e que eu condeno sempre porque julgo não beneficiar em nada o futebol, é a prática de anti-jogo. Já aconteceu com outras equipas no nosso estádio, como por exemplo com o Chaves, e voltou a acontecer perante os quase quinze mil vitorianos presentes no estádio no último sábado. O Marítimo, apesar de ter entrado bem, revelou que ficava feliz com um empate e o Vitória foi a única equipa que mostrou vontade de lutar pelos três pontos. É inadmissível que as equipas que adoptam essa posição no jogo não sejam punidas e é inadmissível que as equipas de arbitragens sejam cúmplices. No outro extremo do espectro, e apesar de eu raramente destacar individualidades, Bruno Gaspar e Konan continuam a ser dos melhores em campo. O primeiro já é bem conhecido dos vitorianos e, depois de uma fase menos positiva, encontra-se agora muito confiante e contribuí muito para a equipa. O costa-marfinense, proveniente da equipa B, encontrou o seu lugar na equipa A em Dezembro e o seu rendimento melhora de jogo para jogo. No entanto, o destaque maior é o colectivo que, apesar de não ter a pontaria afinada, jogou tanto quanto o Marítimo deixou - ou seja, sempre que não estava um jogador estendido no chão. João Pedro assistiu ao jogo da bancada e tudo o que os vitorianos lhe podem desejar é boa sorte e agradecer pelos anos de dedicação ao clube. Agora é um conquistador, como todos nós espalhados pelas bancadas e pelo mundo.
A janela de transferências encerra hoje e, apesar de já me ter pronunciado sobre a mesma há uma semana (aqui), há desenvolvimentos e, ainda assim, provavelmente não será assunto a ser encerrado hoje. Rafael Miranda, apresentado na última terça-feira, já teve oportunidade de se mostrar aos sócios no último sábado. Entrou em jogo já depois do minuto sessenta e, portanto, ainda é cedo para fazer qualquer tipo de apreciação. Não só porque jogou pouco tempo, mas também porque se juntou à equipa há poucos dias. O que marcou a sua estreia foi uma oportunidade desperdiçada que me parece fruto da ânsia de mostrar a sua competência. Não me alarma e não me preocupa.. Terá tempo de mostrar serviço e conto que o faça. O ponta-de-lança brasileiro, de 27 anos, chegou a Portugal em 2013/2014 para alinhar pelo Vitória FC e apontou 15 golos em 34 jogos. Captou a atenção do Levante e transferiu-se para o país vizinho na época seguinte. Os números não foram os melhores e apenas conseguiu apontar um tento nos 17 jogos ao serviço do clube. Em 2015/2016 regressa a Portugal e integra-se no plantel do Moreirense, onde faz uma das suas melhores épocas e, em termos de golos, a melhor época dos últimos anos: em 31 jogos, marcou 20 golos, conseguindo uma simpática média de 0,65 golos por jogo. Regressou ao Levante no início da presente época, mas foram poucos os jogos em que alinhou a titular. Chega, assim, ao Vitória a título definitivo. No último domingo, foi apresentado Fábio Sturgeon, de 22 anos, que chega do Belenenses. Esta época apontou 2 golos em 21 jogos ao serviço dos azuis do Restelo. Um dos assuntos que tem estado na ordem do dia é a demora de Marega em se apresentar ao trabalho. O Mali foi eliminado da CAN a semana passada e, à hora em que escrevo este texto, ainda não se apresentou no complexo do Vitória. Consta que o Vitória garantiu o empréstimo do jogador para o resto desta época e para a próxima, ainda incluído no negócio de Soares. Nestas situações, a transparência da SAD com os sócios evitaria novelas e especulação que não ajudam em nada. Parece-me que fica a faltar um médio, mas o mercado fecha apenas à meia-noite e, apesar de parecer pouco tempo, as próximas horas podem ser determinantes.
O Vitória desloca-se, na próxima Sexta-feira, ao terreno do Paços de Ferreira. Na primeira volta o Vitória conseguiu manter os três pontos em casa, com um resultado extraordinário de 5-3. Os golos vitorianos foram apontados por Hurtado, Soares, Marega (2) e por Mateus Silva, que marcou na própria baliza. Sempre que o Vitória vai defrontar a Paços de Ferreira defrontar a equipa da cidade, arrasta consigo uma multidão de vitorianos. Não acontece só na Mata Real, acontece em todo o lado. No entanto ninguém se esquecerá da imagem de todos aqueles adeptos que, sob uma chuva descomunal, cantavam cada vez mais alto e elevavam os seus cachecóis, e o nome do Vitória, a um patamar épico. A chuva transformou-se num sol resplandecente para os vitorianos que, não se importando com as consequências de ficar cerca de duas horas à chuva, marcaram presença. Como estiveram no último sábado. Como estão sempre. Os conquistadores não abandonam a sua equipa em nenhuma circunstância. Sexta não pode ser excepção! Sexta é dia de começar o assalto ao pódio. Se tínhamos, por ventura, margem de manobra para errar, essa margem começa a encurtar. Não tenho dúvida de que se o desempenho da equipa for espelhado na qualidade do apoio na bancada, os três pontos viajam para Guimarães.
P.S.: A comunicação social não o fez porque, provavelmente, não combina com as cores que defendem. Eu sei as cores que defendo e o meu coração só tem espaço para um clube, o Vitória. No entanto, sou de Guimarães e fico feliz quando Guimarães ganha. Guimarães escreve-se a dois nomes na primeira liga, Vitória SC e Moreirense FC. Sempre me orgulhei de ser assim e, portanto, resta-me congratular o Moreirense pela sua vitória na final da Taça da Liga. Foi o culminar de um percurso incrível. Que seja a primeira Taça da época a viajar para Guimarães. Que a segunda seja a Taça de Portugal, conquistada pelo Vitória!
terça-feira, 31 de janeiro de 2017
segunda-feira, 30 de janeiro de 2017
Critérios
Todos os animais são iguais. Este era um dos mandamentos escritos numa parede da Quinta dos Animais, na obra homónima de Orwell. Esses mandamentos, inicialmente escritos com o intuito de guiar a conduta dos animais da quinta e para garantir a liberdade e igualdade de todos, foram sofrendo alterações pelas patas dos porcos que, depois de serem apanhados a violar os mandamentos que os próprios estipularam e escreveram, os modificaram para servir os seus propósitos e vontades. Depois de várias alterações, já só restava um único mandamento. Esse mandamento era uma adaptação daquele com que principiei este texto e dizia o seguinte: Todos os animais são iguais, mas uns são mais iguais do que outros.
George Orwell foi um génio e a prova disso é a intemporalidade e aplicabilidade das suas obras a todas (ou quase todas) os sectores da sociedade, inclusive no futebol e na imprensa desportiva. Assim que vi as capas dos jornais desportivos de hoje confirmei as minhas suspeitas de ontem. O Moreirense, vencedor da décima edição da Taça CTT, não figura na capa de dois, dos três, jornais desportivos com distribuição nacional. Apenas o jornal O Jogo decidiu destacar o vencedor da competição e A Bola apenas o fez na edição impressa para o Norte do país (não sei se essa edição é para todo o Norte do país ou se é para certas zonas da região).
Nos últimos anos, estes jornais guiaram-se sempre pelos mesmos critérios ao desenhar a capa do dia seguinte à final da Taça da Liga. Através de uma rápida pesquisa online consegui consultar algumas dessas capas, desde o ano de 2010, e constatei que o vencedor foi sempre o grande destaque na capa destes dois jornais. Não me dei ao trabalho de pesquisar as capas d'O Jogo, uma vez que fizeram uma capa digna e que vai de acordo com o que costumam fazer quando se trata de outros clubes. Na capa sempre figurou o vencedor - que, por norma, é o Benfica. Ontem o vencedor não foi o Benfica e o Benfica nem marcou presença na final, mas o destaque é o Benfica. O Record e A Bola (não, a capa da edição nortenha não os desculpa, uma vez que a competição é de âmbito nacional) priorizaram a convocatória dos encarnados à vitória do Moreirense que ontem se tornou no Campeão de Inverno.
Os critérios, subitamente, são outros e o vencedor de uma competição de âmbito nacional e que serve para condecorar o Campeão de Inverno já só merece ser assunto de rodapé. Merece-o porque, para os jornais, o Moreirense é pequeno. Os pequenos sentam-se ao lado, não se sentam na mesa. É triste como as linhas editoriais servem para servir os gostos e agendas pessoais de alguns, ao invés de servir para serem isentos, intelectualmente honestos e éticos. Cada jornal decide aquilo que publica e eu decido não os comprar. Neste país, há apenas três clubes que parecem interessar. Estão acima das outras modalidades, dos outros desportistas e dos outros clubes. É uma dualidade de critérios triste, mas que combina com tudo o resto que se faz no futebol português. Há dois micro-campeonatos de diferentes níveis dentro do nosso campeonato. Um deles, o superior, é disputado a três cores: vermelho, verde e azul. O outro é disputado pelos restantes e, para a comunicação social, não vale por um.
Escrevo hoje, no âmbito do futebol, mas já escrevi anteriormente quando o João Sousa, ao vencer um troféu inédito na história do ténis português, foi relegado para segundo, terceiro ou quarto plano. Podia escrever o mesmo quando Patrícia Mamona ganha uma competição e ela fá-lo tantas vezes! Podia escrever para muitos outros atletas que dignificam o desporto português em todo o mundo, mas que não podem ver os seus feitos nas capas dos jornais. O compromisso da imprensa desportiva portuguesa é com os lucros, nada mais.
A culpa não é só de quem dirige os jornais e gere os seus conteúdos. A culpa é partilhada com os que compram os jornais, os que preferem apoiar o clube que não os representa mesmo que isso signifique rebaixar o clube da sua terra, é do centralismo bacoco e da falta de orgulho na sua cidade, de quem não vê o quão sectaristas são estas decisões. Isto não é uma crítica ao Benfica (porque há sempre quem ache que qualquer coisa que envolva o Benfica é um ataque directo ao clube), não é uma crítica aos benfiquistas que nasceram e cresceram em Lisboa. É uma crítica aos jornais que não respeitam os clubes e os adeptos (acima de tudo, isto é uma falta de respeito tremenda) e uma crítica ao adepto que prefere apoiar a equipa lá de longe, rebaixando a equipa da sua terra e a equipa que o representa. Diz-se com alguma leveza que em Portugal se gosta de futebol. Os portugueses, os actuais campeões europeus de futebol, não gostam de futebol. É uma generalidade que sou obrigada a fazer, por muito que me desagrade. Infelizmente em Portugal vive-se em demasia um fanatismo clubístico que cega.
Parabéns ao Moreirense, pelo percurso incrível e pela conquista merecida desta Taça da Liga. Parabéns ao Braga, por ter chegado à final. Parabéns aos adeptos destes dois clubes que, com civismo, fizeram muitos quilómetros na última semana para apoiar o seu clube, independentemente da sua dimensão. Sempre que um clube como o Moreirense ganha, o futebol ganha outro encanto. Não é o meu clube, o meu coração só tem espaço para o Vitória, mas consigo reconhecer que quantos mais Moreirenses houver mais o futebol português cresce.
22 de Março de 2010. |
14 de Abril de 2013 |
30 de Maio de 2015 |
21 de Maio de 2016 |
terça-feira, 24 de janeiro de 2017
Indissociáveis
Foto: Vitória SC |
A última semana fica pautada por duas vitórias basilares na presente época vitoriana. Na Covilhã, o Vitória conseguiu a primeira vitória do ano civil e garantiu a continuidade na Taça de Portugal, competição em que o objectivo tem de ser o de chegar ao Jamor e levantar a taça. A vitória no Municipal de Braga, no último Domingo à noite, foi importante não só pelos três pontos conseguidos, mas também porque foi a primeira vez que os branquinhos ganharam naquele estádio e acredito que isso dará uma injecção de confiança à equipa para enfrentar a segunda volta. Em termos de jogo jogado, é de destacar o último jogo, em especial a primeira parte. Se o desempenho da equipa não foi totalmente satisfatório na Covilhã, pese embora o resultado, a prestação da turma vitoriana em Braga convenceu e ficou a certeza de que o 5º lugar não pode ser o objectivo. Apesar da conquista do 4º ou 3º lugar já não depender exclusivamente de nós, estou certa de que podemos ambicionar em terminar a época no pódio. Não é uma ambição descabida. Estamos a um ponto do Sporting de Portugal, 4º classificado, e a dois pontos do Sporting de Braga, que ocupa a 3º posição. A verdade é que ter ambições não chega, é preciso que as acções sejam condizentes. A nossa preocupação tem de ser a de desenhar e construir o nosso caminho, unicamente.
Tento ser ponderada em tudo aquilo que digo e escrevo, portanto ainda me parece ser muito cedo para falar de transferências com a objectividade desejada. No entanto, há algumas coisas que posso dizer desde já. Não sei quais os benefícios que esta janela de transferências, a meio da época, traz ao futebol. Da mesma forma que não entendo a lógica do mercado só fechar no final de Agosto, já depois do início das competições. É descabido e beneficia apenas a carteira dos empresários e os clubes com poder financeiro. Isto não é de hoje e será tema para outro dia, certamente. Quanto ao que é particular ao Vitória, o que realmente interessa, não fiquei agradada com as saídas conhecidas até ao momento, pese embora qualquer comentário da minha parte seja feito sempre com alguma cautela por não conhecer os contornos dos negócios. Gostaria de ver a SAD ser mais transparente com os sócios quanto às vendas e aquisições de jogadores. Não sendo esse o caso, comento aquilo que depreendo do que leio e do que vou sabendo. O que sei, com certeza, é que a saída de dois jogadores titulares deixa sempre danos. Mesmo que sejam contratados jogadores de qualidade, estes precisam de se entrosar com os companheiros, de conhecer a equipa e de se adaptar ao futebol português, se estiverem a militar em campeonatos estrangeiros. É para isso que, antes do início do campeonato, existe a pré-época. A pré-época dos jogadores que chegam em Janeiro é numa altura determinante no campeonato e, no nosso caso, da Taça de Portugal. João Pedro foi vendido aos LA Galaxy. Apesar de não ser conhecido o valor da transferência, estima-se que tenha saído por cerca de um milhão e meio de euros. Parece-me um valor irrisório, tendo em conta a importância do jogador para a equipa e a sua margem de progressão. É impossível dizer se iria valorizar, são muitas as variáveis a ter em conta e o futebol é imprevisível, mas uma vez que a sua venda não permite um encaixe financeiro considerável. não vejo quais os grandes benefícios imediatos, ou a longo prazo, para o Vitória. A transferência de Soares, para o Porto, é mais difícil de comentar. Não há declarações oficiais nem consenso quanto ao valor e parece ainda estar em cima da mesa a possibilidade de jogadores da equipa portuense serem transferidos, inclusive a título definitivo, para o Vitória. Resta-nos esperar e desejar aos dois jogadores todo o sucesso possível.
A última semana, para além de ficar marcada pelas duas vitórias importantes já referidas, ficou marcada, mais uma vez, pelo apoio incondicional e extraordinário dos melhores adeptos do mundo. Não tive possibilidade de me deslocar à Covilhã, mas acompanhei o jogo pela televisão. Não comecei a ver o Vitória há dois dias, bem pelo contrário. Já conto alguns anos a acompanhar o Vitória - fora e em casa - e espero contar muitos mais. No que depender de mim, enquanto tiver condições para o fazer, vou passar muitos dias nas bancadas do nosso estádio ou noutras bancadas por esse país - e quiçá, por esse mundo - fora. Isto tudo para dizer que, depois de tantos anos, ainda fico surpreendida com a capacidade desta massa associativa se desdobrar para acompanhar a sua equipa do coração. Quando vi a moldura humana composta pelos vitorianos, a quase 300 km de distância, ao final da tarde de um dia da semana e com graus negativos fiquei boquiaberta. Sabia que os vitorianos não iam deixar a equipa jogar sozinha. Nunca deixamos, mas ainda assim não contava que tanta gente o fizesse, tendo em conta as péssimas condições. Fiquei emocionada e extremamente orgulhosa por fazer parte desta família.
No Domingo à noite, assim como muitos outros vitorianos, desloquei-me a Braga para acompanhar a equipa. É uma deslocação ímpar, pela rivalidade entre os dois clubes. Os vitorianos não desiludiram, claro. Compareceram em massa e, mais uma vez, proporcionaram a todos os braguistas um espectáculo dentro do espectáculo. Nada de novo. Quem compra bilhete para assistir a um jogo do Vitória já deve saber que compra um bilhete 2 em 1: para além do jogo de futebol em si, ainda há um espectáculo único nas bancadas. No entanto, os artistas (nós, claro) foram muito mal recebidos. Ainda antes de chegar às imediações do estádio, já havia graúdos com medo - e miúdos a chorar - dentro dos autocarros ao ver a polícia de intervenção correr em direcção aos autocarros de bastão na mão. Episódios desnecessários protagonizados por quem devia ter, mas aparentemente não tem, formação para lidar com multidões. Depois de chegar às imediações do estádio, toda a gente percebeu que não estavam prontos para receber a força conquistadora. Só assim se pode explicar a forma como os adeptos entraram no estádio. Iam passando grupos para a revista que depois se amontoaram na zona dos torniquetes de acesso que tinham, se não estou em erro, duas ou três pessoas a recolher os bilhetes. Entrei já perto da hora, mas provavelmente muitos só conseguiram entrar depois do apito inicial. Quando cheguei ao último piso ainda estava muita gente à espera de ser revistada e, nesse momento, chegaram mais cinco autocarros.
Se o que acabei de descrever é o que me faz espécie no futebol (bem, a incompetência incomoda-me em todas as áreas), o que aconteceu nas (cerca de) duas horas seguintes foi o que me fez apaixonar por futebol e é o que me faz continuar a dar dinheiro e tempo para ir aos estádios acompanhar uma equipa de futebol. Um apoio digno de registo. Cada vez mais me apercebo que nós, vitorianos, somos o sinónimo de amor. Somos nós que impulsionamos o futebol nas bancadas, num país que tem a mentalidade tacanha de apoiar um clube só porque é esse clube que ganha. Realmente o Vitória tem poucos troféus, não faz épocas incríveis, não tem os melhores jogadores do mundo e não tem os cofres cheios. É a realidade e é inegável. No entanto tem o que muitos outros, principalmente em Portugal, não têm: adeptos resilientes, verdadeiramente apaixonados e sempre dispostos a apoiar o clube. É o verdadeiro décimo segundo jogador, capaz de empurrar a equipa para a vitória. Eu, que sou de letras e gosto tanto de palavras, não as encontro para descrever aquilo que vejo e sinto quando estou na bancada, junto de pessoas que eu não conheço, mas que têm o mesmo objectivo do que eu: fazer do Vitória um clube maior! O Vitória é maior por nossa causa e por causa do nosso inenarrável apoio. Não tenho dúvidas disso. Aliás, tenho cada vez mais essa certeza. O Vitória é indissociável dos seus adeptos e, juntos, somos indissociáveis da palavra amor.
Foto: Pedro Cunha |
terça-feira, 17 de janeiro de 2017
Os tipos admiráveis
O Vitória encerrou a primeira volta do campeonato no Estádio Marcolino de Castro, em Santa Maria da Feira, com um empate que soube a pouco. A exibição não foi excelência, mas chegaria para somar três pontos, ao invés de um, se a equipa soubesse ser mais assertiva na altura de alvejar a baliza. É notório que há limitações, que devem ser tratadas no mercado de Inverno, e algum cansaço, provocado por um mês de Janeiro com um calendário extenso e exigente. Desde o dia 30 de Dezembro do ano transacto, em que o Vitória foi a Vizela arrancar uma vitória para a Taça CTT, a equipa já disputou quatro jogos - dois deles para a referida Taça e os restantes dois para o campeonato. Destes jogos, os resultados repartem-se igualmente em empates (frente ao Paços de Ferreira, para a Taça, e frente ao Feirense, para o campeonato) e derrotas (as duas frente ao Benfica, para a Taça e para o campeonato). De forma simplificada, bastará dizer que 2017 ainda não convenceu. O Vitória somou apenas 1 ponto para o campeonato, de seis possíveis, e foi eliminado de uma competição que tinha todas as possibilidades de ganhar. Até ao final de Janeiro, disputam-se jogos muito importantes para o campeonato (Braga fora e Marítimo em casa) e para a Taça de Portugal, frente ao Covilhã. O início de Fevereiro trará, também, os seus desafios: começa com uma deslocação ao Estádio da Mata Real e com a recepção ao Porto.
Apesar do ano não ter começado da melhor forma, o balanço da primeira volta é positivo. Não é satisfatório e deixa a sensação de que se podia ter feito mais e melhor, mas é, no geral, positivo. O Vitória encontra-se na 5ª posição da tabela classificativa, na posição mínima que dá acesso à 3ª pré-eliminatória da Liga Europa. Parece-me que este lugar tem de ser sempre o mínimo exigido e não o objectivo da época. Logo abaixo, na 6ª posição e a 6 pontos, encontra-se o Marítimo. Acima, para onde temos de olhar, encontra-se imediatamente o Sporting, com mais três pontos; o Braga, em 3º lugar, com mais cinco pontos; e, na 2ª posição, está o Porto, com mais sete pontos. Parece-me importante declarar, de imediato, um facto óbvio, mas que por vezes pode passar despercebido. São seis pontos que separam o 6º classificado, o Marítimo, do Vitória e são cinco pontos que separam o Vitória do 3º classificado, o Braga. Outro facto óbvio, e de grande importância, é que na jornada inaugural da segunda volta o Vitória desloca-se ao sempre complicado reduto do Sporting de Braga, enquanto que na jornada seguinte recebe o Marítimo. Se as duas jornadas correrem bem, e o Vitória conseguir somar seis pontos, pode aproximar-se do 3º posto ou, até mesmo, instalar-se nesse lugar agradável - contando, para isso, com deslizes do Sporting de Braga e do Sporting de Lisboa. No outro extremo do espectro, o 5º lugar pode ficar em risco se as próximas duas jornadas correrem mal para o Vitória e correrem bem ao Marítimo, que inicia a segunda volta defrontando o Sporting. Naturalmente prefiro - e acredito - no primeiro cenário, apesar de ser a primeira a admitir que não vai ser nada fácil e que não podemos ser condescendentes, em nenhum período dos jogos (e, de preferência, em toda a segunda volta e isso incluí o mercado de transferências).
Os próximos dois jogos são peculiares e com características muito próprias. Começando pelo início: amanhã o Vitória desloca-se à fria Covilhã para tentar desbravar caminho até ao Jamor. Não há alternativa à vitória. A Taça de Portugal é o palco dos sonhos e é fundamental estar ciente de que o é para todos os clubes. Da mesma forma que o é para nós, também é para o Covilhã. A mentalidade com que se entra em campo, num jogo assim, tem de ser forte e inflexível. O adversário chegou ao mesmo patamar por mérito. Cair na armadilha de questionar esse mérito, é meio caminho andado para sair da prova. Não é, de forma nenhuma, o primeiro confronto entre os dois emblemas. Nem é o primeiro confronto para a Taça de Portugal. No computo geral até é o Covilhã que leva a vantagem. Em 37 jogos, o Covilhã venceu 17 e o Vitória 15, sendo que os restantes 5 terminaram em empate. Na Taça de Portugal, o caso muda de figura. Foram 6 os confrontos e o Vitória levou a sua avante por 4 vezes. O último jogo disputado, e o único disputado este milénio, foi em 2009 para a Taça da Liga, na altura designada por Carlsberg Cup. O jogo disputado no nosso estádio ficou 2-0, com golos de Moreno e Targino. O Vitória acabou por ficar em primeiro do grupo e passar à próxima fase. O jogo de amanhã não se adivinha fácil, mas ganhar é a palavra de ordem!
No próximo Domingo, o Vitória entra em campo na Pedreira. Um dérbi tem sempre contornos especiais. Os nervos estão à flor da pele, os pequenos detalhes ganham proporções megalómanas e a pressão triplica para quem está dentro de campo. Não é um jogo fácil, para ninguém. No entanto é sempre um jogo emocionante e que, por norma, é um espectáculo sem igual. Arrisco-me a dizer, não pela primeira vez, que este é o mais emocionante dérbi a nível nacional. Pela história que comporta e, principalmente, por ser um dérbi milenar que é apenas uma extensão da disputa entre as duas cidades minhotas. É difícil, para quem vê de fora, entender as dimensões deste jogo. Para quem o vive, na sua essência e há muitos anos, é um dos jogos da época. Não só porque pode ser decisivo, mas porque dá uma força anímica sem igual a um dos clubes. Isto, no início da segunda volta, pode ser muito importante. Não só em termos classificativos. No entanto, tal como o jogo de amanhã, não vai ser tarefa fácil para os nossos branquinhos. Aliás, o Vitória ainda não conseguiu ganhar nenhum dos 12 jogos disputados no Municipal de Braga. Destes, 11 contaram para a Liga. O Vitória perdeu 8 vezes e empatou nos outros três jogos, sendo que os últimos dois jogos acabaram em empate. Em 2014, sem golos. Em 2016 foram 6 os golos apontados, três para cada emblema. Do onze titular que alinhou frente ao Braga a época passada restam apenas 4 jogadores: João Miguel, Josué, Pedro Henrique e Bruno Gaspar. Os três golos vitorianos foram apontados por jogadores que já não estão no clube, nomeadamente Licá, Dourado e Otávio. O Sporting de Braga tem, em sua casa, um campo muito difícil. Para o campeonato ainda não perderem nenhum jogo. Os dois jogos que perderam contaram para a Taça CTT, frente ao Rio Ave, e para a Taça de Portugal, precisamente pelo Covilhã, que os eliminaram da prova. Para todos os efeitos são três pontos como todos os outros, mas podem ser determinantes na principal prova portuguesa.
A minha última nota não pode deixar de ser para os do costume: para nós, adeptos. Se me pedirem para eleger o melhor desta primeira volta, a minha resposta seria a mais natural do mundo e sem nenhuma hesitação. O melhor desta primeira volta, como em todas as voltas de todas as épocas, são os adeptos. Temos de ser justos e intelectualmente honestos: um clube não se faz só de adeptos. O Vitória não é excepção. O Vitória é uma instituição constituída por várias partes, desde a administração aos adeptos - passando, naturalmente, pela equipa e equipa técnica, entre todos os outros departamentos que contribuem (e devem contribuir sempre) para fazer do Vitória um clube cada vez melhor e maior. No entanto, são os adeptos a força motriz deste clube, de um dos símbolos mais importantes e indispensáveis do futebol português. São os adeptos vitorianos, grupo em que me estou incluída, que são verdadeiramente admiráveis - mais do que qualquer jogador, marque ele os golos que marcar; mais do que qualquer treinador, independentemente dos troféus que ganhe ao serviço do clube. Não os desmereço, naturalmente. Não desmereço nenhum jogador, nenhum treinador e ninguém que faça o seu melhor ao serviço do Vitória. São os irredutíveis e incomparáveis adeptos vitorianos que têm, cada vez mais, a minha maior admiração. Aqueles que, como eu, gerem os seus horários para poder ir apoiar a equipa. Aqueles que, como eu, estão no autocarro a regressar de Santa Maria da Feira a planear a próxima deslocação, sem querer saber se estamos há quatro jogos sem ganhar. Aqueles que, como eu, ficam verdadeiramente tristes quando não podem acompanhar a equipa. Aqueles que, como eu, preferem estar na bancada de qualquer estádio português, ao frio e à chuva, do que estar confortavelmente sentados no sofá a ver o jogo pela televisão.
A minha admiração pelos adeptos vitorianos é, de dia para dia, maior. Àqueles que eu nem sequer conheço, mas que partilham este amor comigo: o meu obrigada! Por partilharem as bancadas comigo, por comporem molduras humanas extraordinárias comigo, por fazerem tudo em prol do Vitória como eu faço, por tornarem do Vitória o clube com os adeptos mais épicos e extraordinários do país. Quem acompanhou o Vitória na primeira volta da presente temporada, quem foi ao Dragão, a Moreira, a Vila do Conde, ao Bessa, a Tondela, a Arouca, a Vizela e ao Feirense - e a todas as outras deslocações que não estão enumeradas aqui -, tem muitas novas histórias para contar e para juntar a todas aquelas que já têm anos e que, carinhosamente, vamos contando em jantares e aos amigos quando eles já estão cansados de ver o nosso cartão do Vitória e cansados de ouvir as nossas histórias. Nós contamos sempre, uma e outra vez. E vamos contar no futuro, porque nós fazemos parte dessas histórias. Acrescentamos sempre, embebecidos, que "vocês, que estão de fora, não entendem". Dizemos isso porque sabemos que não entendem mesmo. Não conhecem aquela sensação incrível de sair do estádio com um sorriso estampado no rosto, depois de uma derrota, porque nas bancadas demos 15-0. Nem conhecem a sensação maravilhosa de perceber que, de certa forma, fomos nós que empurramos a equipa para a vitória. Muito menos sabem o que é chegar a casa, depois de uma viagem cansativa, de peito feito e com o coração a transbordar de orgulho. Nem conhecem - e desconfio que são poucos os que vão conhecer - a sensação de nos sentirmos uns super-heróis no final do jogo, com a camisola do Vitória, a camisola do clube da cidade que me viu crescer e que faz parte da minha identidade.
Quem apoia o clube da terra, contra todas as adversidades (e são muitas), é capaz de conseguir ter uma ideia daquilo que aqui falo. Há umas semanas li que "em Portugal, ser adepto de um clube do meio da tabela é cada vez mais um acto de masoquismo. Um acto de heroísmo." e, de facto, é. É difícil ir contra o que é normal, habitual, contra os jornais e as televisões, contra o que nos querem impor a ferro e fogo. É difícil, mas o lado bom compensa todo o lado mau que possa existir. É por isso que, quando chego a casa, vejo e revejo as fotos e os vídeos dos adeptos vitorianos e não consigo deixar de pensar que "estes tipos são mesmo admiráveis". E são. Somos admiráveis, somos arte. Muitos não entendem, nem é necessário. Nós sabemos dos esforços que fazemos e sabemos da paixão que nos move. Somos o combustível do Vitória. Onde houver um vitoriano apaixonado, estamos todos. Enquanto houver o Vitória, o futebol português é um bocadinho mais bonito.
Apesar do ano não ter começado da melhor forma, o balanço da primeira volta é positivo. Não é satisfatório e deixa a sensação de que se podia ter feito mais e melhor, mas é, no geral, positivo. O Vitória encontra-se na 5ª posição da tabela classificativa, na posição mínima que dá acesso à 3ª pré-eliminatória da Liga Europa. Parece-me que este lugar tem de ser sempre o mínimo exigido e não o objectivo da época. Logo abaixo, na 6ª posição e a 6 pontos, encontra-se o Marítimo. Acima, para onde temos de olhar, encontra-se imediatamente o Sporting, com mais três pontos; o Braga, em 3º lugar, com mais cinco pontos; e, na 2ª posição, está o Porto, com mais sete pontos. Parece-me importante declarar, de imediato, um facto óbvio, mas que por vezes pode passar despercebido. São seis pontos que separam o 6º classificado, o Marítimo, do Vitória e são cinco pontos que separam o Vitória do 3º classificado, o Braga. Outro facto óbvio, e de grande importância, é que na jornada inaugural da segunda volta o Vitória desloca-se ao sempre complicado reduto do Sporting de Braga, enquanto que na jornada seguinte recebe o Marítimo. Se as duas jornadas correrem bem, e o Vitória conseguir somar seis pontos, pode aproximar-se do 3º posto ou, até mesmo, instalar-se nesse lugar agradável - contando, para isso, com deslizes do Sporting de Braga e do Sporting de Lisboa. No outro extremo do espectro, o 5º lugar pode ficar em risco se as próximas duas jornadas correrem mal para o Vitória e correrem bem ao Marítimo, que inicia a segunda volta defrontando o Sporting. Naturalmente prefiro - e acredito - no primeiro cenário, apesar de ser a primeira a admitir que não vai ser nada fácil e que não podemos ser condescendentes, em nenhum período dos jogos (e, de preferência, em toda a segunda volta e isso incluí o mercado de transferências).
Os próximos dois jogos são peculiares e com características muito próprias. Começando pelo início: amanhã o Vitória desloca-se à fria Covilhã para tentar desbravar caminho até ao Jamor. Não há alternativa à vitória. A Taça de Portugal é o palco dos sonhos e é fundamental estar ciente de que o é para todos os clubes. Da mesma forma que o é para nós, também é para o Covilhã. A mentalidade com que se entra em campo, num jogo assim, tem de ser forte e inflexível. O adversário chegou ao mesmo patamar por mérito. Cair na armadilha de questionar esse mérito, é meio caminho andado para sair da prova. Não é, de forma nenhuma, o primeiro confronto entre os dois emblemas. Nem é o primeiro confronto para a Taça de Portugal. No computo geral até é o Covilhã que leva a vantagem. Em 37 jogos, o Covilhã venceu 17 e o Vitória 15, sendo que os restantes 5 terminaram em empate. Na Taça de Portugal, o caso muda de figura. Foram 6 os confrontos e o Vitória levou a sua avante por 4 vezes. O último jogo disputado, e o único disputado este milénio, foi em 2009 para a Taça da Liga, na altura designada por Carlsberg Cup. O jogo disputado no nosso estádio ficou 2-0, com golos de Moreno e Targino. O Vitória acabou por ficar em primeiro do grupo e passar à próxima fase. O jogo de amanhã não se adivinha fácil, mas ganhar é a palavra de ordem!
No próximo Domingo, o Vitória entra em campo na Pedreira. Um dérbi tem sempre contornos especiais. Os nervos estão à flor da pele, os pequenos detalhes ganham proporções megalómanas e a pressão triplica para quem está dentro de campo. Não é um jogo fácil, para ninguém. No entanto é sempre um jogo emocionante e que, por norma, é um espectáculo sem igual. Arrisco-me a dizer, não pela primeira vez, que este é o mais emocionante dérbi a nível nacional. Pela história que comporta e, principalmente, por ser um dérbi milenar que é apenas uma extensão da disputa entre as duas cidades minhotas. É difícil, para quem vê de fora, entender as dimensões deste jogo. Para quem o vive, na sua essência e há muitos anos, é um dos jogos da época. Não só porque pode ser decisivo, mas porque dá uma força anímica sem igual a um dos clubes. Isto, no início da segunda volta, pode ser muito importante. Não só em termos classificativos. No entanto, tal como o jogo de amanhã, não vai ser tarefa fácil para os nossos branquinhos. Aliás, o Vitória ainda não conseguiu ganhar nenhum dos 12 jogos disputados no Municipal de Braga. Destes, 11 contaram para a Liga. O Vitória perdeu 8 vezes e empatou nos outros três jogos, sendo que os últimos dois jogos acabaram em empate. Em 2014, sem golos. Em 2016 foram 6 os golos apontados, três para cada emblema. Do onze titular que alinhou frente ao Braga a época passada restam apenas 4 jogadores: João Miguel, Josué, Pedro Henrique e Bruno Gaspar. Os três golos vitorianos foram apontados por jogadores que já não estão no clube, nomeadamente Licá, Dourado e Otávio. O Sporting de Braga tem, em sua casa, um campo muito difícil. Para o campeonato ainda não perderem nenhum jogo. Os dois jogos que perderam contaram para a Taça CTT, frente ao Rio Ave, e para a Taça de Portugal, precisamente pelo Covilhã, que os eliminaram da prova. Para todos os efeitos são três pontos como todos os outros, mas podem ser determinantes na principal prova portuguesa.
A minha última nota não pode deixar de ser para os do costume: para nós, adeptos. Se me pedirem para eleger o melhor desta primeira volta, a minha resposta seria a mais natural do mundo e sem nenhuma hesitação. O melhor desta primeira volta, como em todas as voltas de todas as épocas, são os adeptos. Temos de ser justos e intelectualmente honestos: um clube não se faz só de adeptos. O Vitória não é excepção. O Vitória é uma instituição constituída por várias partes, desde a administração aos adeptos - passando, naturalmente, pela equipa e equipa técnica, entre todos os outros departamentos que contribuem (e devem contribuir sempre) para fazer do Vitória um clube cada vez melhor e maior. No entanto, são os adeptos a força motriz deste clube, de um dos símbolos mais importantes e indispensáveis do futebol português. São os adeptos vitorianos, grupo em que me estou incluída, que são verdadeiramente admiráveis - mais do que qualquer jogador, marque ele os golos que marcar; mais do que qualquer treinador, independentemente dos troféus que ganhe ao serviço do clube. Não os desmereço, naturalmente. Não desmereço nenhum jogador, nenhum treinador e ninguém que faça o seu melhor ao serviço do Vitória. São os irredutíveis e incomparáveis adeptos vitorianos que têm, cada vez mais, a minha maior admiração. Aqueles que, como eu, gerem os seus horários para poder ir apoiar a equipa. Aqueles que, como eu, estão no autocarro a regressar de Santa Maria da Feira a planear a próxima deslocação, sem querer saber se estamos há quatro jogos sem ganhar. Aqueles que, como eu, ficam verdadeiramente tristes quando não podem acompanhar a equipa. Aqueles que, como eu, preferem estar na bancada de qualquer estádio português, ao frio e à chuva, do que estar confortavelmente sentados no sofá a ver o jogo pela televisão.
A minha admiração pelos adeptos vitorianos é, de dia para dia, maior. Àqueles que eu nem sequer conheço, mas que partilham este amor comigo: o meu obrigada! Por partilharem as bancadas comigo, por comporem molduras humanas extraordinárias comigo, por fazerem tudo em prol do Vitória como eu faço, por tornarem do Vitória o clube com os adeptos mais épicos e extraordinários do país. Quem acompanhou o Vitória na primeira volta da presente temporada, quem foi ao Dragão, a Moreira, a Vila do Conde, ao Bessa, a Tondela, a Arouca, a Vizela e ao Feirense - e a todas as outras deslocações que não estão enumeradas aqui -, tem muitas novas histórias para contar e para juntar a todas aquelas que já têm anos e que, carinhosamente, vamos contando em jantares e aos amigos quando eles já estão cansados de ver o nosso cartão do Vitória e cansados de ouvir as nossas histórias. Nós contamos sempre, uma e outra vez. E vamos contar no futuro, porque nós fazemos parte dessas histórias. Acrescentamos sempre, embebecidos, que "vocês, que estão de fora, não entendem". Dizemos isso porque sabemos que não entendem mesmo. Não conhecem aquela sensação incrível de sair do estádio com um sorriso estampado no rosto, depois de uma derrota, porque nas bancadas demos 15-0. Nem conhecem a sensação maravilhosa de perceber que, de certa forma, fomos nós que empurramos a equipa para a vitória. Muito menos sabem o que é chegar a casa, depois de uma viagem cansativa, de peito feito e com o coração a transbordar de orgulho. Nem conhecem - e desconfio que são poucos os que vão conhecer - a sensação de nos sentirmos uns super-heróis no final do jogo, com a camisola do Vitória, a camisola do clube da cidade que me viu crescer e que faz parte da minha identidade.
Quem apoia o clube da terra, contra todas as adversidades (e são muitas), é capaz de conseguir ter uma ideia daquilo que aqui falo. Há umas semanas li que "em Portugal, ser adepto de um clube do meio da tabela é cada vez mais um acto de masoquismo. Um acto de heroísmo." e, de facto, é. É difícil ir contra o que é normal, habitual, contra os jornais e as televisões, contra o que nos querem impor a ferro e fogo. É difícil, mas o lado bom compensa todo o lado mau que possa existir. É por isso que, quando chego a casa, vejo e revejo as fotos e os vídeos dos adeptos vitorianos e não consigo deixar de pensar que "estes tipos são mesmo admiráveis". E são. Somos admiráveis, somos arte. Muitos não entendem, nem é necessário. Nós sabemos dos esforços que fazemos e sabemos da paixão que nos move. Somos o combustível do Vitória. Onde houver um vitoriano apaixonado, estamos todos. Enquanto houver o Vitória, o futebol português é um bocadinho mais bonito.
quarta-feira, 11 de janeiro de 2017
Amor assim não se compra
"Tomorrow we will run faster, stretch out our arms farther... And then one fine morning -
So we beat on, boats against the current, borne back ceaselessly into the past."
Francis Scott Fitzgerald, The Great Gatsby
Não tive oportunidade de acompanhar, através da BenficaTV, o duelo das equipas B. Vi apenas algumas imagens (estas) e Bruno Vieira, benfiquista assumido, não ficou nada bem nas mesmas. A derrota da equipa A, no sábado, teve um sabor amargo. O Benfica protagonizou uma exibição amena e aproveitou as falhas da equipa vitoriana para se adiantar no marcador. Em termos de jogo jogado, o Vitória mostrou-se capaz e, apesar do resultado, a exibição foi agradável. Ontem, a equipa vitoriana entrou fulgurante. Infelizmente o entusiasmo esmoreceu e o Vitória não foi capaz de dar resposta a todos os desafios. Não tenho dúvidas de que Pedro Martins está perfeitamente apto para fazer a gestão devida do plantel, e não me cabe a mim questionar isso, no entanto não me parecem condizentes as alterações no onze com o objectivo de chegar à Final Four e de lutar pela Taça CTT. Disputar 8 jogos no período de um mês será, certamente, extenuante e, provavelmente, a Taça de Portugal será a prioridade, mas não gosto da atitude de entrar numa competição se não é para jogar as fichas todas.
Já disse, aqui no blogue, que não tenho o hábito de discutir as arbitragens. Isso não significa que eu acho que está sempre tudo bem, como não significa que vou imputar a culpa pelas derrotas frente ao Benfica aos respectivos árbitros. Significa que, por norma, os clubes podem dar a volta ao sistema e vencer o jogo - mesmo que o senhor do apito insista que não. Acredito nisso porque já vi o Vitória fazê-lo. Desta vez o Vitória perdeu os dois jogos (não posso comentar o da equipa B porque não vi) por culpa própria. No entanto isto não significa que o campo não esteve inclinado. É importante referir que o campo não se inclina só com a marcação de penaltis (ou com os penaltis que ficam por marcar) ou com os golos anulados, ou validados, erradamente. Muitas vezes são os pormenores que inclinam o campo. Se, por norma, eu não imputo a culpa das derrotas às arbitragens qual é, então, o objectivo de falar nas arbitragens?
Nas últimas semanas a legitimidade das arbitragens tem sido posta em causa e essa discussão (que podia ser saudável e benéfica, mas que não passa de um circo) tem alcançado proporções tremendas. Agora as lágrimas são azuis e verdes e, por isso, os casos de arbitragem já são tema de abertura dos telejornais, já há reuniões com o Conselho de Arbitragem, já há problemas. Infelizmente os clubes que são tratados como pequenos - pela imprensa e pelos órgãos oficiais que regulam o futebol - já conhecem de cor os problemas de arbitragem que só agora parecem ter surgido. A esses (a nós) nunca ninguém deu voz, desses (de nós) nunca ninguém quis saber. Arruma-se o lixo para debaixo do tapete. Ninguém o quer arrumar, então continua lá. E o lixo continua a aumentar. Quando as queixas não são verdes, azuis ou vermelhas ninguém quer saber. Há problemas a nível da arbitragem - e não só - no futebol português. Esses problemas estão a minar as nossas competições. Se não houvesse problemas, se houvesse honestidade e se houvesse a vontade de ser justo, Bruno Vieira nunca seria nomeado para arbitrar um jogo do Benfica (como aconteceu no Benfica B - Vitória B). Há um claro conflito de interesses quando um arbitro assumidamente benfiquista é designado para arbitrar um jogo do Benfica. O próprio disse, em 2012, que se fosse designado para arbitrar o seu clube pediria dispensa "por uma questão de *moral* e de bom sentimento" (podem ver aqui). Infelizmente esta discussão (ou este circo, para ser mais específica) não vai resolver nada e é só uma peneira para tentar tapar o que realmente se passa. Servirá para tapar os olhos a alguns, a quem usa palas, a quem não quer ver. Para quem vê futebol há muitos anos, para quem apoia os enteados do sistema e/ou para quem é intelectualmente honesto todos estes episódios não passam de mais um período triste para o futebol português. Daqui não sairá nada de bom, nada que inicie o processo de cura do futebol português. Amanhã tudo estará igual. Os pequenos continuarão pequenos, os grandes continuarão no poder a qualquer custo, o lixo vai continuar debaixo do tapete e ninguém vai querer levantar o tapete para ver o que está lá.
Poderia acrescentar ainda mais um ou dois comentários sobre o que se passou nestes últimos jogos. No entanto, recuso-me a referir quem é mal formado, provocador e arruaceiro quando posso utilizar o meu espaço (e o vosso tempo) para escrever sobre outras coisas que realmente valem a pena. Ninguém pode, em Portugal, apontar o dedo aos adeptos do Vitória. Ninguém é santo, em lado nenhum. Embora muitos queiram insistir na ideia de ligar os adeptos vitorianos à violência, quem conhece a realidade e quem entra no Estádio D. Afonso Henriques (sem palas) - ou em qualquer outro estádio onde o Vitória jogue - sabe que estes adeptos são os mais apaixonados de Portugal. Só não vê quem não quer. A moldura humana que nós, vitorianos, construímos é de uma beleza inexplicável. Quem foi ao estádio assistir ao jogo teve a oportunidade de assistir ao "espectáculo dentro do espectáculo". Parece-me impossível descrever a beleza do momento em que, com os cachecóis levantados, os vitorianos cantaram em uníssono para receber os seus jogadores. É, cada vez mais, um orgulho e um privilégio dizer que sou do Vitória. "Só do Vitória", como nós gostamos de dizer. Amor assim não se compra, nem com dinheiro nem com troféus. Enquanto muitos se comprometem com as vitórias e com os troféus, nós temos um compromisso com o símbolo. O nosso compromisso incluí respeitar, amar e apoiar o símbolo em qualquer ocasião. É esse o compromisso que une milhares de vitorianos. É por causa desse compromisso que no final de um jogo em que perdemos por 2-0 continuamos de pé, sem abandonar as bancadas, para nos juntarmos à equipa num ritual conjunto. É por isso que continuamos no estádio, depois de mais uma derrota e depois de ser eliminados de uma competição, a entoar cânticos de apoio à equipa. No início desta crónica está uma citação do clássico americano "O Grande Gatsby", um dos meus livros predilectos. Apesar de todas as tragédias, a mensagem final é de esperança, de que o dia de amanhã será melhor. Amanhã vamos correr mais. Vamos abrir os braços e levantar os nossos cachecóis ainda mais alto até conquistarmos o sonho. "Assim vamos remando, barcos contra a corrente".
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