terça-feira, 27 de dezembro de 2016

"Somos do melhor do mundo"

"Sexta-feira, 21 horas, antevéspera de Natal e previsão de temperaturas muito baixas. Mais de 100 quilómetros a separar Guimarães de Arouca. Esqueça, nada é suficiente para demover os aficionados vimaranenses, que se fizeram ouvir e sentir no apoio ao seu clube, nesta noite gelada de Arouca. Já se sabe a paixão que move estes adeptos, mas caso ainda houvesse dúvidas, elas ter-se-iam diluído esta noite. «E onde fores, eu vou», não se cansaram de cantar. No Natal celebra-se também a família, e a vitoriana mostrou a forte união que se lhe reconhece"
Maisfutebol
Foto: Luís Martins (comunicação do FC Arouca)
Há quem diga que a paixão, eventualmente, esmorece. Não sei até que ponto é uma afirmação válida. Acredito que possa ser, para alguns e em determinadas situações. No entanto não acredito que seja válida para nós, enquanto vitorianos. Ando pelas bancadas do D. Afonso Henriques - e de outros estádios portugueses - há muitos anos a acompanhar o Vitória. Já vi, da bancada, o Vitória ser goleado, já vi o Vitória golear, já vi o Vitória ser arrumado de competições importantes por equipas teoricamente mais acessíveis, já vi o Vitória vencer o jogo de acesso à final dessa mesma competição, já vi o Vitória levantar uma Taça incrivelmente bonita, já vi o Vitória ser goleado numa final. Já vi lágrimas de alegria e de tristeza correr pela cara de muitos vitorianos. Já chorei em muitas bancadas - umas vezes de felicidade extrema, outras de uma tristeza gigante, outras ainda de emoção. Há quem afirme, com toda a convicção do mundo, que "futebol é só futebol". Eu não acho que seja.

O Vitória e os vitorianos são um caso de paixão particular. É por isso que, quando vamos a outro estádio, é gritante e inegável a nossa dedicação em apoiar a equipa. Assim que cheguei a Arouca e ainda a uns quilómetros do estádio, já via vitorianos parados na berma da estrada. Assim que cheguei ao estádio só via vitorianos - nos passeios, nos estacionamentos, na estrada e na entrada para o estádio. Parecia um dia de jogo em Guimarães, só que a cerca de 100 quilómetros de distância. Ver as ruas de outras terras, onde o Vitória vai disputar um jogo, cheias de vitorianos, de cachecol ao peito, ainda me impressiona e ainda me enche de orgulho como se fosse a primeira vez. Já não é uma imagem nova para mim, mas ainda me consegue surpreender e deixar um bocadinho mais apaixonada - mesmo que isso me pareça pouco possível. 

No dia anterior à deslocação a Arouca, conheci um sócio do Vitória por puro acaso. Uma coisa normal, mas que me deixou com um sorriso estampado no rosto. Assim que soube o meu clube, levantou o punho e disse para quem quisesse ouvir que "somos do melhor do mundo". Concordei imediatamente e, como não podia deixar de ser, ficamos a conversar durante uns minutos. Contou-me, sempre com um sorriso e muita vivacidade, que já é sócio há muitos, muitos anos. "Desde os anos 50, se calhar já era sócio do Vitória antes do teu pai nascer". Disse-me que, com muita pena, os seus mais de setenta anos já não lhe permitiam ir ver muitos jogos porque as horas nem sempre são as mais simpáticas e está sempre muito frio, mas que ia ao estádio sempre que podia e esta época já tinha ido ver quatro jogos - um dos quais o último em casa. Disseram-me depois que é o sócio nº 101 do Vitória, um número muito bonito e que certamente guarda muitas histórias. 

Assim que o senhor foi embora, não pude deixar de pensar que todos aqueles anos de sócio devem estar cheios de experiências incríveis ao lado do Vitória. Só com muito amor e uma paixão incrível que não esmorece é que é possível falar com um brilho especial nos olhos de alguma coisa, tantos anos depois. É por isto que futebol nunca é só futebol. Daqui a muitos anos quero contar a alguém, muitos anos mais novo, que numa noite fria antes da noite de Natal os vitorianos foram até Arouca para cantar e apoiar o Vitória em mais uma demonstração de amor incrível - como tantas outras naquela época (e em todas as outras). Se tiver essa oportunidade sei que o farei e tenho a certeza de que o farei com o mesmo brilho nos olhos com que levanto o meu cachecol em qualquer bancada de qualquer estádio. Isto é amor. E mesmo que ninguém entenda... "onde fores, eu vou".

Por fim, desejo a todos um excelente final de ano e um bom 2017. Que possamos acabar o ano com uma vitória em Vizela e que em 2017 nos possamos encontrar para mais momentos memoráveis - "no berço ou noutro estádio". Somos do melhor do mundo.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Conquistar em todas as frentes

Foto: Marco Jacobeu
O Vitória está numa fase positiva de resultados em todas as frentes. Não só no futebol profissional, mas também nas modalidades em competição. Perto do Natal e a poucos dias do último jogo do ano para o campeonato, convém começar a fazer contas e acautelar o futuro. Os últimos anos da equipa principal de futebol têm sido anos de transição, em que a vertente financeira é privilegiada em detrimento da aposta na vertente desportiva e na ambição de ficar nos lugares cimeiros da tabela classificativa. Quanto às modalidades, seria exigir demasiado pedir mais do que aquilo que já nos dão. Com o pouco que têm, vão fazendo muito e é por isso que ser um clube ecléctico deve continuar a ser uma prioridade de todas as épocas. Recheadas de atletas campeões que dão tudo pela camisola, são uma mais valia ao nosso símbolo. Vamos por partes.
  • Futebol
    Numa semana a equipa A conseguiu duas vitórias muito importantes em jogos disputados dentro das muralhas. A primeira, na última quinta-feira frente ao Vilafranquense, mantém o Vitória a caminho do Jamor. Infelizmente estive impossibilitada de assistir ao jogo. Pelo que li, foi uma vitória conseguida a ferro e fogo, com a exibição a não convencer uma vez mais. A vitória pela margem mínima é condizente. O sorteio, que se realizou ontem, ditou que o próximo desafio nesta competição será na Covilhã. Se o Vitória vencer o jogo, e vamos acreditar que assim será, encontrará nas meias-finais, disputada a duas mãos, o Chaves ou o Sporting. Nenhuma equipa é fácil, a começar pela Covilhã. Derrotou o Sporting de Braga e acredito que está motivada para voltar a vencer a uma equipa da primeira divisão do futebol português. Apesar de não ser fácil, temos todas as hipóteses de voltar ao Jamor se enfrentarmos os próximos desafios conscientes de que este é o palco dos sonhos - não só para nós, mas para todas as equipas. Sem facilitismos e com trabalho. O caminho é para o Jamor!
    Para o campeonato e num jogo disputado também no conforto de casa, o Vitória conseguiu uma vitória frente ao homónimo de Setúbal. Com uma exibição de melhor nível do que as anteriores e com algumas individualidades em destaque, ainda tremi na bancada com o golo de Edinho aos setenta minutos para empatar a partida. João Pedro, o menino querido da casa, inaugurou o marcador pouco depois da meia hora de jogo com um golo que já merecia há muito e de enorme categoria. Não que os vitoriano precisem de uma confirmação do seu valor, mas soube bem ver João Pedro festejar o seu golo. Foi uma aposta ganha! A resposta ao golo de Edinho não se fez demorar. Foi Raphinha a voltar a pôr o Vitória por cima no marcador dois minutos depois com um golo que satisfez todos os que estavam no estádio. Para selar a vitória, Hernâni chegou-se à frente e fez o 3-1. Os desentendimentos com os adeptos já estavam no passado. Mostrou o seu valor e mostrou que da mesma forma que pode ter jogos menos conseguidos, pode resolver a partida. Com três golos de excelência e que merecem ser vistos e revistos o Vitória ficou, à 14ª jornada, no 4º lugar com 27 pontos, em igualdade pontual com o Sporting de Lisboa.
    Segue-se a deslocação a Arouca, no último jogo do campeonato deste ano civil. Com uma vitória no jogo da próxima Sexta, o Vitória pode terminar o ano no terceiro lugar - dependendo dos resultados de Sporting de Braga e Sporting de Lisboa, claro. No pior cenário, continuamos na mesma posição. Não preciso, enquanto adepta, de pedir "prendas de Natal" à equipa para a acompanhar. Tento estar sempre presente - em casa ou noutro estádio -, e Sexta-feira estarei em Arouca, assim como muitos outros vitorianos que acompanham a equipa onde quer que ela vá. No entanto admito que o Natal seria francamente melhor com uma vitória. O nosso apoio não vai faltar e estou certa de que, se for correspondido em campo na mesma medida então os três pontos voltam connosco para casa!
    A equipa B defrontou a Académica no início da semana e venceu um jogo polémico, dentro e fora das bancadas. Com expulsões de jogadores no tapete verde e aspirantes a jornaleiros na bancada, a vitória ficou para os do costume, ou seja, nós. Na primeira e segunda divisão, já sabemos muito bem qual o sabor de ganhar à Académica. Relativamente à expulsão pela presidência do Vitória de alguém que, sem carteira profissional, se julga jornalista convém relembrar que da mesma forma que pessoas assim mascaram os seus insultos com liberdade de expressão, o Vitória tem a liberdade de receber apenas quem quer e quem respeita a instituição Vitória, a cidade de Guimarães - berço de Portugal -, os vimaranenses e vitorianos. Quem não sente, não é filho de boa gente! Segue-se a equipa B do Porto amanhã, pelas 15 horas, no sítio do costume - a nossa casa!
  • Modalidades
    Nas modalidades o Vitória soma e segue. Numas mais do que noutras, mas os resultados têm sido muito bons. Nos últimos dias, foram várias as modalidades a entrar em acção: basquetebol, voleibol e kickboxing.
    A equipa de voleibol, em jornada dupla no fim-de-semana, perdeu o primeiro jogo, na casa do Esmoriz por 3-1. No dia seguinte, deslocaram-se ao pavilhão do Leixões e deram uma resposta à altura e muito satisfatória. Venceram por 3-1. Encontram-se na 7ª posição da tabela classificativa, em igualdade pontual com a Associação Académica de São Mamede.
    A equipa de basquetebol teve de se deslocar a Famalicão para disputar o Benfica e, num jogo muito discutido e que deixou tudo por decidir até ao último segundo - literalmente! -, só as gentes de Guimarães se fizeram ouvir e a equipa ganhou por 68 - 65. Já esta semana, a equipa recebeu o Lusitânia. Desta vez em nossa casa, o desfecho foi o mesmo: uma vitória para a equipa comandada por Fernando Sá. Desta vez a vantagem foi mais folgada, 77-68, apesar de o resultado - e a vitória - só se consolidar no último período.
    No entanto, o fim-de-semana foi mesmo dos atletas do kickboxing que, como cortesia enquanto anfitriões, conseguiram uma vitória esmagadora com dez atletas vitorianos a conquistar o primeiro lugar, sendo que mais três atletas conseguiram lugar no pódio. O excelente desempenho sagrou o Vitória como Campeão Nacional de Kickboxing!
Com o ano a terminar é bom relembrar que podemos e conseguimos fazer muito mais do que aquilo que os outros possam achar que conseguimos. Já não é altura da falta de ambição. Está na hora de apostar todas as fichas. O Vitória é uma instituição portuguesa de excelência e merece ser tratada como tal. Enquanto os outros - leia-se a comunicação social e alguns outros clubes, bem como os seus adeptos - não a tratam ou encaram como tal somos nós que temos de os fazer ver que somos de facto "O grande". Uma das formas de o fazer, e que já é natural para nós, é mostrar a base social sobre a qual se ergue este símbolo. Essa base social é feita de adeptos apaixonados que acompanham a equipa onde quer que esta esteja. Não pode ser só no futebol! Se somos realmente únicos temos de encher pavilhões e mostrar o nosso apoio aos atletas que tanto o merecem porque todos são o Vitória! Abandonar uns é, de certa forma, abandonar uma parte do Vitória. Isso não é o que nós fazemos. Somos conhecidos por apoiar sempre quem usa o nosso símbolo, esteja chuva ou sol. A nós nada mais nos interessa para além do Vitória! É essa a nossa imagem de marca, é assim que temos de ser. Sempre!

Desejo a todos aqueles que me acompanham e vão lendo o que escrevo um Natal muito feliz. Que possamos iniciá-lo com uma vitória em Arouca, em mais um jogo de "romaria" memorável - como tantos o foram este ano. Até Sexta!

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Ganhar!

Foto: Vitória SC
O último sábado foi de futebol para as equipas de futebol do Vitória na casa de adversários que não colhem nenhuma simpatia na cidade berço. A equipa B entrou no relvado do Estádio 1º de Maio, às 15 horas, para defrontar o Braga B, depois de uma saborosa e importante vitória em casa frente ao Sporting B. Ao início da noite, meia hora depois das 20 horas, foi a vez da equipa principal entrar em campo, no mesmo estádio onde cerca de três semanas antes tinha carimbado a passagem à próxima fase da Taça de Portugal.

Infelizmente a tarde não começou da melhor maneira. Acompanhei o jogo online através da BragaTV que, com profissionalismo e qualidade, transmitiu o jogo para os que não podiam deslocar-se ao estádio. O jogo contou apenas com 385 espectadores. Um derby, mesmo que seja entre equipas B, merece mais! A turma vitoriana entrou mal no jogo e antes dos quinze minutos de jogo já tinha sofrido o primeiro golo da partida. Não conseguiu impor-se e voltou a sofrer pouco depois de regressar dos balneários. Sem dar resposta, o marcador manteve-se inalterado até ao apito final. À 18ª jornada, encontra-se no 13º lugar da tabela classificativa com 21 pontos e em igualdade pontual com Famalicão, Gil Vicente, Varzim e Braga B. Seguem-se agora duas jornadas, em casa, que serão desafios difíceis. Na próxima segunda-feira, às 15 horas, recebemos a Académica e na quinta-feira seguinte, dia 22 de Dezembro, à mesma hora recebemos o Porto B. A hora não é convidativa mas os vitorianos marcam sempre presença. Não é à toa que somos o clube da segunda liga com mais assistências, inclusive à frente de um clube da primeira divisão.

O segundo jogo de futebol do dia, no Estádio do Bessa, teve um desfecho bem mais agradável para os vitorianos. Com um começo fulgurante a fazer lembrar o jogo em casa com o Chaves, o estreante Texeira não hesitou e atirou a bola para o fundo da baliza axadrezada aos 3 minutos. Os vitorianos, que nunca abandonam a equipa, ainda festejavam quando Philipe Sampaio fez o 1-1. O resto da primeira parte foi paupérrima de parte a parte, sem alterações no resultado e sem que nenhuma equipa se mostrasse superior. Na segunda parte, o Vitória mostrou-se melhor e aos 68 minutos Hurtado voltou a repetir a obra e a deixar o marcador a nosso favor. O filme de há três semanas repetia-se, desta vez sem necessidade de prolongamento. A vitória - e a moldura humana vitoriana que se deslocou ao Bessa - foi o melhor do jogo. O que não deve acontecer é achar que a vitória encobre o futebol pobre que a equipa tem praticado. É verdade que, no final dos noventa minutos, o que conta realmente são os três pontos. Jogar bem, ou mal, é um detalhe. No entanto, e todos sabemos isto, quem joga melhor tende a ganhar o jogo. Foram três pontos de extrema importância na luta pelos objectivos. Não fossem os desaires das últimas duas jornadas - a derrota frente ao Tondela e o empate caseiro frente ao Chaves - e podíamos estar a sonhar, com direito, em alcançar outros patamares. A meio de Dezembro importa, e muito, começar a acautelar o mercado de Inverno. Ou seja, não deixar sair os pilares da equipa e reforçá-la com titulares de qualidade. É primordial começar a pensar no crescimento desportivo, uma vez que, nos últimos anos, temos privilegiado a vertente financeira.

Nos próximos jogos, a palavra de ordem só pode ser uma: ganhar! Na próxima quinta-feira, às 18 horas, o Vitória recebe o Vilafranquense. Infelizmente não vou conseguir estar presente. A Taça de Portugal, uma das competições mais queridas dos vitorianos - e dos adeptos de futebol em geral -, tida como a prova-rainha portuguesa, devia ser tratada com mais respeito. Afinal de contas, é a festa do futebol por excelência. Um jogo disputado às 18 horas, quando muita gente ainda está no trabalho ou nas aulas, é uma tentativa deliberada de estragar essa festa. Será o segundo confronto entre as duas equipas. O primeiro, disputado a 9 de Dezembro de 1984, fora de portas e também para a Taça de Portugal, resultou numa vitória categórica dos branquinhos: 1-3. Tal como Hurtado repetiu o golo - e, consequentemente, o resultado - de há três semanas no mesmo estádio, desta vez a equipa tem de repetir o resultado dos antepassados. Já disse, e parece-me importante repetir, que não há jogos fáceis. É claro que, tecnicamente, a vitória fica em Guimarães mas ambas as equipas estão na mesma fase da competição e, se assim é, é porque batalharam para lá chegar. Ninguém dá vitorias de bandeja e a equipa do Vilafranquense estará, certamente, muito motivada a mostrar serviço. Eliminaram o Paços de Ferreira, uma equipa da primeira divisão, e vão querer repetir a dose. Cabe-nos pará-los. O Vitória tem de entrar em campo determinado e não pode subestimar o adversário. O caminho tem de ser para o Jamor! No Domingo seguinte entramos em campo para disputar mais três ponto, contra o homónimo de Setúbal. Tal como os últimos conquistados, estes três pontos são fundamentais para aumentar a vantagem relativamente aos adversários que estão a lutar pela Liga Europa e são fundamentais para nos aproximarmos dos lugares mais cimeiros, uma vez que Sporting de Lisboa, com mais três pontos, e Sporting de Braga, com mais dois pontos, se defrontam. A história dá-nos vantagem: dos 60 jogos disputados no nosso estádio para o campeonato, o Vitória manteve os três pontos em casa por 35 vezes, enquanto que o Vitória FC só conseguiu arrancar-nos a vitória por 11 vezes. 

A história, no entanto, não entra em campo, não joga e não ganha pontos. Somos nós, os onze no tapete verde e o décimo segundo nas bancadas, que os ganhamos. Com garra, dedicação e muito trabalho. Seja à semana ou Domingo, a que horas for, eu sei que os vitorianos vão marcar presença. Não fossemos nós a mais apaixonante massa adepta que Portugal já conheceu!

Não esquecer da iniciativa solidária do Vitória e dos White Angels. Ao deixar alimentos na Vitória Store ou na nova sede da claque têm um convite para o jogo. Se não quiserem convites, podem (e devem) deixar alimentos na mesma. Da mesma forma que as nossas vozes são mais fortes juntas, se todos ajudarmos então nada custa. 

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Que medo é este?

Foto: Marco Jacobeu
Numa noite agradável para ir ao estádio ver futebol e em que a equipa entrou com o símbolo da Chapecoense em verde solidariedade, o Vitória mostrou que não aprendeu a lição, voltou a cometer erros e deixou escapar a oportunidade de escalar na tabela. Um ponto é sempre melhor do que nenhum, naturalmente, mas este empate não pode ser considerado um bom resultado. Não por ser contra o Chaves. Os Flavienses bateram-se bem, não desistiram do jogo e mereceram o empate. A arbitragem de Fábio Veríssimo, designado para arbitrar a partida à última hora, deixou muito a desejar como já é habitual. No entanto, o Vitória pode queixar-se somente de si próprio. Uma vez mais! Continuamos, como tem sido habitual, a dar passos pequenos e a pedir permissão (e desculpa) para sermos aquilo que somos: grandes.

O jogo começou bem. A equipa parecia determinada em agarrar o jogo pelos colarinhos e redimir-se da derrota em Tondela. Não foi preciso esperar três minutos para ver Hernâni fazer o gostinho ao pé. Gritou-se golo! Estava lá dentro! Agora precisávamos de matar o jogo, não só para ficarmos mais seguros mas também porque um começo tão fulgurante iria, por certo, fazer mossa ao colectivo adversário. Em vez de lutar para chegar ao knockout, a equipa abrandou drasticamente o ritmo de jogo. Uma cena familiar e que não era particularmente querida. O Chaves percebeu imediatamente o rumo do jogo e começou a procurar o golo do empate. Ao intervalo a situação já não transmitia segurança. A segunda parte não podia ser uma continuação da primeira. Se a equipa voltasse apática dos balneários adivinhava-se o pior. Todos sabemos que quem não marca... sofre. E aos oitenta e três minutos sofremos. Só depois de sofremos o golo, quase ao fechar da cortina, é que a equipa acelerou. Não foi suficiente e, qualquer outro desfecho, não faria justiça ao que se passou em campo. Fomos vítimas de nós próprios, exactamente como tínhamos sido uma semana antes. Não aprendemos com os erros e, quem não aprende com os erros está condenado a sofrer. Voltamos a desperdiçar oportunidades. Com uma vitória no jogo do último domingo podíamos estar em 4º lugar, com 23 pontos, em igualdade pontual com o Sporting de Braga e podíamos, em simultâneo, aumentar a vantagem para as equipas que estão logo abaixo na tabela classificativa tal como o Rio Ave, o Marítimo e mesmo o Chaves. Parece que, quando podemos afirmar a nossa posição e ambição, temos de pedir desculpa e dar um passo atrás. Não é de hoje, não é desta época. Que medo é este? Temos medo de ganhar? Não temos de pedir desculpa por ser grandes, muito menos temos de pedir permissão para continuar a subir na tabela!

Os maus resultados são, parece-me, uma consequência das más exibições. No Bessa, para a Taça de Portugal, o Vitória já não protagonizou uma exibição de qualidade. As fragilidades da equipa estão a nu e conseguimos perceber que são necessários ajustamentos. O Vitória não pode sentir tanto a falta de dois jogadores. Se queremos lutar por um lugar cimeiro da tabela e pelas taças que disputamos, temos de ter alternativas de confiança. Na minha opinião, a equipa tem, actualmente, três grandes problemas: falta de agressividade, visão de jogo deficiente e pouca inteligência emocional. A falta de agressividade é notória na apatia com que a equipa parece, por vezes, arrastar-se pelo campo. Não podemos tirar o pé do acelerador imediatamente depois de marcar. Não podemos descansar durante nenhum período do jogo. Pelo contrário, temos de lutar para aumentar a vantagem e, no mínimo, para assegurar o resultado. A vantagem mínima nunca é garantia de nada. É necessário pressionar o adversário, intimidá-lo, fazê-lo recuar. A equipa, neste momento, só o faz esporadicamente. Como já percebemos não é suficiente. A visão de jogo deficiente do colectivo é bem perceptível das bancadas. Como é óbvio das nossas cadeiras temos uma visão privilegiada e não estamos sob pressão, como estão os nossos jogadores mas é preocupante ver muitas jogadas sem sentido, sem objectivo e tantos espaços para "alugar", principalmente no meio-campo. Por fim, e também porque este último ponto pode ser ilustrado com os últimos minutos do último jogo, há uma clara falta de inteligência emocional. Aos noventa minutos estávamos empatados a uma bola. Marcar o golo da vantagem seria extremamente complicado por uma panóplia de factores que não vale a pena discutir agora. No entanto tornou-se numa missão impossível com o tempo que a equipa gastou em discussões que não interessavam a ninguém e que resultaram na expulsão por duplo amarelo do nosso jogador, Rúben Ferreira, que fica excluído assim do próximo jogo, e no amarelo mostrado a Josué. Foram uns minutos de discussão em que a equipa não ganhou absolutamente nada, bem pelo contrário, e que não contribuiu para alcançar o nosso objectivo. Saímos prejudicados. Nunca joguei futebol de competição na minha vida mas compreendo que seja difícil manter a cabeça fria em todas as situações e só quem está de equipamento no relvado sabe realmente o que se passa, mas é em situações assim que é necessário manter uma distância necessária e manter a concentração no jogo porque o bem colectivo tem de estar no topo das prioridades.

Segue-se o Boavista, no Bessa. Para a Taça de Portugal não foi fácil trazer a vitória mas com uma harmonia incrível entre todos os vitorianos e a equipa conseguimos a passagem à próxima fase. Não podemos ignorar que, desta vez, os axadrezados vão estar ainda mais motivados para procurar a vitória. Também não podemos ignorar que vamos defrontar uma equipa que faz questão, como mostrou quando lá fomos, de recorrer a jogos de bastidores sujos que não devem ter lugar no futebol. É preciso preparar muito bem e com muito cuidado este próximo jogo. Não será fácil mas os três pontos em disputa podem ser fundamentais no fim das contas. Precisamos de contrariar estes maus resultados. E, de uma vez por todas, precisamos de não deixar os nossos objectivos escapar pelos nossos dedos como areia. O mostro não pode adormecer, outra vez! Os vitorianos têm de mostrar o porquê de serem os adeptos mais admirados em Portugal e voltar a formar uma moldura humana incrível capaz de empurrar a equipa para a vitória. Não podemos ter memória curta e devemos estar bem cientes do quão felizes saímos do Bessa há duas semanas. Foi por causa desta equipa. Foi por causa deste símbolo. Os grandes não abandonam o barco quando a situação parece difícil. Pegam num remo e ajudam a remar. Juntos podemos chegar onde quisermos!

Dizem que o melhor fica para último. O momento mais bonito da noite do último Domingo foi um momento que todos nós, e permitam-me que fale por todos, preferíamos não ter vivido. Isso significaria que Nuno Greno, a equipa da Chapecoense e todos os jornalistas envolvidos no acidente estavam bem. Infelizmente não podemos fazer nada quanto a isso e resta-nos, como comuns mortais com o mesmo destino, prestar-lhes as mais bonitas homenagens possíveis. O estádio, lugar de cânticos e palmas, silenciou-se. Nunca vi o D. Afonso Henriques tão silencioso. Cumpriu-se um minuto de silêncio absoluto. A emoção era palpável. Não é suficiente, nem nunca será mas foi marcante e inesquecível. Da mesma forma que foram todas as pessoas homenageadas. A vida e o futebol andam de mãos dadas. Fisicamente não estão connosco nunca mais, mas ficaram imortalizados para sempre num minuto de homenagem num estádio de futebol.