"Sexta-feira, 21 horas, antevéspera de Natal e previsão de temperaturas muito baixas. Mais de 100 quilómetros a separar Guimarães de Arouca. Esqueça, nada é suficiente para demover os aficionados vimaranenses, que se fizeram ouvir e sentir no apoio ao seu clube, nesta noite gelada de Arouca. Já se sabe a paixão que move estes adeptos, mas caso ainda houvesse dúvidas, elas ter-se-iam diluído esta noite. «E onde fores, eu vou», não se cansaram de cantar. No Natal celebra-se também a família, e a vitoriana mostrou a forte união que se lhe reconhece"
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Foto: Luís Martins (comunicação do FC Arouca) |
Há quem diga que a paixão, eventualmente, esmorece. Não sei até que ponto é uma afirmação válida. Acredito que possa ser, para alguns e em determinadas situações. No entanto não acredito que seja válida para nós, enquanto vitorianos. Ando pelas bancadas do D. Afonso Henriques - e de outros estádios portugueses - há muitos anos a acompanhar o Vitória. Já vi, da bancada, o Vitória ser goleado, já vi o Vitória golear, já vi o Vitória ser arrumado de competições importantes por equipas teoricamente mais acessíveis, já vi o Vitória vencer o jogo de acesso à final dessa mesma competição, já vi o Vitória levantar uma Taça incrivelmente bonita, já vi o Vitória ser goleado numa final. Já vi lágrimas de alegria e de tristeza correr pela cara de muitos vitorianos. Já chorei em muitas bancadas - umas vezes de felicidade extrema, outras de uma tristeza gigante, outras ainda de emoção. Há quem afirme, com toda a convicção do mundo, que "futebol é só futebol". Eu não acho que seja.
O Vitória e os vitorianos são um caso de paixão particular. É por isso que, quando vamos a outro estádio, é gritante e inegável a nossa dedicação em apoiar a equipa. Assim que cheguei a Arouca e ainda a uns quilómetros do estádio, já via vitorianos parados na berma da estrada. Assim que cheguei ao estádio só via vitorianos - nos passeios, nos estacionamentos, na estrada e na entrada para o estádio. Parecia um dia de jogo em Guimarães, só que a cerca de 100 quilómetros de distância. Ver as ruas de outras terras, onde o Vitória vai disputar um jogo, cheias de vitorianos, de cachecol ao peito, ainda me impressiona e ainda me enche de orgulho como se fosse a primeira vez. Já não é uma imagem nova para mim, mas ainda me consegue surpreender e deixar um bocadinho mais apaixonada - mesmo que isso me pareça pouco possível.
No dia anterior à deslocação a Arouca, conheci um sócio do Vitória por puro acaso. Uma coisa normal, mas que me deixou com um sorriso estampado no rosto. Assim que soube o meu clube, levantou o punho e disse para quem quisesse ouvir que "somos do melhor do mundo". Concordei imediatamente e, como não podia deixar de ser, ficamos a conversar durante uns minutos. Contou-me, sempre com um sorriso e muita vivacidade, que já é sócio há muitos, muitos anos. "Desde os anos 50, se calhar já era sócio do Vitória antes do teu pai nascer". Disse-me que, com muita pena, os seus mais de setenta anos já não lhe permitiam ir ver muitos jogos porque as horas nem sempre são as mais simpáticas e está sempre muito frio, mas que ia ao estádio sempre que podia e esta época já tinha ido ver quatro jogos - um dos quais o último em casa. Disseram-me depois que é o sócio nº 101 do Vitória, um número muito bonito e que certamente guarda muitas histórias.
Assim que o senhor foi embora, não pude deixar de pensar que todos aqueles anos de sócio devem estar cheios de experiências incríveis ao lado do Vitória. Só com muito amor e uma paixão incrível que não esmorece é que é possível falar com um brilho especial nos olhos de alguma coisa, tantos anos depois. É por isto que futebol nunca é só futebol. Daqui a muitos anos quero contar a alguém, muitos anos mais novo, que numa noite fria antes da noite de Natal os vitorianos foram até Arouca para cantar e apoiar o Vitória em mais uma demonstração de amor incrível - como tantas outras naquela época (e em todas as outras). Se tiver essa oportunidade sei que o farei e tenho a certeza de que o farei com o mesmo brilho nos olhos com que levanto o meu cachecol em qualquer bancada de qualquer estádio. Isto é amor. E mesmo que ninguém entenda... "onde fores, eu vou".
Por fim, desejo a todos um excelente final de ano e um bom 2017. Que possamos acabar o ano com uma vitória em Vizela e que em 2017 nos possamos encontrar para mais momentos memoráveis - "no berço ou noutro estádio". Somos do melhor do mundo.