Há filmes. Depois há o Django. É óbvio que esta distinção merece ser feita. Senão vejamos: o filme é de Tarantino e no elenco temos os monstros Leonardo DiCaprio, Jammie Foxx, Christopher Waltz, Sammuel L Jackson e Kerry Washington. Podia nem acrescentar mais nada e acho que vocês já tinham percebido que é, com toda a certeza, um filme memorável. Quem ainda não viu pode até assustar-se com os 165 minutos de duração, parece muito tempo para um filme. E provavelmente seria, se não fosse de Tarantino.
Não vou dizer que é um filme que vai agradar unicamente aos admiradores e fãs de Tarantino, não. Seria injusto limitar assim uma obra-de-arte. Acredito que, mesmo para aqueles que não apreciam este tipo de filmes, seja um grande filme. No entanto, para os que apreciam o estilo tão singular de Tarantino (é impossível não identificar um dos seus filmes), este filme é bem capaz de os deixar em êxtase. Como me deixou a mim.
Não sei se sou a única a pensar assim, mas eu penso que Hollywood tem medo de tocar no tema da escravatura. Quando o faz é de forma muito sensível e sempre com a ideia de abolição e de liberdade presente. Não quero dizer que esteja mal, e eu entendo porque é um tema realmente sensível, mas isto leva-me a pensar que só Quentin Tarantino podia pegar num tema tão delicado e que facilmente é interpretado de 20 formas diferentes (nem sempre positivas) e fazer uma obra-de-arte que mistura acção, comédia e suspense como Django. Sim, há muitos momentos cómicos durante estas 2 horas e 45 minutos.
Já todos sabemos também que se há alguém que consegue transformar os actores na melhor versão de si próprios é, claramente, Tarantino. Voltou a fazê-lo. As interpretações são soberbas e é daquelas situações em que é impossível destacar alguém porque se o fizesse era uma injustiça para os restantes. Leonardo DiCaprio, no papel de Calvin Candie - proprietário da Candieland, uma plantação de algodão no racista Mississipi-, dá aquilo a que já nos habituou em todo os filmes que participa, uma interpretação inesquecível, onde vai de um desprezível menino bonito com demasiadas tendências racistas a ser um dos vilões mais épicos de Hollywood dos últimos anos; há uma cena memorável em que ele parte um copo e fica a sangrar, o que muita gente não sabe é que ele cortou mesmo a mão e sangrou de verdade, só que não quis parar e continuou a ser brilhante (what's not to love about this guy?). Jammie Foxx, o nosso Django, também não podia estar melhor na pele de um tímido escravo que depois de um fortuito encontro com Dr. Schultz, se torna no mais rápido pistoleiro do sul, mas sendo sempre um eterno apaixonado que faz tudo para recuperar a sua mulher, de quem o separaram - consegue ser cómico quando deseja, charmoso sempre que quer e detestável quando precisa. Não consigo esquecer os momentos em que tem de interpretar um esclavagista, o que para ele só é tolerável porque tem de recuperar Broomhilda. Christopher Waltz tem, para mim, no Dr. King Schultz, a interpretação da sua vida - um alemão, dentista sem exercer e caçador de prémios, que abomina a escravatura e que sente uma grande compaixão pela história de Django e Broomhilda, ao ponto de arriscar a sua vida para os ajudar a ficar juntos. É extremamente divertido e é impossível não gostar dele. Samuel L Jackson é o detestável Stephen, o fiel servo de Candie já de idade avançada e que é demoníaco - não conseguimos desenvolver nenhum carinho por este homem, bem pelo contrário. Tem uma interpretação perfeita, não tenho absolutamente nada a apontar! Kerry Washington cumpre muito bem o seu papel de Broomhilda, uma escrava que tem as suas marcas por todo o corpo e é dramática sempre que tem de o ser, sem exageros.
Para além dos desempenhos brilhantes deste elenco de luxo, e para completar a obra-de-arte, há um argumento fabuloso com diálogos brutais e duros, mas também cómicos - acho que é por este dom que Tarentino consegue oferecer-nos o melhor dos seus actores. A banda sonora também merece um grande destaque, é como se fosse uma personagem porque é impossível imaginar o filme sem ela, mas tem um grave problema: é que acaba. A sério, mesmo que não queiram ver o filme (mas vejam!) ouçam com atenção a banda sonora porque é sublime.
Sem dúvida nenhuma, Django é um dos melhores filmes dos últimos anos e que nos consegue entreter com a maior das facilidades durante 2 horas e 45 minutos. Com a marca indelével de Tarantino, as interpretações perfeitas de um elenco maravilhoso, uma banda sonora de chorar porque acaba e um argumento de fazer inveja, temos horas garantidas de puro deleite e de uma experiência cinematográfica única. São estes filmes que me fazem ser fascinada por cinema e entender que quando um filme começa o meu mundo passa a ser esse e não o mundo real. Cinema é o que cada um quiser fazer dele, para mim é uma forma de escapar do mundo real e viver outras vidas. Django é cinema puro para ver, rever e voltar a ver e ficar cada vez mais maravilhado!
P.S.: Não, os óculos de sol ainda não existiam na altura, mas vá, vamos perdoar o nosso Tarantino porque o Jammie Foxx fica com um ar badass naqueles óculos pelos quais eu fiquei apaixonada.
É realmente um grande filme. Em todos os sentidos.
ResponderEliminarEscapou-me no cinema mas já o vi na televisão.
E por duas vezes.
E acredite que ainda gostei mais da segunda que da primeira talvez porque já conhecendo o enredo pude apreciar de outra forma as interpretações dos actores.
E destaco particularmente Christopher Waltz.
Que já tinha visto numa grande interpretação de um oficial nazi em "Sacanas sem Lei" e neste Django tem outro desempenho soberbo.
É um filme mesmo "à Tarantino"! Infelizmente também não vi no cinema, mas já o vi umas quantas vezes depois e fico sempre fascinada!
EliminarChristopher Waltz consegue destacar-se de forma soberba, nada a apontar.