Eu já disse aqui que com facilidade me dão 15-0 numa conversa sobre política. É totalmente verdade. Ainda assim eu vou continuar a falar de política, daquilo que vejo e gosto (não acontece assim muitas vezes) e daquilo que vejo e não gosto. Eu também não sei cantar, mas continuo a cantar. Percebem a ideia? Exacto. Vamos continuar.
Da última vez que eu verifiquei, a coligação PSD-CDS teve mais votos do que os outros partidos. Ou seja, ganhou. Espantem-se agora: quem ganha é quem tem mais votos! Eu sei que isto é uma grande novidade e peço que não fiquem demasiado indignados, eu vou explicar mais à frente como é que este fenómeno se processa para aqueles que não conseguem entender... como o António Costa.
Antes de continuar deixem-me informar-vos que não este
post não tem como intenção defender a coligação nem o Passos Coelho nem o Paulo Portas e atacar o PS e o António Costa (e os seus novos melhores amigos), eu já disse e volto a dizer: eu não voto em partidos, eu voto em pessoas (e não gosto do Paulo Portas). Isso até pode ser a coisa mais ignorante desta vida, e eu até posso vir a defender um partido no futuro mas agora não é com isso que me identifico. Este
post tem como objectivo partilhar as minhas ideias. Tem tendência a ser relativamente sarcástico, mas isso agora não interessa nada.
Voltando à parte de ganhar quem tem mais votos. Desde pequena que me ensinaram assim. É uma fórmula muito simples e que não tem nada que enganar. Neste caso, uma vez que foram mais portugueses votar na coligação do que nos outros partidos, a coligação ganhou. Não é física quântica pois não? Os meus primos de 5 anos sabem que é assim que funciona. Se se quiserem reger pela filosofia de António Costa, então eu vou reclamar contra a Liga Portuguesa de Futebol... é que se o Vitória fizesse uma coligação com o Moreirense tínhamos sido campeões mas com uma distância brutal do Benfica, ficava o campeonato em Guimarães e ninguém se chateava. Só que eu sei (e toda a gente sabe) que quem ganha... é quem tem mais votos!
Aparentemente António Costa quer fazer com que eu acredite que a minha vida foi uma mentira. Que quem ganha é quem tem menos votos. Aliás, estou a enganar-vos agora. Ele sabe que ganha quem tem mais votos, mas uma vez que ele teve menos votos, acha que se se juntar a outros partidos que também tiveram menos votos é ele o vencedor (e os outros partidos). Corrijam-me se eu estou errada, mas na folha de voto tinha um quadradinho para o PS, outro para o BE e outro para a CDU. Não me lembro de ver lá um quadradinho para a opção PS/BE/CDU, e olhem que eu vejo bem. Uma vez que essa opção não existia, os portugueses não podiam votar nela. Então, nem António Costa nem Catarina Martins nem Jerónimo de Sousa, nem ninguém em boa verdade, têm legitimidade para dizer que os portugueses votaram mais neles do que na coligação porque não é verdade, nem que eles façam 5 mortais seguidos.
Esta coligação à esquerda acha-se legítima por dois motivos. Primeiro, porque em 2011, aquando da formação do governo, formou-se a coligação PSD/CDS. Segundo, os votos são para o número de deputados e não para o primeiro-ministro.
Tenho de recuar no tempo para 2011. Nessa altura foi a coligação PSD/CDS que formou governo. Há é uma "pequena" diferença entre 2011 e 2015: em 2011 o partido mais votado tinha sido o PSD (o partido vencedor). Não dá para comparar uma coisa com a outra porque os termos são totalmente diferentes.
É verdade que nas eleições não votamos para eleger um primeiro-ministro, votamos para eleger o número de deputados. Têm razão, as eleições são para eleger deputados. Os deputados eleitos são os seguintes: a coligação Portugal à Frente (PSD/CDS) ficou com 107 dos 203 assentos disponíveis, o PS conquistou 86, o BE tem 19, a CDU 17 e o PAN elegeu 1 deputado. Feitas as contas, esta nova coligação tem 122 (86+19+17) deputados eleitos, mas não são legítimos, porque não foi o que o os portugueses elegeram porque votar numa coligação PS/BE/CDU é totalmente diferente de votar no PS ou no BE ou na CDU. Se é verdade que votamos para eleger os deputados, também é verdade que, sendo o sistema político de Portugal semipresidencialista, é o Presidente da República que indigita o Primeiro-Ministro. Mais uma vez me vejo obrigada a lembrar-vos que o nosso Presidente da República, de seu nome Aníbal Cavaco Silva, indigitou... Pedro Passos Coelho! No Luxemburgo o Primeiro-Ministro não é do partido que venceu as eleições, mas o Luxemburgo é um país que tem como sistema político o parlamentarismo, ou seja, o Primeiro-Ministro é eleito pelo parlamento e não é indigitado pelo Presidente da República.
Esta crise política está só a confirmar uma coisa que eu já sabia (e que se calhar não é a coisa mais ignorante desta vida): não votem em partidos! Por uma razão muito simples... Os partidos não respeitam os seus ideais políticos, mudam de ideias como lhes é mais favorável e tudo com um único objectivo: a obtenção de poder a todo o custo. Basta uma rápida pesquisa na internet para ver os golpes que os representantes destes três partidos desferiam uns nos outros e que agora se tornaram melhores amigos e querem que os portugueses comprem a ideia de que Portugal está cheio de fadas e unicórnios. À pouco mais de um mês, no final de Setembro, Catarina Martins (BE) disse que
“O que era bom era que o PS dissesse qualquer coisa de esquerda”. Jerónimo de Sousa também se manifestou sobre a sua visão do PS, relativamente às eleições legislativas que ocorreram este ano, dizendo que
"deste PS que nem é carne nem é peixe, que mais parece um caranguejo moído em termos de definição de uma política alternativa". Para António Costa, em Setembro,
" quem ouvir o PCP ou o BE percebe que os dois partidos só têm um objetivo: combater o PS. São meros partidos de protesto, querem estar nas manifestações mas não no Governo a resolver os problemas das pessoas" quando o jornalista o questionou se um acordo à esquerda era possível. Não sei que revolução aconteceu entre Setembro e Outubro/Novembro para que estes três partidos se tornassem em melhores amigos inseparáveis quando antes não paravam de se criticar e atacar uns aos outros. Aliás, nada aconteceu. A verdade é que eles não querem defender as suas ideias, não querem o melhor para os portugueses. Tudo o que querem é o poder, a todo o custo (eu não sei, mas eu quase apostava que o António Costa vendia um rim e um pulmão se o deixassem ser Primeiro-Ministro!).
Por tudo isto que já disse, sempre que dizem que a coligação à esquerda é legítima eu tenho vómitos e morre um unicórnio. Nem aqui, nem em lado nenhum, esta coligação oportunista é legítima. Esta coligação está a fazer apenas uma coisa: denegrir ainda mais a classe política portuguesa e, consequentemente, o nome de Portugal. Enquanto este impasse político continua e parece não se resolver porque uma data de iluminados acha que os portugueses são burros e não sabem que quem ganha é quem tem mais votos, a bolsa está em queda desde ontem e os bancos já estão reticentes com o que se poderá passar. Para terem uma ideia: a bolsa de Lisboa ontem fechou com uma queda de 4% e o banco alemão Commerzbank enviou um relatório aos seus clientes (que são
só 11 milhões de clientes privados e 1 milhão de clientes corporativos espalhados pelo mundo) intitulado "Portugal. A próxima Grécia?".
Acho que já não preciso de acrescentar nada ao que disse. É inadmissível uma situação como esta passar-se num país "civilizado". Isto não é, nem pode ser de forma nenhuma, uma expressão de democracia. A coligação à esquerda não respeitou o voto dos portugueses. Lembrem-se de que na folha de voto não aparecia lá "Esquerda" nem "Direita".