quinta-feira, 25 de julho de 2013

"A infância não é beleza"

Os concursos de beleza feminina infantis são realizados maioritariamente nos EUA. Hoje por mero acaso fui procurar algumas imagens na internet de miúdas que participam nesses concursos. Estas crianças geralmente têm entre 2 e 10 anos. E isto intrigou-me. Como é possível fazer isto a estas crianças sem que isso seja considerado exploração infantil? Ok, culturas são culturas, gostos são gostos. Só que há sempre limites para tudo.

As crianças que participam nestes concursos não têm ainda maturidade suficiente para decidir o que querem, muito menos para decidirem que querem usar dentes falsos para que sejam perfeitos, para decidirem que querem usar um espartilho para terem um corpo perfeito, não têm maturidade ainda para decidir que querem usar extensões, usar maquilhagem exagerada e roupa não apropriada ou para decidirem que querem pintar os cabelos. Como se isto não fosse já mau o suficiente, muitas destas crianças que, repito, têm entre 2 a 10 anos já fazem cirurgias plásticas, colocam botox. Tornam-se bonecas, plásticas, feias, ridículas.

E depois vêm os argumentos a favor destes concursos de merda: ah ensina-as a ser competitivas e a lutar pelo que querem, aprendem que vai haver sempre alguém melhor que elas, aumenta-lhes a auto-estima, ensina estas crianças a lidar com concursos e competições, ensina-as a seguir regras e ter fair-play. Isto para mim é treta e não tem nexo absolutamente nenhum!

Não consigo entender como é que algum pai ou alguma mãe concorda com isto! Estas crianças vão crescer de que forma? Com que valores quando lhes incutem a beleza como um valor fulcral? Como é que alguém tem prazer em ver a filha de forma tão artificial? Para além de todas as alterações físicas que todas as candidatas sofrem ainda são encorajadas a namoriscar com o júri enquanto estão num palco com roupa e lingerie sexy, pestanas e unhas postiças entre tudo o resto. E o que mais me surpreende mais é que são os próprios pais que as encorajam a ter estes comportamentos inapropriados para a sua idade.

Na minha opinião, estes concursos não ensinam nada sobre a vida a estas (forçadas) candidatas: não faz bem à sua auto-estima porque estão a concorrer para ver quem é a mais bonita, a mais sensual, a mais perfeita e todas as outras que não são consideradas como tal sentem-se mal, rejeitadas. Estes concursos também levam a que as crianças, desde cedo, achem que há apenas um tipo perfeito de mulheres, um corpo perfeito e que quem não for como esse protótipo é feio e desinteressante e isso pode conduzir a que estas tenham uma tendência enorme para se destruir porque não correspondem a ele. Estes concursos ensinam que o único valor que realmente importa é a beleza exterior e elas começam a achar que são melhor do que todas aquelas que não têm a mesma aparência que elas. E hoje já há uma enorme variedade de soluções a estes concursos: muitos desportos que não só lhes incutem excelentes valores como as torna saudáveis.

Todas as crianças que participam nestes concursos não estão a viver o melhor das suas vidas: a infância. Estão a deixá-la passar ao lado por um estúpido ideal de beleza. Não que elas tenham alguma culpa nisso, não têm, grande maioria são forçadas pelos próprios pais que ao invés de lhes dar amor e conforto as obrigam a ser perfeitas, a crescer muito mas muito rápido. Elas não são bonecas, são crianças e não me cabe na cabeça como é que isto continua a ser permitido, como é que alguém que põe botox na filha de oito anos é considerada uma pessoa normal e não doente.

A maioria destas mães age desta forma porque querem viver os seus sonhos através dos seus filhos não se apercebendo que está a abusar destas crianças física e mentalmente. Não têm tempo para ser crianças porque têm de ter aulas de expressão facial, têm de ter tempo para as viagens e os concursos, para ir pôr as pestanas e o cabelo falso. Tudo isso leva-lhes o tempo de brincar com bonecas, de aleijar o joelho enquanto andam de bicicleta, de andar de baloiço, fazer amigos, de sonhar.

Certamente estas crianças são, desde pequeninas, levadas a acreditar que para ser aceite e valorizada têm de ser perfeitas, iguais umas às outras.

A dor física de ter de depilar as sobrancelhas, de pôr extensões, unhas falsas, usar saltos altos durante horas, o botox aliada à dor emocional de não saber como é ser-se própria, única e amada transforma estas crianças em seres infelizes, com um nível elevado de stress, com tendência a entrar em depressão. Porque vai haver um dia em que serão obrigadas a confrontarem-se com a realidade daquilo que são sem tudo aquilo de falso que têm. Deixam de ser crianças para serem bonecas iguais umas às outras.

Elas perdem a sua essência e a sua identidade em nome da perfeição. E isso não pode ser catalogado como outra coisa se não abuso infantil. Perdoem-me se estou a ser dura mas olhem só para estas imagens:







Há uma frase que eu adoro e que acho que se encaixa neste caso: nós podemos culpar a sociedade, mas nós somos a sociedade! São crianças, não são bonecas de plásticos. São vidas, são pessoas e elas nunca saberão ser elas próprias. Estas crianças não vão saber o que é ser amadas sendo elas próprias. E esse é um dos propósitos da vida não é?

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