O empate caseiro frente ao Porto deixou o Vitória mais vulnerável na tabela classificativa. Depois de um início fulgurante da segunda volta, com uma vitória histórica - por ser a primeira - na Pedreira, os branquinhos estão com dificuldades em somar pontos, consolidar o lugar europeu e, quiçá, lançar-se para o pódio. É impossível uma equipa ser consistente durante toda a época e, eventualmente, há fases menos boas. Seja pelo cansaço colectivo, pelas baixas forçadas ou por qualquer um dos muitos motivos que podem enfraquecer uma equipa. No nosso caso, parece-me que estamos ainda a ressacar da janela de transferências. Ficamos sem dois titulares importantes: João Pedro que, com exibições sólidas e de qualidade, se transformou num pilar da equipa e numa das suas mais importantes referências, e Soares, o segundo melhor marcador da equipa e que se revelou importante para além dos golos que marcou por desassossegar (e muito) a equipa adversária. O primeiro rumou a Los Angeles e o segundo esteve, no último sábado, do outro lado da "barricada". O facto é que já não representam o Vitória e eu sou da opinião de que não vale a pena chorar sobre leite derramado, portanto é necessário acreditar e depositar toda a confiança naqueles que entram no relvado com o símbolo vitoriano ao peito. Eu acredito no Vitória e acredito na equipa, mas o lugar de sonho no pódio parece cada vez mais uma miragem e o lugar europeu começa a parecer estar em risco.
O terceiro lugar nunca foi um objectivo assumido e, em boa verdade, provavelmente nunca foi um objectivo - assumido ou não. No entanto, a ambição dos vitorianos de ver o clube da sua cidade que fervorosamente apoiam - esteja chuva ou faça sol - combinada com a saudade de ver o Vitória actuar nos principais palcos europeus e de se elevar (ainda mais) no panorama do futebol português deixa-nos sempre com a sensação de que tudo é possível. Inclusive o terceiro lugar. Depois de épocas que ficaram muito aquém das expectativas, depois de épocas de graves dificuldades financeiras e com menos recursos do que aqueles que os adversários possuem. Apesar de todas as contrariedades, os vitorianos acreditaram - e acreditam (?) - num lugar "ao sol". Uma espécie de bonança, muito merecida, depois da tempestade. A primeira volta fez-nos acreditar: a goleada, em casa, ao Paços de Ferreira; a recuperação caseira incrível frente ao Sporting, quando a derrota por 3-0 parecia certa aos 72 minutos de jogo; a boa prestação na Taça de Portugal (que nos faz sonhar com o levantar da Taça no Jamor); a deslocação incrível dos vitorianos a Vila do Conde para ver o hat-trick de Marega a selar o marcador; as duas vitórias - para o campeonato e para a Taça de Portugal - no Bessa. A primeira volta não foi idílica, mas foi boa. Apesar dos momentos de frustração, nomeadamente nos empates inesperados que deixaram os vitorianos com um amargo de boca, a primeira volta foi marcada pela união entre os adeptos e a equipa com muitas demonstrações de amor épicas por esse país fora que, tenho a certeza, contribuíram muitas vezes para a conquista dos tão almejados pontos. Muitas foram as vezes em que saí de estádios adversários a pensar que, se alguém me perguntasse o que é o Vitória eu só os poderia convidar a assistir um jogo para que tivessem a oportunidade de ver a paixão com que "as gentes de Guimarães" levantam os seus cachecóis e cantam, sem saltar nenhuma sílaba, as músicas que sabem de cor.
Depois de disputada a primeira jornada da segunda volta (correspondente à 18ª jornada do campeonato), o Vitória encontrava-se com 34 pontos, a um ponto do 4º lugar (ocupado, na altura, pelo Sporting) e a dois pontos do 3º lugar (ocupado, na altura, pelo Sporting de Braga). O Chaves e o Marítimo, na 6ª e 7ª posição, em igualdade pontual - 27 pontos - não faziam soar alarmes. Os sete pontos de vantagem pareciam deixar seladas as primeiras cinco posições da tabela, sendo que as alterações nesses lugares seriam entre os clubes que já lá se encontravam. Desde a 18ª à 21ª jornada, o Vitória somou apenas uma vitória. O registo é de uma vitória (Sp. de Braga), empate (Marítimo) e duas derrotas (Paços de Ferreira e Porto). Em 12 pontos possíveis na segunda volta, o Vitória conquistou apenas três. Apesar dos adversários directos não terem feito grandes progressos, o fosso para o quarto e, principalmente, para o terceiro lugar aumentou, enquanto que o fosso que separava o último lugar europeu (deve ser o mínimo dos nossos objectivos), que ocupamos, do sexto lugar diminuiu drasticamente. Actualmente o Vitória está a 3 pontos do 4º lugar e a 6 pontos do 3º lugar, sendo que o 6º classificado está a apenas 3 pontos de distância do Vitória. Isto já faz soar alarmes, pelo menos os meus. As próximas jornadas não vão ser fáceis - deslocações tipicamente complicadas (Restelo e Alvalade), a disputa do derby de Guimarães com um Moreirense muito motivado e confiante, e um encontro importante a contar para a Taça de Portugal.
A próxima deslocação é ao Estádio do Restelo. Fiquei surpreendida quando, ao pesquisar o histórico de confrontos entre estes dois símbolos emblemáticos do futebol português, constatei que é o Belenenses que leva a vantagem. As duas equipas já disputaram 141 jogos no total (a contar para o campeonato, a Taça de Portugal e a Taça da Liga), sendo que o Vitória levou a melhor 45 vezes, empatou outras 34 e saiu derrotado em 62 jogos. Quando restringimos a pesquisa somente aos jogos disputados em casa do Belenenses a história repete-se, sendo que o que sobressaí é que a vantagem é muito mais categórica: os azuis venceram 42, dos 64, encontros, e o Vitória venceu apenas 7. Apesar dos números não serem encorajadores, a supremacia do Belenenses tem sido contrariada nos últimos anos. Nos últimos cinco jogos disputados longe do Berço, o Vitória venceu três vezes e saiu derrotado apenas uma vez. O último encontro, a contar para o campeonato, foi repleto de golos com o resultado final a fixar-se em 3-3. A equipa vitoriana era, na época, comandada por Sérgio Conceição e os golos foram apontados pelos saudosos Bouba Saré e Henrique Dourado, e Filipe Ferreira, que marcou na própria baliza. Do onze inicial preto e branco que pisou o relvado em Belém na última época, apenas Bruno Gaspar, Josué e Pedro Henrique se mantêm, sendo que Miguel Silva, que foi titular, agora se senta no banco, "cedendo" o seu lugar na baliza a Douglas. Espero que no Domingo os adeptos de ambos os clubes possam ver um bom espectáculo de futebol e proporcionar um bom espectáculo nas bancadas - como é hábito - e que seja o tão necessário ponto de viragem no Vitória para consolidar verdadeiramente a presença europeia e, no melhor dos cenários, assaltar o terceiro lugar. A margem de erro é cada vez menor, mas ainda é possível.
Enquanto for possível, eu acredito. Até porque Guimarães é um berço de campeões. Ontem foram premiados, com os troféus desportivos "O Minhoto", vários atletas da região. Muitos dos nomeados e dos vencedores são vimaranenses e foram formados, actuam ou actuaram no representante desportivo máximo da cidade - o Vitória, claro. É, indubitavelmente, um motivo de orgulho, apesar dos vimaranenses e vitorianos reconhecem o valor dos seus todos os dias. Na categoria das Artes Marciais, o atleta de Taekwondo Nuno Costa ganhou o troféu. Atleta da mesma modalidade, Rui Bragança foi o vencedor do Grande Prémio do Júri (Individual). Dois atletas que, apesar de agora pertencerem aos quadros do Benfica, viveram e ganharam muito no e com o Vitória enquanto atletas e que são de Guimarães - e serão sempre, independentemente do clube que representam (com muita pena minha, já não é o Vitória). Na categoria que Rui Bragança venceu, estava nomeado outro vimaranense que leva o nome de Portugal ao mundo: o número um do ténis português, João Sousa - que nunca se esquece das suas raízes nem do seu (e nosso) Vitória. Na categoria de Basquetebol foi o "nosso" Filipe Lima, que actua na incansável equipa de basquetebol vitoriana, o vencedor. O medalhado olímpico Manuel Mendes - vimaranense e vitoriano, enquanto adepto e atleta -, venceu com muito mérito na categoria de Desporto Adaptado. Paulo Oliveira, que nasceu em Vila Nova de Famalicão e actuou no Vitória, fazendo parte do selecto grupo de jogadores que conquistou a Taça de Portugal e que, por isso e por nunca se esquecer do Vitória, é sempre lembrado com muito carinho. Envergando, agora, a camisola do Sporting venceu Nélson Oliveira e Pedro Tiba na categoria de Futebol Profissional. Na categoria de Voleibol, estavam nomeados, para além de uma atleta do Sporting de Braga, Bruno Cunha e João Oliveira, dois atletas do Vitória na modalidade, e foi o último a levar o troféu para casa. Na categoria Treinador, o incrível treinador de basquetebol do Vitória, Fernando Sá estava também nomeado, mas perdeu, com muita pena minha, para Carlos Resende. Um homem que merece o reconhecimento de todos os vitorianos por tudo o que já fez pela modalidade e pelo nosso nome. Em suma, foi um bom dia para o desporto vimaranense e vitoriano. (E é com alguma tristeza que constato que o Vitória ainda não felicitou, através dos seus sítios oficiais, nenhum dos seus antigos e actuais atletas. Espero que o façam. Vitória não é só futebol!)
Para terminar, tenho (sempre) de falar de outros campeões. Aqueles que, jornada após jornada, enchem as bancadas do nosso - ou outro - estádio com amor (e também daqueles que se deslocam aos pavilhões - ao nosso ou a outros - para acompanhar os incríveis e dedicados atletas das modalidades). É admirável e é incrível a atmosfera vivida num estádio praticamente cheio (com a maioria dos adeptos a ser os da casa, contrariando a tendência do que se vive em Portugal), em que se entoam as músicas a uma só voz e em que os cachecóis se atropelam de tantos que são e de tanto os querermos elevar. Isto de apoiar o clube da terra é realmente bonito. Seja a perder ou a ganhar. Não é só bonito, também é admirável. Estes campeões das bancadas que não se movem por troféus, que não se mobilizam por esperar vitórias, que não se importam com o resultado são, porventura, o mais importante jogador da equipa vitoriana. São os nossos valores que nos distinguem dos outros, porque são os nossos valores que nos levam ao estádio - depois das derrotas e depois das vitórias. Percebo, cada vez mais e cada vez melhor, que é tudo uma questão de valores e educação. Percebo, cada vez com mais orgulho, que em Guimarães se vive o que de mais bonito há no futebol: a paixão e o interesse genuínos, baseados somente no amor e na paixão a uma instituição e a uma cidade que se fundem de cada vez que passamos o cartão de associados, de que tanto nos orgulhamos de ter na carteira, no torniquete, de cada vez que passamos um bilhete - que muitas vezes compramos com muito esforço - no torniquete de outro estádio, de cada vez que, com os olhos a brilhar, falámos do Vitória sem sequer mencionar um título ou uma vitória. Estar presente basta, é disso que nos orgulhamos e é disso que nos alimentámos. E é, também por isso, que tenho cada vez mais pena daqueles que nos perguntam pelos nossos títulos com a ironia vincada em cada comentário, como se isso fosse o que realmente importa. Eles não entendem que o nosso amor não se alimenta de títulos e vitórias, não entendem que o nosso amor se alimenta do orgulho que temos daquilo que é nosso e daquilo que faz parte da nossa identidade. Eles não entendem que nós somos a resistência ao fácil. É difícil ser de um clube que não ganha troféus atrás de troféus, que não está sempre bem, que tem muitos problemas. É muito difícil, mas eu não podia imaginar-me a apoiar de outra forma. É muito difícil, mas não podia ser melhor. Afinal, é nosso. Isso não se compra!