domingo, 22 de fevereiro de 2015

Sétima Arte | Whiplash

Dos oito filmes nomeados para a categoria principal na cerimónia dos Óscares já só me falta ver dois: BoyhoodThe Grand Budapest Hotel. A cerimónia é já daqui a algumas horas e eu tinha a ambição de ainda ver estes dois filmes que faltam e escrever sobre todos eles no blogue antes da cerimónia. No entanto e apesar de não parecer eu tenho uma vida para além de ver filmes (e gripe, também tenho gripe) portanto esta ambição não dá para mais nada do que um bom guião para Mission: Impossible 6. No entanto, venho aqui deixar as minhas apostas!
O menos conhecido dos nomeados é provavelmente Whiplash e admito que também me poderia passar despercebido se não fosse esta nomeação, mas era um verdadeiro desperdício até porque junta duas das melhores coisas da vida: música e cinema. Para além de ser o menos conhecido, é também o mais diverso e "a lufada de ar fresco" entre todos eles porque é muito diferente e ao mesmo tempo muito agradável. É o género de filme que me faz apaixonar e que, na minha opinião, tem a chave para o sucesso: baixo orçamento, bom guião e bons actores. Para além disso, é escrito e realizado por um jovem de 30 anos (feitos em Janeiro): Damien Chazelle.
Dizer que o filme é sobre jazz e músicos (como já li) era demasiado injusto. O filme é uma metáfora para a vida, contada através da história de Andrew Neiman (Miles Teller), um talentoso miúdo de 19 anos, que deseja tornar-se um baterista tão grandioso como o seu ídolo: Buddy Rich. Para realizar esse sonho, ingressa na melhor academia de música de Nova Iorque.
O seu talento é inegável e por isso Fletcher (J.K. Simmons), o mentor da banda de jazz que não compactua com nada inferior à perfeição e que se revela brutalmente exigente com os seus alunos, levando-os repetidamente aos seus limites físicos e psicológicos para que estes possam atingir o seu máximo potencial, recruta Andrew para baterista secundário, mas facilmente se percebe que o seu talento é demasiado grandioso para ficar à sombra.
Miles Teller e J.K. Simmons enchem o ecrã e são, para mim, uma grande surpresa. Acredito que Miles tem em Whiplash o papel que o vai catapultar para uma grande carreira porque tem um desempenho fantástico, com direito a lágrimas, suor e sangue de verdade (Miles Teller é um baterista autodidacta e a maioria das cenas foram mesmo gravadas com ele e o sangue é mesmo real). Nota-se o quão comprometido está com a sua personagem e a partir do primeiro minuto vê-se Miles florescer de uma forma incrível. J.K. Simmons é o actor secundário, mas dizer que é secundário é ser irrealista. O seu papel de vilão é magistralmente cumprido e apesar de ser uma personagem muito pouco amigável, é impossível não criar uma simpatia (antagónica) por ele. Fletcher representa a voz dos que nos puxam aos limites, muitas vezes de forma exagerada e absurda que nem parece real. Damien, o realizador, disse-lhe que não queria mais ver um ser humano no ecrã, queria ver um monstro, um gárgula, um animal.
 Whiplash é frenético do início ao fim, a edição é um espelho perfeito do jazz. Tem o tempo perfeito porque todas as cenas são essenciais e importantes (até os episódios do romance que é pouco explorado me parecem proeminentes para cortar a tensão que se vai sentindo ao longo de todo o filme). Apesar de já ter ouvido algumas críticas negativas relativamente ao final, eu acho que não podia acabar de outra forma porque percebemos que ambos conseguem atingir os seus sonhos e isso é a parte mais importante, é o ponto fulcral do filme.
Como disse antes, este filme é uma metáfora para a vida. É impossível alcançar a grandiosidade que todos procuramos (eu sou da opinião de que o ser humano é obcecado com a grandiosidade) sem sair da nossa zona de conforto, sem nos levarmos aos nossos limites, sem suor e lágrimas e sangue. Não se pode chegar a um destino diferente daquele onde nos encontramos se formos pelo mesmo caminho. É sobre isso que este filme é!

P.S.: Whiplash foi inicialmente apresentado como uma curta-metragem de 18 minutos no Sundance Film Festival em 2013 por falta de orçamento. Levou o prémio para casa e conseguiu um orçamento de 3,3 milhões de dólares, o orçamento mais baixo entre os nomeados (Boyhood - 4 milhões; The Imitation Game - 15 milhões; The Theory of Everything - 18 milhões; Birdman - 18 milhões; Selma - 20 milhões; The Grand Budapest Hotel - 30 milhões; American Sniper - 58,8 milhões). Foi filmado em apenas 19 dias e ficou pronto em sensivelmente 10 semanas. Tinha tudo para dar errado, mas deu tudo certo. 




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