Começa a minha corrida aos Óscares (a minha única corrida porque sou demasiado preguiçosa para ir, literalmente, correr), isto é, ver os filmes todos antes da entrega dos ditos cujos para fazer as minhas apostas com antecipação (apostas comigo própria, tenho de ser sincera). O ano passado não consegui o meu objectivo e ficou um ou outro para trás, ainda assim acertei nas categorias de melhor filme, melhor fotografia, melhor actriz, melhor actriz secundária, melhor actor e melhor actor secundário. Podem dizer que sou uma craque nesta área, eu deixo!! (Eu não sou uma grande adepta da Academia por diversos motivos, acho que ainda não nomeiam nem premeiam os melhores; e porque nunca deram um Óscar ao Leonardo DiCaprio, que já merecia! No entanto acho piada à cerimónia como não podia deixar de ser de uma apaixonada por cinema como eu)
Na corrida a 5 óscares (melhor fotografia, melhor actor principal, melhor actriz principal, melhor banda sonora e melhor argumento adaptado), The Theory of Everything é baseado nas memórias de Jane Wilde Hawking, a primeira mulher de Stephen Hawking, por isso podemos esperar que o filme seja centrado na união de ambos e não só em Stephen Hawking. No entanto, também não se foca só no casamento de ambos. Nem só na doença ingrata que lhe é diagnosticada aos 21 anos de idade e com um futuro de sucesso pela frente. Acho que é isso que faz o filme tão maravilhoso, o facto de não se centrar apenas num aspecto da vida deste ser humano maravilhoso e cheio de coragem que nunca desistiu por mais obstáculos que a vida lhe colocasse. Isso e a interpretação sublime de Eddie Redmayne que merece o Óscar (e sim, tenho consciência de que estou a dizê-lo sem ver a interpretação dos outros nomeados mas quem já viu este filme compreende-me perfeitamente: Eddie está para lá de perfeito e para eu achar que alguém é mais merecedor do que ele é preciso ser uma interpretação do outro mundo, acreditem! Já o tinha visto em My Week with Marilyn e tinha gostado do seu desempenho mas fiquei positivamente surpreendida.). Felicity Jones, que interpreta a incansável e apaixonada mulher de Stephen, tem também um desempenho positivo mas, e esta é a minha opinião pessoal, Rosamund Pike em Gone Girl (já vi e espero falar-vos dele brevemente) está à frente na corrida.
Este é aquele tipo de filme que eu não queria ir ver ao cinema. Não me recusava a ir, no entanto é íntimo e pessoal. É o género de filme que eu prefiro ver no conforto da minha casa porque me tira o conforto, porque me inquieta. Quando comecei a ver o filme, outro me surgiu imediatamente: A Beautiful Mind, a biografia de um brilhante matemático protagonizado por Russell Crowe e um dos meus filmes preferidos e fiquei receosa de não me conseguir desligar de forma a apreciar o filme da melhor forma possível. A verdade é que depois de 10 minutos tudo isso me passou da cabeça e comecei a apreciar o filme e a perder o conforto, que é o que eu mais gosto quando estou a ver um filme: posso até gostar de filmes que não mexam comigo, aqueles que dão para entreter, os que eu digo serem de domingo à tarde mas nada me faz mais feliz (ou poucas coisas, vá) do que ver um filme que me deixa com 37829 pensamentos em simultâneo na cabeça. The Theory of Everything é bom, é poderoso e intenso. Conhecemos Stephen, um jovem brilhante de 21 anos que com pouco esforço consegue fazer coisas absolutamente extraordinárias. No entanto, surge na sua vida uma adversidade que, segundo conceituados médicos, lhe roubará a vida em dois anos, roubando-lha um bocadinho a cada dia que passa. Essa adversidade é uma doença degenerativa, a injusta e ingrata Esclerose Lateral Amiotrófica. A doença afecta-lhe o corpo, rouba-o, põe Stephen numa cadeira de rodas mas não afecta o seu cérebro (a ELA afecta os músculos, inclusive faz com que o doente não consiga respirar ou engolir sem ajuda, mas não afecta o sistema nervoso central portanto o raciocínio continua a funcionar a 100%) e por isso continua a ser brilhante, a nunca desistir daquilo que quer provar, a ser incansável e melhor a cada dia - mesmo que seja complicado percebê-lo. Para isso conta com a ajuda da sua incansável mulher, Jane.
No entanto o filme podia ser mais profundo, pois passa ao lado de aspectos importantíssimos e que só faria o filme ganhar. Há perguntas sem resposta: o casamento de Jane e Stephen era perfeito? Eles nunca discutiam? Qual era a forma que Stephen usava para continuar a trabalhar? Como era a sua vida sexual (eles têm três filhos, mas é só isso que sabemos)? Como é que Stephen se sente quando vê o seu corpo e as suas capacidades de se expressar livremente serem roubadas para além do seu bom humor (ao longo do filme percebemos que apesar da sua condição, Stephen é tem um bom temperamento e consegue brincar com a sua doença)? Há ideias que gostava que fossem desenvolvidas, ou melhor desenvolvidas. Apesar disso há um tema que é desenvolvido e que é extremamente interessante: a relação a dois que passa a ser a três. Quando Jane se encontra exausta da situação aparece Jonathan, que se torna membro da família, é parte da mobília. Desenvolve-se uma relação muito singular e muito invulgar e à qual é importante ter atenção.
É um dos filmes que certamente vou rever. É sobre amor, sobre a vida, sobre a doença, sobre as batalhas que constantemente temos de travar. É sobre alguém a quem todos nós devemos buscar ensinamentos porque Stephen Hawking é um exemplo de força e uma fonte de inspiração.
P.S.: Não consigo deixar de rever mentalmente a última cena do filme, tão bonita, tão espectacularmente diferente, tão inspiradora.
Sem comentários :
Enviar um comentário